𝗙𝗜𝗙𝗧𝗘𝗘𝗡
( 𝗿𝗲𝗮𝗹 𝗹𝗶𝗳𝗲 )
❝ 𝗛𝗘𝗔𝗥𝗧'𝗦 𝗧𝗛𝗜𝗡𝗚𝗦 ❞
A discussão começou quando Allie cantou um trecho de "Kill Bill" da SZA que soava nos alto falantes espalhados pela propriedade e Chris fingiu ficar ofendido com a suposta indireta. Cinco minutos depois, não era mais apenas fingimento. Nick estava quase arrancando os cabelos e Matt já tinha se afastado da cena com a desculpa de ir buscar mais refrigerante para ele e a namorada - o que se tornou um passeio de alguns minutos de paz longe dos brigões.
Chris não pensou duas vezes ao se levantar e sair da rodinha que estava com os amigos quando Nick pediu sua ajuda para encontrarem um banheiro disponível no andar de cima. A motivação principal era colocar o plano que fez com Allie em prática, mas ele também precisa respirar um pouco longe dela antes de embarcar em mais uma longa discussão quando estivessem juntos sabe-se-lá onde fosse o lugar que Nick ia encontrar para prendê-los.
— Nick, isso não parece um banheiro — disse ele, entrando no ambiente escuro e dando alguns passos às cegas até escutar o barulho da porta fechando atrás dele.
— Sério, Chris? Pela segunda vez? — A voz de Nick soou do outro lado da madeira quando o moreno fez o mínimo esforço para girar a maçaneta. — Já sabe como funciona, né? Só sai daí morto ou depois que você se entender com a Allie.
Chris deu uma risadinha baixa e revirou os olhos, se perguntando como Nick havia conseguido a chave do que - forçando a visão no escuro - parecia ser um closet vazio.
— Posso pelo menos saber como vai trancar a gente aqui?
— Olha, você não sabe o que um grampo de cabelo pode fazer... — respondeu Nick.
— E desde quando você sabe usar um grampo de cabelo para abrir ou fechar portas, Nicolas?
— Eu não faço a menor ideia! Mas Austin aprendeu em Scooby-Doo ou algo assim. Agora calado, vou estar do outro lado do corredor caso você tente sair antes que ela chegue, viu — ele informou e soltou a maçaneta.
Chris ouviu os passos se afastando e logo vozes preenchendo o corredor. Não muito depois a porta abriu e pela luz do lado de fora, ele conseguiu ver a silhueta pequena de Allie entrar. Ela não estava assustada ou realmente tentada a sair quando percebeu quem a esperava ali, afinal, era tudo combinando, mas pela cena ela tentou voltar atrás assim que a porta foi fechada novamente.
— Austin! — ela gritou ao passo que o amigo trancava a porta.
— Lutem, vadias! — Nick disse, causando uma risada que Allie teve que controlar.
— Eles são realmente manipuláveis, não é? — a garota falou virando-se na direção que Chris estava. — Uh, precisamos encontrar a luz desse lugar.
— Não gosta do escurinho? — Chris provocou mexendo as sobrancelhas mesmo que Allie ao menos conseguisse ver.
— Apesar de preferir ficar no escuro ao ter ver essa sua cara, estou ficando meio claustrofóbica aqui.
Eles se apoiaram em paredes opostas e procuraram pelo interruptor, Chris foi quem o encontrou e acendeu a luz fluorescente do cômodo cheio de prateleiras vazias e carpete mofado.
— Ugh, não tinha lugar pior para estar?
— Você nunca para de reclamar? — Ele sorriu sarcástico, daquele jeito que deixava Allie se perguntando como as pessoas conseguiam achá-lo um ser humano agradável.
— Não. Eu estou enfiada aqui com você passando a virada do ano que jurei que começaria bem, mas desse jeito? Me enganei totalmente — ela divagava enquanto ajeitava o vestido para se sentar no chão, deixando o pacote que Chris havia lhe entregado mais cedo ali ao lado.
— Você que terá que me aturar ainda mais esse ano, gatinha. Estamos tentando trabalhar na nossa imagem aqui, esqueceu?
