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𝗕𝗢𝗡𝗨𝗦

( 𝗿𝗲𝗮𝗹 𝗹𝗶𝗳𝗲 )
























































𝗔 𝗥𝗔𝗜𝗡𝗕𝗢𝗪 𝗢𝗡 𝗔 𝗖𝗟𝗢𝗨𝗗𝗬 𝗗𝗔𝗬

Chris e Allie logo descobriram que o dia quatorze de fevereiro não era uma data comemorativa, com o mesmo significado que tinha para os outros casais. Valentine's Day era até trágico, mas não tão romântico quanto eles esperavam.

No segundo ano de namoro em que deveriam passar o dia dos namorados em paz e na companhia um do outro - desde que o anterior tinha sido um completo desastre com direito a desencontros por causa de fuso horário -, a ligação que Allie recebeu enquanto se arrumava para o encontro veio com informações que ela não esperava ouvir de Chris.

— Houve um acidente. — A voz falhando do moreno conseguiu ser compreendida pela namorada. — Matt... Matt estava indo buscar Rory e então...

Allie não se lembrava de ter ouvido as últimas palavras do namorado quando desligou o celular e do jeito que estava, partiu para o hospital para onde Matt havia sido levado.

Eles deveriam ter um encontro duplo com Matt e Rory em algumas horas - não triplo porque Austin não recebeu folga na faculdade e seria inviável viajar até os Estado Unidos em um final de semana quando tinha provas acontecendo na segunda-feira seguinte -, e agora seu cunhado estava desacordado em uma cama de hospital.

Foi assustador todos os minutos que Allie dirigiu em silêncio para o hospital. Quando chegou na sala de espera do ambiente com cheiro de desinfetante e esterilização, Chris e Nick ainda não haviam sido amparados pelos paramédicos que tiraram Matt de dentro do carro danificado, o que significava que eles também não sabiam da dimensão do acidente.

Durante a eternidade que foram as duas horas sem notícias da cirurgia à qual Matt foi submetido - pelo menos nesse meio tempo eles foram procurados pela perícia que investigou e concluiu como o acidente havia acontecido -, Allie ficou abraçada a uma Rory inconsolável. A jovem atriz repetia para si mesma que o acidente - causado por outro motorista irresponsável e bêbado - havia sido sua culpa por apressar demais o namorado. Ele não tinha avançado sinais vermelhos ou usava o celular durante a condução, assim, da mesma forma que não era remotamente culpa dele, também não era culpa dela e Allie foi a responsável por inculcar essa ideia na cabeça da melhor amiga.

A mídia estava sendo contida do lado de fora do hospital quando Marylou e Jimmy chegaram a tempo de ouvir o que o médico responsável por Matt dizia sobre a cirurgia e sua recuperação.

— Ele teve hemorragia interna, já tratada com uma cirurgia bem sucedida, e uma concussão cerebral, que é a perda da consciência por um curto período. O paciente agora está dormindo, se recuperando dos sedativos e descansando a cabeça para não acordar tão confuso ou mais sonolento do que o normal.

— Obrigado, doutor. — Jimmy apertou a mão do médico de sorriso simpático.

— Me avisem se precisar de mais informações que estejam na minha competência de repassar.

Todos voltaram a tomar lugar nas cadeiras desconfortáveis do hospital, respirando com mais alívio. Nick procurava conforto nos braços da mãe depois do episódio de alto estresse recém vivido, enquanto Rory se aproximava cautelosamente como se não fosse receber o mesmo carinho sem precisar pedir. Ela logo entrou numa conversa com os sogros, o que deixou Allie menos tensa por tabela.

Chris, que não tinha estado realmente próximo da namorada durante todas aquelas horas, agora necessitava de contato físico. Ele precisava das mãos dela em seu cabelo, do corpo dela aquecendo o seu e do toque tão conhecido contra sua pele. Ele precisava dela.

Deitando sua cabeça no ombro da namorada, ele a viu digitar rapidamente sobre o teclado do celular, por onde ela atualizava Austin sobre os últimos acontecimentos. O suspirar pesado, mas com certo alívio, veio como deixa para que Chris começasse algum assunto.

— Quer que eu te leve para casa? Podemos tomar um banho e voltar antes que Matt acorde.

Chris percebeu o quão rouca sua voz estava, o esforço involuntário causado pelo choro pareceu ter levado embora toda a água de seu corpo e ele não havia reposto um gole sequer. Allie deu a ele a garrafinha d'água bebida pela metade que deixou na mesa de descanso ao lado de sua cadeira e, enquanto o homem se hidratava, ela respondia:

— Acho melhor que seus pais façam isso agora. Assim, eles estarão de volta quando liberarem a visita e poderão ver Matt primeiro — ela disse, olhando para os mais velhos nas cadeiras à frente.

