Capítulo 14
Ino revisava um artigo quando o telefone sob sua mesa tocou. Sem desviar os olhos da tela do computador, pegou o fone, o levou a orelha e de forma automática disse seu nome, endereçando a ligação somente uma parcela de sua atenção. No entanto, a informação que lhe foi passada tirou qualquer resquício de concentração que podia ter em seu trabalho. A surpresa era evidente em seus olhos arregalados e queixo caído.
– Tem certeza? - Questionou olhando para o fone como se pudesse ver a pessoa que estava do outro lado da linha.
Ao receber a confirmação titubeou por um minuto e respirou longamente.
– Pode permitir. - Disse com a voz estranhamente trêmula, para logo depois de encerrar a ligação se arrepender. E se fosse envolvida em outro escândalo? Sua imagem na empresa ainda estava arranhada e uma nova cena poderia representar seu fim. Ansiosa retirou o fone do gancho, levou o dedo indicador até o botão que chamava a recepção... Não conseguiu aperta-lo. Não! Aquela era a sua chance de revidar, de fazer e dizer o que não conseguira no passado por culpa da surpresa e da descrença. Finalmente revidaria a humilhação que sofrera.
Um estranho silêncio se fez ao seu redor, somente o barulho de passos aproximando-se era audível. Podia sentir o ar ficando pesado e a apreensão cerca-la. Tensa e com o rancor circulando nas veias a toda velocidade, ameaçando entrar em erupção a qualquer momento, Ino ergueu-se para receber de braços abertos a oportunidade que batera em sua porta.
*S2*
Conforme atravessava as várias cabines, as longas pernas de Sakura tremiam. Era difícil ignorar os olhares curiosos, os corpos que se erguiam, as cabeças que se moviam seguindo seus passos vacilantes e os estranhos sorrisos repuxados. Se o comportamento anormal daquelas pessoas era um exemplo do que a esperava, temia não sair inteira daquele lugar.
Deveria estar preparada, afinal Matsuri ao lhe entregar o endereço daquele lugar a aconselhara a não ir, enfatizando que a recepção não seria de camaradagem e saudade. Erroneamente pensara que era só ignorar e mostrar confiança, mas agora sabia ser impossível estar pronta para a atmosfera sombria que a cercara no momento em que passara pelas portas automáticas do prédio em que a revista Famous ocupava o segundo andar.
Levemente mareada, forçou o corpo a ficar firme e chegar com alguma dignidade até o ponto que a recepcionista do andar lhe indicara com um sorriso artificial, no entanto, faltando poucos passos, uma nova pessoa elevou-se e Sakura tremeu dos pés a cabeça ao visualizar olhos - que antes a fitavam com apreciação e amizade - carregados de ódio e ressentimento.
– Como vai Ino?
A adolescente de que se lembrava, ficara ainda mais linda com os anos. Os cabelos dourados estavam presos com uma caneta em um coque frouxo, uma mecha grossa caída ao lado de seu olho direito, os lábios naturalmente rosados estavam crispados e os lindos olhos azulados fuzilavam Sakura.
– Como pode ver estou do mesmo jeito que me deixou há um ano. – Respondeu com um sorriso torto. – E pelo jeito você deixou de ficar ancorada em seu castelo de cartas. – Comentou reparando no uniforme branco do hospital Senju que Sakura usava.
Os ombros de Sakura caíram com desânimo. Já esperava o tom amargo de Ino, que era uma excelente pessoa quando estava de bom humor, mas quando se irritava virava uma fera.
– Não lembro o que te fiz...
– Ah, verdade! Tinha esquecido sua conveniente amnesia. – Cortou cruzando os braços em frente à blusa social amarela. - Com certeza essa testa de marquise não segurou bem a pancada. – Comentou recebendo com um olhar azedo o sorriso miúdo que adornou os lábios da rósea.
Ao notar que Ino talvez tenha se insultado com seu momento de saudosismo, causado pelo apelido que a loira lhe dera na infância, o pequeno sorriso espontâneo se apagou.
– Será que podemos conversar em particular? – Perguntou indicando discretamente que tinham uma plateia atenta a cada gesto e palavra delas.
