𝗕𝗢𝗡𝗨𝗦
( 𝗿𝗲𝗮𝗹 𝗹𝗶𝗳𝗲 )
❝𝗛𝗢𝗠𝗘 𝗜𝗦 𝗪𝗛𝗘𝗡𝗘𝗩𝗘𝗥 𝗜'𝗠 𝗪𝗜𝗧𝗛 𝗬𝗢𝗨 ❞
𝒄𝒉𝒓𝒊𝒔' 𝒑.𝒐.𝒗
— Papai, eu posso ter um celular? — Benjamin perguntou do seu assento no carrinho de supermercado.
Eu empurrava o carrinho e tentava não ser acertado no estômago por suas perninhas que balançavam em um ritmo descompassado, como se ele ao menos prestasse atenção no que estava fazendo e estivesse apenas entediado de estar ali comigo. Que para ser honesto, eu também me sentia do mesmo jeito sobre ir às compras sem Allie. Téeeedio!
— Você não precisa de um celular. — Franzi o cenho ao olhar para a variedade das marcas de marshmallow.
— Eu preciso! E se eu tiver que ligar para alguém? Ring-ring! — O pequeno imitou o barulho do aparelho enquanto levava uma das mãos abertas à orelha.
Um absurdo. Na minha época, uma criança faria o gesto de um telefone usando o polegar e o mindinho, não a mão inteira!
— Quantos anos você tem, Ben? — perguntei, logo recebendo um olhar incerto do meu filho.
— Quatro. — Ele ergueu a mesma quantidade de dedos da mão direita para me mostrar.
— Quatro anos. E você sabe quantos anos eu tinha quando ganhei meu primeiro celular?
— Quatro? — Seu sorriso travesso quase me fez ceder.
— Esperto. Você é um garotinho esperto, Ben. — Peguei os dois sacos de marshmallow e joguei no carrinho, ouvindo a criança murmurar um "yummy". — Eu tinha quatorze anos quando minha mãe comprou meu primeiro celular.
Bom, isso não era tão verdade assim. Eu havia ganhado meu primeiro celular aos doze anos, mas acabei o destruindo de forma irreparável poucos dias depois. Então mamãe não me deu outro telefone até eu jurar que seria mais responsável e que precisava me comunicar, já que estava entrando no ensino médio e não podia continuar dividindo o celular com Nick ou Matt - e às vezes Justin, se ele estivesse em um bom dia para me emprestar.
— Você ainda tem essa idade, papai?
— Não, agora eu tenho trinta e um.
— Você é tãaao velho assim?
— Velho é o seu passado, amigão.
— O quê?
— Eu não sou velho. A mamãe tem a mesma idade que eu.
Allie não gostava quando eu falava algo que as crianças não entendiam, mas às vezes era tão engraçado vê-las confusas por causa de um ditado popular ou uma palavra grande demais para seus vocabulários ainda limitados. Não que eu falasse como um adulto que segue a norma culta, mas às vezes até tinha que simplificar ainda mais.
— Vocês têm o mesmo dia de aniversário? — Mais uma pergunta veio com aquele tom de curiosidade que Benjamin usava para tudo e eu sorri.
Ver o mundo de sua perspectiva havia me ensinado mais coisas do que achei ser possível aprender com uma criança e todos os dias eu pedia para Deus não deixar que ele crescesse tão rápido e perdesse o encanto nas minhas respostas para as coisas mais simples.
— Não. A mamãe é um pouquinho mais velha do que eu.
— E você... É um pouquinho mais velho do que eu?
— Sim, sou um pouquinho mais velho que você.
— Então, a mamãe é velha!
— Não diga isso para ela, filho.
Quando garanti que havia comprado toda a lista que Allie me enviou por todas as plataformas possíveis - apenas porque ela sabia que eu sempre esquecia algo e nunca olhava nosso aplicativo de agenda compartilhada -, sai do supermercado com um Benjamin quase dormindo em sua cadeirinha no banco de trás do carro.
