Capítulo 87
Laurel abriu os olhos, sonolenta. Era de madrugada e demasiado cedo para acordar, por isso não entendeu de imediato o que foi que a acordou.
Ao ver Draco Malfoy deitado junto dela a dormir profundamente, entendeu.
Aquela tinha sido talvez a primeira noite que ele ficara com ela a dormir a noite inteira. O corpo dela reconhecera isso e o seu cérebro parecia querer deixá-la mais feliz. Com um sorriso no rosto, aconchegou-se ao loiro, que abriu os olhos de imediato.
- Tens um sono demasiado leve. - reclamou ela, encostando o rosto no peito dela.
- Mexes-te muito. - reclamou Draco, rodeando-a com os braços.
O tilintar das pulseiras de Laurel chamou-lhe à atenção. Com gentileza, segurou-lhe o pulso, observando com atenção as jóias que ali se encontravam.
- Porque ainda a usas? - perguntou, curioso.
- A tua? É linda, nunca consegui tirá-la. - respondeu Laurel, sonolenta, referindo-se ao pingente de dragão que ele lhe dera - Foi dos melhores presentes que já recebi.
- Referia-me a esta. - apontou para a Cobra dos Puros, que circulava perfeitamente o pulso magro da jovem - Porque é que a usas?
A expressão de Laurel tornou-se séria, o sono que tinha dissipando-se. Afastou-se dele apenas o suficiente para acariciar a jóia de prata, os olhos fixando-a de forma distante.
- Relembra-me daquela noite. De Cedric. - fez uma pausa, pensativa - Ao mesmo tempo, uso-a para desafiar a memória do homem que destruiu a minha vida e a de todas as Ravenclaw antes de mim...
- Salazar Slytherin. - completou Draco, os olhos cinza brilhando com a luz da Lua, que adentrava no dormitório através da enorme janela ao lado da cama de Laurel.
A ruiva assentiu. Por várias vezes pensara em devolver a jóia aos Malfoy mas nunca conseguira forçar-se a isso. Aquela pulseira salvara-lhe a vida na noite em que não conseguira salvar a de Cedric. Era uma constante lembrança do seu melhor amigo, o rapaz que se recusara a abandonar a irmã e que acreditara sempre na sua recuperação.
Se Ashley recuperara do tormento que passar, fora por causa de Cedric e Laurel estaria sempre em dívida com ele por isso.
- A pulseira pode ser usada contra ti. - mencionou Draco, passando a ponta do polegar na bochecha dela, num movimento instintivo que não compreendia.
Laurel assentiu. A pulseira tinha a estranha capacidade de retirar-lhe a magia caso um Malfoy e somente um Malfoy assim decretasse.
O Malfoy mais próximo estava mesmo ali à sua frente.
- A única pessoa que pode usá-la contra mim és tu, Draco e tu não o farias. - afirmou, convicta.
Haveria um dia em que Laurel se arrependeria da confiança cega que tinha em Draco. Haveria um dia em que ele lhe partiria o coração precisamente por isso.
Mas ela estava ciente disso e preferia viver um dia de cada vez, preferia permitir-se amá-lo do que sofrer por antecedência.
- Tens demasiada fé em mim. - comentou Draco, num sussurro.
Não havia pessoa no mundo que acreditasse tanto em Draco como Laurel.
E não havia ninguém mais grato por isso do que Draco.
Curvou-se para a beijar, sentindo-a suspirar contra si. Eram completamente opostos, criados de maneira muito diferente e com perspectivas de vida muito diferentes. Laurel era como a água, livre e tempestuosa se precisasse, sempre defendendo aquilo em que acreditava. Draco era fogo, queimando para seu próprio benefício, pronto para destruir quem se metesse no seu caminho em nome da família e do sangue.
Inebriado por ela, Draco aprofundou o beijo, colocando o seu corpo sobre o dela. O gemido baixo dela foi o suficiente para ele rosnar, o controlo que tinha sobre as suas emoções evaporando-se quando estava com ela daquela maneira. As mãos dela puxaram-no, entrelaçando-se nos cabelos da sua nuca, a boca gentil beijando-o com desejo.
O dormitório estava vazio, ambos sabiam-no. Meredith fora dormir com Ashley e Daphne provavelmente estava com Pansy na sua habitual festa de pijama de sexta-feira. Na madrugada de sábado, Laurel e Draco estavam sozinhos, com os primeiros raios de Sol a baterem no rosto de Laurel, incendiando-lhe os cabelos cor de fogo e deixando-a ainda mais bela.
Draco prensou a testa dele na dela, ambos ofegantes. Nunca tinham passado de beijos, embora estivessem cientes da electricidade que os consumia sempre que se tocavam. Os olhos safira de Laurel analisavam-lhe o rosto, os lábios inchados seduzindo-o de uma forma que ela não entendia.
- Devíamos parar. - conseguiu dizer Draco, respirando fundo.
Laurel assentiu, com um sorriso no rosto. Com um suspiro, Draco voltou a deitar-se e a namorada encostou de imediato a cabeça no seu peito, abraçando-o. Por momentos, ficou imóvel, ouvindo o coração dele bater acelerado.