Ambos tinham expressões de exaustão, medo misturado com alívio e ainda uma pitada de preocupação. Allie não se imaginava estando na posição deles, saber que um de seus filhos passou por um acidente tão assustador e não ser capaz de fazer nada para impedir ou ajudar porque estava do outro lado do país. Marylou e Jimmy voaram de Boston a Los Angeles em tempo recorde, fretando uma aeronave particular mesmo que não tivessem condições financeiras para fazer isso muitas vezes. Justin, por exemplo, ainda estava lidando com os atrasos e imprevistos de um aeroporto internacional.

— Vou dizer para eles irem para casa, então. Depois nós vamos. — Chris beijou o topo da cabeça da namorada antes de se afastar, indo falar com os pais.

Allie se despediu de seus sogros com um abraço, prometendo que ligaria caso qualquer coisa mudasse. Nick acompanhou os pais quando Rory se recusou a deixar o hospital, o que todo mundo compreendia, apesar de tentar convencê-la a pelo menos comer um pouco ou deixar que trouxesse roupas limpas para ela trocar.

Chris sentou-se novamente ao lado de Allie, procurando sua mão para conforto. Ele estava tomado por tanta adrenalina nas últimas horas que não tinha assimilado todas as suas emoções e agora, depois que a poeira abaixou, ele sentiu uma imensa vontade de chorar.

— Allie? — A voz trêmula dele chamou a atenção da mulher.

— Ei, o que foi? Você está bem? — ela perguntou, logo sentindo-se estúpida. Chris não estaria bem diante daquela montanha-russa de acontecimentos, era óbvio.

— Eu nunca senti tanto medo na minha vida. Eu vi Matt dentro daquele carro e posso jurar que não senti meu coração bater por todo tempo que levaram para tirá-lo das ferragens. Então, as sirenes da ambulância me apavoravam. Matt estava inconsciente e Nick e Rory não paravam de chorar. Eu não parecia controlar meu corpo, eu não conseguia fazer nada que não fosse automático... Ligar para você, para os meus pais, dizer para a polícia sobre o que eu sabia do acidente... Era apenas a minha carcaça ali. Eu achei que ele tinha ido embora.

Allie nunca o tinha ouvido falar tão rápido e de forma ininterrupta antes. Ele estava sem fôlego no final, e suas bochechas tinham sido tomadas pelas lágrimas silenciosas.

— Ei, está tudo bem agora. Você foi muito forte por conseguir me ligar no meio de um ataque de pânico, sabia? — Ela o fez olhar no fundo dos olhos dela enquanto acariciava seus dedos. — E enquanto a Matt, é bom que esse garoto não nos deixe em nenhum momento nos próximos setenta anos, e ele não vai.

— Setenta anos? — Ele soltou uma risada em meio ao soluço gerado pelas lágrimas. — Eu não sei se vou viver mais setenta anos.

— É melhor que você viva sim porque todos os meus planos para envelhecer, contam com você ao meu lado. E Nick, e Matt também.

— Uau — disse ele, sinceramente surpreso com as palavras que recebeu. — Isso é ótimo. Você também está em todos os meus futuros planos.

— Bom saber.

O sorriso dele a fez sorrir. Sua energia, embora um pouco comprometida, estava de volta. Chris estava claramente exausto, mas ainda sorria como se fosse capaz de iluminar cada cômodo de um hospital cinzento. Ela colocou os braços ao redor do pescoço dele e deitou de lado, um tanto desconfortável por causa da cadeira que os separava.

— Allie? — Chris chamou.

— Estou ouvindo.

— Nós podemos dar o nome de Matthew quando tivermos um filho?

Allie firmou o olhar no namorado como se esperasse mais explicações. Nada veio. Ele falava muito sério, e estava nervoso enquanto girava o anel no dedo médio da mão esquerda da mulher.

— Matthew... Como o seu irmão?

— Claro que Matthew por causa do meu irmão. Por quem mais seria? — Suas bochechas estavam coradas.

Ela achou realmente adorável, mas ainda não sabia se ele estava falando sério.

— Isso é algum pacto de trigêmeos ou coisa parecida? Porque eu não vejo Nick concordando em nomear os filhos dele com os nomes dos irmãos...

— Não, Allie. Eu falo sério. — Ele suspirou após soltar uma risada baixa. — Meus irmãos... meus irmãos são parte do que eu mais valorizo e me importo nessa vida e quando penso no futuro, no que aconteceu hoje, acho que não faço o suficiente para demonstrar isso para eles. E eu sei que isso parece estúpido e cafona, mas é importante para mim. Nós somos tão interligados que não estou brincando quando digo que achei ter perdido a consciência junto a ele... E eu quero que ele saiba o quanto significa para mim. É mais do que o sangue, é mais do que a irmandade, sabe?