Nós tínhamos programado para a semana seguinte uma rápida viagem para Nova Hampshire, onde o outono era colorido pelas árvores e havia acampamentos acontecendo o ano inteiro. Juntar toda a família em épocas não-comemorativas era um sacrifício, mas sempre encontrávamos uma data ou outra para passar um tempo em casa, em Boston.
Estávamos na semana que sucedia o Halloween, as crianças ainda tinham doces guardados na despensa e algumas casas ainda não tinham se desfeito das decorações horripilantes no quintal. Óbvio que a casa de minha mãe era a primeira da rua a mudar a decoração logo no dia primeiro de novembro, porque Marylou ficava ansiosa demais para planejar o jantar de Ação de Graças para prolongar o Halloween.
Passamos pelas bandeiras estampadas com abóboras assustadoras e estávamos a poucos metros de casa quando notei os carros de Nick e Matt parados na garagem aberta para a rua.
Como eu disse, era difícil conciliar um dia em que todos estavam disponíveis, fosse em Los Angeles ou quando vínhamos para Boston, então nossa família aproveitava toda e qualquer oportunidade para se juntar. Mas eu não me lembrava de termos planejado nenhum almoço - ou pela hora, um café da tarde - com meus irmãos. Ainda assim, eu não estava reclamando, eles moravam a algumas ruas de distância e não era de surpreender que aparecessem sem avisar - eu e Allie havíamos ido no dia anterior à casa de Matt e Rory sem ao menos uma mensagem para informar.
Ben acordou no segundo em que estacionei o carro. Ele se endireitou na cadeirinha, o rosto amassado como se tivéssemos feito uma viagem de horas, e ficou me observando sair do banco do motorista e abrir a porta lateral corrediça para facilitar o trabalho de pegá-lo.
— Amigo, você vai ter que ajudar o papai e entrar em casa andando, tudo bem? Eu sei que sou super forte, mas vai ser complicado pegar todas as sacolas do supermercado se você estiver no meu colo — eu disse, a voz suave para não forçá-lo a acelerar o processo do cérebro juntando as peças depois de uma soneca. Ele soltou o próprio cinto - que formava um 'x' na região do peito - e aceitou a mão que eu o estendia. — Muito bem, aqui vai você.
Ele soltou um bocejo quando o coloquei no chão, mas o sono evaporou segundos depois quando ouvimos vozes estridentes vindo em nossa direção. Rory havia aberto a porta da entrada de minha casa e seus filhos saltaram como foguetes, correndo na direção do primo com tanta animação que se alguém os visse de fora, diria que eram crianças se reencontrando depois de meses separados.
— Ben! Ben! A mamãe deixou eu trazer o Turbo! Vem, nós vamos dar comida para ele agora — Nolan contou aos pulos, como se fosse tão acelerado como o nome que escolheu para seu porquinho-da-índia.
O garoto saiu puxando o meu filho para dentro de casa e eu e Rory trocamos um sorriso.
— Tio Chris! — Crystal gritou e pulou no meu pescoço antes que eu pudesse notar sua presença.
Ela havia sido deixava para trás pelos garotos, o que geralmente acontecia quando os dois se juntavam, mas ela não parecia se importar nenhum pouco, afinal, tinha o tio Chris para fazer de refém de suas brincadeiras de boneca e os chás da tarde com os bichinhos de pelúcia. Eu e Matt costumávamos brincar sobre fazer uma troca de filhos, porque enquanto Crystal largaria o próprio pai para passar um tempo comigo, Ben era louco pelo tio e facilmente me trocaria por ele.
— Crystie, garota! Como você está? — Eu a abracei apertado e fiz cosquinhas em sua barriga quando ela não parecia perto de me soltar.
— Eu estava esperando você chegar para te mostrar a nova Barbie que o papai comprou para mim. Ela vai acampar com a gente!
