( 𝗿𝗲𝗮𝗹 𝗹𝗶𝗳𝗲 )

❝𝗖𝗛𝗔𝗣𝗧𝗘𝗥 𝗜𝗦 𝗖𝗟𝗢𝗦𝗘𝗗 𝗔𝗡𝗗 𝗗𝗢𝗡𝗘  ❞

Allie estava receosa em se encontrar com Vinnie e precisar lidar com os fantasmas de seu passado. Ela duvidava que conseguiria abordar um assunto como aquele estando diante da grave situação com Hera, mas se surgisse uma oportunidade, não deixaria passar.

Quando chegou na clínica veterinária no centro de Los Angeles onde a gata estava internada, Allie já tinha total liberdade de decidir os próximos passos da cirurgia. Era delicado e com um alto risco de não resistência da parte do bichinho de estimação, mas a mulher se manteve otimista e pediu para que o veterinário responsável lhe desse atualizações do quadro de Hera de hora em hora, se possível.

Já fazia pelo menos duas horas que ela estava ali quando Vinnie chegou. Ele aparentava cansaço e agonia; Allie pensou como iria reagir se algo assim acontecesse com Darla e por isso, logo se levantou da cadeira na sala de espera e correu para abraçar o homem.

— Como ela está? — A voz trêmula de Vinnie denunciava sua preocupação.

— Estável — Allie disse, abafada pelo ombro do garoto onde se apoiava durante o abraço. — A cirurgia acabou há meia hora e nós... ou melhor, você, poderá entrar daqui a pouco.

— Eu estou uma bagunça.

Eles se soltaram e ela deu um passo para trás, analisando as vestes amassadas e o rosto abatido dele. Ainda assim, Vinnie não perdia seu ar encantador, seu charme quando passava a mão no cabelo - nervosamente - e o sorriso fácil - mesmo que dessa vez fosse triste.

— Pelo menos está com tudo no lugar. Fiquei preocupada de ter sido mais grave — Allie disse.

— No final das contas, o prejuízo maior foi para o outro cara.

Allie levou Vinnie para se sentar um pouco enquanto esperavam a liberação para ver Hera e deixou que ele desabafasse sobre seu dia conturbado.

Nesse meio tempo, ela não conseguiu desvincular seus pensamentos de como estariam se ele não tivesse feito o que fez no passado e a magoado de um jeito irreparável. Allie gostava de pensar que era uma boa pessoa, que conseguia perdoar e superar as mágoas causadas por pessoas que foram ou eram importantes para ela e, estando ali com seu ex-namorado que precisava de ajuda, nada mais justo do que dizer que ela era de fato, boa. Ainda assim, Vinnie era o lembrete de que por pouco, sua integridade não foi corrompida por um cara sujo e naturalmente mau.

Será que Austin estava certo em dizer que ela tinha o perdoado muito fácil? E por que, mesmo estando certa de que conseguiu se apaixonar de novo e por outra pessoa, Vinnie ainda a afetava daquele jeito?

Não, ela não estava pensando em voltar com ele ou qualquer coisa parecida. Mas queria que fosse possível saber onde eles estariam se, há um ano, não tivessem se separado.

— Eu ouvi que você está com o Chris. — Allie demorou para absorver que era ele quem perguntava enquanto a encarava. — Foi por isso toda a reação dele naquela festa?

— Bem, não. Na verdade, nós ficamos juntos depois daquilo...

— Eu tenho que pedir desculpas por aquele dia, aliás. Não deveria ter causado uma confusão em troca de nada, mas não sou o melhor quando sou provocado.

— É, eu entendo as desculpas mas não sei se realmente as aceito, Vinnie. No final, nenhum dos dois estava certo.

— Ele estava. Ele estava tentando te defender de mim — Vinnie disse, o olhar caído para longe da morena quando ela colocou o cabelo atrás da orelha e se virou na cadeira para estar mais perto dele.