— Chris, eu entendo. — Ela disse, voltando a entrelaçar os dedos nos dele. Ele ainda tentou fugir do olhar de Allie, mas no segundo em que se encontraram, ele se sentiu calmo. Seguro. — A ligação que vocês têm é mesmo inexplicável, todo mundo pode ver isso. E se é importante para você, também é importante para mim.

— Tem certeza? Acho que só estou cansado e não estou pensando direito...

— É, você tem que concordar que é meio brega. — A voz dela ecoando junto com a risada dele. — Mas, talvez quando estivermos realmente pensando em filhos, nós podemos voltar neste tópico, certo?

— Certo. Obrigado. E me desculpa pelo Valentine's Day arruinado.

— Matt é quem nos deve desculpas. Ele nos deve uma reserva no melhor restaurante dessa cidade quando sair daqui. E aí, eu considero dar ao meu filho o nome dele.

— Vou querer que ele pague pelo vinho também.

— Desde quando você bebe vinho?

— Não bebo, mas quero ver ele coçar o bolso e gastar dinheiro com a gente.

Allie riu mais alto do que uma sala hospitalar permitia, a enfermeira na recepção a repreendeu logo em seguida.

— Você é um irmão incrível, meu amor.
























Os dois anos seguintes vieram sem grandes acontecimentos trágicos para marcar o Valentine's Day. Chris e Allie finalmente acharam que estavam livres do azar que a data os trazia - e agradeceram por isso.

Quase dois meses depois do casamento em Vegas - e uma outra cerimônia organizada para selar a união diante dos familiares e amigos -, fevereiro parecia estar chegando mais rápido do que Allie pôde contar. Ela, uma romântica incurável e assumida, queria celebrar a data dos amantes de forma ainda mais especial agora que estava casada com o amor de sua vida. No entanto, o presente que veio do destino era maior do que qualquer surpresa que ela poderia organizar para Chris. 

Allie completaria vinte e cinco anos em mais ou menos um mês e, no momento atual de sua carreira, ela não estava planejando ter filhos nos próximos cinco anos. Mas mesmo com sua descrença e recusa, o teste de gravidez em suas mãos ainda mostravam o resultado positivo.

Quando descobriu a gravidez - indicada no teste de farmácia com o 3+ no pequeno visor digital - Allie estava sozinha em um quarto de hotel. A turnê de promoção do álbum lançado em setembro do ano passado, havia começado apenas uma semana antes e as viagens nacionais estavam programadas para acontecerem até março, totalizando os dois meses na estrada. Vinte cinco cidades, trinta shows, e não terminava por aí. As datas da turnê passando pela Europa, América do Sul e Oceania ainda estavam para ir a público.

Era um domingo após a rodada dupla de shows em Seattle, e na capital de Washington chovia tanto que Allie pensou que, isso só pode ser uma sátira de mal gosto feita pelo universo!

Ela se banhou e ficou dentro da banheira do quarto de hotel até a água esfriar enquanto chorava sem saber bem o motivo. Depois, ligou para a mãe e para o pai em uma chamada conjunta, mas não chegou a revelar a notícia que descobrira a pouco. Jane estranhou, já que bastava a filha bater na porta que ficava de frente para a sua do outro lado do corredor para encontrá-la, mas mesmo assim, não questionou quando a mais nova se despediu da ligação alegando cansaço.

Não era mentira, no entanto. A sessão de choro fez Allie dormir como um anjo durante toda a noite - ou será que era o aumento dos níveis de hormônios por causa da gravidez?

Era tudo no que ela conseguia pensar durante a manhã da segunda-feira onde também tentava assimilar e encontrar a melhor forma de contar para Chris.

Como seu ciclo estava atrasado, o quão exausta fora do normal estava, como sentia sede mais frequentemente e como estava inibida de sentir fome por causa dos enjoos... Estava muito claro o que era tudo aquilo e ela não precisava de um exame para comprovar isso.

Foi apenas na quarta-feira seguinte, pouco antes de ser chamada para ir até o local do show fazer o reconhecimento de palco, que lhe veio a ideia da grande surpresa que faria para Chris no Valentine's Day. Mesmo que estivesse insegura pela própria gravidez, ela conhecia o homem com quem havia se casado e sabia como ele a amava de todo coração, naturalmente sabendo também que ele nunca ficaria bravo com a vinda de um bebê não planejado. Todas as vezes que eles tocavam no assunto, o sorriso de Chris tornava-se maior e suas palavras mais empolgadas. Ele tinha certeza que estava pronto para ter filhos se Allie também os quisesse, fim de papo.

Automaticamente ela começou a ter mais cuidado com o corpo e com o esforço que andava fazendo durante aquela semana. Era enorme ter um segredo como aquele acontecendo bem em sua barriga e se segurar para não contar a ninguém, mas ela realmente não queria que outra pessoa soubesse antes de seu marido.