— Oh, uma Barbie que acampa? Eu mal posso esperar para ver isso.
— Vá pegar a boneca, filha. Mas deixa seu tio entrar em casa primeiro. — Rory chamou a menina enquanto eu abria o porta-malas do carro e aproveitava a oportunidade para pegar as sacolas de uma vez. — Você precisa de ajuda?
— Eu adoraria, mas Matt cortaria meus braços fora se soubesse que dei o mínimo de trabalho para sua esposa grávida.
— Ele me trata como se eu nunca tivesse estado grávida antes!
Ela me olhou como se esperasse que eu saísse em sua defesa, mas eu apenas dei de ombros.
— Vamos falar a verdade, Rory. Você nem precisa estar grávida para ele te tratar como se fosse uma boneca de porcelana.
— E eu geralmente acho fofo, mas às vezes ele é demais.
Ela revirou os olhos quando comecei a rir e com mais un resmungo - "Eu não estou doente ou debilitada!" -, pegou algumas das sacolas do porta-malas e fez o caminho até a cozinha da casa.
— Você fez compras sozinho? — ela perguntou quando me viu indo atrás dela.
— Não sem uma extensa lista feita pela sua cunhada.
— Acho que ela exagerou! Nós também vamos levar comida, ela sabe, não é?
— Sim, mas você sabe como ela está animada com toda essa ideia.
— Eu sei. Estamos deixando ela e Austin pensar que esse acampamento foi ideia deles.
— Por Deus, se fosse por eles, iríamos nos perder nas florestas de White Mountains. — Eu tremi ao visualizar as manchetes estampando nossos rostos e todas as equipes de resgate dos Estados Unidos trabalhando para nos encontrar.
— Com certeza. Não conte para eles, mas alugamos um chalé.
— Com esse monte de crianças e Nick, seria imprudência da nossa parte não alugar um chalé. Eles vão entender.
— Adorei como você disse Nick como se ele fosse uma de nossas crianças. — Ela riu e encerramos a conversa quando colocamos as últimas sacolas em cima da bancada da cozinha.
— Oi! O que vocês estão falando do meu marido? — Austin olhou para nós com desconfiança. Rory deu uma desculpa qualquer e sumiu da cozinha mais rápido do que a fumaça saindo da panela de pressão evaporou. Eu revirei os olhos. — Uau, ela sabe mesmo disfarçar.
— Estávamos falando sobre o quanto ele é fresco e que só aceitou acampar porque é algo que você quer muito.
— Isso não é verdade! — Ele tinha aquela expressão de "corações nos olhos" mesmo quando estava tentando ser sério. — Ele também quer estar com a família.
Allie riu atrás de mim e eu notei sua presença. Abracei sua cintura e ela colocou os braços ao redor do meu pescoço.
— Ele está comigo e com Matt quase todos os dias da semana.
— Sim, para trabalhar. Você entendeu o que eu quis dizer — Austin disse.
— Para de implicar com ele e venha me ajudar com o jantar. — Allie interveio cutucando meu ombro e olhando para o meio-irmão quando continuou: — Nate, Justin e seus pais tiveram a decência de avisar que estão vindo jantar com a gente.
— Que isso? Nossa casa virou ponto de encontro? — Apesar do tom indignado na minha voz, eu não estava achando nada ruim.
Meus amigos e minha família reunidos na minha cidade natal? Era quase uma festa de fim de ano antecipada.
— Não fale como se você não gostasse da casa cheia! — Austin disse com um tom de divertimento. — Bom, eu vou voltar para minha vaga no sofá antes que essa casa seja tumultuada por mais vinte pessoas... — Ele saiu da cozinha ao som das nossas risadas.
— Obrigada por ter ido ao mercado. Sei que você odeia fazer compras. — Allie me beijou quando tivemos o vislumbre de privacidade.
— Considerei como meu castigo por ter esquecido de levar o lixo para fora ontem à noite.
