Capítulo 10
Não era novidade ser chamada à sala do redator chefe, normalmente para deixar algum artigo ou trocar palavras rápidas com o Sabaku, mas nunca fora à porta fechada. Ino sentiu todo o corpo vibrar de expectativa enquanto, de pé no meio da sala, acompanhava com o olhar o ruivo baixar as persianas das duas janelas e trancar a porta, com certeza para assegurar privacidade aos dois.
Parecia a realização dos seus sonhos. Logo após derrotar sua rival, teria finalmente o redator chefe aos seus pés. Já conseguia se imaginar sobre a mesa de mogno, as pernas envolvendo a cintura do ruivo, beijando-o entre muitas outras coisas que envolvia a ausência de algumas peças de roupa. Porém ao invés de agarra-la, Gaara passou direto por ela, contornou a mesa e se sentou na poltrona apontando para a cadeira a sua frente.
– Sente-se. - O ouviu ordenar com seu tom imperioso avesso a negativas.
Rapidamente sentou-se, uma sensação incomoda a dominando diante do olhar que o Sabaku lhe endereçava e piorando conforme ouvia o motivo da "reunião particular". Ao fim, sem acreditar no que acabara de ouvir, Ino se levantou e encarou Gaara com indignação e surpresa. Toda a fúria que sentia ficando evidente pelos punhos cerrados que apoiara sobre a mesa e o corpo tenso inclinado em direção ao redator chefe.
Em contrapartida, Gaara continuou sentado em sua poltrona, os lábios finos cerrados em uma linha fina enquanto seus olhos verde água a fitavam fixamente. Dois pedaços de iceberg, na opinião de Ino, que não transpareciam qualquer sinal de arrependimento, satisfação ou zombaria. E era justamente zombaria que deveriam espelhar, porque o que Gaara acabara de lhe contar devia ser uma piada de extremo mau gosto.
– Isso é algum tipo de brincadeira?- Ino conseguiu perguntar, a voz arrastada por culpa do esforço que tinha de fazer para não gritar de raiva.
– Deveria saber que não sou o tipo que faz "brincadeiras" com situações sérias.
– E você deveria saber que estragou tudo o que demorei meses pra conseguir. - Gritou sem conseguir conter-se nem mais um segundo.
– Esse é um lugar de trabalho, evite fazer escândalos. - Gaara mandou com o olhar glacial.
– Pro inferno! Faço o escândalo que eu quiser. - Ino continuou aos berros, sem se importar que seus colegas a ouvissem. - Porque diabos fez isso comigo?- Quis saber sentindo os olhos arderem e a garganta travar. Era vergonhoso, mas tinha vontade de chorar, espernear e virar a mesa em cima do Sabaku.
– Só estou agindo com profissionalismo, algo que você parece ter esquecido que existe. - Gaara respondeu. - A Famous trabalha com fofocas? Sim. Porém não fabricamos e nem ajudamos a fabricar falsas verdades. Sua matéria sobre os Uchiha foi boa, vendeu? Sim. Mas se pretende obrigar a Matsuri a mentir para escrever outra matéria do tipo, desista.
– Tem alguma coisa com aquela mosca morta por acaso?
– O nome dela é Matsuri. - Gaara corrigiu. - Creio não ser difícil de lembrar já que a usou por tanto tempo em sua vingança idiota. E o único que tenho é uma grande amizade por ela.
– Ah, sei, e isso inclui alguns momentos "amigos" na cama?- Perguntou com um riso forçado e carregado de maldade e desprezo. Gaara não respondeu e com ódio Ino completou ácida. - Deveria ter imaginado que a sonsa iria correndo pedir ajuda ao seu "príncipe de cavalo branco".
– Sabe, Yamanaka, quando me contrataram para o cargo de editor chefe solicitei alguns dados dos funcionários, porque queria chegar o mais informado possível. - Disse Gaara ao se levantar e andar em direção à loira. - Sua ficha teria sido exemplar se não fosse por um detalhe: O episódio Sakura Uchiha.
– Eu sei disso. Por isso fiz tudo o que fiz. - Resmungou Ino endireitando o corpo para fitar com desafio o Sabaku que se colocara a sua frente. - Agora vem você usar sua autoridade para me obrigar a desistir dos meus planos.
– Arruinar um casamento não pode ser chamado de plano e sim de inconsequência. - Cortou Gaara com o tom seco e os olhos presos nos de Ino. - Você não entende, não é? Não consegue enxergar nada além dessa estúpida vingancinha. Se tivesse mantido sua boca fechada após o ataque da Uchiha o cargo teria sido seu. Mas, ao contrário, preferiu sair narrando todo seu passado com os Uchiha, como uma estúpida defesa contra as acusações que recebeu, e não notou que seus colegas só aguardavam um deslize seu para cavar sua cova. - Revelou rude enquanto se aproximava ainda mais da loira que, temerosa com a aproximação, deu alguns passos para trás. - A Diretoria ouviu tanta fofoca que preferiram procurar por alguém com maior estabilidade, alguém que não se deixasse levar por sentimentalismos bobos. Essa é a verdade, se não quer admiti-la pelo menos não jogue a culpa sobre os outros. Se quiser se vingar, se vingue de si própria, de sua falta de controle diante de uma adversidade.
– Foi culpa da Sakura... – Começou em um protesto que Gaara interrompeu enquanto diminuía a distância entre eles aos poucos.
– Essa desculpa talvez me convencesse há alguns meses atrás, mas não agora. Não depois de tantas loucuras da sua parte, não depois de você induzir Matsuri a largar o trabalho que arranjei pra ela aqui e espiar o casal Uchiha e, principalmente, não depois de ameaça-la só porque se negou a mentir pra te ajudar.