Em Denver, aproveitando o dia de folga, ela procurou uma clínica para fazer a primeira ultrassonografia e saber se já era possível ouvir o coraçãozinho do bebê. Ela descobriu que estava na sexta semana de gestação, o que significava que, apesar de não aparentar estar nem um pouco grávida, o embrião estava do tamanho de um pequeno botão e já era perceptível seus principais órgãos em formação.

Com lágrimas nos olhos, ela gravou o monitor onde o médico lhe ajudava a diferenciar o que era o que nos borrões e fez um silêncio absoluto para ouvir pela primeira vez o coração de seu filho bater. Era fraquinho, como um sussurro no meio de uma avenida movimentada, mas foi o suficiente para fazer Allie finalmente se encantar com a ideia de estar esperando um bebê.

Então, nos dias que se seguiram, ela se dedicou a montar a surpresa para contar a Chris - e dar o melhor de si nos shows desde que os sintomas do início da gravidez haviam diminuído. Vez ou outra alguém de sua equipe reparava como ela andava mais agitada do que o normal, e inevitavelmente, sua mãe acabou descobrindo o motivo quando a viu reservar a suíte presidencial de um hotel cinco estrelas em Chicago.

Com Jane sabendo da gravidez de Allie, foi mais fácil arrumar os últimos detalhes da surpresa. Elas contrataram balões personalizados, compraram uma caixa onde colocariam as imagens da ultrassom e um display encaixado na superfície para passar o vídeo que Allie gravou das batidas do coração do bebê.

Naquele ano, o dia quatorze de fevereiro caiu em uma segunda-feira, mas certamente não foi como qualquer outra tediosa e preguiçosa segunda-feira.

Chris chegou na cidade logo de manhã cedo, queria aproveitar a semana que teria ao lado de sua esposa após os vários dias em que o contato entre eles foi limitado à chamadas de vídeo e ligações de poucos minutos. 

— Eu senti tanto a sua falta — disse ele, preso ao abraço da mulher e sentindo o cheiro tão saudoso de seus cabelos macios.

— Você não imagina o quanto eu senti a sua falta. — Ela riu quando ele esfregou o nariz em seu pescoço como se estivesse tentando gravar o cheiro dela na química de seu cérebro.

— Me conta o que tem feito além de ser uma cantora mundialmente famosa saindo em turnê.

— Será deprimente se eu disser que não tenho feito nada além de sentir saudades de você?

— Não, porque eu fiquei terrivelmente miserável sem você e se sua resposta fosse diferente dessa, então eu teria que inventar uma história irada sobre como foi meu último mês.

— Oh, Chris...

Ela riu de novo, tocando o rosto dele e então beijando seus lábios com paixão e saudade. Eles ainda estavam parados no hall do hotel, no entanto, e logo poderiam se meter em problemas se alguém passasse informações para os caçadores de celebridades de plantão.

— Vamos. Parece que temos essa reserva na suíte presidencial nos nomes de Sr. e Sra. Sturniolo — Allie disse, puxando a mão do marido para o elevador já estando em posse do cartão-chave do quarto master do último andar.

— Sr. e Sra. Sturniolo? Eu não sabia que a mãe e o pai estavam aqui! — Ele brincou, fazendo-a olhar divertida quando as portas de metal se fecharam.

Ela não se surpreenderia se Chris estivesse falando sério, mas ao ouvi-lo rir, soube que ele estava tentando matar a saudade da típica implicância.

— Nós nos casamos da forma menos tradicional possível e agora você quer que eu use o seu sobrenome?

— Não sei quantas vezes eu vou ter que te dizer que sou um cara tradicional...

A implicância deu lugar para a delicadeza quando Chris colocou o cabelo dela atrás da orelha, sua mão se demorando no rosto bonito da mulher. Seus olhos estavam conectados como se falassem mais do que qualquer palavra saindo de suas bocas poderia, mas quando ele ia se inclinando de leve para capturá-la pelos lábios, Allie deu um passo para trás.

Suas órbitas foram de castanho-escuro para uma coloração mais sombria, assustada, e o grito de dor que se seguiu quebrou o coração de Chris.

A estrutura de metal gelado que os envolvia parecia ter esfriado ainda mais, ecoando a dor de Allie até os ossos de seu marido, que assustado com a repentina condição dela, a segurou pela cintura usando um dos braços e com o outro, se esticou para pressionar com mais força o botão do elevador.

— Allie, onde está doendo? Ei, fala comigo. O que está acontecendo? — Chris disse, seu tom de voz deixando transparecer o desespero por vê-la se curvar como se tivesse acabado de levar um soco no estômago.

— Minha barriga — ela já estava chorando quando respondeu.