Por ela.
- Amo-te. - sussurrou ela, antes de adormecer.
O Malfoy susteve a respiração, fitando o teto. Era a primeira vez que Laurel dizia aquilo em voz alta. Sentiu o corpo dela relaxar junto do seu e deixou-se ficar, amaldiçoando-se a si próprio.
Draco não conseguia dizer o mesmo.
**
- Mer, tens de soltar-me! - protestou Ashley, rindo.
Meredith beijou-lhe a boca com paixão e Ley suspirou, derretendo. Os cabelos negros dela caíram sobre o seu corpo, a pele arrepiando-se ao sentir as mãos dela no peito desnudo.
Fazer amor com Meredith era impossível de resistir e a Lovelace tinha uma fome peculiar no que tocava a esse assunto.
- És irresistível. - murmurou a Slytherin, roçando as pontas dos dedos na sua barriga.
- Nós temos aula... - tentou dizer, gemendo ao senti-la aproximar-se de território perigoso - Mer...
A namorada parou, imóvel. De repente, a cor fugiu-lhe do rosto e Meredith dobrou-se sobre si própria, agarrando-se ao antebraço esquerdo.
- Mer! -exclamou Ley, sentando-se.
Meredith rangeu os dentes, fechando os olhos. Já começara a habituar-se à dor de ter a Marca Negra na sua pele mas aquilo era demais. Não era Voldemort a querer alguma coisa dela, não era uma missão.
Era apenas o sinal de que Voldemort estava insatisfeito com os restantes Devoradores da Morte e por isso, todos sofriam.
- Estou bem. - conseguiu dizer, ofegante.
Não estava. A dor era excruciante, deixando-a zonza. Os braços de Ley rodearam-na, puxando-a para o seu peito, ambas sentadas na cama da Hufflepuff. Pelo menos assim Meredith não desmaiaria no chão, correndo o risco de bater com a cabeça no chão. A Lovelace sorriu fraco para Ashley, que a fitava com preocupação.
- Desculpa.
- Já passou? - perguntou, pegando-lhe no braço.
Meredith retirou de imediato o braço, afastando-se da namorada, que engoliu em seco quando ela se pôs de pé, dando-lhe as costas. A Devoradora da Morte abraçou-se a si própria, fitando o vazio com amargura.
- Não quero que a vejas. - murmurou, recusando-se a olhar para ela.
Ashley nada disse. Olhou para a sua mesinha de cabeceira, chegando as horas. Soltou um suspiro e pôs-se de pé, colocando-se atrás de Meredith, que não a sentiu aproximar-se.
Depositou um beijo no ombro dela. Outro na sua nuca. Outro na pele sensível do seu pescoço.
Já estavam atrasadas mesmo, mais valia aproveitar.
- Não tenho medo de ti, Mer, nem tenho nojo por teres a Marca Negra no teu braço. - virou o corpo dela para si, obrigando Meredith a olhá-la nos olhos - Eu amo-te, tonta. - segurou-lhe o braço com firmeza, recusando-se a soltá-lo mesmo que estivesse a tentar puxá-lo - Eu amo-te, Meredith Lovelace.
E beijou a pele Marcada.
Por instantes, viu a raiva trespassar os olhos escuros de Meredith. Depois, a raiva deu lugar ao desejo e Meredith puxou-a, beijando-a agressivamente.
- Não gosto de ser desafiada. - murmurou contra os lábios de Ashley, que gemeu ao sentir os dedos dela tocando-lhe no ponto mais sensível do seu corpo.
- E o que é que vais fazer em relação a isso? - perguntou, desafiando-a.
Meredith passou a língua nos lábios, o olhar sedutor posto em Ashley, que gemeu com mais intensidade, agarrando-se a Meredith ao sentir as pernas bambas.
- Amar-te. - respondeu a Lovelace no seu ouvido.
Ley sorriu.
**
Vários dias depois, Laurel caminhava distraidamente por Hogwarts a caminho da Sala de Feitiços quando ouviu os gritos. A voz de Harry foi imediatamente reconhecida e o medalhão no seu peito brilhou com o puro vermelho dos Grinffindor.
Harry estava em perigo.
A ruiva correu de imediato até à origem do som, ignorando por completo o facto de estar a entrar na casa de banho dos rapazes. Ao lá chegar, deu por si mergulhado num silêncio perturbado, interrompido pelo grito ensurdecedor de Murta Queixosa:
- CRIME! CRIME NA CASA DE BANHO! CRIME!
A mente de Laurel demorou a processar o que via. O coração dela parou de bater, o corpo caindo para a frente num ato de desespero.
- DRACO! - gritou, em pânico, segurando-lhe a mão.
Draco Malfoy sangrava abundantemente, o corpo estirado coberto de feridas profundas. Laurel conseguia ver a dor na expressão de puro medo que o rapaz tinha no rosto e sabia que uma hemorrogia como aquela podia ser letal.
