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Capítulo 73

Laurel Ravenclaw não conseguia sentir nada.

Os últimos instantes repetiam-se vezes sem conta e todo o seu corpo doía, uma dor física e palpável de quem acabara de perder alguém.

Sirius Black fora-se.

Enraivecido, Harry correu atrás de Bellatrix, que fugia aos risos, completamente alucinada. Os olhos do Menino Que Sobreviveu faiscavam de raiva e vingança, enquanto os de Laurel fitavam o estranho espelho por onde Sirius caíra. Os braços de Remus rodeavam-na, tensos, abraçando-a.

Devagar, Laurel soltou-se dos braços da melhor amiga, sem a olhar. Ergueu as mãos, fechou os olhos e permitiu-se sentir a magia Negra que não lhe pertencia consumi-la. O seu corpo tornou-se fumo negro, exatamente como o de Voldemort quando voava, um Dom que acabava de descobrir que possuía.

Em silêncio, flutuou atrás de Harry, sem pressa. Atrás de si, Remus gritava por ela, demasiado assustado com o que via, enquanto os restantes Devoradores da Morte eram presos pela Ordem de Fénix. Nada disso lhe importava naquele momento.

Tudo o que importava era Bellatrix Lestrange.

- Não tens o que é preciso, Potterzinho!

Quando se aproximou, viu Harry com a sua varinha erguida de forma trémula, cheio de raiva e dor. Laurel perdera o seu tio mas Harry perdera a única figura paternal que tinha, o homem a quem recorria para todos os seus problemas.

Ele queria fazê-la sofrer e estava claro que a Maldição Cruciatus encontrava-se na ponta da sua língua. Queria que ela sofresse como ele estava a sofrer.

Laurel impediu-o.

- Harry não precisa ter a capacidade da tortura, Bellatrix. Eu tenho.

A mão direita ergueu-se, apontada à mulher curvada à sua frente. Antes que Bellatrix pudesse reagir, a dor acometeu-a, mais forte do que qualquer Maldição Cruciatus que já sentira.

- Laurel... - chamou Harry, trémulo.

Os gritos enlouquecidos de Bellatrix ecoaram pelo Salão onde estavam. Laurel sorriu, cruel e fria, o mesmo sorriso que Voldemort possuía no rosto sempre que feria alguém. Outra Maldição saiu-lhe pelos dedos, atingindo a mulher à sua frente sem remorsos.

Laurel queria que Bellatrix sofresse. Queria que sentisse dor, tanta dor quanto ela sentia.

Sirius fora-se.

O seu tio. A última família de sangue que possuía.

Sirius fora-se.

Bellatrix ergueu-se, embora ganisse de dor. Laurel ergueu de novo a mão mas Bellatrix virou-se para ela, louca:

- Crucio!

Laurel afastou o feitiço com facilidade. Harry escondeu-se atrás de uma fonte, puxando a ruiva consigo, embora esta mal reagisse. A Ravenclaw não conseguia sentir nada além do sabor agridoce da vingança, a qual Harry partilhava na mesma intensidade.

- Potter, Ravenclaw, não me podem vencer! Fui e sou a serva mais leal do Senhor das Trevas. Foi com ele que aprendi Magia Negra...

Os olhos safira de Laurel fecharam-se, bloqueando o som. Sentia algo dentro de si chamá-la, algo maior do que a vingança, maior que a dor. Harry gritava com Bellatrix, trocando feitiços, e Laurel aproveitou a confusão para escapulir-se das mãos do Herdeiro de Grinffindor, em busca daquilo que a chamava.

Voldemort aguardava-a atrás do hall, com os seus olhos vermelhos fixos nela e um sorriso de satisfação no rosto.

- A minha magia serve-te, Laurel Ravenclaw?

- Assim que te matar, talvez. - pronunciou Laurel, friamente - E a seguir vai a megera da tua serva.

- És capaz de matar por vingança? - questionou-a, divertido - A doce e pura Laurel... pertencente à Luz...

- Nunca poderei pertencer à Luz enquanto a tua magia estiver nas minhas veias, Voldemort e mesmo assim prefiro admitir as Trevas dentro de mim a dar-ta de livre e espontânea vontade. É assim que funciona, não é? - ergueu a mão, acendendo labaredas azuis sobre a palma, quentes e gélidas ao mesmo tempo - Magia roubada só pode ser devolvida se quem roubou o escolher fazer. Como a minha mãe está morta, graças aos teus estúpidos seguidores... Só te resta uma opção, não é? Pois é, o diário da minha mãe serviu para alguma coisa...

Voldemort rosnou, enraivecido. Ergueu a sua varinha, apontando-a à jovem à sua frente, que sorriu.

- Desafio-te a tentar.

- AVADA KEDAVRA!

O feitiço voou pelo hall até Laurel, que ergueu o braço. A Cobra dos Puros sibilou, ácida, e Laurel simplesmente agitou a mão, obrigando o feitiço a bater na parede mais próxima, destruindo-a no processo.

