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Capítulo 24 - Novo ano, velha angústia

Assim que terminou de se maquiar, Sara saiu a passos rápidos do banheiro ao ouvir o telefone tocar na sala. Seria a gerência do hotel ligando para avisá-la de que a ceia estava sendo servida no salão, ou seria...

— Olá, filha-que-está-longe-de-casa. Feliz ano novo — manifestou-se uma voz alegre do outro lado da linha.

— Oi, pai. Feliz ano novo — respondeu Sara, com menos entusiasmo do que normalmente teria.

— Queria que estivesse aqui para te dar um abraço.

Aquela não era a primeira virada de ano que passavam distantes um do outro. Já aconteceu em outras ocasiões, quando Camilo passara o ano novo em terras humanas, deixando as filhas comemorarem a data sozinhas em casa. Porém, neste ano, não estavam separados por motivos de força maior envolvendo o trabalho, mas sim por decisão da própria Sara ao querer se afastar da irmã.

Ela não aguentara conviver com a Alana sob o mesmo teto. A relação entre elas permaneceu arisca, sem qualquer sinal de reconciliação. O desconforto impregnado no ar, dia após dia, a fez juntar suas coisas numa mala e se hospedar temporariamente em um hotel. Havia saído sem dizer nada à Alana, deixando apenas um bilhete na porta da geladeira.

— Se quer um abraço, pode passar aqui amanhã, digo, hoje — disse ela.

— Que tal se, em vez disso, você não desse uma passadinha aqui em casa?

Sara revirou os olhos. Dois dias atrás, seu pai tinha vindo visitá-la para convencê-la a voltar, mas a jovem fora resoluta: só pisaria em casa de novo quando a irmã partisse para a Academia, o que só aconteceria na terceira semana do ano.

— Apenas não — respondeu ela. Achava melhor não dar muita corda às ideias do pai para que ela e a irmã fizessem as pazes. Quanto mais rude, menos ele encheria sua paciência.

— Tudo bem, eu vou aí assim que der. Mas já adianto os meus desejos de sempre: felicidade; saúde; juízo e...

Camilo emudeceu do outro lado da linha. Sara chegou a pensar que a ligação havia ficado muda, mas logo uma voz que não era masculina lhe chegou ao ouvido.

— Sara...

O telefone foi encaixado com força de volta ao gancho.


******

O céu noturno da Central de Neriquia tingia-se com o brilho explosivo dos fogos de artifício, enquanto os hóspedes contavam, em voz alta, os últimos segundos para o ano de 1248 da era pós-divina. A área externa do hotel estava repleta de pessoas eufóricas, reunidas nas mesas com suas famílias ou grupos de amigos. Todos vulgares. Sara até havia cogitado se hospedar num hotel multicasta, mas a ideia de se enxergar entre fidalgos e vulgares a deixou aflita — seria um gatilho de ansiedade para cada mesa fidalga que olhasse. Ao menos ali, junto aos vulgares, estaria em uma zona familiar criada desde os tempos de escola, embora não exatamente confortável, ainda mais estando sozinha em uma mesa.

Quatro... três... dois... um...

— Feliz ano novo — Sara murmurou para si mesma, a voz abafada, quase inaudível, pelas mesmas palavras pronunciadas aos gritos no hotel.

Para onde quer que olhasse, abraços e sorrisos salpicavam o cenário festivo, criando uma atmosfera radiante que Sara só conseguia testemunhar em vez de sentir. Adoraria encontrar motivos para sorrir como eles, saborear a esperança que é renovada no primeiro minuto de cada ano; mas fazê-lo era deitar os olhos sobre si mesma, remexer em lugares escuros e se cortar nos cacos que ela ainda tinha dificuldades em juntar.

Sara engoliu o choro para não molhar os primeiros segundos do ano. Também não queria borrar sua maquiagem para ter o trabalho de ir ao banheiro retocá-la. A imagem dos talheres ao lado do prato vazio em sua mesa lhe deu a válvula de escape que precisava: comida! Ocuparia seus pensamentos — e o estômago — com a ceia do hotel.

