Capítulo 79
Laurel bateu suavemente à porta, procurando o avô com os olhos. Luna Lovegood fora-lhe entregar um pequeno pedaço de pergaminho onde Dumbledore requisitava a sua presença, algo que a Ravenclaw não esperava. A relação entre avô e neta já tinha visto melhores dias, estando demasiado danificada com as mentiras e os segredos que Albus guardara por anos e, portanto, aquelas tardes passadas a beber chá e a conversarem sobre livros há muito que deixaram de existir.
Sendo assim, o motivo daquela reunião era-lhe completamente desconhecido.
- Entra pequena. - disse Dumbledore, sentado na sua cadeira habitual.
- Sabe que pode falar comigo por Leglimancia, não sabe? - questionou, sentando-se confortavelmente na cadeira em frente à secretária do Diretor.
- Gostaria que evitasses usar Leglimancia por uns tempos, Laurel, e te focasses mais na Oclumancia. A ligação entre ti e Voldemort é mais poderosa que a de Harry...
- Eu estou protegida, avô. - interrompeu Laurel, categoricamente - Não voltei a ter pesadelos com Tom Riddle desde...
Sirius Black.
- Não custa prevenir. - concluiu Dumbledore, servindo-lhe uma chávena de chá - Camomila. Continua a ser o teu preferido, suponho?
Dumbledore observou a neta assentir, bebericando o chá. A inocência de Laurel há muito se perdera e o velho Diretor não podia deixar de se sentir responsável por isso. Tentara protegê-la o mais que pode mas, tal como fizera com Harry, fora em vão.
Laurel tinha um papel a cumprir e nada do que Dumbledore fizesse mudaria isso.
- Alguma vez te perguntaste porque razão não te escolhi para monitora? - perguntou à jovem à sua frente, curios.
- Não precisei, sei perfeitamente que o avô não queria coloca-me mais responsabilidades em cima. Eu também não queria mas podia ao menos ter escolhido a Meredith em vez da Pansy...
- Acredito que Miss Lovelace também tenha algumas responsabilidades em cima que não deveria. - interrompeu Dumbledore, erguendo as sobrancelhas.
A mais nova enrubesceu. Era bem verdade.
- Porque me chamou? - perguntou, sabendo que Dumbledore sempre tinha segundas intenções.
- Eu e Harry iremos iniciar uma jornada juntos. Uma jornada à vida de Voldemort. - explicou Albus, fitando Laurel com seriedade- É uma jornada que também te diz respeito e, como tal, achei por bem perguntar-te se te queres juntar a nós.
- Não, não quero. - respondeu imediatamente, os olhos safira encarando o tampo da mesa - Nem pensar.
- Podemos arranjar maneira de o destruir...
- Esse é o papel do Harry. Ele é o Cavaleiro Branco neste estúpido jogo. Eu estarei lá sempre para o proteger mas conhecer a história de Voldemort pode fortalecer a ligação entre nós e eu não quero isso. - Laurel abanou a cabeça, pondo-se de pé - Não quero ter rigorosamente nada a ver com isso.
O desespero que sentia não era de todo premeditado. Se analisasse racionalmente, a resposta com certeza seria diferente. Conhecer a forma de destruir Voldemort faria com que a Guerra sequer começasse, ajudaria e muito a enfrentar o Senhor das Trevas e, com a inteligência de Laurel, seria mais fácil para Dumbledore e Harry obterem respostas às suas perguntas.
Mas Laurel não queria. Tudo o que queria era descobrir o que a sua profecia significava e fazer o que tinha de ser feito.
E, no final, arrancar a magia de Voldemort de dentro de si, fosse como fosse.
Nada mais.
- Desculpa, avô... - pediu virando-lhe as costas e saindo do gabinete a passos largos.
Enquanto corria pelos corredores de Hogwarts fora, Laurel sentiu.
As mãos suadas.
Falta de ar.
Suores frios.
Quis gritar. Quis chamar Ashley ou Meredith, mas não conseguia concentrar-se. DEsejou com todas as forças que Harry e Ley sentissem o seu pânico e a encontrassem.
Precisava de ar.
