Capítulo 5 - Outro Lado
A música alta, próxima ao seu ouvido, tanto acordou quanto assustou Hinata assustada. Com o coração aos pulos, sentou na cama, esfregando os olhos com uma mão, enquanto com a outra tateava o criado mudo à procura do celular. O pegou e, entreabrindo um olho, deslizou o dedo na tela para atender a ligação.
— Alô... — balbuciou sonolenta.
— Hina? Aqui é o Neji.
— Oi... Neji! — cumprimentou deslizando para debaixo das cobertas.
— Te acordei?
— Já é minha hora de levantar... — murmurou, mesmo sem saber que horas eram.
— Hanabi me contou sobre o grande pedido. Como se sente?
— Nas nuvens — respondeu esticando-se com um sorriso sonhador.
— Queria te felicitar pessoalmente, mas passarei mais uma semana fora. Na verdade esse é o maior motivo dessa ligação. Preciso de um favor.
— Qual?
—Tenten está sozinha em casa e, como está nos últimos meses de gravidez, estou preocupado. — Mesmo Neji não podendo vê-la, Hinata assentiu. Conhecera Tenten Mitsashi há poucos meses, quando Neji abrigara a amiga grávida, e simpatizara com a força e vitalidade da jovem diante das adversidades que atravessava. — Pode passar na minha casa e ver como ela está? Tenten diz que está bem, mas quero ter certeza — acrescentou sem ocultar a preocupação.
— Não se preocupe! Enquanto estiver fora a visitarei todo dia.
— Obrigado, Hinata! É melhor o Naruto cuidar bem de você.
— Ele será o melhor marido do mundo — assegurou risonha. — Aproveitando, também tenho um pedido: Quer ser o meu padrinho?
— Claro que quero. Estarei ao seu lado sempre que desejar, Hina. — garantiu. — Hanabi também falou do seu novo emprego. Se precisar de outro posso ajuda-la.
— Não preciso, estou feliz nesse.
— Com o Sasuke? — perguntou com tom duvidoso. Neji não gostava de Sasuke, em parte por diversas ocasiões defende-la dos ataques infantis do Uchiha.
— Sim, com o Sasuke — respondeu com firmeza para convencê-lo de sua honestidade. — Ele não é tão ruim como patrão. — "Tirando o desfile de modelos", quis acrescentar, mas não seria adequado, tanto por Sasuke ser seu chefe quanto por nos últimos dias ele ter dado um descanso as "namoradas".
— Tenho que ir. Telefone-me assim que falar com Tenten, e considere a minha oferta, ok?
— Telefonarei — prometeu.
Encerrada a ligação, Hinata verificou as horas. Faltavam duas horas para o alarme soar. Acomodou-se melhor na cama, adormecendo rapidamente.
~S2~
Cantarolava baixinho uma canção de sua infância, preparava uma bandeja com o café da manhã de Sasuke o mais rápido que podia. Encheu uma jarra de suco de laranja e ao virar se deparou com ele, sentado junto à bancada, as mãos em frente à boca e os olhos fixos nela.
A presença dele não foi uma surpresa, era a terceira vez naquela semana que ele aparecia na cozinha pela manhã e se recusava a ir para a sala de jantar, por isso nem tentou, ajeitou os pratos na frente dele.
— Bo-bom dia! — saudou.
Em silêncio ele inclinou a cabeça rapidamente. Não parecia contente com o novo dia, porém, raramente estava de bom humor de manhã.
Reparou na camisa cinza que ele usava. Uma marca de suor contornava a gola e descia em forma de triângulo invertido até o peito masculino. Ele saíra?
— Fui à academia do prédio — ele disse como se lesse seus pensamentos. — Caso queira faço um cadastro para você lá.
Ela balançou a cabeça em negativa.
— Não preciso.
— Imaginei.
