Capítulo 4
Andava temerosa por uma estrada de terra, os pés descalços afundando na terra tornando o caminhar mais difícil, a camisola de seda branca que vestira pra dormir era fina demais e o frio naquele lugar era cortante, por isso se abraçava com força pra manter seu corpo um pouco aquecido. O local não tinha qualquer tipo de iluminação e o manto da noite, sem lua ou estrelas, deixava o aspecto ainda mais sombrio. Nas calçadas as casas pareciam abandonadas, as árvores e a grama se encontravam secas como se naquele lugar não chovesse a um bom tempo. Estranhamente sentia que conhecia aquele local e, talvez por isso, continuasse a caminhar meio sem rumo por aquele lugar.
- Por aqui, Sakura.
Do nada foi puxada pelo braço por uma versão de si mesma, trajando o uniforme de torcida, até uma casa enorme que mais parecia uma mansão de filme de terror, por ter sido pega de surpresa, só se soltou de sua cópia quando já se encontrava dentro da casa que não tinha nenhuma mobilia, somente várias portas no que parecia uma sala arredondada. Observou a sua cópia tentar, em vão, abrir uma das portas, depois outra e outra, ao desistir olhou pra ela com um sorriso triste.
- Ela não vai nos deixar passar.
Ao terminar de falar sua cópia sumiu, nesse momento Sakura sentiu um frio intenso e ouviu o ruído de uma porta sendo aberta, junto com um murmúrio choroso de mulher:
- Me sinto sozinha... ele nunca está por perto... somente o som das minha lágrimas...
Olhou a sua volta, o medo fazendo seu coração disparar acelerado, percebeu que uma das portas estava totalmente aberta, se aproximou e olhou pra dentro do lugar, mas não conseguiu enxergar nada, avançou um passo pra frente, na intenção de entrar lá, mas a porta se fechou com um estrondo e a voz chorosa soou mais alta e com tom raivoso.
- Fico um pouco nervosa quando penso no melhor dos anos que se passaram... estou em pedaços...
A voz parecia estar mais próxima, embora não visse nada e nem ninguém, sentiu uma golfada de ar gélido a suas costas e ouviu bem junto ao ouvido a voz chorosa sussurar:
- Em pedaços...
Ao se virar viu aterrorizada um mulher vestida de vermelho, a face e o cabelo encobertos de sangue, dos olhos saiam feixes de luz esverdeados, tentou se afastar, mas a mulher a segurou pelo pescoço, tentou gritar mais a voz não saia.
- Me sinto um pouco sufocada... tenho que sair e chorar... estou sozinha...
Quem estava sendo sufocada era ela, pois a mulher apertava seu pescoço com brutalidade, começou a bater com toda sua força no braço da mulher pra fazer com que a soltasse, mas em vez de solta-la a mulher a ergueu do chão pelo pescoço, sentia que morreria estrangulada a qualquer minuto.
De repente do chão, logo abaixo de onde a mulher a erguia, um enorme buraco negro se abriu, aumentando seu pavor, queria que a mulher a soltasse, mas se isso ocorresse cairia no vazio abaixo de seus pés. A mulher a sua frente parecia a morte vindo busca-la.
- Sakura...- Ouviu uma outra voz chama-la, mas parecia estar muito longe pra poder ajuda-la.
- Uma certa vez eu estive apaixonada...- A mulher confessou ainda com a voz chorosa e Sakura sentiu um aperto doloroso no coração, como se alguém o apertasse com a mesma força que era utilizada em seu pescoço.
Se debateu ainda mais desesperada, e a mulher apertava ainda mais seu pescoço, tentou gritar ao máximo, mas era como se a voz estivesse presa no local em que a mulher apertava, nenhum som saia de sua garganta.
- Sakura... acorda...- Ouviu a outra voz chama-la novamente, mas não via ninguém além da mulher de vermelho e olhos brilhantes.
Viu um sorriso cheio de maldade surgir na face ensangüentada da mulher a sua frente, sentindo o aperto em seu pescoço aumentar ainda mais, parecia que a mulher queria separar sua cabeça do resto de seu corpo.
- Agora estou simplesmente desabando...- Ao declarar isso a mulher a soltou.
Se debatendo durante a queda, Sakura foi sugada pelo buraco negro.
xXx
Vendo a esposa se debatendo e berrando, Sasuke procurava acorda-la, mas era difícil, Sakura se movimentava como se estivesse tendo uma convulsão ou coisa semelhante.
- Sakura...acorda...- Chamou mais uma vez, vendo que finalmente ela despertara.
Ainda meio adormecida Sakura, ainda apavorada com o pesadelo que tivera, continuou a se debater e gritar, enquanto Sasuke tentava conter os movimentos da esposa, sem muito sucesso, levando vários tapas e se dando conta que Sakura tinha a mão muito pesada pra uma mulher. Percebendo que tentar controla-la sentado do lado dela, não estava surtindo nenhum efeito, Sasuke se deitou sobre ela, conseguindo por fim imobiliza-la, colocando o peso de seu corpo sobre o dela, suas pernas prendendo as dela e a forçando a ficar com os braços parados ao lado do corpo, não considerava boa idéia ficar naquela posição, mas já levara bofetada demais.