– Não. Podemos resolver nossas diferenças aqui mesmo.
– Venham a minha sala. – Uma voz trovejou com autoritarismo atrás de Ino.
Estranhando a lividez de Ino, observou o homem alto, ruivo e de olhar glacial que pousara a mão no ombro da Yamanaka e a encarou com um aviso mudo nos profundos olhos claros. Presumiu que fosse chefe de Ino, pois ela não contestou a ordem e nem retirou a mão que persistiu apoiada em seu ombro enquanto caminhava até uma porta no fim do corredor em que estavam. Os seguiu em silêncio, questionando internamente se fora uma boa ideia procurar a ex-melhor amiga.
*S2*
Contra sua vontade, Ino deixou Gaara escolta-la até a sala dele. Levara um susto quando ele interrompera sua conversa, mas conforme andava o espanto em sua feição foi substituído por indignação. Ser seu superior não dava a Gaara o direito de interferir em seus problemas particulares. Seja lá o que o Sabaku pretendia ao leva-las para a sala dele, não deixaria sua revanche por nada no mundo.
– Pense antes de agir Yamanaka. – Ele sussurrou em sua orelha ao atravessarem o umbral da porta.
O encarou corada, pois estavam próximos demais, mas logo se recompôs e o desafio brilhou em suas íris claras.
– Sempre penso antes de agir.
Os agua-marines percorreram sua face devagar, quase como uma caricia, e ao chegar de volta aos seus olhos, pareciam transmitir um aviso de perigo. Não falou nada e, sem desgrudar os olhos dos delas, se afastou, saiu e encostou a porta de madeira maciça.
Desviando o olhar da chave na fechadura para Sakura, Ino fungou. Se Gaara achava que ficaria quieta enquanto Sakura despejava novas asneiras estava muito enganado.
– Como deve ter percebido o novo diretor não vai permitir um novo escândalo na frente dos meus colegas.
– Não vim brigar. – Sakura assegurou.
Ino sorriu com descrença e analisou a ex-amiga atentamente, dos cabelos presos em um coque, até o uniforme branco com a identificação do Hospital Senju costurada na altura do peito esquerdo, com o nome e tipo sanguíneo da Uchiha gravado.
– Perdeu o medo da sua madrinha e voltou a dar as caras no Senju?
– Trabalho no Senju... Na verdade auxílio às enfermeiras. – Explicou antes de questionar: – Do que teria medo?
Em vez de responder, Ino pediu com arrogância:
– Fale logo o que venho fazer aqui ou vá embora.
Sakura sentiu o coração apertar. Era terrível ver uma amiga encará-la como inimiga.
– Hinata me disse que fui injusta com você, então imagino que mereça sua raiva e peço que me perdoe, quero que voltemos a ser amigas... Que me ajude...
– Ajudar você? – Ino a interrompeu transbordando ressentimento. – Por sua culpa perdi a vaga de redatora chefe.
– Me desculpe! – Pediu com humildade. Já esperava ter de pagar por pecados que não lembrava.
– Pirou de vez, testuda? Quer bancar a boazinha agora? Isso é algum tipo de brincadeira sádica?
– Não é. Se tiver algum jeito de remediar...
– Se o jeitinho for o mesmo que usou com os Uchiha é melhor desistir. Gaara é muito mais inflexível que eles.
Sakura engoliu em seco.
– O que usei com os Uchiha?
Ino ergueu uma sobrancelha, depois sorriu cruel. Aquela era a sua chance de destruir Sakura como sempre sonhara.
– Quer mesmo saber? Tem certeza que esta preparada para a verdade?
Mesmo tremendo diante do olhar da loira, respondeu sem hesitar:
– Tenho.
– Ótimo, é exatamente isso que vai ter. – Ino recostou o quadril na mesa de Gaara, disposta a curtir cada mudança na cara de santa que Sakura carregava naquele instante. - Seu casamento é uma farsa, recheado de mentiras e traições que começaram bem antes desse anel adornar seu delicado dedinho. – Começou com ironia, saboreando o veneno que saia em forma de palavras por sua boca. – Você me chamou de vadia quando surtou e me atacou do nada. Mas a verdadeira vadia é você, que armou pra terminar o noivado do Sasuke e recolheu o que sobrou para levar ao altar.