- Não podes matar-me, Voldemort ou sequer atingir-me. Primeiro porque a tua magia obedece-me, tal como a minha te obedece a ti. - Laurel sorriu mais ainda, diabólica - Segundo porque esta jóia preciosa... - apontou para a cobra no seu braço, prateada e reluzente - Irá sempre proteger-me de impuros como tu. - fez uma pausa, sibilando a palavra que Voldemort mais odiava no mundo - Mestiço.

Ao contrário do que esperava, Voldemort não se irritou. Sequer mostrou qualquer desagrado. Em vez disso, soltou uma risada perversa, deixando Laurel mais assustada do que gostaria de estar.

- Ninguém te disse, pois não? Tu não vives sem a minha existência, Laurel Ravenclaw.

- Não me faças rir. - irritou-se Laurel, erguendo as mãos.

As labaredas azuis atingiram Voldemort sem lhe infligirem qualquer dor. Laurel franziu o sobrolho ao sentir o seu corpo aquecer. Uma dor trespassou-a violentamente, fazendo-a gritar em agonia.

- Pobre Laurel... Tão inteligente mas tão mal informada... Não nos podemos magoar um ao outro, Ravenclaw. - Voldemort girou a varinha no ar, onde um livro velho surgiu, o qual atirou para os pés da ruiva - Nunca te questionaste o que aconteceu aos Fundadores de Hogwarts? Como tudo terminou depois desse pacto de sangue infernal ser realizado? - questionou, apontando para o medalhão de Ravenclaw - Pois bem, eu quis saber, interessei-me... E agora sei, graças à tua preciosa amiga Meredith Lovelace.

Laurel ergueu os olhos ao ouvir o nome da amiga, endireitando-se. A dor desaparecera, substituída pela sensação de queimadura que lhe percorria todo o peito, exatamente onde Voldemort fora atingido.

- Dumbledore pediu ao pai dela para procurar o famoso livro que contém a verdadeira história dos fundadores. - contou Voldemort, assistindo com satisfação à mudança de expressão de Laurel - Enviou-o à Mansão de Ravenclaw em busca do livro perdido e o historiador encontrou-o, reconstruindo página a página, letra por letra. Um trabalho belíssimo, devo admitir, que a pequena Lovelace me entregou poucas horas antes de eu estar aqui.

- Vai logo ao ponto. - rosnou Laurel, sentindo-se imponente.

- Salazar criou esse pacto para estar sempre junto da sua apaixonada Rowena. O que ele nunca disse foi que o Encantamento era muito mais poderoso do que um simples Feitiço de Ligação entre os Herdeiros. Não, ele não sabia, só soube segundos antes da sua morte...

Voldemort aproximou-se de Laurel tanto quanto podia, a Cobra dos Puros criando uma barreira mágica à volta deles que nenhum conseguia ver.

- Salazar ligou a vida de Rowena à sua, cara Laurel. Quando Grinffindor, cansado de ver Rowena sofrer às mãos de Salazar, o trespassou com a sua tão famosa espada... - Voldemort cantarolou, deixando a frase em suspenso alguns segundos - Rowena Ravenclaw morreu no mesmo instante! Nem o sangue de Grinffindor nem o de Helga Hufflepuff a protegeram! E enquanto Salazar se afogava no seu próprio sangue, Rowena morria também, num ato de vingança do mais puro que alguma vez existiu.

O silêncio instalou-se entre eles, interrompido bruscamente por Harry e Belatrix, que adentraram no hall, aos gritos.

- MESTRE! PERDÃO MESTRE! - gritava a Lestrange, histérica - EU TENTEI! EU TENTEI! NÃO ME CASTIGUE...

- Não gastes o teu latim! - berrou Harry - Ele não te consegue ouvir daqui!

- Ai não, Potter? - questionou Voldemort, com desprezo, desviando a sua atenção de Laurel.

Laurel deixou-se cair no chão, paralisada. As palavras de Voldemort repetiam-se na sua cabeça, vezes e vezes sem conta, mostrando-lhe o que lhe faltava ver.

Se Voldemort morresse, Laurel morreria.

Claro que o contrário não se aplicava. Claro que Salazar seria egoísta aquele ponto: se não podia ter Rowena, ninguém mais teria.

Um estranho peso no seu bolso esquerdo chamou-lhe à atenção. Voldemort embrenhara-se num duelo com Harry e sequer olhava para a rapariga estirada no chão, as costas coladas à parede e o rosto pálido como um cadáver. Em silêncio, Laurel retirou o que quer que fosse do bolso, prendendo a respiração.

Uma esfera.

Uma profecia.

Com o seu sobrenome escrito.

Ravenclaw.

E dos restantes.

Grinffindor.

Hufflepuff.

Slytherin.

A mente de Laurel fervilhava. Como é que aquilo tinha ido ali parar? Durante o confronto. várias profecias tinham caído das suas estantes e se partido mas Laurel sequer lhes prestara atenção, demasiado focada em proteger Harry e ajudá-lo a fugir com a sua profecia. Não tocara em nenhuma esfera e não fazia ideia como é que aquela lhe tinha ido parar ao bolso.