— De verdade, pare com os apelidos. E você não me deixa esquecer essa coisa toda nem por cinco minutos.
— Estou querendo transformar isso em uma competição, sabe? Quem convencer melhor aos outros que estamos juntos, é o vencedor. — Ele cruzou os braços e a olhou, não parecendo estar brincando.
— Você está falando sério? — Allie perguntou perplexa demais para se importar com o queixo quase indo ao chão. — Qual é o prêmio?
— Estou falando muito sério. E o prêmio é a satisfação de ser melhor que o outro, o que para mim já é praticamente natural, né?
— Cresça, Christopher. — Ela não evitou revirar os olhos. — Esse é o pior prêmio para uma competição que eu já vi.
— Eu não acho. — Ele deu de ombros e tirou o celular do bolso dianteiro da calça como se fosse ignorá-la pelos próximos minutos.
Allie desviou os olhos de como ele flexionou a mandíbula parecendo tão indiferente e tossiu para disfarçar a leve engasgada.
— Então, — ela começou. — Já que estamos aqui, precisamos definir regras para essa coisa de namoro falso.
— Estou te ouvindo — ele respondeu ainda com os olhos vidrados no celular.
— Não está, não — a morena resmungou como uma criança e atraiu a atenção do garoto.
Enquanto os olhos escuros de Allie percorreram o rosto entediado de Chris, ela se lembrou da infância, na época em que ele era o primeiro e às vezes o único a prestar atenção em qualquer coisa que sua versão de sete anos dissesse.
Como a única menina, ela raramente conseguia fazer com que os meninos mudassem as brincadeiras para algo que ela queria. No entanto, quando ninguém estava vendo, secretamente Chris estava lá para ser o pai da sua boneca-bebê ou para ajudá-la a montar a cidade das Barbies - que ela nunca realmente brincava pois ficava cansada demais só na arrumação. Ele também ouvia os poemas que Allie recitava na hora do lanche na pré-escola e foi o primeiro a se interessar em saber como ela estava se saindo nas aulas particulares de piano.
Era agridoce ter tantas lembranças do que eles já foram ao encarar os olhos azuis de Chris que pareciam os mesmos. Allie teve que afastar as memórias com um balançar de cabeça e limpou a garganta para dizer:
— Como eu estava dizendo, precisamos de regras aqui. Definir limites e saber exatamente o que vamos fazer. Gregg não deixou claro quanto tempo teremos que fingir essa coisa toda, mas vamos fazer funcionar por três meses.
— Você está falando sobre: nada de beijos, quando poderei pegar na sua em público e assinar um contrato com duração de três meses? — Uma sobrancelha se ergueu. — Seremos um escândalo juntos, Cameron. Deixa as coisas fluírem.
— Não gosto de deixar as coisas fluírem — ela resmungou. — Mas você está certo sobre a primeira parte.
— Ninguém vai acreditar em um casal que não tem afeto.
— É verdade, mas não precisamos nos beijar.
— Não é como se fosse a primeira vez... — Chris cruzou os braços, muito orgulhoso de si mesmo.
— Cala a boca! — Allie ralhou, procurando algo em volta para arremessar no garoto. Seus amigos tinham sido inteligentes em encontrar um lugar vazio, afinal.
Eles desviaram o olhar ao mesmo tempo quando a música lá embaixo parou abruptamente e os gritos anunciavam a contagem regressiva para o novo ano. Acompanharam em silêncio o barulho da comemoração externa e sorriram levemente um para o outro quando os fogos de artifícios foram mandados ao céu na chegada do dia primeiro de janeiro. Não trocaram felicitações, mas também não interromperam o momento até que um breve silêncio fosse feito entre o último fogo de artifício e a música retornando a tremer as paredes.
Allie pegou o celular do bolso da jaqueta de couro para confirmar que não seria esquecida na casa de um estranho - amigo de um amigo de Nessa, ela sabia que não podia confiar -, mas se alarmou quando viu a notificação de uma mensagem de Savannah, logo antes de ser apagada, mas não a tempo para que não conseguisse ler.
— Merda! Cacete. Que porra. — Allie esfregou a testa ao encarar a tela do celular e Chris não poderia ter ficado mais curioso com o xingamento repentino.