– Ah, por favor, o que ela ganhava limpando o chão não é nem metade do que ganha agora. Recebeu muito bem por tudo o que fez, tanto dos Uchiha quanto de mim. - Se defendeu a Yamanaka se afastando conforme o Sabaku andava em sua direção. Isso até sentir a parede a suas costas e Gaara espalmar as mãos de cada lado de seu corpo, não chegava a toca-la, mas evitava qualquer tentativa de fuga. - Vai me dizer que nunca perdeu o controle ou fez algo fora dos padrões pelos seus interesses?- Ino perguntou o queixo erguido em uma forma de desafio. Nunca havia permitido que um homem a rebaixasse e não seria agora que faria isso, principalmente para aquele ruivo que achava que o mundo deveria se curvar as vontades dele.
– Já fiz, porém sem utilizar coação ou mentiras. - Informou Gaara com a face tão perto que seu nariz quase tocava o dela. Ino segurou a respiração quando ele inclinou-se para sussurrar algo em seu ouvido, o hálito quente acariciando sua orelha sensível ao declarar: - Caso fizesse tudo que tenho vontade, da maneira que tenho vontade, seria acusado de assédio.
Ino não soube decifrar se o arrepio que dominou seu corpo era devido às palavras sussurradas, estranhamente doces e suaves, ou pelo contato do hálito quente em sua orelha. Talvez uma mistura dos dois. Levantou automaticamente os braços na intenção de envolvê-lo em um abraço, porém Gaara se afastou tão rápido quanto se aproximara e sentou sobre a mesa, a voz voltando ao tom frio e autoritário.
– Acho que já deixei tudo bem esclarecido, portanto, volte ao seu lugar.
Incrédula com a rapidez com que Gaara passava de quente para frio, Ino se recompôs e tentou mostrar segurança ao andar até a porta para destrancá-la.
– Só mais uma coisa, Ino. - Chamou a atenção da loira que acabara de abrir a porta. - Há algum tempo Chouji vem pedindo mais assistentes pra seção de culinária. Penso seriamente em indica-la.
– Não entendo nada de culinária. - Retrucou entre dentes sem se virar para olha-lo, a mão apertando a maçaneta com força ao imaginar as palavras que se seguiriam.
– Então, caso não pretenda aprender, espero que controle-se. - O ouviu sentenciar ameaçador.
Ino não duvidava nem por um segundo de que ele era capaz disso e muito mais por sua amiga.
*S2*
Sentado sobre a cama de casal, sem camisa, com seu netbook sobre o colo e ao lado da esposa adormecida, Sasuke tentava se concentrar nas informações que pedira para o sócio lhe enviar por e-mail, porém os números e letras pareciam dançar na tela a sua frente e às vezes chegavam a perder o foco, tornando-se um emaranhado de informações desconectas. Era um sinal claro de que, por mais que tentasse, seus pensamentos estavam longe demais. "Ou nem tanto", reconheceu ao olhar para Sakura.
Esticou a mão para afastar uma mecha rebelde de cima da bochecha da esposa e aproveitou para acariciar de leve a face serena. Sentiu uma estranha satisfação quando um sorriso se delineou nos lábios rosados, o que a deixou ainda mais bela. Nunca havia reparado no quanto a esposa ficava linda em seu sono. Na realidade nunca se importara em reparar nada a respeito dela, apenas aceitara de bom grado o amor cego da esposa e em troca dera frieza. Se tivesse agido de outra forma...
Sorriu com sarcasmo - endereçado a si próprio - e afastou a mão do rosto de Sakura. Se tivesse feito tudo diferente, se houvesse seguido pelo caminho mais curto e seguro, não seria Sasuke Uchiha.
O homem que se tornara há muito tempo atrás, logo após a morte de seus pais, adorava complicar a própria vida, transformara os estudos e, posteriormente, o trabalho em uma válvula de escape, um meio de lotar a mente com o que chamava de "coisas mais produtivas" e na intenção de ser dono de seu destino sairá atropelando tudo e todos a sua frente. Por isso em vez de aceitar um local seguro na empresa da família, onde teria de assinar somente papéis sem importância para receber seu cheque mensal, irritara o tio e o irmão ao abrir o próprio negócio em sociedade com o melhor amigo. Por isso, em vez de dar atenção à noiva, fizera horas extras para garantir que a empresa se tornasse um sucesso e dera a Karin a oportunidade pra traí-lo. Por isso, em vez de notar que Sakura estava infeliz, mergulhara cada vez mais no trabalho e fingira ignorar as mentiras que envolviam seu casamento, o que quase causou a morte de Sakura.
Ele tinha o dom de magoar, afastar e transformar, para pior, todos que o cercavam. Se quisesse outra prova disso era só lembrar a conversa que tivera na manhã de três dias atrás.
*S2*
Encarava o visitante o mais inexpressivo possível, o que não era fácil já que desejava quebrar o ruivo a sua frente em mil pedacinhos. Tinha certeza que qualquer um que os visse conseguiria sentir a tensão em volta de ambos.
– Senhor Uchiha, poderia conversar com sua esposa?
– Porque permitiria?- Perguntou cruzando os braços e barrou a entrada, deixando evidente que a conversa não passaria da porta.
– Entendo que o senhor esteja zangado, mas...
– Você entende que eu esteja zangado?- Rosnou entre dentes. - A porcaria da sua revista insinuou que a minha esposa me trai. Então deveria imaginar que zangado é muito pouco perto do que sinto nesse momento. - Sentenciou estreitando os olhos negros com frieza.
Gaara respirou fundo. A que ponto chegara por culpa da vingança estúpida de Ino.