Por sorte, sua mesa estava próxima à entrada do saguão, e não demorou para os garçons trazerem bandejas com arroz, saladas e carnes. Ela se empanturrou como se sua alegria naquele instante dependesse do sabor da comida, que estava gostosa — mas não tanto quanto aquela que estaria desfrutando se estivesse em casa. A taça de vinho que o garçom lhe ofereceu ajudou-a a esquentar um pouco os ânimos, o suficiente para espantar a tristeza no rosto, embora não o tornasse vívido.

Naquela noite, Sara era uma garota na companhia da solidão, em plena virada de ano. Era também um convite involuntário para homens mais ousados.

— Olá. Está sozinha? — perguntou um rapaz sorridente, se aproximando da mesa.

— Estou — respondeu ela, para se arrepender logo em seguida. Deveria ter ficado quieta, deixado o cara no vácuo. Ela não estava a fim de conversa, ainda mais com um vulgar provavelmente com segundas intenções.

— Posso... me sentar com você um pouco?

— Não.

Foi notável o esforço do rapaz em manter o sorriso galanteador, embora a pretensão de Sara com sua resposta direita tenha sido a de rompê-lo. Ela esperava que ele desse meia volta e se afastasse, mas o cara insistiu.

— Tipo, certeza que quer passar a virada do ano sem uma boa conversa? Prometo que...

— Eu sou lésbica.

Sorriso galanteador desfeito com sucesso, ou melhor, transformado em um sorriso sem graça que poderia ser traduzido em: "Tá. Foi mal aí". Essa tática sempre funcionava com os caras vulgares. Foi uma dica que recebeu da Bianca, que de fato era lésbica, quando os homens insistiam demais.

Assim que o garoto se afastou, Sara voltou a beber seu vinho, aceitando uma segunda taça quando o garçom passou próximo à mesa. Mas não demorou para uma segunda pessoa, com uma taça de vinho na mão, vir requisitar sua atenção.

— Posso me sentar com você, sumida? Ou tu tá dando fora em mulheres também?

A voz familiar fez Sara erguer as sobrancelhas. Mesmo que desejasse ficar sozinha, não seria capaz de enxotar sua amiga de escola.

— Paola? O que tá fazendo aqui?

A garota tomou a liberdade de puxar uma cadeira vazia para se sentar à mesa.

— Minha família resolveu comemorar o ano novo fora de casa — explicou ela, apontando para um conjunto de três mesas distantes, quase coladas ao muro do hotel e abarrotadas de pessoas em volta. Uma delas, aliás, não lhe era estranha. — Meu primo quase voltou chorando depois que você escorraçou ele, coitadinho. Mas, pelo menos, descobri que você estava aqui.

— Ah... desculpe. Acho que fui rude demais com ele — disse Sara, sentindo-se um pouco mal por ter destratado um familiar de sua amiga.

— É. Mas, em sua defesa, você sempre foi rude demais com todo cara que tentou dar em cima de você. Até as garotas tomavam um balde de água fria — disse Paola, rememorando o passado com um sorriso.

Sara não podia lhe dizer que seu desinteresse era, na verdade, pela casta vulgar. Era impensável engatar nesse tipo de relacionamento proibido, sendo ela uma fidalga. Só poderia beijar neriquianos de sua própria casta, mesmo não convivendo com eles... mesmo que eles a tratassem como alguém indigna de ser beijada.

Bebeu alguns goles de vinho para o álcool diluir o gosto masculino de uma lembrança amarga.

— Por falar em garotas — continuou Paola, olhando fixamente para a amiga —, você gosta delas?

— Hã? Não. Eu... só falei isso para o seu primo me deixar em paz. Que nem eu fiz outras vezes. Você sabe.

— Hm. Que pena. Pensei que poderia começar o ano com um flertezinho — disse Paola, dando um gole na bebida, mas com um brilho divertido nos olhos.

Por algum motivo, Sara não conseguiu responder à provocação. Ficou apenas encarando a garota enquanto um calor lhe tomava as maçãs do rosto.

— Que foi, Sara? Te deixei vermelha? — continuou Paola, se entretendo com a situação.

— Para com isso, Paola. É só o vinho — retrucou. E logo percebeu algo estranho naquela conversa. — Mas cadê a Bianca? Ela não vai morrer de ciúmes se te ver soltando as asinhas pra cima de mim?