— Ele não sabe o que aconteceu naquela noite. Nenhum deles realmente sabem.

— Por que não contou a ninguém?

— Porque um trauma desses não é fácil de se contar! — Ela explodiu e a voz estava mais alta do que esperava.

Allie balançou a cabeça e sentou corretamente na cadeira, logo após ouviram o nome dele sendo chamado pela assistente.

— Eu não ligo que queira gritar e brigar comigo, é melhor que coloque tudo para fora e eu vou entender. Nenhuma desculpa nesse mundo será o suficiente para que você me perdoe por como me comportei. E a verdade é que eu não tenho explicação para o que fiz... Você teve todo o direito de se sentir traída e...

— Não vamos fazer isso agora. Hera. Ela precisa de você. Vá.

Vinnie hesitou, mas Allie deu um meio sorriso e apontou com a cabeça para o corredor que a assistente havia indicado antes.

Ela se sentiu confusa e desconexa da realidade por todo o tempo que o loiro passou checando sua gata.

Ele não era o monstro a quem ela deveria temer, afinal. Não foi ele que se aproveitou de sua vulnerabilidade e quis machucá-la física e mentalmente. Mas ele estava lá uma semana depois, abraçando e tratando como amigo quem a tratou de jeito tão abusador e agressivo como se nada tivesse acontecido.

Lhe ocorreu naquele momento que Chris precisava saber de tudo aquilo. Allie queria correr para os braços dele e se sentir segura como se sentiu durante todos os dias em Sisters Isle. Como ele a beijava, quando procurava seu toque.... Ele não seria capaz de machucá-la, não é?

Quando pensava em se decepcionar novamente em detrimento dos outros, ela pensou em Savannah e no quão distante se sentia de sua amiga. Mas como era justo ter que ferir mais outra pessoa para que o pedido de Savannah se concretizasse?

Se ela estava apaixonada, era certo que Chris também estava. Não era possível que depois de dias tão felizes ela era a única sentindo todo aquele turbilhão de coisas. E se fosse manter a palavra que ela nunca realmente prometeu, ela teria que se afastar dele.

Era angustiante se encontrar naquele corredor de portas fechadas; ela sentia a ansiedade fluir em sua corrente sanguínea e bombear fortemente no coração.

— Allie? — Alguém tocou em seu ombro.

Foi só então que a garota percebeu que estava chorando. Ela tocou a bochecha e olhou para Vinnie, ele a olhava de volta muito preocupado.

— O que houve?

— E-eu... — Ela respirou fundo e fechou os olhos. Sentiu o vulto do loiro abaixando-se à sua frente. — Como a H-hera está?

— Ela vai ficar em observação por mais um dia. Não deve demorar mais do que isso para receber alta. Aparentemente, está tudo bem.

Ela balançou a cabeça para mostrar que entendeu e sem precisar pedir, Vinnie puxou um assunto qualquer enquanto se sentava ao lado dela. Pelos próximos minutos, ele a distraiu com uma fofoca qualquer sobre um conhecido em comum e logo depois, eles saíram da clínica.

Voltando nos dias em que namoravam, ele era quem mais sabia lidar com as crises de ansiedade dela. Mesmo que durasse minutos ou muitas horas, ele não se desesperava e tentava de tudo para distraí-la até que o surto passasse.

A marcou muito não ter Vinnie lá quando uma de suas piores crises aconteceu, logo depois do término. A internet estava um inferno em cima dela e ninguém mais parecia entendê-la, nem os amigos que estavam ali mostrando apoio. Foi a primeira vez que se deu conta da dependência emocional que levava para com o influencer de Seattle - e a primeira medida, tratar disso. 

Na sua próxima sessão com a terapeuta, ela tinha certeza que Vinnie voltaria a ser assunto.

— Eu aluguei um carro para vir aqui, posso te deixar em casa.

