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awkward

O avião decolou, em uma rota de New York até Chicago.

Vinte minutos tinham se passado desde que isso tinha acontecido.

Sadie estava no assento do meio, um pouco mais para o fundo do avião - entre um cara de vinte e poucos anos e uma mulher em seus trinta. A ruiva estava com um livro aberto, algo sobre atuação, parecendo entretida na leitura, e mal reparou quando S/n - no assento de trás - se inclinou entre a poltrona dela e a do cara ao lado.

S/n tinha certeza de que a conhecia, e isso ficou na cabeça dela, mas quando pensou em falar qualquer coisa uma das aeromoças surgiu no corredor com o carrinho de bebidas perguntando se eles ali queriam alguma coisa.

— Você tem um mix de Bloody Mary? — Sadie perguntou.

— Sim — a mulher respondeu e sorriu se preparando para alcançar o que precisava e preparar o drink básico.

Mas claro que Sadie a interrompeu.

— Espera — a ruiva disse e S/n riu no banco de trás, e então uma enxurrada de memórias vieram de uma só vez. Ela lembrou de Sadie e do episódio da torta de maçã, de como ela tinha sido bem específica na hora de fazer o pedido naquele restaurante no meio do nada.

Algumas coisas não tinham mudado.

— Aqui o que eu quero — Sadie continuou — Suco de tomate simples, sem muito gelo, e então você enche algo em torno de três quartos do copo e adiciona um "splash' de mix de Bloody Mary, mas só um "splash". Ah, e um pequeno pedaço de limão siciliano, mas à parte.

S/n jurou que viu a aeromoça revirar os olhos enquanto fazia o drink, mas no fim ela o entregou de qualquer forma e Sadie agradeceu totalmente alheia ao incômodo. A ruiva tomou um único gole do drink antes de ser surpreendida por S/n, que voltou a se inclinar entre o assento dela e do cara ao lado.

— Walton? — ela perguntou — Walton High School?

Sadie a encarou por dois ou três segundos e então respondeu, sem muita animação:

— Sim.

S/n sorriu e balançou a cabeça concordando. Ela voltou a se apoiar no próprio assento mas isso não durou nem cinco segundos e mais uma vez ela se inclinou.

— Você era tão bonita assim naquela época? — ela foi quase maldosa dizendo isso. Tinha um "quê" de interesse, e a frase saiu quase como um flerte. Ainda que não tivesse sido realmente - S/n era alguém comprometida, o que não tinha a impedido de flertar com Sadie cinco anos atrás, mas era bom pensar que pessoas conseguem mudar.

Mas claro, S/n se lembrava da ruiva - e ela era linda já naquela época - mas ela também se lembrava que irritar a mais nova por 14 horas tinha sido extremamente divertido - e ela podia fazer isso de novo.

Pelo menos até o fim da viagem.

Ok, ela não faria isso. Ela tinha crescido - um pouco.

— Não — Sadie foi sincera. Ela achava que tinha melhorado muito nos últimos anos - S/n não discordava, ela estava linda.

Mas ela sempre foi.

— Nós já...? — S/n balançou a cabeça levemente — Você sabe.

— Não — Sadie revirou os olhos.

— Claro, claro. Só pra ter certeza.

— Nós dirigimos e foi isso.

O homem ao lado de Sadie, que parecia prestar atenção na conversa das meninas, desviou o olhar para S/n e perguntou:

— Você quer sentar aqui? — ele foi gentil.

Antes mesmo que Sadie pudesse dizer que não era necessário nada daquilo - porque ela não queria ter que aguentar a garota por duas horas falando no ouvido dela - e ela sabia que seria assim - S/n foi mais rápida e respondeu que "seria perfeito."

Ela e o cara então trocaram de lugar.

— Você era amiga da... — S/n tentou se lembrar do nome da garota com quem namorou no fim do colegial mas ele simplesmente não veio.

— Amanda — Sadie completou e sorriu de leve, se sentindo um pouco melhor por não ter sido a única a esquecer momentaneamente do nome da garota. Ok, ela era amiga da Amanda mas S/n era namorada - era um nível de relação acima, o peso disso parecia ser maior.

Mas Amanda e S/n perderam contato poucos meses depois da garota chegar em New York. Amanda quem terminou tudo - porque ela tinha conhecido um cara na GSU e não achava que um relacionamento a distância fosse dar certo de qualquer forma.

Foi duro, algo como "Hey, eu não acho que te amo então deveríamos terminar isso aqui."