– C-como fiz isso? – Sakura questionou vacilante.
Ino riu.
– Da forma mais fácil para uma pessoa mau-caráter. Transou com o Itachi pra conseguir o que queria, o manipulou para criar uma situação e levar Sasuke a romper com a noiva. – Sorriu com crueldade. - Você não é melhor que a Karin, ao contrario, não passa de uma vagabunda de quinta, histérica...
– Cale-se! – Sakura gritou atormentada, a confirmação de suas desconfianças pesando em seu coração e consciência. – Não quero ouvir mais nada. – Voltou-se para a porta, mas Ino foi mais rápida, barrou sua passagem e girou a chave para tranca-la, tanto para evitar que Sakura saísse como para impedir que Gaara, que não duvidava que estivesse próximo, entrasse.
– Pouco me importa se a verdade não é tão cor de rosa como deseja. Veio atrás dela e agora terá de digeri-la. – Anunciou com a voz elevada, satisfeita com a dor que tomara conta do rosto de Sakura e, sem se apiedar ao vê-la cambalear como se fosse desmaiar, continuou: – Infelizmente seu plano tinha uma falha. Sasuke não podia deixar Karin totalmente, havia um laço muito forte que os unia e logo ele a perdoou, afinal, nem por um segundo deixou de ama-la, deseja-la. E, enquanto você passava as noites esperando seu amado e idolatrado marido, ele ficava com a secretaria e ex-noiva. - Encostou o corpo contra a madeira e cruzou os braços em frente ao corpo. - Lógico que havia uma recompensa. Itachi continuava louco por você. Chifre trocado não dói, não é Sakura-chan?
As palavras finais de Ino fizeram um calafrio subir pela espinha de Sakura e, mesmo que uma parte pedisse para esquecer o assunto e arranjar uma forma de sair daquela sala, não resistiu em perguntar:
– E-eu trai o Sasuke?
– Oh, sim, claro que sim queridinha, e de várias maneiras. - Confirmou, suspirando profundamente de forma teatral. - Pobre coitado, se depender de você nunca terá o herdeiro tão sonhado.
– O-o q-que quer dizer com isso?
– O óbvio. – Seus olhos brilharam com maldade. – Jamais daria um filho a ele. Você é seca por dentro, incapaz de carregar qualquer coisa além de seu ego inflado.
Sakura não aguentou mais, empurrou Ino com toda força que conseguia, abriu a porta e sai correndo, mal conseguia distinguir o que havia a sua frente de tão transtornada, e nem ouviu seu nome ser chamado diversas vezes. Não esperou o elevador, desceu correndo as escadas, estacando após alguns degraus ao sentir a cabeça rodar e a sensação de familiaridade com a situação domina-la.
Balançou a cabeça de um lado para o outro, como se assim pudesse limpar sua mente, apoiou a mão no corrimão que havia ao longo da escadaria e, com uma enorme vontade de desaparecer, forçou as pernas a reagirem para continuar a descer o mais rápido que podia.
*S2*
Ino ria descontroladamente quando Gaara entrou na sala com uma expressão tenebrosa. Percebendo isso Ino segurou o riso, embora continuasse sorrindo.
– O que houve? – Ele perguntou após fechar a porta pra isola-los dos curiosos.
Levantou a cabeça com orgulho. Não se rebaixaria após tornar seu objetivo mais desejado uma realidade.
– Apenas fiz o que ela pediu, contei toda verdade. – Seus olhos brilharam zombeteiros. – Um pouco enfeitada para dar mais emoção, lógico.
– O que quer dizer com enfeitada?
Ino ignorou o olhar gélido e soltou um riso de satisfação.
– É como dizem, quem conta um conto aumenta um ponto, e o conto do casal sexy do mal merecia algo mais dramático.
– Ela saiu daqui chorando porque você não pôde ficar sem sua estúpida vingança? – Gaara questionou com o cenho franzido. - Não pensa nas consequências de seus atos?
Ino riu com deboche.