— O bom é que você entende rápido como as coisas funcionam.
— Faz tempo que já entendi quem é o sargento dentro dessa casa.
— Alguém tem que ser o responsável! Você fica com a parte legal de ser o pai divertido...
— Não diga isso. — Acariciei seu rosto e ela sorriu, mas parecia triste com o tópico tocado. — As crianças adoram a mamãe divertida.
— Ela não tem aparecido com muita frequência ultimamente. — Ela suspirou e procurou meu olhar de aprovação. — Você acha que eu tenho sido muito dura?
— Não acho, meu amor. Você só está tentando manter essa casa de pé. Imagina se eu tivesse que lidar com tudo sozinho? Eu nem sei colocar o lixo para fora nos dias da semana em que o caminhão vai passar!
Ela riu e eu senti todo o meu corpo se aquecer com a sensação de familiaridade em estar nos braços dela.
Eu adorava nossa vida. Acordar cedo porque as crianças pareciam ter horário cronometrado de sono, fazer o almoço juntos e dividir as outras tarefas, sentar no sofá ao fim da tarde para assistir um filme infantil e cair no sono no quarto das crianças após ler uma história que deveria ser apenas para fazê-las dormir. Não era comodismo, mas era tranquilo, pacífico e ideal. Eu não imaginava viver outra vida que não fosse exatamente aquela, onde eu tinha uma família, a minha própria família, esperando por mim em casa. E eu não trocaria essa versão da minha vida por nada.
É verdade que, na carreira em que escolhemos seguir, eu e Allie viajamos bastante e tínhamos que fazer mais esforço para conciliar o tempo de tudo. Às vezes era difícil e estressante, mas no final das contas sempre conseguíamos manter a rotina para que as crianças crescessem com estabilidade e sabendo onde pertenciam. Além disso, as escapadas nos fins de semana ou viagens que passávamos meses planejando, valiam muito mais a pena quando parávamos a agitação rotineira para embarcar nessas aventuras.
No meio de tudo ainda tinha Allie, que não se auto apreciava o suficiente, mas todo mundo via o quão excelente ela era em absolutamente tudo o que fazia. Conciliar a vida pessoal com a carreira era uma das habilidades que eu mais admirava nela. Genuinamente me impressionava como ela conseguia sair de um show com casa cheia no Hollywood Bowl e voltar para casa como a mãe dos meus filhos, disposta a lhes dar toda a atenção do mundo enquanto os colocava para dormir. Ou como ela era a estrela para uma multidão em um momento, e no outro, voltava para mim como se existisse apenas nós dois no mundo.
— Nós temos anotado nesse quadro os horários que o caminhão de lixo passa. — Seus olhos percorreram até o outro lado da cozinha, onde tínhamos o quadro na parede para avisos, anotações, calendários e para colocar os inúmeros desenhos que as crianças faziam.
— E eu prometo que vou ficar mais atento a ele — respondi, beijando seu rosto. — Não seja tão dura consigo mesma, ok? Você é ótima nisso.
— Em ser dona de casa?
— Em ser minha esposa.
— Você é tão brega. — Ela riu quando fiz cócegas em seu pescoço e saiu do abraço antes que eu transformasse o carinho em tortura.
— A sua sorte é ser bonitinha, porque ninguém que me insulta vive muito tempo para contar!
— Isso é mentira. Seus irmãos continuam vivos por trinta e um anos agora.
— Ok, eu não quero mais falar sobre isso — murmurei, caminhando para a saída lateral da cozinha.
— Você está correndo de me ajudar com o jantar?!
— Só se você estiver pensando nisso desse jeito! Eu tenho a nova Barbie da minha sobrinha para conhecer.
E não demorou muito para que Crystal me envolvesse em sua brincadeira, contando animada sobre os planos para acampar com a nova boneca.
