Capítulo 67
Meredith não regressou naquele dia.
Nem no dia a seguir.
Nem depois disso.
Ashley estava uma pilha de nervos e Laurel procurava estabelecer algum tipo de ligação com Voldemort para saber o que acontecera, sem sucesso. Tom Riddle já não a visitara vez nenhuma e a Ravenclaw não sabia o que fazer.
Uma semana depois, Meredith entrou no Salão Nobre para tomar o pequeno almoço, sentando-se na mesa dos Slytherin como se nada fosse.
Antes que alguém pudesse protestar, Ley levantara-se da mesa dos Hufflepuff e sentara-se ao seu lado, puxando a namorada para um abraço tão apertado que Meredith tossiu, engasgada.
- O que te aconteceu?! - questionou ela, apavorada - Mer, estava tão preocupada.
Meredith não respondeu, procurando soltar-se. Laurel segurou-lhe o braço esquerdo, numa tentativa de chamar à atenção da amiga, soltando-a imediatamente ao ouvir a Lovelace gemer de dor.
Laurel arregalou os olhos, fitando o braço tapado de Meredith.
- A Marca...? - sussurrou, séria.
A Lovelace prensou os lábios.
Estava feito.
**
No dia de São Valentim, uma elegante carruagem negra esperava-a nos arredores de Hogsmeade. Dentro dela, Lucious Malfoy aguardava-a, sentado lado a lado com uma mulher pouco mais velha que Meredith. Sem uma palavra, a Lovelace entrara na carruagem, escondendo o nervosismo que sentia.
- Boa tarde, Miss Lovelace. - cumprimentou Lucious, com um pequeno sorriso no rosto - O Lord está muito impressionado consigo e confesso, estou curioso... - a carruagem começou a andar com um solavanco, assustando Meredith - Como conseguiu entrar em Azkaban?
- Não estou aqui para conversar, Mr. Malfoy. Onde me leva?
- Língua afiada, ela. - comentou a mulher, divertida - Foi isso que Amanda te ensinou?
- Amanda não me ensinou nada porque passou a vida encarcerada em Azkaban. - rispostou Meredith, com pouca paciência - Vão dizer-me onde estamos a ir?
- Vamos ter com Voldemort, claro.
E assim fora. Meredith fora vendada e levada para uma qualquer mansão que não conhecia, ficando frente a frente com o Lord das Trevas pela primeira vez na vida.
Embora estivesse segura em Hogwarts, Meredith conseguia ainda sentir o medo que borbulhara dentro dela quando sentira os olhos escarlates de Voldemort postos em si. A sua pele arrepiou-se exatamente como acontecera quando sentira a mão gélida de Voldemort pousar na sua face, analisando-lhe o rosto com uma atenção que Meredith não esperava.
- A criança nascida em Azkaban... - dissera ele, andando à volta dela - Tão nova e com poder suficiente para invadir Azkaban e manipular os Dementors a seu favor. Um presente de iniciação, se bem me recordo?
- Chamo-me Meredith Lovelace, senhor. - dissera ela, tão boa atriz que a voz sequer tremera, apresentando uma confiança que não sentia - Filha de Amanda Lovelace, bisneta do famoso Grindelwald, embora ninguém precise saber disso. Não sabia como chegar a si e desde que regressou que o meu maior desejo é servi-lo.
Fora nessa altura que mais agradecera mentalmente a Laurel por tê-la forçado a aprender Oclumancia ao longo dos anos. A Ravenclaw era excelente em Leglimancia e Oclumancia, principalmente porque Dumbledore a incentivara a praticar desde muito nova. Por ter passado esse incentivo à Lovelace, a sua mente estava muito bem escondida de Voldemort, que sequer notara o seu ar de repulsa quando este lhe pegou no braço esquerdo, acariciando-lhe a pele desnuda.
- Não costumo permitir Devoradores da Morte antes de serem maiores de idade... Já cometi esse erro antes e arrependo-me até hoje. - o rosto de víbora de Voldemort contorcera-se numa careta, esboçando um sorriso perverso ao olhar para Meredith - Mas irei abrir uma exceção, Miss Lovelace. Em quatro dias, terá a iniciação que tanto deseja mas é necessário que prove a sua lealdade...
- O meu feito em Azkaban não chegou? - questionou ela, sabendo que estava a correr um grande risco ao interromper o seu futuro Mestre - Tive a coragem que mais ninguém teve...
- Cala a boca, menina insolente. - interrompera Bellatrix, entrando pelo salão adentro - Só porque libertaste uns quantos prisioneiros...
- Incluíndo a tua pessoa, se bem me recordo. - retorquiu Meredith, friamente.
Uma risada ecoara, interrompendo a discussão. Para sua surpresa, Voldemort batia palmas, parecendo deliciado com a sua postura.
- Feroz como a mãe... Amanda faz realmente muita falta aqui. A tua lealdade para comigo foi sim muito bem demonstrada mas e com a causa? Tens o que é preciso para libertar o mundo da escumalha que o povoa?
