Capítulo 55
A manhã fria saudou Meredith com uma suavidade extrema. Era uma apreciadora do frio, não podia negar. A jovem espreguiçou-se vagarosamente, apreciando o conforto dos lençóis da sua cama em Hogwarts.
Não sabia quantas mais vezes teria oportunidade de o fazer.
Ao sentar-se, deu de caras com a figura acordada de Laurel, cujos olhos estavam fixos no livro pousado no seu colo. Já estava vestida e pronta mas Laurel sempre esperava por Meredith, a mais preguiçosa e menos madrugadora das duas.
- Bom dia. - saudou a Lovelace, esfregando os olhos - Que horas são?
- Faltam vinte minutos para entrarmos para a primeira aula do dia. - respondeu a ruiva, sem erguer a cabeça - Mas o que raio vai esta mulher dar?! Este livro só tem teoria!
Meredith ergueu uma sobrancelha, passando os olhos pelo livro que Laurel segurava ao mesmo tempo que vestia rapidamente o seu uniforme.
- Defesa Contra as Artes Negras? - questionou.
Laurel bufou, ultrajada.
- É a primeira aula que temos e é aquela mulher horrorosa que a vai dar ...
- A algodão doce? - perguntou Meredith, penteando os cabelos.
- Está mais para algodão estragado. - resmungou a Ravenclaw, mal humorada - Estou para ver como vão ser estas aulas.
Vinte minutos mais tarde, as duas amigas entraram na sala de Dolores Umbridge, uma com uma expressão impassível, a outra muito cética. Se havia algo que Laurel detestava era aulas desnecessárias; a escola era para aprender e portanto as aulas não podiam ser uma perda de tempo.
- Bom dia, meus queridos. - saudou Umbridge, saindo do seu gabinete com o sorriso educado de sempre.
Draco Malfoy ergueu a sobrancelha. Queridos? Ao seu lado, Blaise Zabini soltou uma risadinha, a qual não passou despercebida à nova professora.
- Quer partilhar o motivo do seu bom humor, querido? - perguntou, os olhos fixos nele.
- Estou apenas feliz de a ter como professora. - respondeu Blaise, sem desmanchar a postura - O meu pai falou muito bem de si e ficou extremamente aliviado por termos alguém como a senhora a dar-nos esta matéria. Chamo-me Blaise Zabini, professora.
- Lambe-botas. - sussurrou Meredith, fulminando o rapaz negro com o olhar.
- Oh, sim, o senhor será o filho de Michael Zabini?
Blaise assentiu, visivelmente satisfeito consigo próprio. Laurel observou-o à distância, analisando a forma como o belo rapaz se recusava a olhá-la nos olhos. Não se tinham falado desde o ocorrido no Baile do ano anterior mas o seu comportamento não deixava de ser estranho.
Quando se virou de novo para o livro pousado na sua mesa, os olhos safira encontraram os de Draco, um hábito que começava a ser irritante.
- Como sabem, esta matéria tem sido muito negligenciada ao longo dos anos. - começou Umbridge, analisando os alunos - Assim sendo, agradecia que guardassem as vossas varinhas e abrissem o livro na página 4, por favor. No fim da aula, gostaria que me informassem em que página ficaram.
- Guardar as varinhas? - questionou Meredith, mais alto do que pretendia.
- Alguma dúvida, Miss... - Umbridge inclinou a cabeça ligeiramente para o lado, o sorriso perfeitamente desenhado no seu rosto.
- Lovelace. - respondeu Meredith.
O rosto de Umbridge contorceu-se numa expressão lívida de forma quase instantânea. A mulher prensou os lábios, como que desaprovando a presença de Meredith na sua sala. Por sua vez, a adolescente limitou-se a erguer a sobrancelha, aguardando uma reação da professora.
- Miss Lovelace, não necessitará de varinha nas minhas aulas. - disse a mulher, segundos depois - E levante a mão quando quiser falar, se faz favor.
Laurel levantou de imediato a mão.
- Eu já li o livro, professora. - informou, educadamente.
- Leia de novo, Miss Ravenclaw.
- Mas professora, isto é só teoria...
- Professora. - chamou Pansy, manhosa - Não consigo ler com tanto ruído. Poderia pedir à Laurel para se calar?
A ruiva virou-se para trás, com um sorriso irónico no rosto.
- Tu sabes ler, por acaso?
Draco soltou uma risada abafada, recebendo um olhar venenoso da outra Slytherin. O rosto de Umbridge adotou uma tonalidade rosada perigosa e mulher aproximou-se da Ravenclaw, sem qualquer expressão no rosto.
- A menina disse-me que não iria arranjar problemas, lembra-se?