– Ah, por favor! Achou mesmo que desistiria só porque me lançou um olhar ameaçador? – Os olhos azulados escureceram ao mesmo tempo em que seu rosto ficava extremamente sério. - Todos são prova de que estava quietinha no meu canto, foi ela que me procurou. - Justificou caminhando em direção à saída. Não perderia seu precioso tempo falando sobre Sakura Uchiha. No entanto, antes que pudesse colocar as mãos na maçaneta, Gaara segurou seu braço.
– Ela não lembra o que te fez. Veio atrás de uma amiga, não de uma pessoa amargurada.
– Não pedi a amizade dela. – Retrucou e enfrentando-o avisou: - E é melhor me soltar.
Os olhos água marine estreitaram, revidando o olhar de desafio da loira, depois deslizaram pelo nariz arrebitado, pela maçã do rosto alva até chegar à boca pequena e naturalmente rosada. Percebendo onde os olhos desejosos do Sabaku se detiveram, Ino sentiu os lábios ressequidos e, inconscientemente, os umedeceu com a língua, deixando-os entreabertos, enquanto seu coração batia alucinado em expectativa do que poderia vir a seguir.
– Sua beleza só perde para o egoísmo. - Gaara murmurou antes de prensa-la entre ele e a porta e selar os lábios de ambos em um beijo.
A língua masculina deslizou para dentro de sua boca em um ataque violento, enroscando com a dela, sugando, persuadindo a corresponder seu avanço. As mãos fortes e possessivas agarraram sua cintura, puxando-a para mais perto, fazendo com que sentisse o tamanho de sua excitação.
Gemendo baixinho contra os lábios ardentes, Ino enlaçou o pescoço do Sabaku e afundou os dedos na cabeleira vermelha.
Gaara pareceu ter aguardado somente aquela entrega para se afastar bruscamente. Sem ar e desnorteada pelo vazio que ficou em seus braços, Ino o observou retornar até sua cadeira, onde sentou e voltou à atenção para a tela de seu laptop, começando segundos depois a digitar freneticamente.
– Gaara...
– Pode voltar para o seu lugar Yamanaka. – Ele comandou sem lhe dirigir o olhar. – Caso não tenha percebido, tenho trabalho a fazer.
Sem poder crer que ele quase a devorara contra a porta e, de repente, se afastara e a ignorara totalmente, Ino resmungou irritada:
– Também tenho muito trabalho a fazer.
Saiu batendo a porta com toda força que conseguiu, atraindo a atenção dos colegas. O que não era difícil, aquele bando de curiosos provavelmente estivera o tempo todo de olho naquela porta. Lançou seu pior olhar para todos que conseguiu, empinou o nariz e foi direto para sua mesa.
*S2*
Gaara relaxou o corpo contra a cadeira, após ouvir a tentativa de Ino de destruir a porta de sua sala, olhou para o papel de parede de seu laptop e respirou fundo em uma mistura de alívio e frustação. O que diabo passou por sua cabeça para atacar uma funcionária daquele jeito? Oh, sim, seu corpo traidor resolvera, arbitrariamente, dominar sua mente ao ter o objeto de seu desejo tão perto, lembrou sentindo angustiado uma parte de sua anatomia latejar em protesto.
Sim, queria a Yamanaka e ha muito tempo, mas de forma alguma isso justificava sua atitude. Tinha que ter se controlado, afinal, tudo o que ela menos precisava era de um agrado após contar "verdade enfeitada" para a Uchiha. Devia ter dado umas belas palmadas naquele traseiro tentador... Aff! Lá estava ele de novo, tendo pensamentos anormais com a última pessoa que deveria atrair sua atenção. Onde estava sua política de nunca se envolver com alguém no trabalho? Provavelmente fora para o espaço no momento em que chegara perto daquela criatura egoísta, teimosa, linda, de lábios suculentos...
Passou as mãos pelos cabelos vermelhos com aflição. Precisava fazer agora contra essa atração. Na verdade, deveria ter reagido assim que seu interesse passara do profissional, no momento em que não resistira ao impulso de tentar reaproximar Ino de seu desafeto.