— Obrigada, mas eu estou de carro também. — Ela tinha certeza que parecia desconfortável enquanto respondia.

Fale sobre a comédia romântica de erros. Ela nunca poderia estar em um triângulo amoroso, não quando seu coração estava certo do que fazer.

— Você pode pedir para alguém buscar o seu carro depois. Não sei se é uma boa ideia dirigir agora.

— Tem razão, não vou dirigir agora. Vamos tomar um café ou sentar para lanchar.

Ele rapidamente assentiu.

— Eu estou mesmo com fome. Vem, conheço um lugar aqui perto.

— Você sabe o que quero fazer, não é? — Ela perguntou quando ele a conduziu para a outra calçada e começou a descer a rua.

— Sim, e não estou mesmo me opondo a isso, mas tem certeza que está bem?

— Acho que não estou bem justamente por adiar tudo isso.

— Acho que entendo. — Ele suspirou e se manteve em silêncio até cruzar a porta do estabelecimento.

— Podemos pegar uma mesa ali nos fundo? — Allie perguntou para a funcionária simpática da cafeteria.

— Claro. — Ela sorriu e os conduziu para uma mesa longe das vidraças e de um ângulo específico, atrás do balcão.

— Obrigada.

Enquanto analisavam o cardápio, Allie agradeceu aos céus por não ter causado nenhum tipo de drama com a garota que os recepcionou. Ela ao menos parecia saber quem eles eram e isso era bem difícil de acontecer na cidade dos influenciadores e estrelas de cinema.

— Vinnie, eu...

— Se você...

Ambos disseram ao mesmo tempo, olhando um para o outro quando o fizeram. Vinnie fez sinal para que ela seguisse em frente.

— Eu só... Bem, eu sei que é estranho tentarmos agir como se não tivesse esse elefante branco na sala. É tudo em que consigo pensar. Eu disse que podíamos tentar sermos amigos, mas aqui, sentada em uma cafeteria contigo, estou com medo de quem pode aparecer com uma câmera na mão e arruinar meu relacionamento porque eu não disse para ele que estaria aqui. — Ela lançou um olhar para a porta do estabelecimento, ressaltando o que ela realmente queria dizer. — Ser sua amiga me fez esquecer quem é a verdadeira vítima aqui e faz, principalmente, com que eu me sinta na obrigação de te perdoar todas as vezes, porque nunca é para valer.

— Eu não quero que você se sinta na obrigação de nada, Allie.

— Eu sei, e ainda assim é o que acontece. Quanto mais me aproximo, mas sinto que vou voltar para aquele limbo.

— Eu sinto muito por tudo que você teve que passar e pelo o que te causei, mas se quer saber, nunca mais falei com Ethan.

— Isso é bom para você, pois ele é uma pessoa e influência horrível.  Mas, não se trata apenas dele... — Allie engoliu em seco a menor menção à Ethan.

— É o que a internet fala? Eu não posso controlar isso.

— Ninguém pode, mas é exaustante ser perseguida por sua causa. Espero que sua nova namorada tenha mais sorte.

— Nós não estamos colocando nada sobre a gente em público. Isso ajuda.

Ela sentiu aquela pontada, como se tivesse sido cutucada bem na ferida. Tinha sido uma indireta? Aquilo era sobre a forma como estava lidando com o relacionamento com Chris?

E ele não precisava saber, mas até pouco tempo, a exposição dos dois era o que fazia aquele namoro existir.

Tudo bem, ela tinha colocado um voicemail com Vinnie na música onde ela bota para fora como odiava a internet e a grande interferência em sua vida, mas nada que desse direito a ele de achar que poderia saber mais sobre seus sentimentos do que ela.

— Às vezes eu acho que nós dois cometemos um grande erro, sabia? — Allie disse, e sua garganta arranhou por segurar o choro.  — Eu amei tanto você que me apeguei à ideia de que podíamos ser invencíveis. Aí você age assim, passivo-agressivo, e eu me lembro exatamente da posição decadente em que estava há um ano.