A dor era profunda o bastante para fazê-la se agarrar ao ombro do marido com punhos fechados e quase rasgar sua blusa.

Allie choramingou mais alguma coisa que Chris não conseguiu compreender e começou a chorar com mais intensidade. Ele nunca tinha a visto daquele jeito; o engasgo sofrido quando tentava falar e aquele maldito elevador parecia nunca chegar!

Quando as portas se abriram diante do enorme quarto de hotel, Chris não reparou em nada por estar ocupado demais levando Allie para dentro. A sensação de que havia algo errado apenas aumentou quando ela olhou para a decoração, os balões ao redor da cama e a caixa em cima da mesma, esperando para revelarem o futuro do casal.

Antes que Chris pudesse reagir e entender o que estava diante dos seus olhos, Allie uivou de dor quando sentiu uma umidade escaldante escorrer por suas pernas. O vestido que cobria até metade das coxas permitiu que ela olhasse para baixo e encontrasse o que estava deixando suas pernas escorregadias e sujas de uma coloração amarronzada.

— Não, não, não, não. Por favor, não. — Soluçando, ela correu para o banheiro e tentou impedir a entrada de Chris, mas estava tão frágil que não pôde fazer esforço algum para pará-lo. — Eu sinto muito. Eu sinto muito. Eu fiz isso...

— Ei, olha para mim. Eu estou ligando para sua mãe. Está tudo bem, meu amor. Está tudo bem — ele disse, quase não respirando entre uma frase e outra enquanto tentava segurar o corpo da esposa sucumbindo ao chão.

E por uma segunda vez, o Valentine's Day de Chris e Allie não teve nada de romântico ou feliz.

Eles estavam novamente em um hospital, ela acordando após a cirurgia e ele segurando sua mão, como fez o tempo inteiro.

Chris não soube o que fazer além de ficar ali, pensando e repensando se aquilo era algum tipo de punição vinda dos céus. Ele sentiu-se pequeno quando tudo o que pôde fazer foi segurar a mão dela. Ele não podia tirar a dor dela, não podia salvá-la dos danos emocionais que perder um bebê daquela maneira causaria.

Ela saiu do hospital com o encaminhamento para um psicólogo e com os próximos dois shows da semana cancelados - apesar de ter usado a voz pela primeira vez desde o desmaio no banheiro para dizer que não podia decepcionar seus fãs e que subiria aos palcos. Obviamente houve discordância de toda sua equipe, gerência e família, não lhe deixando opções além de descansar pelos próximos cinco dias - já que não conseguiram convencê-la a cancelar a turnê de uma vez.

Voltando para o hotel - de onde Jane retirou tudo que pudesse remeter à gravidez recém-descoberta e interrompida, deixando que virasse lixo no depósito do local -, Allie e Chris passaram a madrugada mais acessos do que lamparina em galpão de fazenda. Ele a ouvia chorar baixinho, fazia carinho em suas costas e tentava puxar uma conversa, mas ela sempre fingia estar dormindo para não ter que respondê-lo.

— Tem algo de errado comigo? — Sua voz era um sussurro audível no escuro do quarto - que não estava completamente no breu por causa do abajur ligado na mesinha de canto de Allie.

O corpo dela estava totalmente enrolado em si mesmo e ainda de costas para Chris, mas ele, antes deitado de barriga para o teto, virou-se de lado esperando encará-la.

— Não há nada de errado com você — ele garantiu.

— Então por que isso aconteceu comigo? Por que nós nunca podemos ser apenas felizes, sem que essas assombrações voltem de tempos em tempos? É como se algo bom não pudesse apenas permanecer bom... como se nós não fôssemos durar.

Ela virou-se para encará-lo e ele analisou sua expressão, notando também a lágrima solitária que escorreu até desaparecer no travesseiro. A expressão distante e sombria deu calafrios em Chris, os olhos dela estavam opacos e em seus lábios não tinha qualquer sinal de que um sorriso sairia em breve.

Ele tomou o rosto dela nas mãos e ela tentou segurar o choro, mas a tristeza esmagadora permaneceu em seus olhos marejados e na curva para baixo de seus lábios.

— Nós vamos durar mais do que o tempo, Allie. Nós vamos durar mais do que uma foto na moldura, mais do que a casa construída sobre uma rocha. E sabe por quê? — Ele não esperou que ela respondesse, mas ainda fez uma pausa para deixá-la pensar. — Porque eu amo você. Eu amo você e nunca vou deixar de te amar.

— Eu perdi o nosso bebê, Chris. E eu o rejeitei assim que descobri que estava grávida. Eu me sentia insegura, incapaz. Fiquei pensando que somos novos demais e que acabamos de nos casar... Agora parece que eu sou mesmo incapaz de dar a você todas as coisas boas.

