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charlie chaplin

S/n estava na cama, lendo um livro qualquer de fantasia, se forçando a não ler a última página, mas finalmente ela cedeu a própria vontade, sem conseguir se conter, e passou as páginas até chegar as últimas. Mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, o celular tocou. Ele estava apoiado na cama e S/n leu de longe o nome de Sadie na tela iluminada.

Eram pouco mais de onze da noite, e ainda que aquilo não fosse exatamente incomum, ainda sim era um pouco - Sadie deveria estar dormindo já, ela tinha que trabalhar logo cedo.

S/n alcançou o celular e atendeu a ligação, ouvindo a voz embargada de Sadie do outro lado da linha.

— Você está em casa?

— Por que eu não estaria? — a mais velha perguntou — Mas, hm, é, eu estou finalizando um livro.

— Você pode vir para cá? — Sadie perguntou receosa.

— O que aconteceu? — S/n sentiu que algo parecia estranho. Não só o tom de voz de Sadie mas o clima em si. Ela nunca ficava daquele jeito e S/n conseguia dizer que algo não estava certo.

— Ele vai se casar — a ruiva disse simples.

S/n fez uma expressão confusa, se perguntando de quem ela estava falando.

— Quem vai se casar? — ela externou.

— Joe — Sadie respondeu, como se aquilo fosse óbvio.

— Ok... — S/n suspirou, imaginando a situação — Eu estou indo te ver.

(...)

S/n deixou o elevador do prédio em que Sadie vivia parecendo realmente apressada. Ela deu alguns passos em direção a porta enorme de madeira e bateu duas vezes.

Sadie abriu a porta. Ela usava uma calça de pijama quadriculada em um tom mesclado de vermelho e preto e um moletom preto que parecia maior do que ela - e realmente era, porque o moletom era de S/n.

Foi ela ver S/n para começar a chorar, ou no caso voltar a chorar.

— Entra — a ruiva disse estendendo um dos braços na direção de S/n.

A mais velha envolveu os braços ao redor da garota, fechou com cuidado a porta atrás de si e sentiu quando algumas lágrimas de Sadie molharam a blusa dela.

— Desculpa ligar tão tarde.

— Tá tudo bem.

— Ele só- — Sadie se afastou — Ele só me ligou. Queria saber como eu estava. Eu disse que estava bem e então ele disse... — ela se virou e seguiu em direção ao quarto. S/n a seguiu, e imitou os passos de Sadie, se sentando na cama, ao lado dela — É a assistente dele. A coisa é, eu fiquei ouvindo ele falar, e eu pensei "ok, eu estou bem, eu o superei" eu mal podia acreditar que eu já estive remotamente interessada nele e então ele disse, "hey, eu tenho algumas notícias"... — ela começou a chorar mais uma vez. Um choro consideravelmente alto, que preocupou S/n por um momento — É a assistente dele, eu já disse. Ela ajuda ele com os horários e vive com ele no set, eu a via direto, o nome dela é Kim. Ele conhece ela há um tempo mas ela deveria ser a pessoa com quem ele se envolve e não dá em nada. Ela não deveria ser a pessoa certa... Todo esse tempo eu vinha dizendo que ele não queria se casar mas a verdade é que ele não queria se casar comigo. Ele nunca me amou.

— Se você pudesse voltar com ele, você voltaria? — S/n perguntou, tentando soar calma, num tom carinhoso e compreensivo para entender aquilo.

— Não — Sadie respondeu sem precisar pensar — Mas por que ele não quis se casar comigo? Ele não me amava? Tem algo errado comigo?

— Não tem nada errado com você.

— Eu sou díficil.

— Você é desafiadora — S/n contrapôs.

— Eu sou muito correta, eu estou completamente fechada.

— É mas... faz parte — S/n deu de ombros — É o seu jeito.

— Não, não — Sadie balançou a cabeça negativamente — Eu o afastei, eu afastei o Joe... E agora e-eu vou ficar sozinha para o resto da minha vida. Meu Deus, daqui à pouco eu vou ter trinta anos e então quarenta.

— Você ainda tem muitos anos pela frente até esses números chegarem.

— Mas vai acontecer, eu vou ficar aqui sentada como alguém que já está no fim. Não é o mesmo para os homens, o Joe já está em outra e se não estivesse ele continuaria bem. Deus, o Charlie Chaplin teve filhos com setenta e três anos!

— É mas ele era velho demais para conseguir pegar eles — S/n brincou mas isso só fez Sadie chorar ainda mais — Vamos lá, vamos lá... — S/n a abraçou com cuidado, e Sadie mergulhou o rosto no suéter dela.

— Eu estou fazendo uma bagunça na sua roupa.

— Tá tudo bem, não é a minha preferida mesmo.

S/n continuou abraçando Sadie, deixou um beijo no rosto dela e então se preparou para quebrar o contato com a desculpa de que iria se levantar para fazer um chá - porque Sadie parecia precisar - mas ela não queria se afastar.

— Você pode me abraçar por mais alguns minutos? — a ruiva perguntou.

S/n não disse nada, e apenas a segurou.

Depois do que pareceu alguns segundos, Sadie levantou o rosto e encarou S/n, quase como se estivesse procurando por algo, mas ela não tinha ideia do quê, ou talvez tivesse. Ela suspirou com cuidado... E então aconteceu.

Ela finalmente beijou S/n - porque vinha querendo fazer isso desde o ano novo mas não tinha ideia de como, mas também porque estava triste e S/n tornava tudo melhor, o que era quase estranho, mas ela tinha essa habilidade. 

S/n foi pega de surpresa, mas devolveu o beijo, e então elas se perderam em um momento cuidadoso.

Sadie se afastou um pouco, e levou as mãos até o rosto da mais velha, querendo mais daquilo. S/n parecia disposta a seguir com tudo, mas então a ruiva se afastou mais uma vez - não tanto, mas o suficiente para quebrar o contato momentaneamente.

— Nós vamos fazer isso? — ela perguntou com uma gota de apreensão na voz, não sabendo o que poderia ouvir.

Ela estava nervosa.

— Se você quiser — S/n respondeu calma, um sorriso gentil no canto dos lábios.

— É, claro... Hm, eu quero sim.

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