Os campos de Hogwarts eram banhados por raios de Sol, completamente desprovidos de pessoas. A maior parte dos alunos estavam em aulas ou a estudar, desejando terminar o mais depressa possível para irem lá para fora desfrutar do belo dia que se pusera.
Laurel caiu de joelhos na erva seca, sentindo vagamente as suas lágrimas de desespero a escorrerem pela face abaixo.
O ataque de pânico parecia não ter fim.
- LAUREL!
Os olhos safira da Ravenclaw procuraram focar-se em Draco Malfoy, que se aproximava a correr dela. Sentia-se tonta demais para estar direita, o seu corpo caindo pesadamente no chão.
- Tens de te acalmar. - ouviu Draco dizer, o rosto dele manchado de negro, ou seriam os seus olhos a deixarem de focar?
- Draco...
- Respira, Laurel. Por favor, respira... - Laurel não respondeu, os olhos a fecharem-se - AJUDEM! POR FAVOR, ALGUÉM AJUDE!
O mundo escureceu e Laurel sucumbiu à inconsciência.
**
- TIRA AS MÃOS DE CIMA DELA! - berrou Ashley, adentrando pela enfermaria sem que ninguém a conseguisse impedir.
Draco pôs-se de pé, assustado. A Hufflepuff aproximou-se dele ameaçadoramente, o dedo em riste apontado ao seu nariz e os olhos cor de âmbar a faiscarem de raiva.
- O que lhe fizeste?!
- Miss Diggory, não grite na minha enfermaria! - ralhou Madame Pomfrey, enquanto ajeitava os cobertores de Laurel, que recuperara a consciência mas permanecia pálida como um cadáver.
Ashley ignorou a enfermeira.
- Responde!!!
- Ashley... - tentou Meredith, que olhava com espanto para a sua doce namorada, agora transformada numa adolescente capaz de arrancar a cabeça a Draco Malfoy.
- Eu não f-fiz n-nada... - gaguejou o loiro, recuando ligeiramente - Ela estava a ter um ataque de pânico e eu trouxe-a para aqui, a Professora Sprout ajudou-me...
Ao ouvir o nome da Diretora da sua Casa, Ashley relaxou, encarando a professora.
- Oh foi uma sorte, eu estava a ir para as estufas quando ouvi Mr. Malfoy a gritar por ajuda! - exclamou a professora de Herbologia, olhando para Laurel com preocupação - Parecia quase morta, pobrezinha.
Meredith observou a amiga, que esfregava o rosto numa tentativa de ganhar alguma cor. Enquanto estivesse pálida e fraca, Madame Pomfrey não a deixava sair dali e Laurel era, muito provavelmente, a pessoa que mais detestava estar na enfermaria.
Tudo por já lá ter estado inúmeras vezes.
- Estás bem? - perguntou-lhe, aproximando-se dela enquanto Ashley discutia fervorosamente com Draco, que se recusava a abandonar Laurel.
- Vou ficar. - respondeu a ruiva, com sinceridade - Não sou tão forte como pareço, Mer e estes ataques de pânico são a prova disso. - suspirou pesadamente, tentando endireitar as costas para se sentar - Dumbledore esteve aqui, ficou tão preocupado... Acha que a culpa foi dele...
- Porquê? - perguntou a Lovelace, intrigada.
Laurel prensou os lábios. Quando abriu a boca para responder, a voz de Madama Pomfrey fez-se ouvir, autoritária:
- Todos para fora daqui!
- Mas... - começou Ashley, recebendo um olhar cortante da enfermeira - Está bem, pronto! Lau, estaremos aqui quando te sentires melhor. - afirmou, dando a mão a Meredith.
- Não se preocupem, daqui a bocado já saio daqui. - disse Laurel, piscando o olho a Madame Pomfrey, que se limitou a revirar os olhos perante a teimosia da Ravenclaw - Boas aulas!
As duas acenaram brevemente, saindo dali acompanhadas pela professora Sprout. Madame Pomfrey retirou-se também, não sem antes ajeitar mais uma vez os lençóis de Laurel e ordenar para que ela ficasse quieta algum tempo.