Mas S/n agradeceu, porque ela queria mesmo acabar com tudo, e apenas não sabia como. Ela não queria sair como a errada da situação porque odiava isso - e queria evitar fechar os olhos para dormir e em um daqueles pensamentos do meio da madrugada algo como "Que merda, eu fui uma filha da puta com a Amanda" surgir. Isso não aconteceu. E agora ela mal se lembrava da garota.

Sono perfeito

— O que você quer dizer? Claro que eu me lembro do nome dela. É Amanda Rice.

— Reece — Sadie corrigiu.

— Reece, isso, foi o que eu disse — ela revirou os olhos. Ok, eu não disse isso — Hm, o que aconteceu com ela?

— Não tenho ideia — Sadie deu de ombros.

— Você não tem ideia? — S/n riu incrédula. Aquilo era novo e um pouco surpreendente — Vocês eram muito amigas. Pelo que eu me lembre nós não ficamos justamente porque vocês eram muito amigas.

— Vocês estavam saindo — Sadie disse o óbvio.

— E valeu a pena? Esse sacrifício por uma amizade que nem deu certo?

— S/n, você pode não acreditar mas não ficar com você não foi um sacrifício — Sadie comentou sincera e ácida.

— Ok, é justo — S/n concordou e então ficou quieta.

Mas isso não durou nem cinco segundos. Ela ainda odiava silêncio.

Isso não tinha mudado.

— Você disse que queria ser jornalista — ela lembrou. Bem... Não exatamente. Ela não lembrou, mas ela tentou.

— Atriz — Sadie corrigiu.

— Foi o que eu disse — não tinha sido — Então... As coisas deram certo?

— É. Eu sou atriz — Sadie respondeu orgulhosa — Eu fiz algumas participações em filmes, eu estive no short film de uma música da Taylor Swift e agora eu estou nessa sitcom que se passa em New York. Eu tenho ganhado dinheiro, tenho esse apartamento no West Village.

— Meu Deus — S/n encarou Sadie surpresa — Você é a garota de "All Too Well", claro.

— Pois é... Hm, eu não imaginei que você fosse conhecer essa música.

— O que eu posso dizer...? — S/n deu de ombros e suspirou de leve — Eu sou uma grande fã da Taylor Swift. Mas enfim, você é atriz e está com o Joe... Isso é ótimo. Você estão juntos há o quê? Um mês?

Sadie a encarou surpresa. Mais uma vez.

Como ela fazia isso?

— Quase isso — ela respondeu — Como você sabe?

— Você acompanha alguém até o aeroporto, é claramente um indício de que a relação está no início. É por isso que eu nunca acompanho ninguém até o aeroporto no início de uma relação — S/n respondeu simples.

— Por quê?

— Porque eventualmente as coisas começam a mudar e você não quer mais acompanhar ninguém até o aeroporto e eu não quero que uma pessoa chegue para mim me cobrando o motivo de eu não a acompanhar mais até o aeroporto. Se eu nunca a acompanhei ela não tem porquê reclamar.

— Uau — Sadie riu irônica — É impressionante, você parece uma pessoa normal mas na verdade é um anjo da morte. Olha o tipo de coisa que você pensa.

— Eu sou só cuidadosa — S/n disse — Você vai se casar com o Joe? — ela perguntou repentinamente.

— Nós começamos o que temos a pouco tempo, nenhum dos dois está pensando nisso agora.

— Bem, eu vou me casar — ela comentou como se não fosse nada. Não que Sadie precisasse saber, mas S/n achou que deveria falar.

Parecia importante.

— Você? — a ruiva perguntou impressionada.

— Sim — S/n respondeu simples.

— Você?

— Sim. É difícil de acreditar?

— Não, não... Claro que não. Qual o nome da pessoa?

— Harley Rooney. Ela é advogada também, nos conhecemos na faculdade. Ela é do Hawaii e vai manter o sobrenome quando nos casarmos. Estamos bem felizes — S/n sorriu.

— Você vai mesmo se casar — Sadie disse e balançou a cabeça positivamente. Ela tinha esse sorrisinho nos lábios e S/n reparou.

— O que é tão engraçado?

— Nada, é só que... Se casar... Isso é bem otimista da sua parte.

— Você ficaria impressionada com o que o amor pode fazer com você — S/n disse.

Não era mentira. Ela sentia que amava Harley, e pensar em casamento foi algo que só veio com ela. 