Meredith engolira em seco e assentira, embora no seu íntimo negasse com todas as forças.
- ... Estive quatro dias a torturar Muggles só porque sim. - contou à melhor amiga e à namorada, as três sentadas momentos mais tarde na sua mesa habitual da Biblioteca - Eu... Eu fiz tudo o que ele me pediu. - pestanejou com força, tentando afastar as imagens que iriam assombrá-la para sempre - E fui iniciada.
Devagar, ergueu a manga do braço esquerdo, onde a Marca Negra se encontrava. A imagem do crânio com a serpente a sair pela boca era tão maligna que Ashley arfou, afastando-se ligeiramente de Meredith, cujos olhos se encheram de lágrimas. Laurel, por outro lado, sequer pestanejou, familiarizada com aquele tipo de Escuridão.
- Alguma missão? - questionou a Ravenclaw, endireitando a postura - Mandou-te recuperar alguma coisa?
- Mandou-me roubar um livro de Dumbledore. - contou Meredith, encolhendo os ombros - Mas disse que Dumbledore ainda não o tem em mãos e que quando fosse para o roubar, eu ficaria a saber. Não sei do que se trata.
- Um livro? - murmurou Laurel, pensativa - Vou procurar o meu avô, pode ser que ele saiba de que livro se trata...
- Não! - exclamou Meredith, apavorada - Não digas nada a Dumbledore... Nem a ninguém. A Ordem...
- A Ordem pode vir atrás dela se souberem que é agora uma... Uma...
Ashley não conseguiu pronunciar a palavra. Laurel fitou as duas, sentindo uma culpa muito grande pela posição em que as tinha colocado.
- Tenho de ir ter com... Blaise... - murmurou, querendo deixá-las sozinhas.
Meredith escondeu o braço bruscamente, sem conseguir olhar para a Diggory nos olhos. Antes que a Lovelace se pudesse afastar, Ashley segurou-lhe a mão, puxando-a para si.
- Estou orgulhosa de ti. - sussurros Ley, olhando bem fundo nos olhos. negros da namorada - Só por favor tem cuidado... Não te posso perder...
A outra não respondeu. Estava demasiado ocupada a pensar quão linda Ashley era, com os olhos âmbar postos em si, os cabelos cacheados esvoaçando quando falava, a pele cor de chocolate de leite tão bela e sedutora.
- A Marca... - começou, lembrando-se da reacção de Ley - Ficaste com medo... Odeias-me...?
- Claro que não, Mer! Odeio essa marca, odeio esse homem para quem vais trabalhar! Ele matou o meu irmão, Mer! - Ashley abanou a cabeça, ultrajada - Mas nunca vou ter medo de ti, muito menos odiar-te! Eu conheço-te. Eu sei que estás a fazer isto pelo Bem. E estarei aqui para te apoiar até ao fim.
Ashley puxou-a pela mão, obrigando-a a colocar-se de pé. Olhou em volta e prensou-a contra a estante mais próxima, num gesto tão brusco que Meredith ergueu a sobrancelha, impressionada.
- O que estás...
Mas não teve tempo de dizer mais nada, pois Ley prensou os lábios nos dela, beijando-a com tanta intensidade que Meredith soltou um suspiro, as borboletas no seu estômago dançando loucamente.
Inebriada, Meredith segurou a nuca de Ashley, aprofundando o beijo, enquanto as mãos da Diggory apertavam a sua cintura, como se tivesse medo de a largar.
Como se tivesse medo de a perder.
**
- Dia difícil? - questionou Blaise, na sala de Feitiços.
Laurel suspirou, tentando arrumar os cabelos bagunçados. A aula correra pessimamente, até porque já desistira de sequer fazer de conta que conseguia fazer magia com a varinha, a qual permanecia esquecida no recanto mais fundo da sua mala de couro. A sua magia era imprevisível, deixando-a muito frustrada sempre que estava nas aulas que mais requeriam o seu uso.
- Pode-se dizer que sim. - respondeu a Ravenclaw, sorrindo levemente na direção de Zabini - E tu?
- Muito melhor agora. - respondeu, beijando-a levemente nos lábios.
Laurel empurrou-o, embora sem grande força. Os dois tornaram a ficar amigos e era muito bom ter alguém com quem conversar nos Slytherin sem ser Meredith e Draco, com quem voltara a deixar de falar depois da briga que tiveram em Hogsmeade. A ruiva suspirou ao pensar no Malfoy, sem querer admitir que tinha saudades de falar com ele, de o provocar e lhe responder à altura. A relação deles era tempestuosa e havia sentimentos à mistura que nenhum dos dois admitia mas mesmo assim, ela sentia falta dele.
Blaise era fácil de conversar. A sua personalidade calma e serena era exatamente o que Laurel necessitava para se focar nos estudos, em vez de pensar na Ordem e em Voldemort. Com Meredith dentro do Círculo de Devoradores da Morte, a normalidade de Laurel estava por um fio e estar com Blaise permitia-lhe ser apenas uma adolescente com a sorte de ter um rapaz bonito caídinho por ela.