Fora uma péssima ideia deixa-las conversar a sós. Deveria ter ficado na sala com elas, assim como Sasuke Uchiha deveria ter acompanhado a esposa. Talvez ele não tivesse considerado preciso... Embora, ao notar o estado em que Sakura sairá, sem se importar com o que havia pela frente e ignorando seu chamado, presumia que Ino inventara que faria Sasuke Uchiha se arrepender de sua decisão.
*S2*
Atormentada com tudo que ouvira de Ino, Sakura andou por muito tempo inconsciente de para onde seus pés a levavam, parando somente quando o cansaço e a dor nas solas dos pés exigiram um descanso. Sem ver nenhum lugar em que pudesse sentar, encostou-se contra a parede de um estabelecimento e observou com indiferença o alucinante ir e vir de pessoas pelas ruas.
Um grupo de garotas passou por ela conversando com animação, remexendo as mãos para exemplificar o que diziam e rindo. Deviam ter no máximo dezesseis anos e, provavelmente, falavam sobre garotos, festas e planos para o dia. Sentia falta disso, de viver o momento, ser uma adolescente despreocupada, com amigas do seu lado e com sonhos.
A imagem de Hinata e Ino caminhando com ela pelas ruas de Konoha veio a sua mente. Eram amigas inseparáveis, mas agora, por culpa sua, eram estranhas. Mesmo em Hinata não encontrava todo o companheirismo de outrora. Havia uma brecha entre elas, mesmo que a Uzumaki se esforçasse, nada alterava o fato de que Sakura se sentia em falta com ela por causa da briga que sequer lembrava ou considerava sua culpa. No fundo Ino estava certa em não acreditar em seu pedido de desculpas.
Seca... Apertou as mãos contra o ventre enquanto os olhos voltavam a marejar ao lembrar a conversa que tivera com Ino. Era difícil acreditar que fizera o que a loira dissera, mas, ao mesmo tempo, as peças encaixavam com perfeição, combinava com o quadro que formara a partir das conversas que tivera com quem convivera com ela nos últimos dez anos. A Senhora Uchiha era um monstro do pior tipo, traidora, dissimulada, ciumenta e lunática... E essa pessoa distorcida estava hibernando dentro de seu ser, atormentando suas noites, seus dias, sua vida.
Enxugou a face com mãos e levantou o olhar para o céu que começava a apresentar os tons avermelhados do fim de tarde. Não fazia ideia das horas, mas, mesmo se pudesse, não queria voltar ao hospital e preferia evitar encontrar Hinata ou Matsuri caso fosse para o apartamento.
Precisava de um ombro amigo que não tivesse nenhum vínculo com Sasuke, alguém que não tivesse a imagem dela dos últimos dez anos, que a escutasse sem criticas, com quem pudesse desabafar sem medo.
Andou até a guia e fez sinal para um táxi, entrou e informou o endereço da galeria de Sasori.
Rígida contra o assento lamentou que, por medo de um possível falatório, recusara a oferta de Sasori de ficar ao seu lado na Famous. No momento ele era o único amigo que não vira sua versão egoísta e briguenta. Talvez por isso seu coração parecesse ficar mais leve ao visualizar a fachada da galeria.
Pagou a corrida, desceu, andou apressada pela galeria em busca e parou abruptamente ao ver que Sasori estava acompanhado por uma mulher. Mas não qualquer mulher, conhecia-a através das poucas recordações que tivera. Sim, reconhecia à dona do cabelo mediano, repicado e de um vermelho vibrante, cujos óculos de armação marrom não ocultavam os olhos carmim, Karin, a ex-noiva de Sasuke, a mulher que prejudicara com suas armações e mentiras.
No susto se recostou na parede e agradeceu por, aparentemente, nenhum dos dois ter notado sua presença. Pensou em ir embora, mas suas pernas estavam bambas. Elevou as mãos e percebeu que estas também tremiam. A simples visão daquela mulher desencadeara um pavor irracional. Respirou fundo, fechou os olhos e tentou se tranquilizar. Mas a conversa que chegou aos seus ouvidos aumentou seu temor e a enojou.