— Isso é incrível, S/n — Sadie disse genuinamente — É legal ver você assim com alguém.

— Além de que chega um momento que você se cansa de toda a situação de conhecer alguém e ir a encontros — S/n continuou.

— Como assim?

— É, tipo, a vida de uma pessoa solteira, sabe? Você conhece alguém, tem um encontro calmo, e então decide que gosta da pessoa ao ponto de dar um próximo passo. Vocês saem mais uma vez, volta para sua casa ou para a dela e no minuto que vocês fazem o que vinham querendo fazer, você se vira encarando o teto e pergunta para si mesma "Quanto tempo eu vou ter que ficar aqui abraçando essa pessoa até poder me levantar e ir embora? Trinta segundos é muito? É pouco?"

— Você não pensa nisso... — Sadie balançou a cabeça negativamente — Você pensa?

— O tempo todo. Quero dizer, não mais... Mas antes, o tempo todo.

— Ninguém pensa nisso.

— Todo mundo pensa nisso — S/n comentou — Especialmente se você achar que não quer compromisso mas também não quer magoar a pessoa com quem saiu. A coisa toda é que estar com alguém e se comprometer e então não precisar pensar nesse tipo de coisa é incrível. Nós nos entendemos, saímos, eu vou para a casa dela e eu a abraço por cinco minutos depois que fazemos amor, às vezes isso não acontece e eu simplesmente me levanto e digo que preciso ir embora... Não nos cobramos, eu não fico assustada de magoar ela porque eu sei até onde é o nosso limite. Tá tudo estabelecido, eu não vou ficar com o peso na consciência. 

— Isso é terrível, você sabe, né?

— Claro que não. É perfeito! Hm, quanto tempo você gosta de ficar aconchegada na outra pessoa depois que vocês trans-

— Não diz isso — Sadie a interrompeu.

— Você não mudou nada — S/n riu de leve — Mas então, quanto tempo? A noite toda? Cinco minutos? Trinta segundos? Porque entre trinta segundos e a noite toda o problema é todo seu. Se você se sentir mal se a outra pessoa te deixar no meio disso, o problema ainda é seu.

— Eu não tenho um problema com isso — Sadie rebateu.

— Claro que tem — S/n disse calma.

— Eu definitivamente não tenho e você deveria falar de outra coisa.

— Claro, como você preferir.

Quando o avião pousou - depois de duas horas em que S/n falou sem parar - Ela e Sadie seguiram juntas durante todo o caminho até o portão de desembarque.

Elas estavam seguindo pela esteira rolante, lado a lado, em silêncio.

Até que S/n o quebrou. 

Claro.

Ela parecia gostar de fazer isso.

— Você vai ficar aqui por quanto tempo?

— Quatro dias — Sadie respondeu.

— Você quer sair para jantar? — a ruiva encarou a mais velha com um olhar suspeito — Como amigas — ela esclareceu.

— O que aconteceu com o "pessoas que se acham atraentes não podem ser amigas"?

— E quem disse que eu te acho atraente?

— Você não acha?

— Eu definitivamente acho — ela sorriu de lado — E quando foi que eu disse isso de "pessoas que se acham atraentes não podem ser amigas"?

— Na nossa viagem para New York.

 — Não, eu me lembraria se eu tivesse dito algo do tipo... — ela mal lembrava o que tinha tomado de café da manhã — De qualquer modo, essa regra não se aplica quando as duas pessoas estão em um relacionamento. Se elas estão em um relacionamento a pressão de um possível envolvimento dificilmente existe. Então, aonde isso nos deixa?

— S/n — Sadie encarou a mais velha com um "quê" de cansaço no olhar.

— Sim?

— Tchau — a ruiva falou simples.

— Ok, tchau — S/n balançou a cabeça positivamente, não querendo forçar nada - e não se importando tanto com isso.

Foi legal rever Sadie - mas foi isso

Ela e a ruiva se olharam e se cumprimentaram, um aperto de mãos de despedida. No entanto, ainda que elas tenham se despedido elas se encontraram nesse lugar estranho de ainda estarem indo na mesma direção.

S/n reparou isso, por esse motivo parou no meio da esteira rolante e comentou:

— Eu vou parar de andar por uns dois minutos e então você segue.

Isso fez Sadie rir de leve, mas ela não disse mais nada, e apenas continuou o próprio caminho, pensando que tinha sido quase divertido rever S/n.

Quase.

Isso com certeza não aconteceria de novo.

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