𝗣𝗥𝗢𝗟𝗢𝗚𝗨𝗘
( 𝗿𝗲𝗮𝗹 𝗹𝗶𝗳𝗲 )
❝ 𝗜 𝗛𝗔𝗗 𝗧𝗢 𝗖𝗛𝗢𝗢𝗦𝗘 ❞
Allie era uma romântica incurável.
Crescendo com uma mãe solo que adorava filmes com finais felizes, personagens beirando a perfeição e primeiros beijos que sempre davam certo, era de se esperar que mesmo com a pouca idade, Allie soubesse o que era o amor. Ou, o que a indústria cinematográfica lhe ensinou sobre o amor verdadeiro.
Aos treze anos, Allie sabia recitar boa parte das falas de Julia Roberts em Um Lugar Chamado Notting Hill, assim como também sabia que o protagonista de sua própria comédia romântica só poderia ser Christopher Sturniolo. Ele era seu melhor amigo, confidente e um bom parceiro no crime desde que acidentalmente derrubaram a macieira do quintal entre suas casas e ninguém nunca descobriu sobre isso. E mais do que tudo, a menina sonhava no dia em que ele também se tornaria o garoto do seu primeiro beijo.
Apesar de ter sido criada juntamente a Nick, Matt e Chris, o mais novo dos trigêmeos sempre teve um espaço especial em seu coração. Allie conseguia dizer que o sentimento que tinha por ele era completamente diferente do amor fraternal que enxergava em Nick, Matt e até Justin. À medida em que cresciam, ficava cada vez mais claro a preferência que Chris também tinha para com a garota. Ele só brincava se os irmãos deixassem Allie participar, só experimentava uma fruta, um doce ou qualquer coisa que fosse se Allie o pedisse e prometeu a si mesmo que só daria seu primeiro beijo se fosse com Allie.
Quando se tem treze anos e depois das férias de verão o ensino médio bate à porta, ninguém quer ficar para trás e não tirar vantagem sobre já ter beijado. Chris estava apreensivo em ter que mentir para os colegas, porque não havia forças no céu ou na terra que o fizesse confessar seus sentimentos por Allie e ele nunca trairia a promessa que fez a si mesmo.
Allie, por outro lado, estava determinada a viver sua própria comédia romântica e dada a falta de atitude do melhor amigo, ela pensava que estavam no caminho certo. Sua melhor amiga, Rory, foi quem a convenceu de que Chris também sentia o mesmo; e ela estava certa, pois qualquer pessoa conseguia ver o amor inocente de dois quase adolescentes que estavam vivendo aquilo pela primeira vez.
Foi então, durante o 4 de julho na casa do lago em Vermont para onde as garotas Cameron e os Sturniolo iam todos os anos, que Allie confessou seus sentimentos por Chris e ele a beijou sob o céu colorido com fogos de artifícios. O sótão empoeirado não parecia o lugar mais romântico para ser beijada pela primeira vez, mas as luzes vibrante que entraram pela claraboia de vidro enquanto os lábios de Chris suavemente se juntavam aos seus, fizeram com que Allie fosse transportada para sua própria cena de filme.
E foi assim que Allie e Chris se apaixonaram, doce e arrebatadoramente.
Tudo foi perfeito nos meses seguintes. Eles andavam de mãos dadas nos corredores da escola - onde todos sabiam que o casal seria aqueles namorados de ensino médio para a vida toda -, iam a encontros todo final de semana e passavam horas perdidos no próprio mundinho. Porém, Allie tinha um sonho e quando ele estava prestes a se realizar, ela não fazia ideia do que ia lhe custar.
— Allie? Filha? — Jane chamou da sala, levantando os olhos do livro que lia e se atentando ao barulho que vinha da porta dos fundos da casa.
Allie havia acabado de fechar a porta de tela com um baque acidental.
