Capítulo 65
Meredith vestira-se para a ocasião.
Poucos meses antes, fora propositadamente à Diagonal Alley comprar um fato bonito para vestir, de forma a passar por uma simples funcionária do Ministério. O cabelo estava firmemente preso num coque para esconder as pontas cor de rosa e os sapatos clássicos de salto alto deixavam-na ainda mais alta do que normalmente era. Tinha a sorte de ter o corpo já formado, parecendo muito mais velha do que realmente era.
Os lábios vermelhos e o charme natural também ajudavam.
Ajeitou a saia e saiu da sua lareira, colocando um sorriso postiço no rosto e caminhando entre os vários funcionários como se fosse um deles. O elevador esperava-a já cheio de gente, o que era ótimo para passar despercebida.
A jóia de Laurel apertava-lhe o pulso, a Cobra ajustada à esquelética da Ravenclaw. Ainda assim, era reconfortante ter algo consigo que a protegesse, mesmo que pouco.
Uma última pessoa entrou no elevador antes deste começar a andar. O seu alvo estava bem ali; Cornelius Fudge era o único que tinha autorização para abrir a porta que levava diretamente a Azkaban, autorização essa que era revogada através da sua varinha. Parecia idiota mas Fudge nunca deixava a sua varinha fora de vista.
Exceto num elevador apinhado de gente, claro.
Um jovem bruxo ao seu lado observava-a com os olhos semicerrados, como se a conhecesse. Estava tão atento que corou imediatamente quando Meredith olhou para ele, de sobrancelhas arqueadas.
- Perdeu alguma coisa, senhor? - perguntou, irónica.
- D-D-Desculpe. - gaguejou, atrapalhado - A senhora parece... Familiar.
O rapaz teria por volta dos seus vinte anos, os cabelos ruivos e o nariz sardento dando a Meredith uma boa ideia de quem poderia ser. Ainda assim, a jovem abriu um sorriso elegante, deixando o bruxo ainda mais desconcertado.
- Eu não o conheço de lado nenhum, lamento. - o elevador deu um breve solavanco ao finalmente começar a andar, levando Meredith a apoiar-se no ombro do desconhecido - Desculpe!
- N-Não faz mal. Chamo-me Percy Weasley, senhora.
- Margaret. - a Lovelace apertou a mão dele, olhando-o nos olhos - Encantada, Mr. Weasley.
Cornelius Fudge e os restantes funcionários permaneciam distraídos, conversando entre eles, o próprio Ministro com o nariz enfiado no Profeta Diário. Estava tão focado que não notou o roçar das costas de Meredith nas suas, a jovem colocando-se estrategicamente de frente para Percy.
- O que o senhor faz, Mr. Weasley? - questionou ela, mordendo os lábios.
Percy engasgou-se, corado. O elevador parou, deixando alguns funcionários sair. Cornelius Fudge desviou-se para os seus empregados passarem, dando a Meredith a oportunidade perfeita.
A varinha de Cornelius Fudge estava no bolso direito das suas calças, tal como Laurel Ravenclaw previra apenas com o conhecimento de que o Ministro era destro e trapalhão ao ponto de deixar a sua varinha num lugar tão previsível como o bolso das suas calças.
- ... E a senhora? - perguntou Percy, cujas palavras Meredith não ouvira nenhuma - O que faz? Sabe, não me disse o seu último nome... A sua cara é-me tão familiar...
- Sala do Tribunal. - anunciou a voz metálica, parando no último piso.
- Percy, acompanha-me, por favor. - Cornelius virou-se, deparando-se com Meredith, que procurou corar de forma inocente.
- Senhor Ministro... Desculpe... Enganei-me no meu piso. Estava distraída... - sorriu para Percy, depositando um beijo na sua bochecha - Foi muito bom conhecê-lo, Mr. Weasley.
Percy assentiu, seguindo Fudge, que mal ligara à rapariga. Antes que as portas do elevador se fechassem, Meredith saiu a correr, escondendo-se atrás de uma parede e respirando fundo por breves instantes, a varinha do Ministro escondida no interior do bolso do seu casaco.
Fase 1 do seu plano concluída.
**
Muito poucos sabiam da porta escondida ao lado da Sala do Tribunal. Muito poucos sabiam que aquela estátua de um Dementor que quase parecia real não era uma simples decoração assustadora e sim a chave para Azkaban.
Nem sequer havia um guarda ali, humano ou criatura. As consequências de tentar passar pela estátua eram com certeza graves o suficiente para não ser necessário extra protecção.
Meredith alcançou a estátua com um frio na barriga. O Dementor era surrealmente parecido aos verdadeiros, causando um medo intenso em quem se aproximava. A mão estendida aguardava a varinha do Ministro, reconhecendo magicamente o seu conteúdo.
Assim que a varinha pousou nas garras da estátua, o Dementor mexeu-se, produzindo o mesmo som que o verdadeiro, deixando Meredith aterrorizada.
Antes que Meredith se pudesse afastar, a estátua moveu-se para o lado, deixando a porta a descoberto. Para olhos curiosos, passava despercebida, a madeira talhada no mesmo tom de negro que as restantes paredes. Meredith não era apenas um olhar curioso e por isso estendeu a mão no local onde a maçaneta estaria, puxando-a.
A porta abriu-se e um buraco negro saudou-a com o som do vento que soprava do outro lado.
Meredith pousou a varinha do Ministro no chão, respirando fundo. O medo borbulhava no seu sangue mas tinha ido até ali.
Não havia volta a dar.