Ela não sabia mais se estava falando para magoá-lo ou apenas para se livrar do peso em seu peito, mas no fim das contas, também não ligava. Ele merecia sentir aquele ponto final que ela estava tentando colocar na história mal resolvida deles, caso contrário, nunca iriam verdadeiramente seguir em frente.

E ele sentiu o impacto, estava estampado no seu rosto que não tinha gostado da resposta atravessada. No entanto, se houvesse qualquer pingo de juízo em Vinnie, ele estava usando para manter a língua dentro da boca.

— Então é isso. Não sei mais o que você quer que eu diga — ele murmurou, abaixando a cabeça como se não quisesse mais estar ali.

— Não quero que você diga, quero que faça. Eu considero muito você e é algo que não vai mudar da noite para o dia, mas por favor, não use isso para me manter por perto.

— É o que você acha que estou fazendo?

— O que mais eu deveria achar que você está fazendo? Eu nunca poderia negar te ajudar com Hera, você sabe bem disso. — Ela cruzou os braços diante do corpo, tentando ficar na defensiva. — Ainda assim, você tem uma namorada e outros amigos a quem pedir ajuda hoje...

— Isso é sobre o Christopher? Porque eu juro que...

— Ele é o último dos seus problemas, Vincent — Allie disse, o interrompendo com o tom de voz frio e cortante.

Ele arregalou os olhos porque aquele não era o tratamento que ela geralmente lhe dava.

— Você não precisa ficar tão na defensiva.

— Preciso, porque às vezes eu acho que você está prestes a dizer que quer voltar.

— Eu estou com alguém! — Vinnie esbravejou baixo, olhando ao redor quando algumas poucas cabeças viraram-se para eles.

— Então, comece a agir desse jeito!

Podia ser o momento de fragilidade em que sua cabeça resolveu lhe pregar uma peça, mas Allie tinha quase certeza que vislumbrou Vinnie se aproximar perigosamente enquanto estavam na sala de espera da clínica. Ele ainda a olhava como se ela fosse a pessoa mais importante na sala e isso não era justo de maneira nenhuma. Não quando não era o que ele fazia nos últimos meses em que estiveram juntos.

— Nós não podemos mais ser vistos juntos, Vinnie. Hoje e nunca mais. E é por mim, antes que queira envolver meu namorado nisso.

— A gente teria poupado um drama se tivesse me dito que era com ele que você queria estar desde o início. — Ele balançou a cabeça quando uma risada irônica saiu.

— Eu queria ter sabido disso antes, confie em mim. — Allie se levantou sem demora, tirou alguns trocados do bolso traseiro de seu jeans e o olhou quando bateu o dinheiro na mesa. — Espero que você seja melhor para sua nova garota — ela deve merecer.

Ele abriu a boca, mas antes que pudesse falar, Allie já tinha lhe dado as costas e caminhava apressadamente para a saída.

Era um alívio encerrar aquela história, deixar no passado tudo de ruim e até mesmo o que foi bom de seu relacionamento com Vinnie. Ele sempre seria parte do que ela nunca mais gostaria de viver, e se no futuro decidisse que poderia verdadeiramente perdoá-lo, faria isso sem sentir-se obrigada.

Agora seu coração clamava por outro alguém, lutando contra a razão e a convencendo de que a rejeição não era mais uma opção.

O destino finalmente os levou de volta um para o outro, certo?

i. que saudade de colocar música nos capítulos pois o desse seria the internet by gracey minha diva (é da playlist discografia da allie, ela escreveu pra esse cara aí, mereceu?

ii. é uma atualização tripla novamente e estou assim 🫶🏻🫶🏻 me desculpando pela demora (e já avisando que agora o fim tá realmente mais próximo

iii. vejo vocês no próximo 😘💗