Capítulo 58
Meredith observou Blaise Zabini aproximar-se dela discretamente, algo que já esperava.
O seu plano já tinha começado há muito tempo.
Se queria pertencer ao círculo mais próximo de Voldemort, tinha de começar por algum lado. A maioria dos Slytherin tinha um parente Devorador da Morte, algo que Laurel fizera questão de lhe informar depois dos acontecimentos no cemitério. A ruiva dissera-lhe os nomes dos Devoradores da Morte presentes naquela noite e tudo o que Meredith precisava fazer era escolher um alvo.
Draco Malfoy era o alvo ideal mas Laurel pedira-lhe explicitamente para se afastar do rapaz, incapaz de aceitar a ideia de que muito provavelmente ele seguiria as pisadas do pai e se tornaria um Devorador da Morte, mais cedo ou mais tarde.
Como tal, Zabini era o segundo alvo mais fácil. Fazia semanas que Meredith lhe lançava olhares de esguelha, partia para cima de Parkinson justamente quando ele estava presente e metia-se com alguns filhos de Muggles que passavam ao seu lado apenas para fazer de conta que sofria algum preconceito em relação a eles. Era tudo mentira, claro, e qualquer pessoa que a observasse com atenção veria que não passava de uma bela atriz, não uma aspirante a Devoradora da Morte.
Graças ao seu sangue Veela e ter escolhido um alvo homem, não havia preocupação em ser descoberta.
- Filch não tem muita imaginação no que toca a castigos. - comentou Blaise, aproximando-se dela - Limpar os troféus de Quidditch? Todos os anos há alunos a fazer isso.
Meredith endireitou-se, balançando os cabelos para os ajeitar. As madeixas rosa sobressaíam no uniforme negro e o movimento não passou despercebido a Blaise, que prensou os lábios.
- O que queres, Blaise? - questionou ela, rudemente - Estou na minha detenção e não quero ser importunada.
O rapaz sorriu, aquele sorriso discreto que Blaise usava quando queria fazer alguma rapariga suspirar. Era um dos rapazes mais bonitos da escola e sabia disso. Ainda assim, era preciso mais do que um sorriso para seduzir Meredith Lovelace, que cruzou os braços à frente do peito, descrente.
- Eu só queria ver como estavas. - respondeu Blaise, engolindo em seco - Ouvi dizer que estavas... Descontente com certas situações que acontecem nesta escola.
- Sim, estou. - Meredith soltou um suspiro dramático, dando um passo em frente e fazendo um biquinho com os lábios vermelhos - Não achas que o poder está mal distribuído por estas bandas? Quer dizer, Hogwarts é a melhor escola de magia a nível internacional mas é também aquela que tem uma maior percentagem de alunos que são filhos de Muggles, não é triste?
Blaise pestanejou, observando a rapariga com atenção. A sua expressão de surpresa era notória e francamente engraçada, algo que Meredith não deixou transparecer. A Lovelace encarou as pontas do cabelo, encolhendo os ombros num gesto desapontado.
- É a sociedade em que vivemos, ao que parece. - fez uma pausa, erguendo os olhos - Não é que eu tenha algum preconceito com os Muggles. - apressou-se a dizer, deixando Zabini confuso - Mas, quer dizer... Quem são eles em comparação connosco, não é? Mas pronto, não há nada que possamos fazer...
- E se houvesse? - perguntou Blaise, colocando-lhe a mão no rosto - E se houvesse algo que pudéssemos fazer?
- Sem magoar os Muggles? - questionou, mostrando-se abatida.
- O objetivo não é magoar os Muggles, Mer, é apenas restaurar o equilíbrio na sociedade bruxa. Eu conheço uma forma disso acontecer. - Zabini aproximou-se do ouvido dela, sussurrando - O Lorde das Trevas está a procurar pessoas jovens como nós para nos juntarmos a ele assim que fizermos os dezassete anos... Interessada?
Meredith assentiu, com um sorriso arrogante no rosto, tal e qual a Slytherin que era.
O seu alvo mordera o isco na perfeição.
**
- Miss Ravenclaw, um momento, por favor. - chamou Umbridge, assim que Laurel se pôs de pé.
A ruiva rosnou baixinho, a mão a sangrar tanto que uma ligadura não iria chegar. As dores eram imensas e o prazer no rosto da mulher quase que palpável. Umbridge divertia-se a torturar os alunos, os seus preferidos sendo Harry e Laurel, ambos com as mãos cada vez mais marcadas em em ferida.
- Sim? - perguntou, engolindo a irritação.
- Não sei se ouviu dizer mas o seu tio foi avistado em Londres. - o tom de desdém presente na voz de Umbridge era claro como a água, deixando Laurel ainda mais irritada - A menina por acaso não terá informações relevantes sobre esse assunto?
- Não. - respondeu a Ravenclaw, com o mesmo desdém.
Um suspiro saiu dos lábios da mulher, fazendo Laurel erguer a sobrancelha.
- A menina não percebe a gravidade da sua situação, pois não? Pobrezinha. Bem, tenha uma boa noite.
Com um breve aceno, Laurel saiu do gabinete praticamente a correr, confusa com as palavras da mulher.
**
No dia seguinte, tudo ficou esclarecido.
Cara Laurel Ravenclaw,
Venho por este meio convocá-la a uma audiência obrigatória amanhã, às 9h, no Ministério da Magia. A não comparência trará consequências graves para a sua pessoa.
Com os melhores cumprimentos,
O Sr. Ministro da Magia
Cornelius Fudge
- Mas o que raio...? - murmurou Laurel, sem acreditar - Será por causa do Sirius?
- É melhor ires já ter com Dumbledore. - sugeriu Meredith, encarando a amiga com seriedade - Eu digo a Ashley o que aconteceu.
A Ravenclaw assentiu, abandonando a mesa do pequeno-almoço e correndo em direção ao gabinete do Diretor. Este esperava-a, com a expressão mais séria que ja lhe vira no rosto.
- O senhor já sabe? - perguntou Laurel.
- Sim e infelizmente tive de convocar Remus para estar presente. Ele é o teu tutor legal e tu és menor, deve estar presente. Eu irei como teu defensor mas a minha palavra não vai ter muito valor...
- Valor? Mas o que é que eles querem de mim? - questionou a neta, confusa.
- Informações sobre o paradeiro de Sirius. Fudge pode ser um idiota mas ele sabe que há alguma coisa no ar e pretende atirar as culpas para cima de Sirius. Se conseguir apanhar o perigoso Black, as pessoas irão venerá-lo e as dúvidas sobre o renascimento de Voldemort evaporam-se. - explicou Dumbledore, abanando a cabeça - Foi assim antes e o ciclo repete-se...
- O Ministério está a usar a politica do medo a seu favor. - disse Laurel, bufando - Cambada de idiotas, isso sim.
- Voldemort espalha o caos e a discórdia, pequena. É esse o seu maior trunfo.
Laurel assentiu, pensativa. A imagem de Harry veio-lhe há mente, relembrando-a de que ainda não falara com ele sobre a inexistência de sentimentos entre ambos. Suspirou, cansada.
Caos e discórdia, dizia Dumbledore.
**
- Ley? - chamou Meredith, baixinho.
A casa de banho das raparigas do terceiro andar era a menos visitada de todas por ser a casa de Murta, a fantasma mais chata de todas. Por isso, ficara surpreendida ao ver Ashley correr de repente naquela direção, trancando-se num dos cubículos em silencio absoluto.
A Lovelace seguira-a de imediato, preocupada mas não chegara a tempo. Ashley era bastante rápida quando queria, pensava com os seus botões.
- Vai-te embora. - mandou Ley, numa voz abafada.
- É mesmo isso que vou fazer. - ironizou Meredith, revirando os olhos - Quando é que vais parar de me afastar, mesmo?
- Nunca. - bufou a outra, fechada no seu cubículo.
Meredith sentou-se, as costas encostadas à porta do cubículo onde Ley se encontrava. A dos cabelos cacheados chorava muito baixinho, de tal forma que apenas uma pessoa muito atenta poderia ouvir.
- Queres falar sobre? - questionou a Lovelace.
- Não.
- Está bem.
Dois minutos depois...
- Sim.
- Então sai cá para fora.
O trinco da porta fez-se ouvir e Meredith desviou-se para Ley passar. A Hufflepuff sentou-se ao lado da Slytherin, os olhos vermelhos e o nariz a fungar. A sua tristeza era tão visível que Meredith envolveu-a num abraço antes que a outra pudesse reagir.
- A minha equipa pensa menos de mim por ser... A minha pele... - Ashley engoliu um soluço, incapaz de dizer o resto da frase - Não são todos mas alguns... Alguns gozam comigo... Dizem que não presto, que não devia estar ali... Que só entrei porque o Cedric...
- Não ligues. - Meredith afagou-lhe os cabelos, inebriada pelo cheiro da amiga - Eles são idiotas...
- Mas é verdade, não é? Têm pena de mim. Caramba, eu própria tenho pena de mim. - confessou Ley - Sinto tanto a falta dele, Mer. Entrei na equipa para honrá-lo sim mas mais do que isso eu queria uma distração, mais uma. Entre a Guerra, os olhares de pena que me deitam e isto do Ministério invadir Hogwarts... Só queria distrair-me e fazer algo que me aproximasse de Cedric.
- Ele estaria orgulhoso de ti. - afirmou Meredith, com certeza - E isso de seres negra é só a maneira que arranjaram de gozarem contigo porque têm inveja de ti. És uma excelente jogadora e nem precisas te esforçar muito. - Ley abanou a cabeça mas Meredith impediu-a de falar - És incrível, Ley. Como não vês isso?
Ashley abanou novamente a cabeça. Ela não via que era incrível, pelo contrário. Meredith, por outro lado, não conseguia ver outra coisa. Para ela, Ley era a melhor pessoa que conhecia, o seu exemplo de força. inteligência, simpatia e coragem.
Os olhos negros de Meredith fixaram-se nos âmbar de Ashley.
- Mer... - Ashley desviou a cara, envergonhada.
Incapaz de se conter, Meredith depositou um beijo na bochecha da amiga, que se engasgou.
- Vamos lavar essa cara, sim? - perguntou a Lovelace, sorridente.
Ashley limitou-se a assentir, piscando os olhos ainda em choque.
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