— Nunca mais diga isso, por favor. Você me dá tudo e mais do que eu poderia desejar. Você enche meu peito de alegria toda vez que sorri ou quando diz que me ama ou até mesmo por simplesmente existir - sou eu o cara sortudo que pode te chamar de minha. Eu não te amo menos pelo que aconteceu, e nem penso que foi sua culpa.

Ele se esgueirou na cama até estar com os braços em volta dela, trazendo-a para perto como se estivesse segurando seu mundo inteiro. Allie chorava com a cabeça em seu peito, mas sentia-se segura agora, como se pudesse permanecer ali até que todos os monstros desaparecessem pela manhã.

— Você se lembra do que o médico disse? — ela perguntou quando o sono já parecia estar perto de os abençoar. O relógio marcava quatro horas da manhã, mas nenhum dos dois estava preocupado com horários ou com o mundo do lado de fora daquele quarto. — Sobre como é comum que outros bebês venham logo após um aborto espontâneo?

Chris se lembrou vivamente de um sonho que tivera há poucos dias. Allie segurava um bebê deles, era a primeira vez que o tinha nos braços. Ela olhou para o marido e disse um nome que ele não lembrava de ter chegado aos seus ouvidos, mas a sensação da felicidade estava lá em seu peito, como se ele soubesse o que aquele simples nome significava mesmo sem saber.

Ainda no sonho, ele olhava de volta para o bebê e via que seu primeiro filho era um menino. Ele tinha nascido com um pouquinho de cabelo e era tão loiro que quase não dava para notar. Seu nariz, o formato dos olhos e até a sobrancelha eram muito parecidos com os traços do pai, mas a boca de lábios largos fora certamente herdados da mãe. Ele era perfeito, e saudável. Curioso também, assim que abriu os olhos, já vigiava tudo ao seu redor.

E, antes de tudo isso, ele era o fruto da perseverança e do amor de Allie e Chris.

Óbvio que além de um sonho do subconsciente, esse também era seu desejo quando estava acordado. Ter filhos, um monte deles, com Allie era seu ideal. Mas, se precisasse não ter filho algum para provar o quanto já era completo em seu casamento, com a mulher perfeita ao lado, sendo a pequena família que já eram, então ele renunciaria a qualquer sonho e desejo que já tivera.

— Meu amor, olha para mim. — Chris se colocou sentado com as costas apoiadas na cabeceira da cama e a levou a fazer o mesmo. Ele apertou a mão dela e continuou: — Nós vamos cuidar de você agora. Eu não estou com pressa para termos um filho e se você me disser agora que nunca mais quer pensar em tê-los, então será assunto encerrado para mim também.

— Eu quero... Eu quero te dar um filho, mas eu estou com tanto medo de falhar de novo e passar por essa dor... Eu não sei se consigo.

— Você não tem que me dar nada, Allie. É o nosso filho, o nosso futuro. No entanto, é o seu corpo, a sua dor e a sua decisão. Eu nunca te colocaria na posição de aceitar uma vontade minha quando tudo o que aconteceu, aconteceu com você e com o seu corpo. E eu sei que está com medo, mas nós vamos trabalhar nisso.

— Por favor, me abraça — ela disse, a súplica saindo com um ar de alívio por simplesmente tê-lo ali.

— Eu não vou sair daqui. Está tudo bem agora. — Ele beijou os cabelos dela e começou a acariciar suas costas com a mão.

— Eu amo você.

— Me ama o bastante para ficar nesta cama até decidir levantar e voltar para casa comigo?

Chris sabia que era golpe baixo chantagear sua esposa já fragilizada, mas ele se sentiria pior ainda se a deixasse cumprir a agenda de shows restantes e subir em palcos cidade após cidade estando tão mentalmente desestabilizada daquele jeito.

E ela sabia que ele estava certo em impedi-la de fingir que estava tudo bem.

— Tudo bem. Vamos para casa.


















O primeiro ano foi difícil. As notícias vazaram, especulações foram feitas e obviamente com uma turnê sendo cancelada com metade dos shows não realizados, tudo teve repercussão a nível internacional. 

Nenhum deles falou sobre o real motivo de tudo aquilo, no entanto. Allie até tentou se convencer de que haviam pessoas que se importavam e que mereciam uma explicação, mas logo ela percebeu que a maioria das pessoas esperando por um pronunciamento eram as sem qualquer resquício de humanidade e empatia, que iriam transformar seu trauma em algo para julgar.

Ela não conseguia dar as costas e esquecer de algo que a marcou tão profundamente, mas procurou ressignificar o infortúnio e não basear sua vida na lamentação do que poderia ter feito diferente.

Chris não poderia ter sido um melhor marido, amigo e confidente nesse meio tempo. Ele, que havia sido forte por dois durante todo aquele ano, foi recompensado com a volta  de sua Allie.