Desviou o olhar. Não era preciso Sasuke lembra-la na menor oportunidade que a considerava gorda e molenga, já o fizera suficiente durante sua adolescência para que a mensagem ficasse gravada em sua mente insegura.
Ele bufou.
— Também não preciso, mas é bom para passar o tempo — informou, acrescentando irritado — Não encare todos os meus comentários como ofensa.
— Não falei nada...
— Franziu os lábios.
— Quê?!
— Você é transparente. Quando dizem algo que a constrange ou envergonha, você cora, quando se magoa ou irrita-se aperta os lábios — explicou. — Pergunto-me quais insultos eles seguram com tanta força.
— Não faço isso... — negou, embora incerta, pois muitas vezes contivera respostas grosseiras aos ataques dele.
— Faz, toda sempre que a irrito ou me nego a comer a montanha que chama de café da manhã — Ele sorriu de canto e Hinata sentiu o rosto em chamas — Agora a envergonhei.
— O café da manhã é importante, tem que comer bem — disse, desviando o olhar enquanto despejava o café em uma xícara e a estendia para o Uchiha.
— Não estou reclamando, não agora. — Bateu com a mão na banqueta ao lado. — Me acompanhe.
Hinata considerou indelicado recusar, até porque, como das outras vezes, parecera uma ordem e não um pedido.
— Pretende ver o feliz noivo hoje?
— Não. Minha folga é só nos fins de semana — mencionou, embora não precisasse, ele sabia disso.
— Mas tem sua hora de almoço — disse, esticando o braço para pegar um cacho de uvas a direita da Hyuuga. Seus braços encostaram e ela recuou. Ele franziu o cenho e se endireitou, depositando o cacho em seu prato. — Duas horas são suficientes para os enamorados comemorarem de alguma forma — argumentou os olhos negros brilhantes de malícia postos nela.
Sabia que estava vermelha, sentia a pele arder, mas tentou ocultar seu desconforto bebendo um longo gole de seu suco antes de dizer:
— Na minha hora de almoço vou à casa do Neji.
— Ele voltou de viagem?
O interesse de Sasuke não era em Neji, mas em seu irmão, que estava na mesma viagem.
— Não. Vai demorar mais alguns dias. Por isso me pediu para ver como Tenten esta — contou. — Ele está preocupado com a gravidez dela.
— Não consigo imaginar o Neji cuidando de um bebê — Hinata segurou os lábios para não retrucar que ele seria pior. Porém ele pareceu captar a mensagem, acrescentando com um meio sorriso mordaz: — Também não me imagino com uma criança.
— Isso se aprende com a prática — comentou, fingindo acreditar na possibilidade de Sasuke com um bebê. Do jeito que era narcisista deixaria toda a responsabilidade com outras pessoas.
Alheio ao que Hinata realmente pensava, Sasuke assentiu olhando-a pensativo.
— Você será uma boa mãe — sorriu, daquele jeito que Hinata sabia que acompanhava um comentário impertinente —, de crianças rechonchudas e hiperativas.
Longe de constrangê-la, como imaginara, o comentário teve o efeito foi o contrario. Hinata vibrou de alegria ao imaginar seus filhos com Naruto. Provavelmente por não conseguir atingi-la o sorriso de Sasuke sumiu e seu olhar obscureceu.
— Eu te levo — disse, antes de tomar um último gole de café.
— Hã...?
— Te levo para ver a namorada do Neji — repetiu com o olhar incrivelmente sério.
— Tenten é amiga do Neji — corrigiu. — E não quero atrapalhar.
— Vai atrapalhar se demorar a fazer o meu jantar ou qualquer outro serviço daqui — retrucou sarcástico.
— É que...
— Aceite a minha gentileza, Hyuuga. É só uma carona, nada obscuro ou ilícito — ele cortou com rispidez. — No fim do dia sua virtude estará intacta.