— Oi, mãe! A porta bateu sem querer — respondeu a menina, tirando os tênis com os próprios pés e a mochila dos ombros, pendurando-a no cabide dos casacos.
— Tudo bem, sem problemas. Você pode vir aqui?
A garota caminhou até a sala enquanto tirava o enorme casaco impermeável. Já estava nevando em Boston e ela não podia acreditar que ainda estava sendo obrigada a ir para a escola com aquele tempo.
Sentou-se ao lado da mãe e encolheu os pés no sofá, do mesmo jeito que a mais velha estava.
— O que foi?
— Eu preciso te contar uma coisa — Jane disse, deixando o livro de lado e ganhando um sorriso de animação da filha. Elas costumavam conversar sobre tudo e pelo tom de voz da mãe, a garota pensou que poderia ser uma fofoca bombástica.
— Vai em frente!
— Então, você sabe que eu estava em contato com alguns produtores desde que seu último cover teve um grande número de reproduções no SoundClouds e... Adivinhe só... Nós encontramos alguém interessado em ouvir uma demo sua!
— Mãe, você está brincando! — Allie gritou ao dar um pulo no sofá.
— Não estou! Tem esse produtor que também é dono da VIEW Records propondo que a gente vá até a sede em Santa Mônica com uma demo e pelo menos duas de suas composições para avaliação. Eu já pesquisei tudo sobre ele e a gravadora, e podemos confiar pois tem grandes artistas vinculados a eles.
— Oh, meu Deus. Duas composições? Eu tenho mais do que isso, como esperam que eu consiga escolher as certas!?
— Você só escutou essa parte?
— Não, também escutei algo sobre Santa Mônica e artistas grandes que assinaram com essa gravadora.
Jane riu ao balançar a cabeça em descrença. Sua filha era engraçada quando estava nervosa e isso parecia ser um traço de personalidade adquirido da convivência com Chris.
— Eu vou te ajudar a escolher as músicas, não se preocupe.
— Quando iremos? Será que vão me achar muito nova quando eu chegar lá? E se estivermos gastando dinheiro com algo que não vai dar certo como da última vez? — Allie ponderou, sentindo a cabeça pesar de preocupação.
Elas viviam confortável, mas nada que pudessem se dar ao luxo de extrapolar. Moravam na casa de hóspedes no fundo do quintal dos Sturniolo desde que Allie era um bebê e Jane fazia de tudo para prover sua pequena família. Ela trabalhou em diversos empregos de variadas áreas ao longo dos anos, tendo como principal sonho viver de música. Infelizmente para Jane, ficou sendo apenas isso, um sonho. Mas Allie nasceu com a mesma paixão que a mãe e então Jane decidiu que daria a vida para que com sua filha o sonho pudesse virar realidade.
Quando costumavam viajar pelos estados próximos à Massachusetts cantando em pubs e pequenos eventos, alguns olheiros chegaram a se interessar pela dupla de mãe e filha, claro, mais especificamente pela mais nova, porém, nunca era algo que ia para frente. Não era fácil confiar nas pessoas inseridas no meio musical, e Jane nunca permitiria que Allie se tornasse uma das pobres crianças e adolescentes presas em um esquema sujo para conseguir a fama.
Mas daquela vez, VIEW Records e Jesse Sherwood pareciam confiáveis a depositar o sonho de Allie.
— Nós nunca iremos saber se não tentarmos, querida — Jane a tranquilizou, acariciando o braço dela. — E eu nunca concordaria em tentar se não tivesse certeza que pode ser a porta certa dessa vez.
— Eu sei. Confio no seu critério.
— E eu confio no seu talento e potencial.
— Tenho a quem puxar.
— Acredito que talento é algo divino, mas vou aceitar parte do crédito por isso — Jane disse dando uma piscadinha e fazendo a filha rir.
— Então, acho que nós vamos fazer isso.
— Vai dar certo, você vai ver.