Harry encontrava-se de joelhos ao seu lado, a sua varinha caída perto de si.
Raiva consumiu Laurel como fogo descontrolado.
- Foste tu? - sibilou, pondo-se de pé.
- L-Laurel foi um acidente...
Laurel soltou um grito, a magia saindo de si e atingindo Harry como um projéctil, o seu corpo embatendo na parede mais próxima com estrondo. O rapaz gemeu, com dores mas Laurel sequer o olhou, focando-se desesperadamente em Draco, que mal parecia respirar.
"AJUDEM!" berrou na sua mente, o feitiço Leglimens saindo dela e atingindo Hogwarts por inteiro.
Os canos da casa de banho rebentaram, sentindo a magia de Laurel destilar dela sem controlo. A rapariga tremia, tentando concentrar-se em Draco, em vão. Cerrou os dentes, procurando acalmar as batidas do seu coração, precisamente no momento em que Harry se aproximou deles, com cautela.
- Sai daqui. - rosnou, enraivecida.
- Ele atacou-me primeiro!
- SAI DAQUI! - berrou, fora de si - QUASE MATASTE O MEU NAMORADO, HARRY! SAI DAQUI ANTES QUE FAÇA O MESMO CONTIGO!
Harry piscou, sem conseguir disfarçar o horror que lhe tomou o rosto.
- Namorado? - sussurrou, sem conseguir acreditar - Porque não me contaste?
A Ravenclaw cerrou os punhos, a visão ficando vermelha com a raiva que sentia.
Ela estava capaz de o ferir gravemente e tinha muito pouco controlo de si própria naquele momento.
Se Harry Potter abrisse novamente a boca, era um homem morto.
- É preciso eu repetir ou vais sair daqui? - rosnou Laurel, de maxilar cerrado, enquanto se ajoelhava novamente ao lado de Draco.
Enormes fissuras surgiram nas paredes à sua volta. Laurel estava a perder o controlo. Os olhos cinza de Draco abriram-se, fitando-a com um pedido, escondido entre a dor que sentia.
"Controla-te" murmurou ele na sua mente, fazendo-a soluçar.
Juntou a testa dela à dele, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto abaixo.
- Aguenta, Draco... - implorou, entre soluços.
Foi Snape quem chegou para salvar Draco, afastando Laurel com brusquidão para o avaliar. O homem repetiu uma contra maldição três vezes, observando as feridas de Draco ficarem praticamente fechadas e respirando de alívio ao vê-lo respirar com mais regularidade. Limpou o rosto do Slytherin e ajudou-o a erguer-se, acabando por levantá-lo.
- Ele precisa de ser levado para a enfermaria. - disse Snape, olhando para Laurel, que assentiu, tremendo - Talvez fique com cicatrizes mas se tomar ditânia imediatamente... Talvez consigamos evitar isso...
- A Madame Pomfrey tem um stock de ditania sempre pronto a ser usado. - conseguiu dizer Laurel, fitando Snape - Leve-o, por favor...
- Potter, espera aqui por mim. - ordenou o professor, com frieza e fúria.
Snape pousou Malfoy, permitindo que Laurel o apoiasse e o ajudasse a caminhar. A ruiva depositou um beijo na bochecha de Draco, os olhos safira virando-se para Harry com lágrimas a escorrerem-lhe pelo rosto.
O Menino-Que-Sobreviveu engoliu em seco, mais arrependido do que alguma vez se sentira.
**
Laurel sentou-se à beira da cama de Draco, que respirava profundamente sobre o efeito da famosa Poção de Sono de Madame Pomfrey. Parecia pacífico e vulnerável, as olheiras escuras cada vez mais evidentes no seu rosto magro.
- Gostas mesmo dele. - proferiu alguém atrás de si.
Para sua surpresa, era Astoria. A Greengrass mais nova aproximou-se dela com os braços cruzados, colocando-se ao seu lado para observar o rapaz adormecido.
- Como? - perguntou-lhe, curiosa.
- Não escolhemos quem amamos. - respondeu Laurel, com suavidade.
Astoria assentiu.
- Faz sentido. Os meus pais são horríveis e a minha irmã uma fútil mas mesmo assim sou incapaz de deixar de amá-los. Vá-se lá compreender. - Astoria encolheu os ombros, pousando-lhe a mão nas costas num gesto de conforto - Se te consola, o Potter anda por aí aos caídos por causa do que lhe fez...
- Não consola mas obrigada.
- Bem, eu vim aqui porque Dumbledore me pediu. Bem, não foi só por isso mas... Tu percebeste. - estendeu-lhe um pergaminho perfeitamente enrolado, que Laurel aceitou com relutância - Ah e a Meredith pediu-me para te dizer que ela e Ashley vão estar no dormitório à tua espera para te apoiar... - a mais nova bufou, revirando os olhos - Devo estar com cara de pombo-correio hoje...
Laurel já não a ouvia. O seu rosto empalidecera ao ler as palavras do seu avô, a sua escrita inconfundível para a jovem que ajudara a criar.
"Precisamos falar sobre o diadema, pequena."
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