Era a Allie que colocava o maior sorriso no rosto quando o via chegar em casa mais cedo, que planejava jantares surpresa no meio da semana, que o fazia ver filmes de romance até cair no sono em uma noite com falta luz na vizinhança, que deixava cartas quando preparava o café da manhã e precisava sair antes que ele acordasse - não bilhetes em post-it, cartas escritas à mão e sempre assinadas como "sua gatinha".

Era a Allie que, superando a experiência mais dolorosa de sua vida, lhe disse que estava pronta para ser mãe.

Outro ano se passou e o Valentine's Day dos Sturniolo era uma festa. Todos estavam reunidos na sala de estar após o almoço organizado pelas matriarcas. As fotos não paravam de ser tiradas por Nick, que pegava todos os ângulos possíveis de sua família interagindo, jogando ou posando com as decorações em vermelho e branco da festa temática.

Eles eram uma família em crescimento agora, após as noras e o genro, era a hora dos netos que Jane e Marylou tanto queriam. A conversa fluía com naturalidade, Allie ao menos tinha tempo de ficar triste com o tópico, não quando seu marido tinha uma das mãos orgulhosamente sobre sua barriga.

Chris sentiu uma sensação vibrante bem abaixo de sua palma e sorriu, o bebê sempre o deixava saber que gostava de tê-lo por perto.

— Acho que é uma maneira de ele dizer que concorda — Chris disse, apenas sussurrando para que a esposa escutasse quando Austin apontou para eles após alguém começar uma aposta sobre quem teria mais filhos.

— Que nós seremos o casal com mais filhos? Bom, já estamos em desvantagem aqui.

Ela riu e desviou a atenção para Matt que estava sentado no tapete com a pequena Crystal no colo enquanto Rory alimentava o outro gêmeo, Nolan. Os bebês de três meses e meio eram a maior fofura e muito paparicados pelos avós, e estavam prestes a ganhar mais um integrante para começar a turminha de primos.

— Nada que a gente não possa superá-los.

— Não vamos transformar ter bebês em uma competição, Chris — ela disse, falhando em soar séria quando ele fez um biquinho e passou o outro braço por sua cintura, fazendo-a deslizar na poltrona até praticamente se sentar em uma das pernas dele. O bebê se mexeu de novo e ela esfregou a própria barriga. — Desculpa, frutinha, seu pai está mesmo muito ansioso e já que vocês parecem mais ligados do que você é a mim... Isso também te deixa ansioso, certo? — Chris riu ao vê-la conversar com a barriga. — Se acalme, homem, não queremos um bebê angustiado.

— Frutinha. Faz semanas que ele não tem mais o tamanho de um morango e você continua o chamando assim.

Cinco meses e contanto, Allie já parecia bem grávida. A metade da gravidez estava sendo um sucesso e o bebê crescia saudável, estando na vigésima segunda semana, ele era do tamanho de uma cenoura.

— Você que começou com o apelido. Eu só achei adorável demais para parar de usar.

Era louco pensar que os bebês podiam ser comparados a frutas e legumes incrivelmente diferentes. O bebê de Chris e Allie já havia sido do tamanho de uma maçã, de uma banana e antes disso, era apenas como um limão siciliano. Ele também já foi do tamanho de uma batata doce - foi quando Allie o sentiu soluçar pela primeira vez.

O bebê soluçou dentro de sua barriga!

Quando o bebê estava do tamanho de uma jaca - e Chris não ousava compará-lo a mais nenhuma fruta ou legume, desde que Allie andava sensível sobre os quilos que havia ganhado - era a hora de nascer.

Allie nunca agradeceu tanto por estar dando à luz a um bebê pontual, que veio exatamente no dia em que completava a trigésima nona semana de gestação.

Chris - a quem ela amava imensuravelmente, a quem confiava seu coração, com quem ela iria passar o resto da vida – quase foi castrado quando perguntou à esposa na cama da maternidade, enquanto ela lidava com imensa dor, como era uma contração.

Ele quase não sobreviveu. Ela descontou as perguntas idiotas nos apertos que lhe deu na mão. Se ele tivesse ossos mais frágeis, talvez ela poderia ter quebrado dois ou três e transformado seus dedos em farelos.

Eventualmente, a dor e o aperto diminuíram, e ela conseguiu respirar novamente quando a sala se encheu com o som mais incrível que já ouviu na vida.

Ela conseguiu. Ela tinha um bebê nos braços.

Seu sorriso cansado foi registrado na memória de Chris - e também pelas lentes de Nick -, juntamente com o menininho já limpo e pesado que as enfermeiras trouxeram para o colo da mãe.