- Eu estou apenas a questionar o que posso fazer sem ser ler, professora. - respondeu Laurel, com toda a inocência do mundo - A professora vai fazer algum tipo de questionário? Apresentar-nos alguma criatura das Trevas, talvez?
- Lamento, Miss Ravenclaw, mas não sou o professor Lupin e portanto não vou incutir-vos a necessidade de se defenderem de criaturas que já praticamente não existem entre nós. - afirmou Umbridge, desdenhosa - Os meus queridos são ainda muito jovens e inocentes, não entendem que não há qualquer perigo à solta...
- Voldemort está à solta e com certeza estes "queridos" vão precisar defender-se dele. - interrompeu Laurel, incrédula com o discurso da professora - Ou o Ministério quer mesmo que estejamos imponentes face ao que está por vir?
Umbridge soltou uma risada. Draco remexeu-se no seu lugar, imediatamente desconfortável com a menção ao Quem-Nós-Sabemos. Apesar de odiar Harry Potter, ele sabia que o Lorde das Trevas estava de volta. Zabini trocou um olhar com o loiro.
Ambos sabiam.
- Lamento que acredite nas fantasias de Mr. Potter, minha querida, mas não passam disso: fantasias. Os meus queridos não correm qualquer perigo e esta matéria é apenas uma formalidade. Não assuste os seus colegas com a história de que o Quem-Nós-Sabemos está de volta, Miss Ravenclaw.
Laurel pôs-se de pé, mortificada. Era a primeira vez que sentia na pele o que Harry estava a viver. O mundo acreditava que ele mentira sobre Voldemort e menosprezavam a morte de Cedric como se nada fosse. Um acidente, apenas.
Ergueu a mão direita, deixando à vista a Cobra dos Puros. A respiração de Draco prendeu-se ao ver a jóia, reconhecendo-a de imediato.
Aquela jóia pertencia a Narcissa Malfoy.
Um presente de noivado de Lucious Malfoy para a sua amada.
O estilhaçar de loiça fez-se ouvir dentro do gabinete de Umbridge. A mulher correu desesperadamente lá para dentro, encontrando todos os seus pratos e chávenas de porcelana estilhaçados no chão. Os alunos seguiram-na, comentando o que acontecera e alguns gargalhando ao ver a cara de Umbridge.
- FOSTE TU QUE FIZESTE ISTO! - gritou, saindo esbaforida do gabinete em direção a Laurel - DETENÇÃO! SUA...
- A ignorância e a política do medo tem um preço. Diga isso ao seu Ministro, professora Umbridge. - rosnou a Ravenclaw, pegando nas suas coisas.
E virou costas, bufando de raiva por Dumbledore nunca contratar professores decentes para aquela disciplina, à exceção de Lupin.
***
Ashley Diggory respirou fundo três vezes antes de bater à porta, que se abriu de imediato. O professor Snape fitou-a sem dizer nada, desviando-se para a deixar passar, os olhos negros intimidantes fazendo-a tremer.
Snape era e sempre seria o homem mais assustador que conhecera.
- O que a levou a procurar-me, Miss Diggory? - questionou mal ela se sentou.
A rapariga suspirou, fitando o caldeirão à sua frente em vez de o enfrentar.
- Não sou lá muito boa a Feitiços, professor. Os meus reflexos são péssimos e em batalha serei sempre o elo mais fraco. - admitiu, erguendo timidamente o rosto - Não digo isto por me menosprezar mas sei reconhecer as minhas limitações. Ced... - fez uma pausa, vendo com surpresa a expressão de Snape amolecer ligeiramente ao ouvir o nome do seu irmão - Cedric disse-me uma vez que um bom pocionista podia salvar vidas. Ele ia parar muitas vezes à enfermaria por causa do Quidditch e a Madame Pomfrey tinha sempre uma poção para o tratar...
- Está ciente que é igualmente má a Poções? - interrompeu Snape, como se estivesse curioso.
Ashley assentiu.
- Não sou boa a Poções porque fico muito nervosa e...
- Tem medo de mim. - Snape revirou os olhos - A sua amiga Laurel já mo tinha informado há dois anos atrás.
- Desculpe... - pediu, envergonhada - Eu sei que tenho capacidades, professor. Se me esforçar, se seguir todas as medidas à risca e se deixar de ser tão insegura... Eu sinto que posso ser uma mais valia na Guerra que está por vir, professor. - afirmou, esperançosa - Pode ajudar-me?
Snape prensou os lábios. Cedric Diggory tinha sido dos alunos mais esforçados que tivera e nunca lhe trouxera problemas. Um desperdício de rapaz, sem dúvida.