O encarou boquiaberta, chocada demais com a petulância dele. Por alguns instantes quis dizer que a virtude dela não era da conta dele, nunca seria, e manda-lo para o inferno junto com sua visão deturbada de gentileza. Então recebeu o odioso sorriso de canto e o olhar frio e certeiro como uma lança, dando-se conta de que em algum momento fechara os lábios com força.
— Sua resposta é não?
Nada seria pior que dar razão ao Uchiha. Forçou os lábios a relaxarem em um sorriso educado.
— Aceito.
~S2~
Hinata avistou Tenten assim que o carro entrou na rua que Neji morava. Vestida com camisa branca e jardineira marrom que realçava a barriga saliente, Tenten conversava com um velhinho em frente ao portão de ferro da propriedade. Quando Sasuke estacionou, Tenten, reconhecendo Hinata, despediu-se do homem e aproximou-se do carro com um sorriso.
Hinata desceu do carro e recebeu o abraço empolgado da morena, insegura com o volume entre as duas.
Tenten separou-se de Hinata e direcionou os olhos castanhos para o motorista. Lembrava-se de ter sido apresentada a ele antes, mas não recordava o nome e nem quem ele era no circulo de amizades de Neji.
— Não quer entrar e tomar um café?
— Ah, o senhor Sasuke não ficará — Hinata apressou-se a responder. — Ele só me deu uma carona.
Sasuke confirmou com a cabeça.
— Em outra oportunidade — ofereceu dando partida. — Te vejo em casa, Hinata.
Tenten envolveu os ombros de Hinata com um braço e a conduziu para dentro da casa de cinco cômodos.
— Neji ainda esta em viagem — lamentou enquanto levava Hinata para a cozinha.
— Na verdade, estou aqui a pedido dele — informou sentando na cadeira que Tenten indicou. — Ele quer ter certeza que está bem.
— Ele fez o mesmo pedido para o vizinho, aquele senhor com quem eu conversava quando chegou — disse, pegando na geladeira suco e uma travessa com bolo para colocar na mesa antes de sentar. — É exagerado, mas aprecio o cuidado dele comigo e o meu bebê.
— Falta quanto?
— Seis semanas — respondeu acariciando o topo do ventre avantajado. — E você, alguma novidade?
— Sim. — Estendeu a mão com o anel de compromisso. — Vou me casar.
Tenten abriu a boca, analisando com confusão a aliança.
— Casar? Nossa, nem sabia que você tinha um namorado. — Notando a expressão desgostosa da Hyuuga retificou: — Quer dizer, sei que nos conhecemos há poucos meses, mas é que nunca te vi com alguém e o Neji nunca mencionou que tinha um namorado... Oh, melhor manter minha boca fechada. — riu sem graça.
— Meu noivo é muito ocupado — explicou puxando a mão para o colo.
— O homem do carro?
— Não!!! Aquele é o meu patrão.
— Ele disse que te esperava em casa, pensei...
— Moro e trabalho na casa dele como governanta — esclareceu.
— Entendo! Meus parabéns! — Tenten serviu uma xícara de chá para Hinata e outra para si. — E quando será?
— Daqui quatro meses. O dia ainda não foi definido.
— Esta ansiosa? Nunca casei, mas ouvi que os preparativos são a parte mais estressante dos casamentos.
— Ainda não comecei os preparativos. Por enquanto só tenho os padrinhos, minha irmã e o Neji.
— A família de vocês é muito unida — comentou acariciando distraída sua barriga. — Queria uma família assim para o meu bebê.
~S2~
Seguindo para a sala de reuniões, Gaara parou falar Sasuke.
— Tenho uma reunião com o Naruto em meia hora, quer participar?
— Já disse que não farei parte desse projeto.
Gaara respirou fundo.
— Tinha esperança que mudasse de ideia.
— Sem chance.
— Tem noção do quanto precisamos desse projeto? — perguntou irritado. — A Namikaze é uma empresa de renome, fazer um ótimo trabalho nela garantirá que nossa clientela aumente. A conta da Namikaze trará um retorno positivo de todas as formas que pensar. É a nossa chance de crescer no mercado.