Foi quando ele se lembrou novamente do sonho de anos atrás. O menino perfeito e saudável, de cabelos muito loiros, traços semelhantes aos do pai e a boca da mãe, estava ali.

Sob a touca laranja e a manta verde-água, o bebê se espreguiçava no colo da mãe e quando fez um barulhinho fofo com a boca aberta, Chris e Allie sentiram que estavam prestes a se afogar nas próprias lágrimas.

Nick e sua inseparável câmera tiravam fotos enquanto Chris enrolava o braço em volta da esposa e beijava o topo de sua cabeça. O mais velho tentava se esconder atrás da câmera porque estava chorando como uma criancinha - e olha que já havia presenciado igualmente de perto o nascimento dos outros dois sobrinhos. Ele não achou que pudesse se emocionar mais até Allie anunciar para o marido:

— Benjamin Matthew Sturniolo.

Chris olhou do bebê para Allie, de Allie para o bebê. Para Benjamin.

Eles estavam conversando sobre nomes há meses, mas a escolha ainda estava incerta. Allie disse que teria certeza de como nomear seu filho quando o visse pela primeira vez, e foi o que aconteceu.

Benjamin significava "o bem-amado", "filho da felicidade", e para deixar o avô Ryle orgulhoso, foi um nome sugerido por ele justamente por causa do significado. E Matthew, cujo real significado não estava em metáforas, mas homenageava um homem honroso a quem Allie e Chris muito amavam.

— Matthew? Como meu irmão? — Pediu ele, extasiado com esse momento que também viu em seu sonho, mas não pôde ouvir.

— Claro que Matthew como seu irmão. Por quem mais seria? — Ela brincou, relembrando de uma conversa que tiveram na sala de espera de um hospital.

— Ele vai chorar quando souber.

— Como você está chorando agora? — Caçoou, vendo-o limpar os olhos rapidamente.

— Estou emocionado que meu filho carregará o nome do meu verdadeiro amor. Isso sim é algo eterno.

— Muito engraçado, Chris, muito engraçado.

Ele riu baixinho e voltou a admirar o bebê.

— Eu também espero que vocês deem o meu nome para uma de suas crianças, ou podem esquecer que tem a casa do tio Nick para despejá-las quando precisarem. — Nick interrompeu o silêncio, fazendo sua presença notável novamente.

O ambiente se encheu de risadas, como sempre acontecia ao se ter ele por perto. E   com o privilégio de ver Benjamin antes do que todo mundo, Nick fez mais uma ou duas piadas enquanto tinha o bebê nos braços.

Vinte minutos depois, toda a família discutia em sussurros para ter mais cinco minutinhos com o recém-nascido no colo.

Todos olhavam com expectativa para Chris enquanto ele revelava o nome do bebê, e quando Matt processou a informação, seus olhos encontraram os da cunhada primeiro.

— Você deu a ele o meu nome? — Ele estava com Benjamin no colo e o apertou mais um pouquinho, como se estivesse lhe dando um abraço mais aconchegante.

— Não foi ideia minha.

— Mas você concordou, então tem grande parte do crédito.

Risadas ecoaram enquanto Chris fazia uma careta. Ele não podia discordar, no entanto, era o primeiro a fazer tudo exatamente do jeito que Allie queria, bastava uma palavra dela e ele fazia acontecer.

— Obrigado. Vocês dois. — Matt fungou e sentiu a mão de sua esposa acariciar seu ombro. — Quem quer segurá-lo agora? Talvez eu precise de dez minutos para chorar no banheiro.

— Ele não ficou assim nem no nascimento dos próprios filhos — disse Rory, em meio às risadas.

Ela tomou o lugar do marido na poltrona reclinável e segurou o sobrinho com maestreza, fazendo um carinho de leve em suas bochechas e contornando a curva de seu nariz de botão.

Era incrível, pensou Allie, como a vida podia lhe dar algo tão precioso e frágil.

Ela tinha conhecido a dor, a perda e a angústia, mas o destino havia sido justo e lhe dado paz, recompensas e esperança. E mais tarde, o triplo dessas coisas boas também vieram para Chris e Allie.

Assim como deveria ser.






























































todas as mídias referente a esse capítulo estarão no meu perfil do instagram @lynchplaces e se eu fosse vocês iria imediatamente conferir! (ou vão por piedade, porque vocês não sabem o trabalhão que tive que fazer tudo bonitinho 😭)

little matthew veio aí para deixar o titio emocionado e os primos felizes!!! e ele é um bebê arco-íris, como é comum acontecer com primeiras e segundas gravidezes. minha allie sempre muito forte, merecendo seu final feliz com o querido chris.

eu adoro pensar na vidinha caseira que todos eles têm depois dos filhos e quero saber se há algo mais que vocês gostariam de ver nesse sentido (ou antes disso também). me avisem!!

- tori 🤍⚡️

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