Capítulo 9
No dia seguinte, os olhos cinzentos do fantasma ainda ocupavam os pensamentos de Laurel. Quem quer que fosse, era uma Ravenclaw e isso preocupava-a. Gostava de passar despercebida em Hogwarts e sabia o que um nome como o dela faria às pessoas, tanto professores como alunos, já para não falar no perigo que correria caso isso chegasse aos ouvidos de algum Devorador da Morte que ainda estivesse à sua procura. Teria de se manter longe dos Ravenclaw, caso a mulher fantasma resolvesse dizer a algum deles que ela e Laurel eram da mesma família.
Era isto que Laurel pensava enquanto caminhava pelos corredores de Hogwarts, rumo à sala onde iria ter Defesa Contra as Artes Negras. Estava tão embrenhada neles que não viu a menina distraída com quem esbarrou, deitando ambas ao chão. Atordoada, a ruiva franziu o sobrolho, vendo as suas coisas todas espalhadas no chão. Apressou-se a levantar, recolhendo tudo e certificado-se que nenhum dos livros que requisitara da biblioteca se tinham estragado. Quando terminou, suspirou de alívio, podendo por fim dar atenção à outra menina, que para sua surpresa ainda não se levantara. Tinha um cabelo muito loiro preso numa trança de lado, os olhos azuis fixos em Laurel e esboçava um sorriso sonhador. Era uma rapariga peculiar, percebeu de imediato.
- És a Laurel não és? - a loira perguntou, pondo-se de pé com delicadeza.
A ruiva assentiu, pousando os olhos na gravata da rapariga. Azul. Uma Ravenclaw. Olhou para o teto, pensando mentalmente se algum dia teria sorte na vida. Encontrar uma Ravenclaw tendo acabado de pensar que não poderia estar perto deles era muito azar, até mesmo para Laurel. Alheia a isto, a loira continuava a falar, com uma voz cristalina e delicada.
- É um prazer conhecer-te. O meu nome é Luna. Luna Lovegood. É o meu segundo dia aqui e já não sei onde estão os meus sapatos, por acaso não os viste?
- Os teus... Sapatos?- perguntou Laurel, olhando para os pés descalços dela - Como é que perdeste os teus sapatos?
Luna encolheu os ombros, sorrindo.
- Os meus colegas não gostam muito de mim. Dizem que eu sou esquisita. Então roubam-me coisas para mostrarem o quanto não gostam de mim.
- Mas como é que não gostam de ti se só te conhecem há dois dias? - questionou Laurel, incrédula.
- Bem... acho que é intuitivo para eles. Não sei, eu normalmente gosto de toda a gente.
Luna encolheu os ombros novamente, mostrando que aquilo não a incomodava.
- Eles é que perdem uma amiga, sabes? E eu sou muito boa amiga, pelo menos é o que o meu pai diz.
Laurel sorriu, incapaz de não simpatizar com aquela menina. Estendeu-lhe a mão, os pensamentos de antes daquele encontro já esquecidos.
- Gostava de descobrir se és boa amiga ou não, o que achas?
Os olhos de Luna brilharam. Atirou-se ao pescoço da outra, apanhando-a desprevenida. Laurel soltou uma risada, abraçando a menina de volta. Quando se separaram, o olhar sonhador de Luna voltara mas o sorriso não desaparecera.
- Não percebo porque a Dama Cinzenta não gosta de ti. És tão simpática, Laurel.
Todo o corpo da ruiva gelou. A imagem do fantasma da noite anterior voltou a ocupar-lhe a mente e as palavras saíram atabalhoadamente.
- Quem?
- A Dama Cinzenta. É o fantasma dos Ravenclaw, ela é muito tímida mas gostou de mim. Até consegui convencê-la a fazer me companhia ao jantar ontem. Mas ela depois ficou zangada com alguma coisa e disse que não gostava de ti. Não sei porque.
Laurel engoliu em seco. Olhou para Luna, que observava atentamente as paredes do corredor.
- Luna, onde é que eu posso encontrar a Dama Cinzenta? - perguntou-lhe, a voz a tremer.
Luna não respondeu, distraída. Laurel tocou-lhe no braço, chamando a atenção dela.
- Sim? - perguntou Luna, sorrindo - Disseste alguma coisa?
Laurel repetiu a pergunta, concluindo que Luna devia ser a rapariga mais distraída que conhecera na vida. Por fim lá conseguiu obter uma resposta coerente: a Torre dos Ravenclaw.
- Mas ela não gosta de visitas.- avisou Luna - Pode ficar muito zangada contigo.
- Obrigada Luna. Vemo-nos por aí! - despediu-se a ruiva, sorrindo uma última vez à loira, que limitou-se a acenar-lhe, distraída com outra coisa qualquer.