*S2*
Parado no corredor que levava a sua sala, Sasori tentava não se irritar com Karin, mas a ladainha da ruiva acabaria com a paciência do monge mais devotado.
– Você tem de fazer algo para reconquista-la com urgência.
– Já disse que Sakura não vai trair o Uchiha. – Repetiu pela enésima vez desde que informara que sua participação nos planos dela acabara. - Em vez de ficar me pressionando, porque não tenta reconquista-lo?
– Pensa que não tentei. – Ela retrucou exasperada. – Estou ha quatro anos rastejando aos pés dele, suplicando perdão, mas aos olhos do Sasuke sou insignificante, até um carpete velho tem mais valor. – Ajeitou os óculos com nervosismo. - Ele não consegue perdoar a minha recaída.
– Se o ama tanto quanto diz, porque o traiu? – Sasori questionou curioso. Desde a conversa que tivera com Sakura na hora do almoço, fora possuído por uma bizarra curiosidade sobre o que acontecera com aqueles três.
– Não é da sua conta.
– Desse jeito não posso ajuda-la. – Retrucou virando para ir pra sua sala.
– Espere! – Pediu agarrando o braço de Sasori. – Foi por carência. Sasuke retornou mudado daquela maldita cidade em que conheceu a Sakura. Em vez de aceitar as ações que recebeu de herança, trabalhar em um cargo menor na Imobiliária da família e casar comigo, ele decidiu fundar uma empresa do nada em sociedade com o idiota do amigo dele e adiar nossos planos. – Confessou e com a face transtornada de desgosto continuou: - Ele me levou para morar com ele e o irmão, mas era como se continuássemos a milhas de distância. Ele passava horas no trabalho e quando estava comigo só pensava e falava sobre os malditos projetos que tinha para sua empresa. Ele passava mais tempo com o intratável do Uzumaki do que comigo. E ainda tinha aquela sonsa seguindo-o por todo canto, atraindo a atenção dele. E o pior era que quando ela não aparecia eu sentia que ele a procurava com os olhos.
– A Sakura?
Karin anuiu com a cabeça.
– Não foram poucas às vezes em que o vi sorrir por causa de uma das ridículas tentativas dela de se aproximar para conquista-lo. – Resmungou cruzando os braços em frente da blusa de frio roxa. - Mas eu sabia que Sasuke seria incapaz de se afastar de mim, que cumpriria a qualquer custo o último desejo de seu pai... Só que ele acha que cuidar financeiramente é o suficiente. E tudo porque acreditei nas palavras doces do irmão dele.
– Não estranhou o irmão dele te seduzir?
– Porque estranharia? Aqueles dois viviam medindo força. Fui somente uma peça em mais um de seus joguinhos estúpidos. Eu queria diversão, ser desejada e Itachi prometeu exatamente isso, encontros furtivos que Sasuke jamais saberia. Mas ele me enganou e deu um jeito do Sasuke nos flagrar.
– Como pode ter certeza que Itachi fez isso? Ele te falou? – Questionou cada vez mais curioso em saber o quanto Karin sabia sobre o rompimento de seu noivado.
– Não e nem precisava. Sasuke nunca chegava cedo ao apartamento, por querer se dedicar dia e noite para aquela empresa estúpida, mas naquele dia infeliz ele chegou no começo da tarde, pouco depois de Itachi. – Confidenciou completando em seguida. – Não sei como fez, mas sei que a culpa é dele.
– Não. A culpa é minha. – Ouviu uma voz chorosa pronunciar. Virou e viu sua inimiga se aproximar cambaleante.
Sakura estava esgotada. Não queria mais ficar escondida nas sombras de seu passado, assumiria seus erros e, seja lá o que ocorresse, seguiria em frente.
– O que faz aqui? – Sasori perguntou se aproximando, mas Sakura o deteve com um sinal para que se afastasse.
– Vim em busca de um amigo, mas vejo que não vou encontrar um aqui.
– Sakura...
– Entendi tudo Sasori. E eu mereço... – Fechou os olhos por um segundo e aos abri-los encarou Karin. – Obriguei Itachi a seduzi-la e contar tudo para o Sasuke. Fui má, mesquinha e...