Quem olhasse para Zabini veria que o rapaz estava encantado por Laurel. No ano anterior apreciara a sua amizade, mesmo que tivesse sido com outros interesses. Depois do beijo em Hogsmeade, tudo mudara e Blaise simplesmente não conseguia resistir aos doces lábios da Ravenclaw, ao seu rosto de boneca, à sua voz gentil, ao seu cabelo cor de fogo...
- Laurel. - chamou-a, acariciando-lhe a face - És tão linda...
Laurel corou, embaraçada.
- Oh cala-te! - exclamou ela, terminando de arrumar as suas coisas e colocando a mala a tiracolo - Tenho Astrologia agora, e tu?
Blaise não a escutou, fitando-a com seriedade.
- Eu gosto de ti.
A Ravenclaw engasgou-se, a face quase da mesma tonalidade que os seus cabelos.
- Mas de onde vem isso agora...
- Gosto de estar contigo, de olhar para ti. - prosseguiu, interrompendo-a - És gentil e simpática até mesmo com quem não merece, como é o meu caso.
- Eu respondi-te torto em Hogsmeade!
- Antes ou depois de me beijares? - Blaise suspirou - Olha, eu sei que gostas de... Outra pessoa... Mas dá-me uma chance. Deixa-me mostrar-te que sou uma boa pessoa e não apenas o idiota que ficou teu amigo para ser importante para o...
Blaise recusou-se a dizer o nome mas Laurel entendeu. Os olhos achocolatados de Zabini estavam fixos nos dela, expectantes.
- Laurel Ravenclaw... Namoras comigo?
A mala de Laurel caiu ao chão, a rapariga demasiado em choque para sequer notar. Aquilo estava mesmo a acontecer?
Como sempre, a sua racionalidade dominou-a. Apreciava a companhia de Blaise, embora partilhassem valores diferentes e provavelmente acabassem em lugares opostos na Guerra mas...
Suspirou. Nem tudo tinha a ver com a Guerra. Nem tudo tinha a ver com Voldemort ou com o facto de ser a Herdeira de Ravenclaw.
Algumas coisas tinham apenas a ver com Laurel, a adolescente cujos sentimentos que nutria por Draco Malfoy não eram correspondidos. Eles eram amigos, quando o eram sequer.
Blaise baixou o olhar, a esperança a apagar-se lentamente...
- Aceito.
O sorriso de Laurel foi o suficiente para ele saber que não tinha ouvido mal. Num impulso, puxou-a para si, beijando-a lentamente, com a calma que só Blaise conseguia ter.
- Blaise... - protestou, enquanto o rapaz distribuia beijos pelo seu rosto - Blai... Blaise! - exclamou, meio a rir - Preciso ir e...
Calou-se abruptamente, fitando a porta. De braços cruzados e uma expressão séria, Harry Potter esperava-a, olhando para o mais recente casal com curiosidade nos olhos verdes.
- Oi Lau. - cumprimentou - Posso dar-te uma palavrinha?
- Claro Harry. - respondeu Laurel, depositando um beijo suave no seu namorado - Encontramos-nos ao jantar?
Blaise assentiu, lançando um olhar de aviso a Harry. Ao passar por ele, os dois rapazes miraram-se, fazendo Laurel revirar os olhos.
- Homens... - resmungou, enquanto Blaise se afastava, com um ar visivelmente satisfeito - O que se passa?
- Bem... Eu... - Harry esfregou a nuca, parecendo ligeiramente nervoso - Queria saber se gostarias de estar presente no próximo encontro do ED. Vou ensinar o Patronus e Hermione contou-me que lançaste um bem poderoso há dois anos atrás, quando os Dementors me atacaram...
- Sim, eu lembro-me disso. - retorquiu Laurel, a memória da sua revolta quando o Patronus assumiu o formato do animal de Ravenclaw bem presente na sua mente - Diz-me onde e a que horas e lá estarei.
Harry assentiu, agradecendo. Por instantes, fitou-a, em silêncio. Laurel revirou de novo os olhos, cruzando os braços.
- O que foi?
- Blaise? - perguntou o Grinffindor, como quem não quer nada.
- Cho? - questionou Laurel, erguendo a sobrancelha.
- Nem por isso, não correu bem. - confessou o rapaz, encolhendo os ombros - E tu?
- A namorar. - abanou a cabeça, ainda sem acreditar - Nunca namorei na minha vida, nem quero imaginar as asneiras que vou fazer.
Harry soltou uma risada, fazendo Laurel rir com ele. Era tão perfeccionista, a ruiva.
- Vais te sair muito bem. - afirmou Harry, corando ligeiramente - Tenho a certeza disso.
Quando ela assentiu, Harry soltou um suspiro discreto, observando-a com toda a atenção do mundo.
Era um perfeito idiota, percebeu.
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