– Senhor, a revista Famous apenas trabalha com fatos, se a edição o desagradou pode se sentir a vontade para dizer a sua versão dos fatos.
– Gostaria de dizer a minha versão na sua cara. - Ameaçou descruzando os braços e avançando em direção ao Sabaku. Porém Gaara não se moveu e nem demonstrou temor diante da expressão assassina do Uchiha apenas o preveniu:
– Creio que o senhor não deseja ter seu rosto estampado na capa da próxima edição por ter agredido o editor chefe da Famous. Ou estou equivocado?
Á contragosto Sasuke se viu obrigado a recuar.
– É melhor ir embora. – Recomendou após inspirar e expirar com força para relaxar. Não que tivesse tido algum efeito, visto que continuava sentindo uma vontade louca de brigar com o ruivo. Era impressionante que no espaço de dois dias adquirira um ódio cego por dois ruivos por causa da esposa desmemoriada.
– Necessito falar com Sakura Uchiha. É de extrema importância.
– Para saber a versão dela por acaso?- Sasuke quis saber sarcástico. - Deveriam ter feito isso antes de publicar aquela matéria idiota.
– É pessoal.
– Sou marido dela. O que tiver de "pessoal" para dizer a ela pode ser dito a mim.
– Certo. - Concordou Gaara se dando por vencido. - Vim falar sobre Ino Yamanaka.
– Ino?
– Foi ela que escreveu a matéria. Está no rodapé, no fim da última página da matéria. - Gaara informou.
Sasuke franziu a testa. Não reparara em quem escrevera a matéria - estivera nervoso demais para isso - mas se tratando de Ino começava a entender o porquê das insinuações. Embora a culpa maior tenha sido de Sakura por ter se encontrado com o antigo namorado.
– Queria saber da possibilidade de fazerem as pazes. - Gaara disse sem demonstrar qualquer sinal de que se tratava de algum tipo de armadilha. - Ino vem agindo de forma nada profissional em relação a sua esposa, por isso creio que se fizerem as pazes essa guerra ira cessar. Seria bom para Ino, para sua esposa e para o senhor também. - Sentenciou por fim.
– Qual a sua relação com a Yamanaka, afinal?- Sasuke perguntou intrigado.
– Somos... Colegas de trabalho. - Respondeu Gaara após alguns instantes de silêncio e uma pequena pausa, onde avaliara qual seria a melhor resposta.
Levou a mão direita até o bolso interno do paletó e retirou um papel que estendeu ao Uchiha.
– Caso sua esposa aceite é só me telefonar, a qualquer hora.
Sasuke pegou o cartão e comentou quando Gaara se virou para ir até o elevador.
– Posso estar a um bom tempo sem ver a Ino, mas tenho certeza que ela não vai agradecê-lo pela iniciativa.
– Isso é bom, porque não é agradecimento que espero da Yamanaka. - Respondeu Gaara sem olhar para trás, mas Sasuke podia jurar que o Sabaku sorria.
Antes que fechasse a porta viu Matsuri sair do elevador e aguardou que entrasse no apartamento.
Com um buque de rosas vermelhas nos braços, Matsuri olhou surpresa para o Sabaku, que a cumprimentou polidamente antes de entrar no elevador vazio, e depois para o Uchiha parado no vão da porta.
Sasuke estranhou quando ela desviou o olhar e se aproximou de cabeça baixa. No entanto supôs que era por nunca terem passado muito tempo no mesmo lugar. A mulher trabalhava há meses no apartamento e o máximo que sabia dela era o nome, e isso só porque Sakura utilizava o nome dela com frequência nos últimos dias.
– Bom dia, senhor Uchiha! Chegaram essas flores para a senhora Sakura. - Comunicou Matsuri depois que ele fechou a porta.
Observou por alguns instantes Matsuri pegar um vaso de metal da estante e ajeitar as flores nele, depois se virou para voltar à suíte e verificar se Sakura melhorara. Tinha certeza de que se tratava de um presente de Naruto que logo seria seguido de uma visita. Porém Matsuri o impediu ao lhe estender um envelope rosa.
– Venho com esse cartão.
Pegou o envelope, retirou o cartão e, ao ler as poucas palavras escritas no cartão com um dois corações desenhados no centro, sentiu um sentimento ruim o dominar e fazer seu sangue circular como larva em suas veias. Em vez de uma mensagem carregada de piadinhas idiotas do sócio, era uma mensagem carregada de segundas intenções.
S2
Envio essas flores para demonstrar o quanto me agradou nosso encontro
Espero ter a honra de revê-la em breve
Saiba que estou a sua disposição e a qualquer hora pode me telefonar
Tel: 309 355
Beijos do seu eterno namorado,
Sasori
S2
– Eterno namorado... - Resmungou entre dentes, a mão se fechando em volta do cartão, amassando-o, e os olhos negros como a noite lançando as flores um olhar tão intenso que, se fosse possível, queimaria cada pétala em segundos.
Com brutalidade agarrou o vaso com as flores, retirando-o da mesa de centro onde Matsuri tinha acabado de coloca-lo, e seguiu pisando fundo em direção ao quarto.
– Senhor, o que vai fazer?- Matsuri perguntou surpresa com a reação e o olhar que o Uchiha reservara as lindas rosas vermelhas.
– Cuide do seu serviço. – Ordenou, deixando transbordar toda sua raiva, não com Matsuri ou mesmo com Sakura, que de certa forma permitira que aquilo ocorresse, mas com o maldito e onipresente Sasori.