Sasuke deu de ombros, não entendendo o motivo da insistência do Sabaku. Como fez questão de lembrar o sócio, nenhum dos dois era obrigado a participar de todos os projetos.
— Naruto deseja a sua presença, pergunta o motivo da sua falta e não tenho uma resposta melhor que: ele não quer. — Diante da expressão de pouco caso propôs: — Sente conosco por algumas horas, finja que faz parte da empreitada e dê a empresa à chance de agradar o cliente. Conseguiremos com a Namikaze o dobro do que conseguimos nos últimos dois anos, uma injeção de capital que fará a empresa ter visibilidade. — O silêncio de Sasuke foi recebido com frieza. Gaara levantou, dando-se por vencido. — Coloquei cada centavo da minha herança nessa empresa e quero que prospere. E você? — questionou antes de sair.
Sasuke voltou à atenção para os gráficos na tela, mas sua concentração se perdera e com um baque fechou seu notebook.
~S2~
Horas depois, Sasuke esquecera totalmente a conversa com Gaara quando a porta de seu escritório foi aberta com brusquidão, a madeira batendo com força contra a parede. Furiosa, Temari adentrou o recinto, seguindo até sua mesa com passos pesados, logo atrás dela uma apavorada Sakura. As mãos femininas bateram com força no tampo de sua mesa. Sasuke ergueu os olhos negros até encontrar os ferozes azulados.
— Temari... — murmurou Sakura, sendo bruscamente cortada.
— Não se meta! — exigiu a Sabaku. — Tenho algo que resolver com o garanhão aqui. — Vendo a expressão interrogativa do Uchiha, esbravejou. — Sabe o que é perder duas modelos em um dia? Duas modelos escolhidas a dedo após semanas de testes?
Sasuke considerou a possibilidade da irmã de Gaara ter enlouquecido. O que ele tinha a ver com a seleção de modelos?
Aumentando o público, Gaara entrou em sua sala.
— Temari, o que houve?
— Duas modelos acabam de se estapear e descabelar porque ele — apontou para Sasuke — não consegue manter a porra do pau dentro das calças. — Lançou ao Uchiha um olhar revoltado. — Tantas mulheres no mundo e você vai trepar com as modelos que costumamos contratar? Sim, trepar, porque até a palavra sexo me parece inadequada para o que você fez com essas garotas.
— Temari!
— Não Gaara, me deixe falar — pediu. — A empresa é nova, qualquer deslize pode nos levar a falência. Por um minuto, um mísero e insignificante minuto, pense nas consequências de se esfregar em modelos que podem se encontrar em uma de nossas propagandas.
Após Temari sair tão tempestuosamente quanto entrara, Sasuke sentiu dois pares de olhos sobre si. Voltou-se para Sakura.
— Creio que tem trabalho a fazer senhorita Haruno.
— Sim, claro! Com licença!
Ela saiu rapidamente, deixando-o sozinho com o sócio.
— Perdoe a Temari, desde que Rasa anunciou sua doença, ela tem estado uma pilha de nervos.
— Não, ela está certa — retrucou. — Esqueci-me da regra básica: Nunca se envolva com uma funcionária. Embora, até hoje, não tenha olhado para as modelos dessa forma.
— Também já sai com as modelos, mas deixo um tempo entre uma e outra. E é sempre uma boa ideia presenteá-las com uma joia e dizer que terminou — aconselhou sentando em frente ao Uchiha.
— Sequer comecei algo com elas.
Gaara assentiu devagar.
— Mulheres! Enxergam mais do que deveriam.
— Sobre hoje de manhã, pensei muito a respeito. Assim como a sua irmã, você tem razão. A empresa deve vim em primeiro lugar. — Tenso, deslizou os dedos pelo cabelo. — Na próxima reunião estarei presente, e não só em corpo, vou me envolver para que tenhamos sucesso — prometeu.