- Calma, Sakura.- Sasuke ordenou com a voz autoritária.
Parando de berrar Sakura encarou Sasuke com os olhos arregalados, ele conseguia sentir o coração dela pulando freneticamente no peito, a respiração apressada que batia em seu rosto, a face dela estava completamente molhada de suor, com certeza devido a todo aquele descontrole, se surpreendeu quando ela começou a chorar, soltou os braços dela que um segundo depois enlaçaram seu pescoço, com certeza em busca de apoio, duvidava que ela quisesse algo mais, por isso rolou com ela nos braços, tirando seu peso de cima dela e deixando que ela ficasse sobre o corpo dele, abraçava a cintura da esposa e passava uma das mãos no cabelo da esposa na intenção de transmitir conforto.
O silêncio se tornou total quando Sakura parou de chorar, um pouco mais tranqüila ao se dar conta de que tudo não passara de um pesadelo, para logo se sentir envergonhada ao perceber que Sasuke a segurava contra o peito e acariciava seus cabelos. Meio sem graça se afastou e sentou na cama, olhava para qualquer direção menos para o homem deitado ao seu lado.
Sasuke respirou fundo, se levantou e começou a arrumar o terno preto que usava.
- O que faz aqui?- Sakura interrogou sem encara-lo.
- Estava de saída quando ouvi você gritar, então vim ver...
- Ah! Foi um pesadelo...
As palavras sairam da boca de Sakura quase em um murmúrio, mas Sasuke conseguiu compreender. Teve vontade de perguntar que tipo de pesadelo a deixara naquele estado, mas não tinha certeza se ela lhe responderia, por isso preferiu se retirar.
- Vou trabalhar, se precisar de algo me telefone.
Após falar isso, Sasuke teve uma vontade inesperada de rir, antes não precisava falar algo desse tipo, na verdade antes preferia não atender nenhum telefonema da esposa, que sempre interrompia seu trabalho por causa de alguma questão fútil e sem sentido, mas agora, como as coisas mudaram, só não sabia dizer se pra melhor ou pior. Cansado de pensar sobre isso se virou para sair daquele quarto.
- Sasuke, espera.
Se virou pra Sakura, observou ela andar em sua direção e se surpreendeu ao sentir os braços dela abraça-lo pela cintura.
Como um gesto que antes não dava tanta importância podia ser tão maravilhoso agora? Se perguntava, enquanto a estreitava em seus braços, sentindo o cheiro dela bem junto a si, uma necessidade de beija-la enorme.
- Obrigada por estar por perto.- Sakura agradeceu.
Porque sentia que aquelas palavras deviam ser acompanhadas por um "dessa vez"? Esse pensamento foi como um balde de água fria sobre Sasuke, começou a se sentir desconfortavel com aquele abraço, que ao que tudo indicava era um abraço de agradecimento, seus braços já não a rodeavam com tanta intensidade como antes daquelas palavras, mas não fez nenhum movimento para se afastar de Sakura.
Ela levantou o rosto e o fitou, no olhar um brilho de gratidão incomum, a face ainda molhada pelo suor e as lágrimas.
Como se estivesse sobre o efeito de algum feitiço, Sasuke levou a mão esquerda até o rosto da esposa e com o polegar apagou o rastro que as lágrimas deixaram abaixo do olho esverdeado. Estavam tão próximos que com um movimento conseguiria voltar a sentir os lábios da esposa junto aos seus, aquela idéia o atraia, talvez pudesse faltar ao trabalho e ficar o dia todo com a esposa.
De repente Sakura se afastou com um sorriso triste, isso fez o Uchiha sentir um vazio estranho no peito.
- Você tem que ir trabalhar.
As coisas mudaram demais...
* S2 *
Já se passara horas que despertara do pesadelo aterrorizante que tivera, mas as cenas pareciam rodar em sua mente como um filme que se repetia, era como se a mulher de vermelho que aparecera em seu sonho continuasse por perto, como uma assombração, e isso não deixava Sakura a vontade, precisava conversar com alguém, talvez assim conseguisse acabar com essa impressão maluca e desagradável. Não falara para Sasuke porque sabia que estava de saida para o trabalho, só de saber que ele talvez tivesse se atrasado por se preocupar com ela já lhe causava incomodo demais.
Se aproximou de Matsuri que cozinhava algo com um cheiro maravilhoso, muito concentrada em seu serviço.
- Matsuri...
Se virando com uma colher de pau na mão, Matsuri fitou Sakura, não se surpreendia mais em ver a patroa por perto depois de tudo que acontecera no dia anterior.
- Em que posso ajuda-la senhora Uchiha?