*S2*
Olhou para o criado mudo da esposa onde o vaso continuava majestoso. Era impressionante que as rosas tivessem ficado mais bonitas com o passar dos dias ao invés de murcharem e morrerem. Deveria ter seguido seu primeiro impulso, pisoteado aquelas flores e saído para arrebentar a cara do "eterno namorado". Mas seu lado racional, e normalmente mais ativo, lhe aconselhou a não fazer nada, que deveria esperar Sakura se sentir melhor e então sentariam para resolver todos os problemas que fosse possível, com calma, como aconselhara Naruto.
Desviou o olhar para a tela a sua frente e, cansado de buscar uma solução, tanto no trabalho quanto na vida pessoal, Sasuke desligou o netbook, o guardou na gaveta do criado mudo do seu lado da cama, deitou e abraçou a esposa para enfim dormir. Mas o sono não venho de imediato, assim como nas noites anteriores, e tudo porque ficava horas pensando no que aconteceria quando Sakura se recuperasse por completo, tanto da gripe quanto da perda de memória.
Provavelmente da gripe Sakura estaria melhor na manhã seguinte, afinal durante todo o dia não tivera febre, fizera tudo sozinha e ainda reclamara por ele querer que aguardasse mais um dia antes de começar a trabalhar.
Estava feliz com a melhora, mas ao mesmo tempo se preocupava. A pergunta que não queria calar era: Sakura iria procurar o "eterno namorado"?
Era certo que Sasori queria Sakura de volta, estava implícito no bilhetinho que deixou junto às rosas vermelhas. Assim como era certo de que Sasuke só estava ao lado dela, na cama, porque Sakura estava frágil demais para afasta-lo. E o mesmo se aplicava para fora da cama. Essa situação fazia com que tivesse, pela primeira vez em anos, medo. Tinha muito medo do que seria capaz de fazer se ela desistisse dele, se pedisse o divórcio e corresse para os braços do outro.
Decidido a se esquecer de suas inseguranças sem sentido – necessitava achar que não tinham sentido -, estreitou o abraço e tentou focalizar na escuridão os belos traços da esposa adormecida, sem muito sucesso, enquanto seu olfato era capturado pelo perfume de rosas que conseguia fazer com que todo o seu corpo vibrasse de excitação. Desde que voltara a compartilhar o leito com a esposa essa sensação prazerosa, porém torturante, se tornara frequente. A cada dia a desejava ainda mais e sentia as pontas dos dedos, entre outras partes, formigarem na expectativa de toca-la com maior intimidade. Era como ter sede no meio do deserto, encontrar um oásis e não poder sorver o líquido que colocaria fim a sua agonia.
Como se só sentir o perfume, a respiração e o calor da esposa não fosse tortura o suficiente, em um impulso Sasuke deslizou a mão por debaixo dos lençóis e da camisola curta que ela usava para acariciar de leve a cintura fina. O contato com a pele nua e macia da esposa fez com que uma parte de sua anatomia latejasse de desejo e de dor, ciente de não podia ir além, nem ao menos devia toca-la daquela forma sem que permitisse.
Era certo por serem casados, mas totalmente errado por Sakura ainda não ter aceitado esse fato e por estar dormindo. Mas como se negar o prazer de simplesmente toca-la, de sentir que Sakura ainda lhe pertencia e aspirar o perfume que a cada dia o tornava escravo? Seria só por um breve instante e depois se afastaria.
– Só um instante... – Sussurrou movimentando suas mãos pelas costas, cintura e quadris de Sakura em uma carícia suave para não desperta-la. – breve... – Roçou os lábios do ombro até o pescoço dela, subindo aos poucos para a face adormecida. – Logo me afasto... – Beijou carinhosamente o canto da boca da rósea enquanto explorava o corpo tentador com maior intensidade, suas mãos apertando suavemente, mas com firmeza, as nádegas da esposa. – Preciso me afastar... – Suas mãos pareciam ter vida própria e haviam decidido não se afastar das curvas sinuosas, ao contrário, enquanto uma puxava a esposa pelo quadril a outra seguiu rumo a um seio. – Droga... – Urrou baixinho, sem conseguir fazer o que pretendera de início.
Seu corpo se encontrava dominado por uma necessidade agonizante e Sasuke estava consciente de que precisava sair daquela posição, deixar Sakura em paz antes que fizesse alguma bobagem, porém, por mais que sua consciência lhe dissesse para se afastar enquanto podia se controlar, outra parte, que envolvia cada fibra de seu ser, principalmente sua ereção latejante, clamava por uma satisfação que só Sakura poderia lhe dar. Simplesmente não conseguia tirar as mãos de cima dela, parecia um adolescente dominado pelos hormônios.
Sasuke fechou os olhos com força, o corpo tremendo pelo desejo e ao mesmo tempo se rebelando contra o aviso que sua mente insistia em lhe dar: Tinha que se afastar urgentemente.
Para piorar, em meio a sua guerra interior, Sakura movimentou um dos braços, que até então estivera pousado sobre o colchão, e o envolveu pela cintura, deslizando devagar a mão por suas costas nuas, enquanto uma das pernas se esfregava institivamente contra a dele.
– Isso é bom... - Sakura murmurou com a voz embargada pelo sono, se aconchegando ao corpo masculino e depositando um beijou no queixo de Sasuke.
Os últimos vestígios de controle se esvaíram da mente de Sasuke, que girou o corpo ficando sobre Sakura, seus lábios reivindicando os dela em um beijo apaixonado, cheio de força e desejo acumulados. Ela gemeu suavemente contra seus lábios, suas mãos escorregando pelo corpo dele, acariciando, explorando e o incitando a continuar.