Nolan e Ben ainda estavam muito interessados no porquinho-da-índia e eu os fiz incluir a garota quando ela já parecia cansada de brincar sozinha. Logo estavam todos os três correndo atrás do bichinho, até que os outros primos e os filhos de Nate chegassem para se juntar a outra brincadeira que também envolvia correria e alguns gritos de prevenção vindo das mães.
Quando fomos para a parte externa depois do jantar, o frio era filtrado pela pequena fogueira que acendemos para nos reunir ali. Marylou conversava com as noras que estavam todas ao redor dela, adorando o papo de mulheres que nunca parecia ter fim. Meu pai e Austin evitavam que as crianças se jogassem em meio ao fogo enquanto colocavam pacientemente os marshmallows nos palitos e Matt e Nate estavam montando a mesa do tênis de mesa. Justin e Nick estavam colocando a rede nas árvores que nunca ficava permanentemente ali por conta de nossas viagens e do maior tempo que passávamos em Boston.
Eu observava tudo tão atentamente que era quase como se eles fossem uma pintura congelada e eu o espectador da obra. Uma fotografia e eu guardaria aquele momento para sempre, apenas para mim.
Allie capturou minha atenção e eu não sabia há quanto tempo ela estava me observando primeiro. Nossa bebê dormia em seu colo, embalada como um pacotinho e protegida por sua presença. Vê-la sendo mãe era uma verdadeira dádiva, e eu não me importava em ser o personagem secundário neste cenário. Ela pensava que as crianças me achavam o mais divertido, o mais legal, mas a ligação dela com os pequenos ia muito além do que eu fazia ou não para animá-los. Era ela do início ao fim, seus filhos sempre se lembrariam disso.
— Como você faz parecer tão fácil? — Nick perguntou parando ao meu lado. — Quero dizer, vocês acabaram de ter outro bebê e você parece estar muito perto de querer mais um.
— Já faz um ano que Nicola nasceu, cara.
— Exatamente, ela acabou de nascer.
— Eu não sei. É tudo Allie; ela faz parecer fácil. O meu trabalho é só estar lá quando ela precisa.
— Você quer dizer quando ela precisa de você para fazer outro filho?
— Cala a boca. — Soquei o ombro do meu irmão e olhei ao redor para ter certeza de que as crianças não estavam prestando atenção.
— Estou brincando. — Ele riu quando colocou as mãos no bolso. — Eu adoro ter tantos sobrinhos e sobrinhas que preciso me concentrar para lembrar o nome de todos.
— Isso é um pouco de exagero.
— Óbvio que não! Vocês triplicaram o número de membros dessa família, isso é exagero.
— Vai pegar no pé do Matt ou do Justin, Nicolas. — Revirei os olhos e ele sorriu com travessura, sempre encontrando jeitos de implicar com os irmãos como se ainda fôssemos adolescentes.
A dinâmica entre eu e meus irmãos não ter mudado com o passar dos anos era outra coisa que me deixava bastante grato. Mesmo com a maturidade adquirida e seguindo alguns caminhos diferentes, em essência nós sempre seríamos aqueles três garotos de dezessete anos que tinham um carro e um sonho, literalmente. Crescer como indivíduo e ainda poder voltar para onde tudo começou como um dos trigêmeos era um privilégio que eu sabia aproveitar.
Caminhei até a cadeira de praia onde Allie estava sentada e me agachei ao colocar as mãos em seu joelho.
— Oi.
— Você quer que eu leve Nicole para a cama? — perguntei.
Ela maneou a cabeça em um "sim" e eu peguei a bebê adormecida de seu colo. Antes que eu pudesse me virar e contornar os passos para dentro da casa, Allie me chamou baixinho.
— Mamãe, Jesse e Aaliyah também estão vindo para cá.
— Sério? Quando eles chegaram em Boston?
— Esta manhã. Segundo ela, era para ser surpresa, mas o hotel que eles reservaram não tinha realmente feito as reservas dos quartos.
— Eles não precisam ficar em um hotel, em primeiro lugar.