Como já esperava, Malfoy não arredou pé. Laurel fitou os lençóis, ignorando a sua presença mas, quando Draco se aproximou dela e lhe beijou a face, percebeu que sempre seria impossível ignorá-lo e que o seu corpo era traiçoeiro, corando visivelmente ao sentir os lábios dele pousados na sua bochecha.
- Estás melhor? - perguntou-lhe, com um sorriso de lado.
- Ótima. - respondeu, fria - Obrigada por me encontrares. Parece que tens um dom qualquer para me achares quando estou mal, já reparaste?
- Laurel, eu peço desculpa pelo que aconteceu no comboio. Eu tenho de...
Draco calou-se, dando a Laurel a oportunidade perfeita para o observar discretamente. As olheiras de Draco estavam mais escuras do que se lembrava, tal como as de Meredith, que acordava várias vezes a meio da noite com pesadelos que não contava a ninguém. Estava mais magro e havia uma dor profunda nos olhos dele, como se estivesse arrependido de algo.
- Como está o teu pai? - perguntou Laurel, deixando cair um pouco a guarda.
- Preso. - respondeu Draco, encolhendo os ombros - Não estamos autorizados a visitá-lo ainda, não sei porquê...
- Porque é que me afastaste daquela maneira, Draco?
A pergunta soou tão baixo que Draco pensou em fazer de conta que não ouvira. Como lhe explicaria? Como lhe diria a verdade?
Ela não iria entender.
- Tem de ser, Laurel. Não podemos ser amigos nem... - fez uma pausa, pigarreando - Mais nada.
Um movimento subtil e Laurel entendeu. Apenas um gesto.
Draco tocou no seu antebraço esquerdo, coberto pela manga da sua camisa, suficientemente grossa para cobrir o que lá se encontrava.
- Eu já sei. - foi tudo o que disse, os olhos safira indo dele para o seu braço.
- Não...
- Eu já sabia. Eu sempre soube, mesmo quando nos beijamos,eu sempre soube que seria essa a tua escolha. - Laurel abanou a cabeça, pousando a sua mão na dele, caída pesadamente no colo - Eu já sabia, Draco e mesmo assim não me afastei.
- Meredith também é... Eu vi-a nas reuniões... - murmurou ele, fitando-a com ansiedade - E tu mesmo assim...
- É minha amiga. - respondeu ela, sem querer lhe dizer que Meredith só era uma Devoradora da Morte por sua causa - Não me afastei dela por isso.
Por breves instantes, Draco encarou-a, analisando-lhe o rosto. Os lábios de Laurel encontravam-se entreabertos e já com alguma cor, o rubor nas suas bochechas resultante da presença dele.
Por apenas breves instantes, tudo o que o Malfoy queria era ela.
Até se lembrar do que tinha de fazer e do que isso a magoaria.
- Eu preciso ir. - disse Draco, afastando-se bruscamente.
Laurel chamou-o, confusa mas ele sequer se virou. A passos largos, Draco retirou-se da enfermaria, encostando-se à parede assim que virou a esquina.
Mesmo dali, ele conseguiu ouvi-la chorar e amaldiçoou-se por isso, ele próprio com lágrimas nos olhos.
Cobarde.
**
Duas semanas depois, Katie Bell foi amaldiçoada.
A notícia espalhou-se rápido por Hogwarts, chegando aos ouvidos de Laurel por Ginny Weasley no dia a seguir a ter acontecido. Enquanto a Grinffindor contava o sucedido às três amigas do costume durante o almoço, o foco de Laurel era outro.
Draco Malfoy estava estranhamente calado.
Ela observava-o desde o ocorrido na enfermaria. Não porque queria forçá-lo a falar com ela mas porque queria perceber qual era a missão tão importante que Draco tinha de concretizar.
Quando ele ergueu os olhos e a fitou, algo que acontecia com frequência, Laurel duvidou.
Teria sido ele a entregar o colar amaldiçoado a Katie?
Com que objetivo?
Ele ergueu-se, abandonando o Salão Nobre sem dirigir uma palavra aos seus amigos, que o fitaram com estranheza. Laurel pensou por breves instantes em segui-lo, preocupada.
Não o fez.
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