Sasuke cessou o beijo somente o tempo suficiente para retirar a camisola que ela usava e a sua calça de pijama, incomodado com o obstáculo que as peças representavam para sua vontade de sentir sua pele junto à dela. Teria retirado às peças íntimas também se, insatisfeita com a distância imposta, Sakura não houvesse enlaçado seu pescoço e o puxado de volta para seus braços.
– Me beije, por favor... – Ela sussurrou em uma súplica que conseguia atiçar ainda mais o Uchiha.
Aceitando o convite, Sasuke selou os lábios de ambos em um beijo ardente, sua língua escorregando pelos lábios entreabertos da rósea, deslizando sobre a dela e batalhando em uma exploração mútua que arrancava gemidos roucos de ambos.
Queimando de desejo, Sakura explorava o corpo de Sasuke com as mãos, passando-as por todas as partes que conseguia alcançar, acariciando, apalpando e transmitindo em seu toque a necessidade que tinha de se unir ao marido de uma forma muito mais íntima. Entreabriu as pernas em um gesto instintivo e sentiu a respiração falhar quando Sasuke acomodou sua coxa entre suas pernas, aproximando suas intimidades e deixando que percebesse a extensão de sua excitação por ela.
Sasuke a beijou pelo queixo, pelo pescoço e continuou descendo até encontrar o seio dela. Com a língua circulou o mamilo rosado de um seio antes de suga-lo enquanto acariciava o outro com a mão, arrancando gemidos fortes da esposa, que se agarrara ao lençol e inclinava o corpo pra cima, se oferecendo para que o marido a possuísse.
– Oh, é maravilhoso!
– Você é maravilhosa... – Sasuke informou descendo os lábios até o ventre, os quadris e as coxas, beijando cada parte durante o processo e retirando a última peça que cobria o corpo da esposa e o seu. – Tentadora... – Fez o mesmo trajeto de fogo de volta, deixando dois dedos brincarem com a parte mais sensível do corpo de Sakura, escorregando para dentro dela, acariciando um ponto que sabia que a deixava louca de prazer, ouvindo extasiado cada gemido alto que saia da garganta da rósea, sentindo que estava pronta pra recebê-lo da forma que sonhava toda noite. – Minha... – Retirou os dedos do centro feminino, se ajeitou entre as pernas da rósea e mergulhou em uma veloz investida. – Só minha. – Ele urrou enquanto seu corpo movia contra o dela em sincronia, distribuindo em ambos ondas elétricas de puro prazer.
Suas mãos continuavam a apertar as curvas da esposa, agora com mais vigor e possessividade, despertando em Sakura a ânsia por mais.
– Mais, Sas... Por favor...
A simples menção daquele apelido, mesmo sendo suas iniciais, fez Sasuke sentir o corpo ficar imóvel.
– Quem é Sas, Sakura?
– Você... – Ela respondeu puxando-o ansiosa para que continuasse.
– E... Quem sou eu?
– Meu marido? – Sakura o olhou confusa com o interrogatório e a tensão presente no corpo de Sasuke.
Isso o fez relaxar, porém precisava se assegurar que Sakura não estava pensando em outro enquanto faziam amor.
– Diga meu nome, Sakura. – Pediu beijando-a suavemente na orelha, provocando até ouvi-la dizer em um suspiro.
– Sasuke...
Ao ouvir seu nome, Sasuke mergulhou no corpo da esposa por completo, indo mais fundo, mais impetuoso, vibrando com cada contração delicada do corpo da rósea. Sakura o enlaçou com as pernas para evitar que voltasse a se afastar, se entregando ao prazer das sensações, soltando um grito de espanto e satisfação ao ser lançada a um turbilhão de prazeres. Sasuke procurou sua boca em um beijo faminto antes de alcançarem juntos a satisfação mais completa.
Sasuke rolou pra o lado levando Sakura em seus braços, mantendo um braço envolto da cintura fina e apoiando a cabeça da rósea em seu peito largo, suas pernas entrelaçadas as dela e sua respiração voltando aos poucos a seu ritmo normal.
– Você costuma seduzir mulheres adormecidas?- Sakura perguntou em um murmúrio se aconchegando nos braços de Sasuke como um gato manhoso.
– Só quando se trata da minha esposa relutante. – Respondeu após não notar qualquer sinal de que se tratava de uma queixa indignada.
Sakura riu, achando graça nas palavras de Sasuke. Seu dedo indicador desenhava círculos pequenos na barriga do moreno, que por sua vez começava a se sentir excitado novamente.
– Se soubesse que era tão bom não teria resistido tanto. – Comentou depositando um beijo molhado no pescoço dele.
Na escuridão do quarto Sasuke sorriu e beijou de leve o ombro da rósea, satisfeito ao senti-la estremecer e se apertar um pouco mais contra seu corpo.
– Quer dizer que não vai mais resistir? – Indagou as pontas de seus dedos acariciando de leve os braços da rósea, causando um arrepio gostoso por toda a extensão da pele dela.
– Quer dizer que adoraria repetir a dose. – Sakura respondeu em tom maroto, as mãos descendo da barriga rumo ao sexo do moreno.
– Seu desejo é uma ordem. – Garantiu ao puxar o corpo feminino para cima do seu corpo, suas mãos se embrenhando nos cabelos rosados para aproximar suas bocas em uma nova seção de beijos.
*S2*
Karin caminhou pelo salão torcendo o nariz para as esculturas colocadas em pontos estratégicos do local. Não conseguia entender o que as pessoas viam de belo naquilo. Se não tivesse um interesse enorme em encontrar Sasori no Akasuma não perderia sua noite naquele lugar.
Parou em frente a um grande pássaro feito de argila e contorceu a boca em um claro sinal de desagrado.
– O que acha, un?