Por isso, fechou os olhos e entrou no buraco negro, o seu corpo sendo sugado por completo.
**
O vento e a chuva saudaram-na bruscamente, soltando-lhe os cabelos que passaram a bater violentamente no seu rosto.
O portão de Azkaban erguia-se à sua frente, negro e entroncado, selado com grades fortes e alavancas inquebráveis. Antes que pudesse dar mais um passo, uma imensidão de Dementors cercou-a, quais predadores em volta da presa.
Nenhum a atacou.
- Nasci aqui. - proferiu, em alto e bom som - Faço parte deste lugar. - ergueu a varinha, sentindo o frio da presença deles começar a afeta-lá - Obedentium... Dementorin... OBEDENTIUM!
O feitiço espalhou-se entre as criaturas, que sequer se moveram. Meredith tremia, sentindo a vida fugir lentamente de si. Os Dementors reconheciam-na, sim, mas isso não significava que a natureza deles mudara; eram as Trevas no mais puro dos significados e sempre seriam.
Meredith caiu de joelhos, apavorada. Os Dementors aproximaram-se e ela jurou que o feitiço falhara. Eles não a obedeceriam.
Segundos depois, a vida regressou-lhe, permitindo que respirasse profundamente.
O Encantamento funcionara, percebeu.
Uma vénia foi feita por eles, perante a sua nova líder.
- Libertem os prisioneiros da Ala Oeste. - conseguiu dizer, sentindo o frio desaparecer à medida que os Dementors se afastavam dela, esperando as suas ordens - Não os magoem. E tragam Bellatrix Lestrange até mim.
A ordem saiu mais firme do que esperava. Os Dementors afastaram-se, derrubando as paredes de Azkaban exatamente no local ordenado, permitindo a Meredith erguer-se e ajeitar o fato e os cabelos. Inspirou fundo, sentindo o gelo de Azkaban infiltrar-se nos seus ossos, familiar.
Por isso nunca sentia frio; nascera nele, fazia parte dela.
Bellatrix Lestrange foi atirada na sua direção com violência, rindo como uma tresloucada assim que o Dementor se afastou dela. Ao erguer os olhos, o seu rosto cadavérico empalideceu ainda mais, como se tivesse visto um fantasma.
- Amanda...? - questionou, com um olhar enlouquecido.
- Meredith Lovelace. - retorquiu, friamente - Diz ao teu Mestre que este é o meu presente de iniciação para ele. - baixou-se ao nível do rosto da Devoradora da Morte, que a olhava como se visse outra pessoa - Tenho uma reunião com um dos seus lacaios em Hogsmeade daqui a umas semanas mas não me contento com pouco. Quero uma reunião com Voldemort o mais rapidamente possível. - prensou os lábios, apreciando o sabor agridoce do sucesso - Certifica-te que entregas a mensagem, Lestrange.
Antes que Bellatrix pudesse responder, Meredith ergueu o pulso, pressionando os dedos em volta da Cobra dos Puros e imaginando o gabinete de Dumbledore que abandonara horas antes.
O vento e a chuva foram a última coisa que sentiu antes do seu corpo ser puxado com violência.
**
Ashley estava lá para a receber quando chegou ao gabinete de Dumbledore.
O Diretor também lá estava, ao lado de Laurel. Mesmo assim, tudo o que Meredith conseguia ver era os olhos âmbar de Ley fixos em si.
- Mer! - exclamou, abraçando-a - Estás bem?
Meredith não estava. Caiu de joelho, sentindo-se fraca e nauseada, a consciência pesada pelo que tinha acabado de fazer.
- Está feito... - sussurrou, desfeita em lágrimas - O meu bilhete para o Círculo mais próximo de Voldemort será devidamente entregue.
Laurel aproximou-se das duas, pousando a mão no ombro da Lovelace.
- Estás bem? - perguntou, embora soubesse a resposta.
- Não. Libertei a Bellatrix Lestrange, achas que estou bem?!
Ashley empalideceu.
- A-A Bellatrix?! Estás maluca? - Ley afastou-se de Meredith, que se encolheu - Sabes o que ela fez aos pais do Neville?! Eu vi-os Meredith! Eu vi o que aquela mulher fez!
- Segundo sei, a mulher é praticamente a cadela do Voldemort. - Meredith suspirou, exausta - Eu não jogo para perder, Ashley. Já devias saber isso.
E não jogava. Era uma Slytherin de corpo e alma e começava a ter orgulho disso.
- Levem a Miss Lovelace até ao seu dormitório. - ordenou Dumbledore, observando Meredith - Está mais do que fora do recolher obrigatório por isso cuidado para o Filch não vos apanhar.
- Ficas comigo esta noite? - pediu Meredith, olhando nos olhos de Ashley.
Ley assentiu, o coração amolecendo ao ver Meredith sorrir fracamente. Laurel soltou uma risadinha, achando querido a relação das duas. Apoiou um dos braços de Meredith sobre os seus ombros e Ashley fez o mesmo, pousando um beijo na bochecha da Lovelace no processo.
Laurel lançou um último olhar ao avô, que suspirou, cansado. Os dois fitaram-se, os olhos azuis tão semelhantes e tão diferentes.
Eram farinha do mesmo saco, sem sombra de dúvidas.
**
No dia seguinte, a notícia de que dez prisioneiros tinham fugido de Azkaban espalhou-se pela escola e Harry Potter sentiu a felicidade do Lorde das Trevas como se fosse a sua.
E Laurel sentiu a Magia Negra dentro de si ferver, feliz como o seu Mestre estava.
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