Jane a puxou para um abraço e beijou sua testa, feliz em ter percorrido todo aquele caminho com a filha e estar prestes a colher o que vinha plantando. Mesmo se não desse certo, ela estaria lá por Allie, algo que não teve quando foi sua vez de tentar.
O destino estava traçado. Allie soube que um futuro musical assim que Jesse escutou a primeira demo.
Tudo aconteceu muito rápido e quando se deu conta, precisava se mudar para a Califórnia e começar a nova etapa de sua vida.
Mas a Califórnia significava estar longe de Chris. Seguir com a música significava muito trabalho até ter reconhecimento. Significava mudanças e separações.
Allie não encontrou uma forma de dizer tudo isso para Chris. Obviamente ele soube sobre o sucesso dela com a demo, a gravadora e a esperança em se tornar, senão uma cantora, pelo menos uma compositora fenomenal como ela vinha sonhando. Ele só não imaginava que tudo isso a levaria para o outro lado do país. E ela não o deixou saber disso até que era hora de partir.
Ela não se despediu também.
A família havia acabado de voltar das festas de fim de ano. Era a primeira vez em muito tempo que Chris e Allie passavam aquela época separados, dava para imaginar a falta que faziam um para o outro.
Assim que ajudou a tirar as malas do carro, Chris correu para o quintal dos fundos e então para a casa de Allie. Ele estranhou o silêncio e as janelas fechadas, sabendo que mesmo no frio, Jane gostava de deixar pelo menos uma entrada e saída de ar na casa. A última vez que havia trocado mensagens com Allie fora à meia noite da virada do ano, ou seja, há dois dias. Ele imediatamente pegou o celular do bolso e teclou inúmeras mensagens para a garota, todas foram enviadas e não respondidas na mesma hora, como costumavam ser.
Chris levantou os olhos para a porta da casa de Allie e reparou em um papel pendendo na brecha da fechadura. Ele pegou e viu que se tratava de uma carta bem dobrada e endereçada a ele, a letra cursiva sendo logo identificada.
Correu de volta para a própria casa e chamou por sua mãe, desesperado e alto o suficiente para que todos ouvissem em qualquer cômodo que estivessem.
— Meu Deus, Chris? O que houve? — Mary Lou apareceu com um semblante preocupado.
— Tia Jane avisou algo sobre viajar? Para onde ela e a Allie foram.
Antes que sua mãe pudesse responder, o pai entrou na sala com a última mala e um molho de chaves na mão.
— Acabei de pegar as chaves que Jane deixou na vizinha. Parece que ela e a Allie são finalmente garotas da Califórnia agora — Jimmy disse, sorrindo triste ao balançar as chaves na mão.
— Pai, do que você está falando? — Chris perguntou com a voz quebrando. Seus olhos já estavam cheios de lágrimas.
— Oh, querido — Mary Lou cochichou, trazendo o filho mais novo para um abraço de lado. — A Allie não te disse?
— Me disse o que? Mãe, o que está acontecendo? Ela foi embora?
— Não sabemos se é permanentemente, filho. Sabe, com toda a questão da música... Ela precisou ir.
— Por que ela não me disse que iria embora? — Chris esbravejou, saindo dos braços da mãe e esfregando os olhos. Seus irmãos desceram as escadas assustados com a repentina confusão. — Por que ela não podia fazer música daqui? Isso é injusto!
— O que está acontecendo? — Nick perguntou olhando para os pais em busca de respostas.
— Allie foi embora — Chris murmurou e correu escadas acima para o quarto, batendo a porta ao passar.
Ele sentou no chão e chorou, olhando para a carta amassada nas mãos sem vontade de abri-la.
Allie foi embora. Chris não quis entender o porquê o fez sem se despedir.
i. como já estou triste pelas coisas que eu mesma escrevi 😖
ii. prólogo feito com backstory é *chef kiss* o que acharam?
iii. espero que tenham gostado! até a próxima 🤍
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