— Isso é bom — disse Gaara aliviado. — Tenho que admitir que a mais por trás do nosso estresse.
— O que?
— Rasa está usando sua doença para nos pressionar. O maldito não pode nem mesmo ir para o inferno sem nos arrastar no processo.
Desde que montaram sociedade, eram poucas as vezes que Sasuke ouvia Gaara mencionar o pai, e nessas poucas o desprezo era palpável.
— Pressionando de que forma?
— Tentando convencer Temari a voltar com o Hidan. O maldito quase destruiu a vida dela e ele acha que não existe marido melhor.
— Temari contou para ele o motivo da separação?
— Não, ela se nega. Mas não é óbvio?
— Conhecendo a personalidade da sua irmã, caso não tivesse ouvido de você, jamais suspeitaria — admitiu.
— Mesmo que soubesse, ele não ligaria. — riu sem humor. — Ele também quer forçar o Kankuro e eu a formamos uma família normal, foram essas as palavras que ele usou. Como se tivéssemos um parâmetro para saber como é uma família normal — acrescentou com azedume. — Ele diz que logo morrera e quer ter certeza que seu legado continuara. Legado... — riu — é mais uma maldição.
— Ignorem, faço isso com a minha mãe.
— Mikoto é uma principiante perto dele. Ah, mas o que estou dizendo. — Levantou. — não vou descarregar meus problemas em você.
— Os amigos são pra essas coisas. Escutar.
— Naruto disse algo parecido. — Sasuke fechou a cara. Ser comparado com Naruto era a última coisa que esperava naquele dia. — Temos conversado muito. Quem sabe, agora que fará parte das reuniões não se junte a nós. Será como...
— Antigamente — adiantou-se, lembrando o que escutara de Naruto dias antes.
— Exato.
Deu de ombros, internamente duvidando que isso ocorresse.
~S2~
Hinata terminou de aprontar o jantar, os olhos a todo o momento se colocando sobre o telefone. Àquela hora Sasuke costumava telefonar para avisar de alguma visita, de forma que ela pudesse colocar a mesa para dois.
Também lhe incomodava que Naruto não lhe telefonara. Mandara uma mensagem dizendo que estava bem e lhe desejando um bom dia, mas gostava de ouvir a voz dele, saber como fora seu dia. Era um alento para a distância que tinham durante a semana, embora durante todo o relacionamento fossem pouquíssimas as vezes que ele ligara, gostava quando aconteciam. Mas não podia e nem iria cobra-lo. Ele trabalhava muito desde que o pai morrera e precisava de espaço para se dedicar a empresa, relembrava para afastar o bichinho que cochichava que Naruto devia lhe dedicar mais tempo e atenção.
De qualquer forma, seu fim de tarde fora ocupada por um Uchiha, ou melhor, uma Uchiha. Mikoto telefonara, e não se limitara a perguntar sobre Sasuke, também quisera saber dela. Sorriu, Mikoto era quase uma mãe para ela, tão bondosa que às vezes sentia envergonha por não corresponder com tanta empolgação o carinho da matriarca Uchiha.
— Hinata.
Apressou-se para a sala, encontrando Sasuke sozinho. Automaticamente olhou para a porta em dúvida.
— Não vem ninguém.
Balançou a cabeça, constrangida em ser tão óbvia.
Sasuke seguiu para o quarto e Hinata correu para a sala de jantar. Assim que tudo estava pronto foi chama-lo. Bateu de leve. Não teve resposta. Bateu um pouco mais forte.
— O que foi? — ele perguntou irritado.
— O seu jantar está pronto.
— Estou sem fome.
— O senhor já jantou?
— Não, e nem quero.
— Almoçou no trabalho?
— Que importância tem isso? É minha mãe por acaso?
— Isso é um não?
— Vai cuidar da sua vida, Hyuuga.