Virou e encarou um homem de longos cabelos loiros, uma mecha espessa cobrindo um dos olhos azulados, que vestia uma calça jeans preta e uma camisa social vermelha com os três primeiros botões abertos, nos pés tênis pretos.
– Ah, bem... diferente.
Ele riu.
– Por experiência sei que quando dizem "diferente" querem dizer "odiei". – A olhou com atenção, os olhos azuis percorrendo seu corpo de cima a baixo com certa malícia. – Me pergunto o que uma mulher tão atraente faz em uma galeria quando é evidente que não entende de arte.
– Só porque uma pessoa não gosta de uma escultura em particular, não significa que não entenda de arte. – Revidou irritada pelo tom zombeteiro, embora não apreciasse nada daquilo. Odiava loiros. – Você trabalha aqui?
– De certa forma.
– Ótimo, estou à procura de Sasori no Akasuma.
– Ah, entendi. – Exclamou com um sorriso abusado nos lábios. – Só um momento.
Aguardou no mesmo lugar até o loiro retornar com Sasori ao seu lado, soltar mais um sorrisinho abusado e se afastar.
– Meu sócio disse que está a minha procura. Na verdade ele acha que tenho ou tive algo com você, mas não me lembro de ter te visto antes e sou bom fisionomista.
– Meu nome é Karin. Realmente, não nos vimos antes, mas temos uma amiga em comum, Sakura Uchiha. – Comunicou ajeitando o óculo sob seu nariz.
– Sakura Uchiha?
– Creio que era Haruno antes de se casar. – Disse com pouco caso, um brilho estranho nos olhos ao perguntar: - Ela não te disse que se casou quando se encontraram há alguns dias atrás? – Esperou que a resposta fosse não, porque assim conseguiria deixar Sasuke furioso com a esposinha.
– Disse, mas não chegou a falar que mudara de sobrenome. - Sasori respondeu estranhando toda aquela conversa.
– Ah, que pena! – Resmungou insatisfeita. - Bem, não vim falar do novo sobrenome dela e sim da própria Sakura.
– Aconteceu algo com ela?- Quis saber preocupado.
– Nada muito sério. Já deve saber da perda de memória, certo?- Quando ele confirmou continuou. - Também deve saber que antes disso Sakura vivia em guerra com o marido, estavam prestes a se divorciar.
– Disso eu não sabia. Porém ainda não compreendo o que pretende.
– Ainda a ama?
– Amar é um termo forte, paixão descreveria bem o que senti ao revê-la.
– Ótimo, o importante é que a reconquiste. E eu estou disposta a ajuda-lo.
Sasori riu.
– Na verdade já pretendia fazer isso, mas, me diga, o que você ganha com isso?
– A satisfação de ver Sakura feliz. Acredite, ela nunca foi e nem será feliz ao lado do Uchiha. A coitadinha era tão infeliz no casamento que não é a toa que tenha apagado tudo. – Confidenciou com um falso olhar de pena. - Com você quem sabe ela encontre algo melhor para o futuro. Sinto que você é o homem certo pra Sakura, ela precisa de você. – Terminou com um sorriso tão falso quanto suas boas intenções.
O ar dissimulado não conseguiu enganar Sasori, que notou que, seja lá o que pretendia, aquela mulher não pensava no melhor para Sakura. No entanto, se o ajudasse a ter a rósea de novo em seus braços, não via um bom motivo para não ouvir o que Karin tinha a dizer.
*S2*
Com pequenos filetes de sol atravessando a cortina e pousando em seu rosto, Sakura despertava aos poucos e tentava se esticar, mas havia algo que prendia e aquecia todo seu corpo. Abriu os olhos e sorriu ao perceber o que a impedia de se mover, eram os braços e pernas de Sasuke que a enlaçava de uma forma que parecia temer que fugisse a qualquer instante.
Ficou um instante admirando o marido adormecido, sentindo pela primeira vez que era realmente casada e apreciando a sensação. Seja lá o que havia acontecido no passado dele com a senhora Uchiha isso acabara. Sentia que podia confiar nele, que sempre teria em quem se apoiar em um momento difícil. Faria o casamento dar certo porque Sasuke merecia, ela merecia.
Devagar se desvencilhou do abraço, fazendo o possível para não acorda-lo, saiu da cama e procurou por algo para se cobrir. Encontrou a camisola jogada no chão que vestiu rapidamente. Pretendia tomar um banho e fazer um lanche para Sasuke e ela comerem na cama. Ouvira dizer que casais gostavam de fazer isso. Lançou o olhar para as rosas vermelhas no criado mudo e imaginou que colocar uma na bandeja deixaria tudo mais romântico, por isso retirou uma rosa e se moveu para sair quando foi interrompida pela voz grave do marido.
– Gostou das flores?
Virou-se com um sorriso endereçado a Sasuke, que sentara sobre a cama e olhava de forma estranha para a rosa que segurava.
– São lindas! Obrigada por me presentear com elas.
Estranhou o silêncio pesado, a expressão descontente de Sasuke e, principalmente, o olhar gélido com que ele lançava, ora para o vaso de flores ora para a rosa em sua mão.
– Algo errado? – Perguntou querendo quebrar o clima tenso.
Sasuke se virou para o próprio criado mudo, abriu a gaveta e retirou algo que estendeu para Sakura.
De início olhou confusa para um papel amassado em cima de uma revista, mas, após ler as poucas linhas e ver a capa da revista começou a entender a expressão nada satisfeita do marido.
– Por dentro a revista é muito mais interessante. - Informou Sasuke se levantando e, sem se importar com a própria nudez, ficando ao lado de Sakura para colocar nas páginas certas. - Depois da centésima vez que olhei até achei as fotos bem enquadradas. – Disse irônico.