Laurel desatou a correr pelo corredor a fora, atrasada para a aula. As pessoas que passavam no corredor desviavam-se de imediato, visto que a maioria já sabia que, quando se ouvia alguém a correr, essa pessoa era Laurel e ai de quem não se desviasse a tempo de não levar um encontrão distraído da rapariga.
Abriu a porta com o máximo de delicadeza, tentando passar despercebida. Por azar, a velha porta rangeu sonoramente, ecoando pela sala estranhamente silenciosa. Várias cabeças viraram-se para a encarar, incluíndo a do novo professor, que esboçou um sorriso galante assim que a viu.
- Mais uma aluna! Bom dia minha querida, o meu nome é Gilderoy Lockart e sou o vosso novo professor de Defesa Contra as Artes Negras! Por favor, faça o favor de se sentar Miss...
- Raven.- disse Laurel, sentando-se na última fila, sozinha - O meu nome é Laurel Raven. Desculpe professor Lockart mas você é o famoso escritor?
- Ah temos mais uma fã! Sou eu sim, em carne e osso. Surpreende-me que não tenha reconhecido logo o meu rosto, é um rosto difícil de ser esquecido, com este sorriso ganhador de prémios...
- Nunca tinha visto o seu rosto, professor.- respondeu a menina, incrédula com a fanfarronice do homem - Na verdade li apenas um ou dois livros seus e achei-os bons livros de ficção mas muito pouco verídicos.
Todas as cabeças femininas na sala viraram-se para a encarar, indignadas. Laurel encolheu os ombros, ligeiramente envergonhada. Gilderoy parecia embaraçado mas em nenhum momento desmanchou o seu sorriso.
- Ficção? - questionou-a, aproximando-se - Acha que as minhas proezas não aconteceram de facto?
- Bem, se o senhor está a pedir-me para acreditar que venceu um lobisomem atirando-lhe chá de camomila para os olhos juntamente com um feitiço para aumentar as pestanas de forma a que o lobisomem não o visse e assim você o matasse com as suas próprias mãos então sim, acho que não aconteceu de todo.
Gilderoy arregalou os olhos, ultrajado.
- A menina por acaso já teve perto de um lobisomem?
Laurel baixou os olhos, engolindo em seco. Quando fitou o professor de novo, ergueu o queixo, visivelmente desafiadora.
- Não só já vi como já enfrentei um lobisomem e nunca em momento algum você conseguiria matar um ser como esse. Os lobisomens são criaturas que precisam de uma alcateia, só assim conseguem estar estáveis, precisam de um propósito e de um líder. Caso você encontrasse um lobisomem, ainda para mais um solitário, você não tinha hipótese. O que move um lobisomem sem alcateia é a raiva e a solidão e essas são duas forças demasiado poderosas para se enfrentar sozinho.
A sala mergulhou num silêncio profundo, todos ansiosos pela resposta do professor. O homem loiro e elegante estava estarrecido e ruborizado, visivelmente sem saber o que responder. Por fim, esboçou um sorriso amarelo à turma, recompondo-se.
- Miss Raven, se é assim tão difícil matar um lobisomem, permita-me que lhe pergunte como sobreviveu a um ataque de um sozinha, uma mera criança de 12 anos com uma imaginação tão fértil?
Laurel pôs-se de pé, ofendida com o deboche na voz do professor.
- Em circunstância alguma eu disse que estava sozinha. E se acha que estou a mentir nos factos que disse, mande como trabalho de casa os seus alunos fazerem uma pesquisa sobre o assunto.
- E agora ainda me quer dizer como lecionar as minhas aulas? Que insolência!- Gilderoy abanou a cabeça, como se estivesse desapontado- Temoque tenha de a pôr de castigo, Miss Raven. Detenção hoje no meu gabinete.
Laurel rangeu os dentes. Segunda detenção na sua vida. Pela primeira vez, sentiu-se irritada o suficiente para perder toda a compostura e educação que fazia questão de manter em quase todas as circunstâncias.
- Isso significa que não preciso assistir a esta aula. Muito obrigada professor.- agarrou nas suas coisas e saiu antes que alguém pudesse dizer o que quer que fosse, batendo com a porta ao sair.
"Que aldrabão e idiota de primeira!" pensou, enervada. Lá fora, o vento rugiu, respondendo à irritação da menina. Laurel aproximou-se do átrio, observando o vento que estava a provocar. Encolheu os ombros. Por uma vez, deixou a magia simplesmente correr, provocando ainda mais vento e despenteando-se a si mesma. Riu. Estava cada vez a ficar mais maluca.
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