Apertou os lábios.
— Está bem?
— Estou ótimo, agora vá embora!
Afastou-se devagar, ainda indecisa sobre o que fazer. Suspirou. Odiava ser filha de sua mãe.
~S2~
Sasuke olhava para o teto, embora não tivesse o que ver na escuridão que cobria seu quarto. O dia fora longo, estressante e ele ainda tinha que ter insônia?
Piscou quando a luz do escritório incidiu em seu rosto. Sentou e observou incrédulo Hinata entrar no quarto com uma bandeja.
— Que porra...?!
— Fui educada a obedecer, mas, acima disso, perceber quando desobedecer. —Hinata colocou a bandeja no criado mudo e acendeu a luz. — Passei dois anos com uma senhora de mais de oitenta anos e ela nunca, nunca mesmo, foi dormir sem comer. Pode xingar o quanto quiser, mas, por favor, coma um pouco.
Sasuke olhou para a travessa e depois para Hinata.
— Hinata...
— Coma!
— Eu sou o patrão aqui.
— Quem me contratou foi a sua mãe, e acho que ela não gostaria que fosse dormir sem comer. Ela foi bem incisiva sobre isso. Cuide do meu bebê, zele por ele e não o deixe pular as refeições. — Ela não dissera exatamente isso, corrigiu-se mentalmente, mas bebê levava a essa interpretação.
Sasuke segurou um sorriso ao ouvi-la imitar a voz de sua mãe.
— Pareço um bebê?
— Às vezes... — Hinata desviou o olhar, a confiança se esvaindo conforme tomava consciência do que dizia — um pouco... — gemeu constrangida. O que estava fazendo? — Eu vou... vou arrumar a cozinha... Volto daqui a pouco... para buscar... — apontou nervosamente para a bandeja.
Fugiu para seu refúgio, chegando à cozinha tão rápido quanto suas pernas trêmulas permitiram. Encostou-se à bancada e afundou o rosto nas mãos, preocupada com as consequências de suas ações. Por mais que ele não pudesse demiti-la, tinha que respeita-lo. Mesmo que ele fosse um mulherengo, egocêntrico, mimado, que tornava seu trabalho difícil.
Com mãos trêmulas pegou uma flanela e começou a esfregar cada superfície da cozinha, embora não precisasse. Os minutos passaram, mas seu nervosismo não, e perguntava-se se devia só buscar os pratos no dia seguinte quando Sasuke estivesse no trabalho. Evita-lo era impossível, mas podia sonhar.
Encolhendo-se de vergonha, parou de esfregar o vidro do armário e observou Sasuke passar por ela e colocar a bandeja no balcão de mármore da pia.
— Como demorou, trouxe os pratos — ele explicou apoiando-se ali com os braços cruzados.
— Não precisava... — sentiu o rosto arde.
Queria que ele fosse embora em vez de ficar a poucos passos dela.
— Gosto mais da sua versão Tutti, embora ser tratado como bebê não me agrade.
— Me desculpe... — Mesmo não tendo ideia do que seria um tutti, deduziu que era um elogio já que Sasuke gostara. O pedido era somente por tê-lo desagradado, embora agisse de acordo com o que fora contratada. Não que ela fosse argumentar isso.
— Quando se trata do trabalho você é outra pessoa — comentou observando-a com atenção. — Naruto conhece esse seu outro lado? — Hinata desviou os olhos para a flanela que espremia. — Ou só é acionado no trabalho?
Hinata respirou fundo.
— Senhor Sasuke... não pretendia ofende-lo... só...
— Não ofendeu. Só acho que deveria usar esse seu lado com seu noivo — afastou-se do balcão e esfregou a mão no pescoço. — Admito que comer me fez bem. O dia não foi dos melhores — comentou tenso.
— Sente-se que te faço uma massagem — Hinata ofereceu, ansiosa em remediar suas ações anteriores.