Os olhos de Sakura pareciam prestes a saltar das órbitas tamanho o assombro. Não com as fotos, mas a conclusão em que qualquer pessoa chegaria só em olha-las.
– Sasuke... Eu juro que não é o que parece...
– Não precisa se justificar. – Ele a interrompeu tirando a revista, o bilhete e a rosa de suas mãos e jogando no chão.
– Não?! – Estranhou.
– Digamos que você falou tudo o que eu precisava ouvir quando estava com febre. – Ele informou enlaçando sua cintura e beijando seu pescoço.
– Ah...!
– Com tanto que prometa não voltar a vê-lo, por mim o assunto está encerrado.
– Perdão? Porque prometeria algo assim?- Quis saber ao afasta-lo e cruzar os braços em frente ao corpo.
– Acho que é óbvio.
– Desculpe, acho que sou burra demais para entender, então, poderia me explicar? – O tom de voz doce contrastando com o brilho feroz em seu olhar.
– Não gosto de ter meu nome estampado em uma revista porque a minha mulher se encontra com o ex.
– Foi um encontro de amigos, apenas isso. Sasori é lindo e tem todo um sexy appel...- Ignorou a expressão azeda do moreno e continuou.- Mas já tinha aceitado o fato de que sou casada e que devo manter os votos enquanto carregar esse anel. - Levantou a mão com a aliança reluzente. – Se preocupe quando eu decidir retira-lo e falar, com todas as letras, que quero o divórcio. O que não vai demorar se continuar a agir como um homem das cavernas que precisa demarcar seu território com ordens idiotas.
– Sakura entenda que...
– Não me venha com "Sakura entenda, blá, blá, blá", porque eu não vou entender. Diga-me uma coisa, você nunca mais viu e nem falou com suas antigas namoradas, ou mesmo com sua ex-noiva?
– Não estamos falando de mim... – Começou na defensiva.
– Não estamos falando sobre nada. – Sakura o cortou e apoiou o dedo indicador em riste no peito de Sasuke.- E o senhor não respondeu a minha pergunta.
– Minha ex-noiva trabalha pra mim. - Informou pronto para o ataque ciumento da esposa. Porém Sakura só cruzou os braços novamente e disse com pouco caso:
– Ah, é mesmo? Isso quer dizer que vê com frequência a mulher que te fez casar com outra, que você não amava, só pra esquecê-la. Então não tem moral para exigir nada. – Sentenciou com um sorriso triunfante. - Agora, será que dá pra esquecer essa bobagem? Não sou sua ex-noiva, sou sua esposa e não vou te trair, isso eu posso prometer. Mas isso não quer dizer que tenho que deixar de falar ou ver antigos amigos... Não me olhe assim, por que, antes de qualquer coisa, Sasori é um amigo e talvez o veja novamente qualquer dia desses. – Finalizou decidida a lutar pela decisão que tomara.
– É óbvio que ele não pensa da mesma forma. E desde que você perdeu a memória não passo de um incomodo pra você, uma figura acinzentada da qual não faz questão de lembrar, quem dirá manter os votos. – Sasuke falou irritado.
Sakura respirou fundo e voltou a se aproximou de Sasuke, as mãos se apoiando nos ombros dele.
– Não importa o que Sasori pense e nem a minha falta de memoria. – Acariciou a face severa antes de completar determinada a fazê-lo desistir de seus pensamentos machistas. - Ontem a noite foi com você que dormi e ao seu lado que acordei, então confie em mim, confie em nós dois. – Ficou na ponta dos pés e lhe deu um selinho.
Sentiu que conseguira convence-lo quando Sasuke a estreitou em seus braços e em um movimento rápido caiu na cama sobre ela, os lábios dominadores sobre os delas enquanto as mãos se apressavam em retirar a camisola.
Sem querer discutir nem mais um minuto sobre o "eterno namorado", Sasuke decidiu que mostraria que ela lhe pertencia da única forma que conseguia no momento. No fundo assumia que Sakura tinha razão, ele parecia um homem das cavernas querendo demarcar seu território, mas que mal havia nisso?
*S2*
À tarde Hinata, Naruto e os gêmeos apareceram para uma visita. O casal Uzumaki ficou feliz ao notar que Sakura estava bem melhor e que Sasuke finalmente conseguira a atenção da esposa. Era difícil ignorar a forma que se olhavam e Hinata chegara a sugerir que deixassem o casal a sós, mas Naruto recusou possuído pela bizarra vontade de atormentar o amigo.
Em certo momento, quando se reuniram na sala e deixaram as crianças brincando no tapete, Sakura falou de seu desejo de que o apartamento fosse mais alegre e praticamente exigira que Sasuke contratasse Hinata pra redecorar cada canto que, segundo a rósea, faltava personalidade. O que isso significava Sasuke não fazia ideia e, se tratando da opinião de sua geniosa esposa, preferia nem saber, apenas concordou e recebeu satisfeito um beijo que imaginava ser para compensar os transtornos que teria com o que ela planejava. Aparentemente queria modificar tudo e colocar um ar mais feminino, colorido e parecido com um lar em cada cômodo, nessa ordem.
Enquanto observava Sakura conversar com Hinata, Sasuke considerava impressionante que em apenas alguns dias cuidando dela aprendera que a verdadeira Sakura, aquela que aparecera somente após extermina-lo das memórias, era uma mulher independente, cativante e segura de que o que desejasse se tornaria realidade. Bem diferente de antes, mas estranhamente muito mais atraente aos seus olhos do que a versão submissa, possessiva e que aceitava tudo o que ele dizia com facilidade. O único problema era que ela não percebia que ser amigo era a última coisa que passava pela cabeça do antigo namorado e isso o deixava muito preocupado.