Confusa, ergueu os olhos, para o confronto entre Voldemort e Harry.

A verdade atingiu-a em cheio, trazendo-a à realidade.

Voldemort não sabia da profecia dos Herdeiros.

Ele queria a profecia de Harry. Só e somente de Harry.

Voldemort não sabia.

Laurel ergueu as mãos. O Feitiço de Camuflagem que muitas vezes usava saiu-lhe com naturalidade, cobrindo-a por completo. Não tinha muito tempo e sabia disso. Por instantes, observou Harry, a necessidade de o proteger e ajudar bem presente no seu espírito. Ainda assim, sabia que não iria conseguir fazer nada, Voldemort iria bloqueá-la. Não havia nada que pudesse fazer a não ser ouvir a profecia que segurava firmemente entre as mãos, o seu nome bailando em frente aos seus olhos.

Lentamente, deixou a bola de cristal cair ao chão, quebrando-se em pedacinhos.

Fumo prateado brotou dos estilhaços, formando suavemente a figura de uma mulher. Para sua surpresa, a professora Trelawney fitava-a com os olhos vazios, a boca entreaberta proferindo as palavras que apenas uma pessoa ouvira na vida.

"Quando a Cobra e o Leão se enfrentarem pela última vez...

Quando a Morte fizer a sua escolha...

A Herdeira de Ravenclaw quebrará o seu coração...

Aceitando assim o preço...

Viver ou Morrer...

Apenas a Prometida saberá escolher."

O fumo evaporou-se bruscamente, deixando Laurel zonza. Repetiu mentalmente as palavras enquanto a profecia se desvanecia, gravando-as bem fundo na sua mente. Quando ergueu os olhos e se focou na batalha à sua frente, viu Dumbledore prestes a ser atingido por uma Maldição da Morte lançada por Voldemort. Num ápice, a rapariga ergueu a mão, lançando um Protego em redor do avô.

O Feitiço de Camuflagem desvaneceu-se e Dumbledore vislumbrou a neta, os pedaços da profecia espalhados aos seus pés.

Laurel sentiu-se traída no momento em que a culpa se espalhou no rosto do avô.

Dumbledore sabia.

Claro que sabia.

Antes que pudesse reagir, um guarda dourado colocou-se em cima dela, derrubando-a ao chão e impedindo-a de se meter na batalha entre Dumbledore e Voldemort. Ao erguer o olhar, notou Harry na mesma posição que ela, um guarda de pedra igualmente dourado a prendê-lo.

- DEIXA-ME SAIR DAQUI! - berrou a Ravenclaw para o seu guarda, irritada - DUMBLEDORE!!!!

A estátua explodiu nas suas mãos, a magia respondendo à sua fúria. Ao longe, Bellatrix chorava, o corpo preso pela estátua de uma feiticeira. Laurel correu para junto do avô, os dois procurando por Voldemort, que evaporara repentinamente.

- Onde ele está...? - questionou, olhando para Dumbledore.

- Harry, fica onde estás! - gritou Dumbledore.

O medo no rosto de Albus foi o primeiro sinal de que algo estava errado.

O segundo foi o sufoco que assolou Laurel.

Voldemort possuíra Harry e Laurel agonizava com o rapaz como se fossem um só.

O ar parou de entrar no seu corpo, sufocando-a. A jovem caiu ao chão, as mãos agarradas ao pescoço ao mesmo tempo que Harry se contorcia, os olhos revirados e a boca aberta.

- Mata-me agora, Dumbledore... Se não te importas com a morte, mata o rapaz...

- Harry... - gemeu Laurel, arrastando-se até junto do rapaz.

Dumbledore ajoelhou-se junto dos dois, chamando-os, embora a sua voz soasse longe. Laurel agonizava, as lágrimas de desespero a escorrerem-lhe pelo rosto abaixo.

"Harry... Por favor... Não deixes que ele te Escureça o coração..."

"Laurel... Vou voltar a ver o Sirius..."

Laurel soluçou, apertando a mão do rapaz. Naquele momento, Harry acordou, os olhos verdes buscando os olhos safira da Ravenclaw.

"Continuas a ser amado, Harry. Eu estou aqui para ti..." sussurrou-lhe na mente, beijando-o suavemente na testa, recuperando o ar sofregamente.

Harry assentiu, colando a sua testa na dela.

Voldemort fora-se e Dumbledore erguera-se, enfrentando Fudge e outros membros do Ministério que tinham chegado, ainda a tempo de verem o Senhor das Trevas em carne e osso.

Para Laurel, isso não importava.

Nada importava.

Depositando um último beijo na testa de Harry, a Ravenclaw colocou-se de pé, esfregando o pescoço ainda dorido pela sensação de sufoco.

Lançou um último olhar a Dumbledore, que nem sequer tentara impedi-la.

Laurel Ravenclaw tocou na Cobra dos Puros sem qualquer expressão no seu lindo rosto.

E desapareceu.

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