— E você sabe fazer massagem? — duvidou, mas sem resistência sentou em uma banqueta.
Hinata removeu a aliança e a colocou na bancada antes de se posicionar nas costas do Uchiha.
— Eu disse, trabalhei para uma senhora de oitenta anos — explicou, respirando fundo antes de deslizar suas mãos trêmulas do pescoço até os ombros dele.
— Primeiro bebê, agora uma velhinha. Você sabe como elogiar um homem — Hinata não conteve uma risada e Sasuke a olhou de canto. — E como foi com a namorada do Neji?
— A amiga do Neji está bem — Sasuke assentiu, inclinando-se quando Hinata circulou sua nuca com os polegares.
— Neji se preocupou a toa.
— Ele se importa com ambos — retrucou, movendo as mãos sobre os músculos duros, pressionando quando encontrava pontos de tensão.
— Tem certeza que não é dele? Não conheço muitos homens que se importem com o filho dos outros.
— Você não se importaria. — era uma constatação, e Hinata censurou-se pelo tom ácido.
— Me importaria se gostasse da mãe.
— Tenten é prima do melhor amigo dele.
— Mesmo grávida, é uma mulher atraente.
— Nem todos os homens enxergam uma mulher sexualmente — alfinetou.
— Como eu?
— Não foi isso que eu disse.
— Pensou.
— Não pensei nada — revidou irritada, fechando as mãos com força nos ombros dele.
— Chega — Sasuke levantou com brusquidão, afastando-se sem olhar para trás. — Preciso de um banho e dormir.
— Nem um agradecimento — Hinata resmungou inconformada, depois se censurou. Sasuke fora tolerante, isso já era muito vindo dele.
~S2~
Ao abrir a porta do quarto foi surpreendido pela barulheira. Parou no umbral, a mão firme na maçaneta, atento aos diversos sons que reverberavam no cômodo. Metal batendo em uma superfície, farfalhar de roupas e resmungos incompreensíveis. Observou uma almofada voar do closet, cair no chão e dar diversas piruetas até chocar-se contra a cama de casal.
Pesando suas opções, olhou para o corredor as suas costas e depois para o closet. Não que houvesse muitas quando se era casado com Mikoto. Resignado, atravessou a porta e a fechou, seguindo na direção dos gritinhos femininos de frustação.
A desordem dominava o lado destinado à esposa, as prateleiras do alto estavam reviradas ou vazias, no chão os objetos que as ocupavam: roupas, travesseiros e caixas abertas com chapéus, vestidos de festa e casacos. Mikoto movia a escada para outra fileira, uma das poucas com nichos intactos.
— Temos empregados para isso.
Mikoto soltou um grito e, agarrada a escada, o encarou irritada.
— Em vez de assustar, seja um marido atencioso e desça aquilo. — Apontou uma caixa branca que ocupava por completo a última prateleira.
— Outro bazar beneficente? — perguntou ao subir na escada.
— Não.
Agarrou a caixa, movendo-a para debaixo do braço antes de descer devagar a escada.
Assim que a caixa ficou ao seu alcance, Mikoto a agarrou, levando-a para a mesinha no centro do closet para abri-la.
— Finalmente! — riu-se Mikoto, fechando a caixa antes que Fugaku tivesse tempo de ver o que motivara aquele caos.
— O que é?
— Uma surpresinha — Mikoto respondeu, desajeitadamente abraçada à caixa retangular, saindo do closet.
— Devo me preocupar com a segurança de alguém?
Sorrindo, Mikoto esperou Fugaku aproximar-se e, estendendo a mão até o rosto do marido, deu tapinhas de leve na bochecha dele.
— Talvez, querido, talvez.
~
TuttiBomowski é uma mãe aparentemente frágil, superprotetora e um pouco louca quandose trata de seu filho, um policial durão que ela trata como um bebê no filme "Pare!Senão Mamãe Atira". Não foi um elogio.
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