— O que foi? Se assustou com sua própria foto na tela de bloqueio? — Chris zombou mais uma vez, jogando a cabeça para o lado.
— É a Savannah. Que merda.
O olhar de Christopher não tinha como ser mais confuso, levando-o a se esforçar para chegar em alguma razão lógica para a resposta que havia recebido.
— Allie, eu não estou entendendo nada agora. — Ele balançou a cabeça para sinalizar sua confusão, como se não tivesse expressado na forma como suas sobrancelhas pareciam a um pelo de se encostar.
— Deus, não... Não, não, não. Como não pensei nisso antes? — Ela choramingou levantando os olhos para o teto de gesso branco. — Eu sou uma amiga horrível.
— Porra, você vai me explicar o que está acontecendo ou vou ter que advinhar? Você está me deixando nervoso!
— Eu não sei se posso falar sobre isso com você! Eu não deveria, pelo menos.
— Bom, infelizmente você é expressiva demais para voltar atrás com suas ações. — Ele deu uma olhada severa. — Anda, fala o que você viu aí que te deixou apavorada assim.
— Você não pode falar sobre isso com ninguém, ouviu? Nunca. Nem uma palavra.
— Prometo! — Chris ergueu as mãos em redenção.
Allie deu uma última olhada no celular e depois para o garoto de novo, considerando falar sobre um de seus segredos e não o da amiga.
— Savannah tentou me avisar que eles me prenderiam aqui com você.
— Uau, ela é uma boa amiga — respondeu ele rindo e parece cada vez mais confuso.
— Sim, ela é. Mas ela apagou a mensagem. Deve ter percebido que já estou aqui.
— Ainda não entendi o que tem demais-
— Ela gosta de você. — Allie suspirou quando as palavras saltaram de sua boca. — Eu acabei de me tocar que não posso deixá-la pensar que somos de verdade.
— Caralho — ele berrou em choque quando seus olhos arregalaram. — Isso é sério?
— Qual é, eu não mentiria sobre uma coisa dessas!
— Você pode ter entendido errado! Quer dizer, como você sabe disso em primeiro lugar? — Chris levantou-se e começou a andar em círculos pelo cômodo.
— Ela me contou há uns quatro meses atrás, assim que percebeu os sentimentos por você — Allie explicou com pesar. Era bom dizer algo que carregava como segredo em voz alta, mas era horrível a sensação de trair sua amiga, ainda mais contando para a pessoa que estava diretamente envolvida na questão e que deveria ser a única a não saber até que Savannah quisesse falar.
O closet caiu em um silêncio mortífero por talvez um minuto inteiro, mais alto do que qualquer barulho lá fora.
— Eu nunca percebi. Quer dizer, ela mal fala comigo às vezes? — A frase dele saiu em forma de pergunta intencionalmente.
— Não é um assunto meu para eu poder lidar, Chris. Por isso te pedi para não falar nada com ninguém até que ou se a Sav resolver conversar sobre com você. Eu só... Céus, tenho que falar sobre nós dois com ela.
— Que merda. — Ele caiu no chão de novo, apoiando a cabeça na parede e fechando os olhos.
— Nós não mandamos no coração — disse ela, baixinho como se tivesse medo que ele realmente escutasse.
Ainda havia receio em Allie em saber que ele podia estar se dando conta dos seus sentimentos por Savannah e descobrir que sim, ele gostava dela de volta. Como se soubesse o pensamento que cruzava a mente da garota, Chris abriu os olhos para encontrar os dela e teve vontade de negar aquilo. Mas acabou por não fazê-lo também.
— Por mim tudo bem — ele afirmou, mas estava balançando a cabeça para os lados.
— O quê?
— Contar para ela que nós não somos de verdade.
— É o certo a se fazer — Allie concordou, pegando o celular para digitar uma mensagem de volta para Savannah. — Vou dizer a Nick que precisamos sair daqui.
— Boa sorte em convencê-lo.
i. eita que agora é só ladeira abaixo vius
ii. não é a maratona mais uau que vocês verão porém é o que posso entregar por agora, desculpem e prometo que terá mais assim essa semana ainda
iii. espero que tenham gostado e até o próximo!! 🤍
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