Não conseguiu terminar, furiosa Karin virou o rosto de Sakura com uma bofetada e iria desferir outra se Sasori não intervisse.
– Karin, enlouqueceu? – Sasori segurava a ruiva que se debatia com fúria.
Sakura os observou com os olhos arregalados e uma sensação de déjà vu.
"Sakura, controle-se...".
– Quem enlouqueceu foi essa desgraçada.
Fechou os olhos com força ao sentir a cabeça rodar.
"Não adianta, Sasuke-Kun. Ela perdeu o controle...".
– Sasuke deveria ter feito o que aconselhei desde o principio.
"É o melhor para você...".
Cambaleou para trás.
– Sakura, está bem? – Ouviu Sasori questionar como se estivesse muito longe, seguida por outra:
"– Sakura...?"
Um forte enjoou a dominou, junto com uma sensação claustrofóbica. Precisava de ar. Ignorando o chamado de Sasori, Sakura conseguiu forças para voltar a correr. Sua visão foi rapidamente embaçada pelas lágrimas e, com uma mão sobre a barriga e a outra na boca, numa tentativa de conter a ânsia, sua cabeça rodava com os diversos flashs que pipocavam em sua mente, que a cegavam para o que realmente havia a sua frente.
"– Não precisa me vigiar o tempo todo, é irritante. - Sasuke a encarou irritado e se desvencilhou de seu abraço.".
"– Ele me ama. Você é uma tapa buraco. – Afundou as unhas na palma das mãos enquanto Karin ria e retornava para a sala de Sasuke.".
Tropeçou nos próprios pés e caiu, uma dor opressora dominava sua cabeça. Alguém se aproximou, colocou a mão em suas costas e perguntou alguma coisa, com esforço ergueu os olhos verdes, mas não conseguia distinguir o rosto a sua frente, cujas palavras que pronunciava eram abafadas por outras.
" – Nunca lhe darei o divórcio...".
"– Vai assinar nem que seja a força...".
Levantou, deu alguns passos e, desnorteada com as vozes e cenas desconexas em sua mente, voltou a cair sobre os joelhos.
O som de seu celular conseguiu alcançar seus ouvidos, confusa atendeu e reconheceu a voz do marido.
– Onde está Sakura? Em casa?
Voltou a se levantar e afastou com um gesto a pessoa que insistia em ficar ao seu lado. A última coisa que precisava era a compaixão. Não merecia isso.
– Me perdoe... – Pediu chorando ao encosta-se a uma superfície lisa e fria. - Eu nunca quis... – Sentiu a garganta travar e suas mãos tremiam.
– Só diga onde está e te perdoo.
– Você não entende... – Seus olhos fecharam e abriram com esforço, suas pernas pareciam geleia e a tontura e o enjoo que a dominava não deixava que pensasse com clareza, mas tinha que se esforçar para achar uma maneira de consertar o mal que fizera para Sasuke. - Sinto muito... Prometo que vou te libertar...
– Inferno! Não entendo mesmo, o que quer dizer?
– Eu... – Tentava contar, mas o choro tornava suas palavras incompreensíveis, além disso, tudo parecia rodar ao seu redor, mal conseguia permanecer de pé e segurar o celular, que deixou cair ao levar as mãos à cabeça para conter a enxurrada de lembranças que a sobrecarregavam. Cerrou os olhos molhados por causa da dor, do desespero e culpa.
Balançou a cabeça de um lado para o outro, moveu o corpo para frente e sentiu algo agarrar seu braço, tentou se soltar sem sucesso, mas logo depois se deixou ser amparada.
"– Nada te deixa contente... estou cansada de tentar... queria nunca ter me apaixonado por um maldito egocêntrico sem sentimentos... queria nunca ter te conhecido...".
Seu corpo pesava como chumbo. Estava farta de lutar, os flashes não cessavam, a dor e a culpa dominavam seu ser por completo e, pela primeira vez desde que despertara no hospital, desejou não lembrar... Não mais...
Viu tudo girar ao seu redor, seu corpo amoleceu e sua visão foi bloqueada pelo mais completo breu.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro