Capítulo 61
Algumas semanas depois, o clube secreto liderado por Harry tinha um nome: o Exército de Dumbledore, constituído pelos mais variados membros e com encontros marcados na Sala das Necessidades consoante a disponibilidade de cada um.
Ashley Diggory era uma das mais entusiasmadas e esforçadas da sala.
O seu irmão mais velho fora um excelente aluno a Defesa Contra as Artes Negras e Ley seguia o seu exemplo, lembrando-se de o ver praticar às escondidas dias antes da Terceira Tarefa. Estar ali com Harry e os restantes matava um pouco as saudades que Ashley tinha de Cedric, cuja fotografia fora colocada pelo próprio Harry num dos espelhos que decorava a Sala das Necessidades.
Quando Laurel entrou esbaforida pela Sala das Necessidades adentro, todos os membros do Exército ficaram imóveis, assustados. A Ravenclaw não fazia parte do clube mas não tinha tido problema algum em entrar ali, indo diretamente na direção de Ley.
- O que a Slytherin está aqui a fazer? - questionou Cho Chang, irritada.
- Desculpa Harry mas preciso falar com a Ashley. - disse Laurel, ofegante - É urgente.
- Como é que...
- Eu encontro-vos sempre, Harry! - Laurel riu-se, achando graça ao rosto confuso do rapaz - Tu não sabes sempre onde me encontrar?
Harry assentiu, fazendo sinal a Ashley. A ruiva entrelaçou os braços delas enquanto a puxava para o canto mais afastado da sala, os olhos safira brilhantes de entusiasmo.
- Eu descobri a tua mãe biológica!
Ashley engasgou-se. Já eram raras as alturas em que pensava nos seus pais biológicos, o luto por Cedric tendo-se sobreposto ao desejo de saber de onde vinha e porque motivo o medalhão de Ravenclaw brilhava a ouro cada vez que estava por perto.
- Porquê? - perguntou, sem pensar - Quer dizer, obrigada mas...
- Era o que Cedric mais queria antes de... - Laurel engoliu em seco, os olhos enevoados por momentos - Para além daquele estúpido Torneio, era o que ele mais queria no mundo. - um sorriso gentil formou-se no seu rosto, relembrando Ashley do porquê gostar tanto de Laurel - Não és a única a querer honrá-lo, Ley.
A Diggory assentiu. Devagar, Laurel entregou-lhe um pequeno molho de folhas: uma carta aberta de Remus Lupin, uma fotografia antiga e o pequeno diário de Cora Ravenclaw, que Laurel costumava andar para todo o lado.
- Vê a fotografia primeiro. - sugeriu, a voz mais calma.
Ashley observou a fotografia a preto e branco que Laurel lhe entregara. Já a tinha visto no espelho junto da de Cedric, ambas colocadas por Harry. Era a antiga Ordem de Fénix, onde os pais de Harry estavam. Nunca tinha olhado muito para os restantes membros, a não ser os que conhecia mas algo no olhar insistente de Laurel fê-la observar melhor.
Uma figura captou-lhe a atenção, uma mulher alta e de pele cor de chocolate. Estava colocada ao lado de Sirius, o braço sobre o ombro do Black, com um sorriso de desafio no rosto e os cabelos cacheados entrançados no topo da cabeça. Ashley virou a fotografia, onde os nomes dos membros estavam descritos por ordem.
H. Sarah Smith.
- Parece-se contigo, não é? Tem os teus olhos, principalmente. - constatou Laurel, séria - Assim que a vi tive essa sensação, por isso investiguei. Lembraste do nome que consta na tua certidão de nascimento?
- Hepzibah Smith. - respondeu Ley, prontamente.
- H. Sarah Smith. É muita coincidência...
- Não estou a acompanhar. - confessou Ashley.
- Ainda agora comecei! Escrevi ao Dr. Carl a pedir-lhe o favor de investigar esse nome, depois da ajuda que lhe dei no St. Mungus ele podia puxar uns cordelinhos por mim... Encontrar umas certidões de óbito e assim... - Laurel encolheu os ombros, inocente - Surgiram duas mulheres: uma morreu há mais ou menos trinta anos anos, a outra morreu em 1980. - apontou para a mulher na fotografia - Hepzibah Sarah Smith, filha de Hepzibah Smith. Ambas tinham o mesmo nome e, segundo o pai da Meredith, com quem também me correspondi, pertencentiam ambas à linhagem direta de Helga Hufflepuff.
Ashley Diggory susteve a respiração. Já sabia que estava de alguma maneira relacionada com Helga Hufflepuff mas a sua mente recusara-se a aceitar esse facto. Agora que as peças se encaixavam, Ley duvidava.
- Tens a certeza? - questionou, incerta.
Laurel assentiu.
- Remus e os restantes da Ordem não sabiam muito sobre a Sarah Smith, ela era muito reservada sobre a sua vida pessoal exceto em relação à minha mãe. - apontou para o diário - Elas eram melhores amigas, Ley e este diário é a única prova escrita de que Sarah teve uma filha.
O silêncio entre as duas era expectante e demorado. Laurel parecia à beira de um ataque de nervos por ver Ashley sem reação mas a morena mal respirava, incapaz de acreditar que depois de quinze anos finalmente saberia porque a mãe a abandonara.
- Cora... Cora explica porque Sarah me abandonou? - perguntou Ley, num fio de voz.
A ruiva negou, tristemente.
- Tudo sobre ti é muito breve mas... Aqui. - abriu o diário numa página, uma das últimas - Podes ler.
"Querido diário,
A melhor notícia que poderia receber nestes tempos negros chegou: Sarah, a minha doce Sarah, está grávida.
Ninguém merecia mais isto do que ela. A minha Hufflepuff será a melhor mãe do mundo, tenho a certeza!"
**
"Querido diário,
Como eu queria que as coisas fossem diferentes. Como eu queria que Ashley e Laurel crescessem com as suas famílias.
Mas eu e Sarah sabemos qual é o nosso papel enquanto Herdeiras. Sabemos quem somos e o risco que corremos.
Ambas faremos tudo o que pudermos para criarmos um mundo melhor onde as nossas meninas possam crescer juntas e felizes."
**
"Querido diário,
Sarah... A minha Sarah... Foi-se.
Como pude deixar que isto acontecesse?
Onde ela entregou Ashley?
Porquê Sarah?"
**
- Cora não escrevia muito, eram apenas anotações... - tentou explicar mas Ashley interrompeu-a, abanando a cabeça.
- Nem a tua mãe sabe porque ela me abandonou...
- Mas sabia que era a Herdeira de Hufflepuff. - Laurel pousou a mão no ombro da amiga, o medalhão no seu peito brilhando em tons de ouro - És tu, Ley. Tu és a Herdeira de Helga Hufflepuff.
A informação assentou devagar e pesadamente, deixando Ashley entorpecida. A jovem sentou-se no banco mais próximo, as pernas a tremer.
- A Herdeira... - murmurou, fitando o vazio.
- Eu... Eu perguntei a Remus sobre Sarah. - disse Laurel, apontando para a carta - Ele escreveu algumas coisas que te podem ajudar a conhecê-la...
- Obrigada mas neste momento não quero. - interrompeu Ashley, passando a mão no rosto - É bom confirmar que sou uma Hufflepuff mas continuo sem saber porque os meus pais me abandonaram por isso não, não quero saber. - pressionou a carta junto ao peito, pensativa - Lerei mais tarde, quando me sentir melhor. Obrigada, Lau. Pelo menos já sei o meu nome... Ashley Smith...
- O teu nome é Ashley Diggory. - ripostou Laurel, convicta - Vai ser sempre.
Ashley assentiu, sem expressão. Por fim, franziu o sobrolho, encarando a ruiva.
- Como ela morreu?
- Segundo Remus, numa batalha entre a Ordem e os Devoradores da Morte. Um homem chamado Rodwell matou-a.
- Ela deu-me para adoção antes de morrer... - murmurou Ley, pensativa - Antes da tua mãe morrer...
Fez uma pausa, os olhos fixos na imagem de Sarah, que lhe sorria com tranquilidade, a sua figura a mexer-se junto dos seus amigos.
- Porquê, mãe? - perguntou, encarando os olhos idênticos aos seus.
**
Meredith semicerrou os olhos ao ver Blaise se aproximar dela com um ar suspeito. O rapaz olhava por cima do ombro de minuto em minuto à medida que se aproximava dela, sentando-se discretamente ao seu lado na mesa da Biblioteca onde se encontrava a estudar.
- No próximo fim de semana a Hogsmeade. - informou ele, metódico - Alguém estará à tua espera. Não fales com ninguém, não contes a ninguém. Só consegui este encontro com ele porque o teu nome tem um grande significado entre os Devoradores da Morte.
- Por causa da minha mãe? - perguntou a Lovelace, curiosa.
Blaise assentiu.
- Amanda Lovelace foi das mais leais dos Devoradores da Morte e tu és a criança amaldiçoada, nascida em Azkaban. Ele próprio quis ver-te.
A Slytherin assentiu, vendo Zabini afastar-se como se nada fosse. Impassível por fora, Meredith sentia o estômago contrair-se com o nervoso miudinho que sentia.
O seu plano estava a resultar.
**
- COMO PUDESTE?!
Laurel estava para lá de ultrajada. Draco fitava-a de forma arrogante, embora por dentro estivesse apavorado. A Ravenclaw estava com um ar tão assustador que o Malfoy só tinha vontade de fugir.
- Nunca... - uma chapada no braço - Mais... - outra - Insultes... - um soco no ombro - A mãe... - outro - De ninguém, ouviste?! Ainda por cima falar mal da mãe de Harry?! Onde tinhas a cabeça, Draco?!
- Quem raio és tu para dizer o que eu devo ou não devo fazer?! - brandiu Draco, irritado e dorido - O Potter mereceu! Ele estava a pedi-las...
- Só porque ganhou um maldito jogo de Quidditch?! Foi um jogo justo! Só porque ele ganhou tu achas que tens o direito de gozar com ele por ser órfão?!
Draco rosnou.
- Ele é um idiota!
- Tu é que és um idiota!
Laurel virou-lhe as costas, irritada. Presenciara toda a cena quando vira o jogo de Quidditch entre os Slytherin e os Grinffindor mas esperara que Draco estivesse sozinho para saber o que raio lhe passara pela cabeça. O Malfoy insultara os pais dos Weasley e, descontente, atacara Harry e os seus pais.
Era impossível entender Draco Malfoy e só se sentia frustrada por sequer tentar.
- Laurel! - chamou ele, seguindo-a.
- Deixa-me em paz. - ripostou ela, chateada.
- Porque é que estás a defender o Potter?!
- Porque a minha mãe também morreu, Draco! - exclamou Laurel, com lágrimas nos olhos - Porque eu sei o que Harry sente quando se fala nos pais dele! Como é que podes ser tão cruel com alguém?!
Laurel Ravenclaw abanou a cabeça, visivelmente magoada com a atitude do amigo.
- Como é que eu ainda vejo alguma coisa boa em ti?! - questionou, embora não esperasse uma resposta.
Draco ficou a vê-la afastar-se, cerrando os dentes. Com raiva, deu um soco na parede, praguejando.
- Tiras-me do sério, Laurel Ravenclaw. - rosnou ele, irritado.
E afastou-se para o lado contrário ao dela, a passos largos.
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