- O seu irmão estava certo, Miss Diggory: um bom pocionista pode salvar vidas mas para isso terá de se esforçar e aprender o que não aprendeu em cinco anos. As suas notas na minha disciplina têm sido medíocres até aqui e por isso não espero nada mais de si do que total foco e dedicação. - fez uma pausa, vendo o habitual medo desaparecer dos olhos de Ley - Estamos entendidos?
- Sim, senhor.
**
Laurel faltara a todas as aulas desse dia. A magia ainda borbulhava dentro de si e preferia afastar-se de tudo e de todos do que arriscar explodir de novo e arrancar a cabeça de alguém.
- Posso? - questionou a voz fria que mais a enervava e confundia no mundo.
- Não. - respondeu prontamente.
Draco Malfoy sentou-se ao seu lado, ignorando-a por completo. O pátio de Hogwarts era o último sítio onde esperava encontrar Laurel, principalmente tendo em conta que chovia imenso lá fora e as gotas faziam ricochete no chão, atingindo os sapatos da jovem.
- Tu odeias chuva. - comentou, sereno.
A Ravenclaw revirou os olhos.
- Sempre muito atento, Malfoy. - tirou os óculos de leitura do rosto, enfiando-os de qualquer maneira no bolso do seu manto - O que queres? Já ouvi dizer que andaste a dar graxa à Umbridge como o Blaise, que querido que és.
O rapaz encolheu os ombros.
- Não preciso de uma inimiga como aquela mulher e tu também não, Laurel. É uma pessoa importante no Ministério e pode causar-te problemas...
- Não sou cobarde como tu. - ripostou ela - E não vou ficar calada enquanto ela denigre a imagem do meu pai e de Harry.
- Sempre a defensora dos oprimidos. - ironizou ele, ouvindo-a bufar - Onde arranjaste essa jóia?
A Cobra dos Puros encontrava-se visível por Laurel ter as mangas arregaçadas. A jovem suspirou, enfrentando finalmente o olhar de Malfoy, ciente que ele vira a jóia quando destruíra o gabinete de Umbridge.
- Eu sei sobre o teu pai, Draco. - disse ela, com suavidade - Foi Lucious quem me deu a pulseira. Transformou-a em Botão de Transporte e foi ela que me levou ao cemitério.
Um silêncio tenso preencheu o espaço entre eles. Draco sentia a boca seca, incapaz de não sentir alguma coisa dentro de si contorcer-se ao perceber a verdadeira razão porque Laurel explodira naquela manhã.
- Tu estavas lá- afirmou ele, sem querer acreditar - Tu viste...
- Voldemort. Sim, eu vi-o. O teu pai estava lá e deu-me a pulseira não só para me trazer até ao seu Senhor como também para me proteger. A tua mãe não o perdoaria se ele não o fizesse, sabias?
- Proteger?
Draco fitou-a, sem compreender. Os olhos safira de Laurel suavizaram-se e ela contou-lhe tudo: a impureza do sangue de Voldemort, a morte de Cedric, a proteção indireta de Lucious ...
- Eu sei que te recusaste a ser meu amigo como o teu pai te exigiu. - Laurel encolheu os ombros - Foi bastante corajoso da tua parte.
Quando ela se pôs de pé, Draco sentiu o coração bater mais depressa ao vê-la fitá-lo com orgulho.
- Não esperava isso de ti. Só é pena...
- Que eu não seja sempre assim. - concluiu ele, com tranquilidade.
Laurel sorriu gentilmente, pronta para lhe virar as costas. Na sua cabeça, todos os males que Draco lhe fizera ao longo dos anos repetiam-se vezes e vezes sem conta, relembrando-a que ele não era um rapaz decente, que não merecia a sua gentileza e muito menos merecia a sua amizade.
- Não sou bom rapaz. - disse Draco, pondo-se de pé nas suas costas - E nunca vou ser. Não sou o herói da história nem o príncipe encantado. Pode ser por escolha, por educação, por caráter... - fez uma pausa, suspirando - Eu lamento tudo o que te fiz. Aquilo que aconteceu no Baile foi deplorável e idiota, agi por ciúmes e...
- Ciúmes? - questionou, virando-se para ele.
Draco engasgou-se. Ao longe, Meredith Lovelace aproximava-se em busca da sua amiga, que tinha um estranho sorriso no rosto.
- És um rapaz muito estranho, Draco Malfoy. - disse Laurel, abanando a cabeça - Não sabes o que queres e não fazes nada por isso. És um idiota.
A passos largos, aproximou-se dele e colocou-se em bicos de pés para depositar um beijo suave na bochecha dele, para surpresa de ambos.
- Até mais, Draco. - despediu-se, rindo.
E Draco ficou ali especado, perguntando-se mentalmente quem era o mais perturbado: ele ou ela?
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