Allie concordou com a cabeça, fazendo uma careta que demonstrava a obviedade da questão.
— Foi o que eu disse. Eu vou arrumar o quarto de hóspedes mais tarde.
— Agora é realmente uma festa de família. — Eu ri e ajeitei Nicola em meus braços. Ela resmungou de olhos ainda fechados e pressionou ainda mais a bochecha rechonchuda contra meu peito. — Me deixa levar essa criança para o quarto e eu vejo de comprar mais algumas pizzas para o jantar.
— Tudo bem, não demore.
— Claro, tenta não sentir tanto a minha falta.
Allie parecia prestar a revirar os olhos, mas apenas me dispensou com a mão.
— Traz a babá eletrônica, Christopher.
— Usar o nome todo é loucura, mas é para já, sra. Sturniolo.
— Nós não podemos arriscar... É perigoso subir com essa chuva.
— Eu sei. — Suspirei ao telefone com Matt. — Vamos cancelar as reservas no chalé e desfazer as malas.
Lidar com a decepção das crianças talvez não fosse tão difícil quanto lidar com uma Allie entristecida.
Os pequenos ainda estavam formulando seus sentimentos, pensamentos e as maneiras como deveriam se expressar sobre eles. Então não era novidade quando choravam copiosamente quando algo não saia da forma como queriam, e era minha função ajudá-los a descobrir como lidar com tamanha decepção.
Já Allie, uma adulta com opiniões e emoções
devidamente formadas, me deixava infinitamente mais preocupado quando se chateava ou se decepcionava com algo, pois ela lidava com isso de maneira silenciosa.
Ela passou o dia inteiro usando meias-palavras e poucos sorrisos, nenhuma genuinamente sincero, ainda mais por ver os filhos em humores tão negativos quanto. E eu fiquei triste por tabela, até decidir que não podia mais deixá-los daquele jeito por mais nenhum minuto.
A chuva nas montanhas de Nova Hampshire podiam ter estragado os nossos planos, mas nós ainda teríamos o acampamento, mesmo que tivesse de ser feito na sala de estar.
Allie estava no andar de cima da casa dando banho nas crianças enquanto uma música infantil tocava abafado pelas paredes do banheiro. Eu me apressei em ajeitar as coisas nesse meio tempo para surpreendê-los quando descessem.
Estava montando a segunda barraca sobre o gramado artificial que achei no sótão de nossa casa quando ouvi passos da escada.
— Chris... O que? — A pergunta ficou engasgada quando Allie viu que os sofás estavam mais afastados para a parede e a mesinha de centro havia sumido dali.
— Vamos acampar! — disse, terminando de dar o último nó como dizia na instrução da montagem da barraca. — Nós temos sacos de dormir, lanterna, repelente, garrafas térmicas dentro do cooler, e essa... coisa para assar marshmallow e salsichas.
Apontei para todas as coisas citadas e Benjamin correu em minha direção quando levantei a garrafinha térmica com design do Super Mario Bros.
— Mario! — Ele alcançou a garrafinha com os olhos brilhando.
— Você... — Allie ainda estava sem palavras, olhando para o acampamento improvisado na nossa sala de estar. — Você não existe.
— Vamos lá, eu estou bem aqui. — Brinquei enquanto me aproximava para pegar Nicola de seus braços. — Nós temos caça-palavras e livros para pintar também. Nada de tecnologia na floresta.
— Ursinho! — a bebê exclamou quando viu seu urso de pelúcia dentro de uma das barracas. Eu a coloquei em cima do gramado artificial.
— Sim, filha, ele é bastante perigoso... — Ela simplesmente me ignorou e engatinhou até a pelúcia. — Tudo bem, acho que você vai nos proteger dos ursos da floresta fazendo amizades com eles.