– Não se preocupe, a Hina jamais vai permitir que a suíte seja pintada de rosa.- Naruto sussurrou em um tom tranquilizador, imaginando que a expressão insatisfeita do amigo fosse pelos pedidos que Sakura fazia e Hinata anotava sem contestar. – É sempre assim, primeiro ela anota tudo e depois sugere o que seria melhor.
– Sinceramente, se isso fizer Sakura permanecer comigo não vou nem ligar que pinte de rosa-choque. – Resmungou sem tirar os olhos da esposa sorridente.
– Tá de brincadeira, né? – Perguntou um surpreso Naruto enquanto encarava o perfil sério do sócio.
– Me conhece o suficiente pra saber que nunca brinco.
– Mas, vocês me parecem bem, pensei que tinham se entendido.
– E nos entendemos, mas Sakura insisti em querer ser amiga do tal de Sasori. Pior que não posso falar nada porque Karin trabalha pra mim.
– Eu bem que disse que um dia se arrependeria de contrata-la, mas você nunca me ouve, prefere me chamar de baka e semelhantes.
– Saber que estava certo muda algo? – Sasuke quis saber fitando o sócio com irritação.
– Não, mas até que gosto quando ocorre. – Naruto respondeu com um sorriso de orelha a orelha que logo sumiu ao murmurar. – Mas, o que pensa fazer afinal? Demitir a Karin? Eu ficaria feliz em entregar a carta de demissão.
– Pensei em transferi-la para a filial que abrimos em Paris. Karin vivi dizendo que adoraria morar na Europa. Planejei isso durante o tempo que estive afastado. Não vejo como poderia continuar trabalhando com ela depois do que fiz. – Ponderou ao recordar que estivera perto de arriscar sua carreira e sua liberdade por culpa da raiva que sentira com os comentários de Karin.
– É, seria bem estranho, embora Karin tenha achado que foi só um acidente, que você a ama e nunca lhe faria mal. – Disse Naruto repetindo o que ouvira da ruiva após dizer que provavelmente teriam que coloca-la bem longe do Uchiha. – Além disso, você ignora que Karin vivi dizendo que adoraria morar com você na Europa. Tenho certeza que vai se negar a aceitar a transferência.
– Se não aceitar oferecerei um acordo para que se demita. O que importa é que fique longe de mim, assim posso exigir que Sakura se afaste do ex-namorado.
Naruto riu.
– Qual é a graça?
– É que Sakura fez o diabo pra te fazer esquecer a Karin, mas pelo jeito ela só precisava contra atacar com a mesma arma, tô certo! – Naruto respondeu dando um tapinha amigável no ombro do amigo e soltando uma gargalhada.
– Baka!
No outro extremo do sofá, mesmo indicando as modificações que queria Sakura já havia reparado na conversar em voz baixa entre Naruto e Sasuke, e se deu conta de que, seja qual era o assunto, o diálogo divertia o loiro e fazia Sasuke ficar cada vez mais zangado.
– O que será que tanto cochicham? – Perguntou a Hinata sem conseguir segurar nem mais um minuto a curiosidade.
– Com certeza Naruto está dizendo algo para irritar o Sasuke. É o que geralmente ocorre quando se encontram. - Hinata respondeu sem tirar os olhos da folha em que marcava tudo que Sakura pedia e fazia suas próprias anotações do que seria mais adequado.
– Acha que Sasuke está ofendido com o que quero fazer no apartamento? Talvez goste de tudo do jeito que esta.
Hinata a fitou com um sorriso.
– Em minha opinião Sasuke deveria ficar feliz pela sua iniciativa. É um sinal de quer ficar aqui, que o ama.
– Bem... Não sei se o que sinto é amor ou gratidão, mas quero ficar, quero que meu casamento de certo. Só tenho dúvida se é possível. Ele nunca diz o que sente, mas notei que ainda existi um forte laço ligando ele a ex-noiva, caso contrário não trabalhariam no mesmo lugar. Quem sabe se ela decidir...
– Sakura, deveria afastar esses pensamentos bobos. – Hinata se apressou em interrompê-la ao perceber que começara a traçar o mesmo caminho tortuoso que causara o acidente de meses atrás. – Que isso fique só entre nós duas. Sasuke vem fazendo de tudo para agrada-la. Se há algo que todos que o conhecem podem dizer sobre ele é que só em uma situação grave ou muito importante pediria um conselho pessoal ao Naruto ou se afastaria do trabalho. E ele fez as duas coisas por você. Se isso não é um sinal de que a ama, não sei o que seria.
Voltou seus olhos esmeraldas para Sasuke, que continuava resmungando de cara feia sobre algo que causara um novo acesso de riso em Naruto, e teve a sensação de que tudo ao seu redor sumira quando, talvez atraído pela intensidade que era observado, Sasuke fixou seus olhos negros e com um intenso brilho enigmático sobre ela, um pequeno sorriso, quase imperceptível, se manifestando nos lábios finos. Era como se dissesse com o olhar o quanto a considerava especial para ele.
Depois que Matsuri foi embora e Hinata e Naruto se despediram levando os filhos adormecidos para casa, Sasuke a abraçou forte e capturou seus lábios em um beijo apaixonado e carregado de promessas de paixão. Então, conforme era conduzida aos beijos até o quarto, Sakura já não se sentia insegura e desejava que Hinata estivesse certa sobre os sentimentos de Sasuke, porque, mesmo que evitasse verbalizar em palavras, sabia que ele estava cada vez mais presente em seu coração.
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