- Primeiro: Me chame só de Sakura; segundo: preciso de alguém pra desabafar, e você é a unica pessoa por perto no momento.
Matsuri franziu a testa, encarando Sakura como se esta tivesse enlouquecido.
- Desabafar? Sobre o que?
Decidida Sakura se sentou e descreveu em detalhes seu sonho, enquanto Matsuri dividia sua atenção entre Sakura e o cozido que preparava, ao término Sakura se sentiu uma tola por ainda se manter assustada com um sonho besta, ainda mais por sentir que a mulher de seu sonho a perseguia mesmo depois de desperta.
Matsuri desligou o fogão e se virou pra Sakura com a expressão pensativa.
- Minha mãe sempre diz que por trás de todo sonho há um significado especial.
- Qual seria nesse caso?- Sakura quis saber curiosa.
Matsuri deu de ombros.
- Não sei te dizer, senhora, creio que depende da pessoa e da situação.
Sakura olhou distraída as próprias mãos por algum tempo, uma idéia criando forma em sua mente.
- Obrigada por me ouvir, Matsuri.- Agradeceu ao se levantar.
Deixou Matsuri terminar com seus afazeres e marchou até seu quarto, chegando lá remexeu na última gaveta do criado mudo da esquerda até encontrar uma caixinha que vira no dia anterior, pegando algumas notas que havia no interior da caixinha, logo depois foi até a sala, pegou a agenda telefônica e saiu do apartamento. Já do lado de fora do edifício deu sinal pra um táxi.
- Por favor me leve até esse local.- Pediu mostrando um endereço escrito na agenda telefônica.
O homem atendeu fez que sim com a cabeça e Sakura se ajeitou no banco de passageiros, olhando distraída pela janela as pessoas, carros e paisagens, enquanto pensava no que diria ao chegar em seu destino, talvez não ajudasse em nada, mas se realmente havia algo a ser interpretado em seu sonho conhecia a pessoa certa pra ajuda-la.
* S2 *
Por mais que quisesse se concentrar em seu trabalho, Sasuke não conseguia, os pensamentos insistiam em voltar pro que acontecera aquela manhã, os gritos, as lágrimas, a sensação de sentir o coração dela batendo descontrolado e o fato de que quando se despedira Sakura ainda aparentava estar sobre o efeito do pesadelo, o deixava com vontade de ter seguido seu primeiro instinto e perguntado o que a deixara tão apavorada, o que parecia algo bem estúpido de se considerar, mas talvez Sakura tivesse sonhado com o acidente.
Cansado de se torturar com esses pensamentos, Sasuke pegou seu celular e discou o número de casa, ouvindo a voz da empregada após o segundo toque.
- Casa dos Uchiha, com quem falo?
- Com Sasuke Uchiha, quero falar com a Sakura.
- Só um momento senhor.
Demorou tempo demais na opinião de Sasuke para alguém retornar a linha e quando isso ocorreu, pra sua surpresa, foi Matsuri que falou com ele, a voz aparentando nervosismo.
- Senhor Uchiha... eu não sei o que aconteceu... a senhora Uchiha estava aqui comigo... mas agora... eu não sei...
Sem entender aonde a empregada queria chegar com aquelas palavras desencontradas, mas com uma sensação ruim, Sasuke apertou o celular com força.
- Onde está Sakura?
Houve um breve silêncio do outro lado da linha, mas conseguiu ouvir a empregada respirar fundo, como se estivesse juntando coragem para o que diria a seguir.
- Desculpe senhor, não sei, acho que ela saiu sem que eu percebesse.
Falou um palavrão, desligou o celular irado, largando- sobre sua mesa e se levantou nervoso. Onde Sakura poderia ter ido? Aonde iria sem memória? Se perguntava tentando raciocinar com clareza. Talvez tivesse tido alguma lembrança. Se condenou internamente, deveria ter perguntado o que ela sonhara, agora não fazia idéia do que passara pela cabeça dela para sair sozinha. Pegou seu terno, o celular, saiu de sua sala com passos rápidos, indo em direção aos elevadores.
- Onde o senhor vai?- Perguntou Karin ao vê-lo passar apressado.
- Pra casa.
Karin se levantou e o seguiu espantada.
- O senhor tem uma reunião importante daqui uma hora.- O lembrou na intenção de faze-lo desistir.
Ao chegar em frente aos elevadores, Sasuke apertou o botão para chamar o elevador.
- Cancele.- Disse sem ao menos olha-la.
As portas de um dos elevadores se abriram.
- Mas...
- Sem mas, apenas cancele.- Ordenou antes de entrar no elevador.
As portas se fecharam e Karin ficou sem entendero que fizera Sasuke sair daquele jeito, no horário do expediente, antes de umareunião importante e ainda por cima dizendo que iria pra casa, aquele nãoparecia o Sasuke Uchiha que conhecia. Apertou os pulsos com força ao se darconta que ele iria ao encontro de Sakura. O que aquela mulher aprontara prafazer Sasuke agir de modo tão incomum?
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