Allie riu e parou ao meu lado. As crianças estavam aproveitando o espaço, Nicola ficou curiosa com um dos sacos de dormir enquanto Ben ligava a lanterna e a erguia na altura do rosto como se realmente estivesse explorando em uma floresta escura.
Eu desliguei a luz da sala enquanto Allie se acomodava na cadeira de camping.
— Eu acho que você deveria colocar pijamas para combinar com a gente — ela disse, destacando as roupas de dormir que ela e as crianças usavam.
— É para já. — Bati uma mão na outra e estava prestes a subir as escadas quando ela me chamou. — O que foi?
Ela se levantou e me envolveu em um abraço tão apertado que eu me surpreendi por um momento antes de retribuir.
— Obrigada. Sinto muito pelo mal-humor de hoje mais cedo. Eu só... Eu não sei. Eu queria fazer algo legal e diferente com a minha família e tenho me sentido tão distante ultimamente, e aí você transforma a coisa mais simples na coisa mais especial do mundo e eu-
— Está tudo bem, Allie. — Eu me afastei minimamente para olhar em seus olhos. Ela estava com as sobrancelhas franzidas, como se estivesse prestes a chorar. — Eu sei o quanto você queria acampar. Não precisa agradecer.
— Não é só isso. Eu sou grata por você. Eu não teria ficado impressionada se qualquer outra pessoa tivesse me comprado um castelo agora, mas então você monta um acampamento dentro da nossa sala e eu sou a pessoa mais deslumbrada que irá conhecer. Então, obrigada.
— Eu falo sério quando digo que amo você e que faço qualquer coisa por você.
— Eu sei, céus, eu sei mesmo. — Ela riu, olhando de volta para as crianças na barraca para confirmar que tudo aquilo era real. — Eu amo você.
— Quando nos casarmos em Bali no ano que vem, inclua isso nos seus votos.
Eu falei sério quando disse que faríamos uma cerimônia todo ano para que Allie tivesse o casamento perfeito, com damas de honra, flores no caminho enquanto ela caminhava ao som da marcha nupcial e um belo vestido de noiva depois da nossa rápida oficialização em Las Vegas. Estávamos na quinta - ou talvez fosse a sexta, ou era sétima? - renovação de votos agora. Não era nada muito grande considerando que acontecia nas nossas viagens de verão e nem toda a família podia estar presente, mas eu estava mantendo minha palavra.
— O quê? — ela perguntou confusa.
— O ótimo husband material que eu sou para você, óbvio.
— Eu não quero colocar isso nos meus votos. As pessoas na audiência vão ficar com inveja!
— Eu me casei com você para fazer inveja a todo homem existente nesse planeta, meu amor. Já se olhou no espelho?
Ela varreu o sorriso malicioso do meu rosto com um tapa bem acertado no meu peito.
— Eu amo você, mas suas mudanças de personalidade são insanas.
— Aí. — Afastei os braços da cintura dela. — Achei que você gostasse de como eu posso ser tudo...
— Não termine essa frase.
Eu a interrompi com um beijo. E palavras ainda não faziam justiça aos sentimentos gerados pelo toque dela. Havia dias em que eu acordava sem acreditar que aquela mulher não era apenas fruto da minha imaginação, porque onze anos depois, ainda parecia loucura que tivéssemos saído vencedores da batalha contra nós mesmos e nossos sentimentos confusos quando éramos adolescentes.
— Mais uma coisa — eu disse, quando nossos lábios se separaram. — Eu meio que amo você.
— Isso é novidade!
esse bônus era pra ter saído no dia 4 de julho, tão lindo, tão simbólico mas minha vida tá bem um caos e apesar de a escrita ser válvula de escape, a pobre coitada nem isso tá conseguindo fazer 😘😘
pra mim o chris e o ben são aqueles zeth e saylor do tiktok e qualquer semelhança não é tanta consciência assim pois são eles
espero que vocês gostem de callie mesmo pois possa ser que sempre tenha mais deles aqui 👍🏻❤️🔥 então até mais
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