Paola baixou a taça na mesa e assumiu uma expressão levemente amargurada.

— Ah, a gente teve uma briga feia... Resolvemos dar um tempo.

Não que o casal não tivesse passado por desentendimentos desde que começaram o namoro, mas essa era a primeira vez que Sara escutava-a dizer que tivera uma "briga feia".

— Sinto muito. Quer... me contar o que rolou?

Embora Sara houvesse, por anos, tentado não estreitar laços com seus amigos de escola, às vezes era difícil não ficar indiferente quando alguém passava por uma situação que necessitava de empatia. Eles podiam ser vulgares, mas eram neriquianos iguais a ela, no final das contas. Por isso, ouviu pacientemente o desabafo de sua amiga, que chegou a derramar uma lágrima ao mencionar que aquele era o primeiro ano novo que passavam separadas desde que começaram a namorar.

— Deve estar sendo difícil pra você, ainda mais agora com os moldes do Instituto do Trabalho. Vocês duas iam fazer designer de moda, não é?

— É. Foi o molde para o qual me inscrevi. Mas não sei se a Bianca também se inscreveu pra ele. Pedi pro Tiago me informar, já que ele também tem o contato dela, mas o desgraçado me falou pra eu mesma ligar. — disse Paola, dando um suspiro. — Mas e você? Vai se moldar em violinista?

A visão de Sara para o futuro sempre fora uma linha reta em direção à Academia. Raramente ela havia pensado na possibilidade de se inscrever no Instituto, pois era o mesmo que pensar em fracasso. Porém aconteceu. Ela fracassou. E, agora, o caminho vulgar era o único que lhe restara para percorrer, embora ainda não tivesse ânimo para segui-lo.

— Sim. Pretendo — mentiu.

— Legal. Espero um dia ver você tocando numa orquestra — disse Paola, oferecendo um sorriso esperançoso. — Mas, me fala, porque uma futura violonista está sozinha num hotel, em plena virada de ano? Tá passando perrengue?

Sara sabia que esse momento chegaria, mas desde o início da conversa já havia tomado a decisão de ser evasiva.

— Problemas de família.

— Quer me contar o que rolou?

Mesmo considerando a Paola sua amiga vulgar mais próxima, Sara não se sentia confiante o bastante para lhe revelar toda a verdade envolvendo sua identidade fidalga, muito menos sobre ter tentado prestar o alistamento para a Academia.

— É complicado... Podemos falar de outra coisa?

Paola sorriu e foi compreensiva, desviando o assunto para as uvas passas que tivera de catar no prato. Sara nunca havia reparado que a garota não gostava dessa frutinha, ou talvez só não tenha se dado o trabalho de guardar isso na mente. Agora era tarde demais para estimular um interesse genuíno sobre a vida dela. Não eram mais colegas de escola, não se veriam mais quase todos os dias, e cada uma delas seguiria com sua vida.

E foi com esse fatalismo assombrando os pensamentos, que Sara negou se juntar à mesa onde a família de Paola estava.

— Tem certeza? — insistiu a vulgar. — Prometo que não vou deixar meu primo te importunar.

— Não. Obrigada. O vinho já me deixou sonolenta. Eu prefiro subir e deitar — disse Sara, tentando negar o convite da forma mais cordial possível.

— Se você diz... — Paola esboçou um sorriso meio taciturno. Deu um abraço de despedida em Sara e se levantou para ir embora. — Você tem o telefone lá de casa. Mas pode ser que eu não esteja morando mais lá esse ano. Então liga pra lá daqui a algum tempo, que minha mãe te passa meu novo número, tá?

Sara aquiesceu, embora não sentisse vontade de fazê-lo. No fundo, gostaria de ter se afastado de sua vida vulgar, para voltar e encará-la somente em um futuro no qual houvesse realizado seu sonho de fidalga. Se um dia reencontra-se Paola e seus ex-colegas de escola, seria sob a alcunha de maga Buarque, como uma maneira de, enfim, demarcar a diferença entre eles. No entanto, esse futuro não existia mais. A maga Buarque a qual se tornaria não existia mais.

O que sobrou então de si que poderia existir?


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