Capítulo 45
A duas semanas para o Baile de Natal, Hogwarts parecia um campo de batalha.
De um lado, os rapazes procuravam as mais bonitas para serem os seus pares, cedo percebendo que não havia o ideal de beleza feminina que chegasse para todos.
Do outro, as raparigas eram igualmente seletivas, escolhendo os rapazes que mais gostavam em vez de qualquer um e recusando os que em nada lhe agradavam.
Fosse como fosse, ambos os lados estavam desesperados por arranjar um par, nem que fosse para não passar vergonha por não ter nenhum.
Ashley Diggory era das poucas Hufflepuff que não tinha par. Por serem das raparigas mais simpáticas de Hogwarts, a Casa do Texugo estava bem posicionada no que tocava ao Baile, tendo sido convidadas por quase todo o tipo de rapazes: Grinffindor, Ravenclaw, Beauxbatons e Durmstrang. Apenas os Slytherin se mantiveram entre eles, misturando-se apenas com os búlgaros, cujos ideais eram idênticos.
A jovem não se deixara ficar. Convidara vários rapazes com quem simpatizara, incluindo Neville Longbottom, de quem se tornara amiga após a sua estadia no St. Mungus. Contudo, Neville já tinha par e os restantes tinham recusado com educação, deixando-a arrasada.
Os sussurros que ouvia não ajudava. Tinha sido difícil regressar a Hogwarts, principalmente porque a sua mente recusava-se a manter o foco por mais de dois minutos, o que a prejudicava em aula. Quando conversava com alguém, regressava muitas vezes à memória daquela dor insuportável que lhe rasgara o corpo e a sanidade. Ela ainda não estava bem, sabia disso. O sorriso já não era tão genuíno, os olhos já não brilhavam e até as roupas que usava já não eram tão coloridas. No seu dormitório, a maioria das flores que tinha na mesa de cabeceira estavam a morrer. Ley já não era a mesma e isso notava-se.
Ainda assim, esse não era o motivo principal e doía-lhe entender isso. Ao convidar os rapazes, via-os observar os seus cabelos cacheados e torcer levemente o nariz ao olharem para os seus braços; não, o problema não era ela ou a sua mente.
O problema era a cor da sua pele.
- Odeio rapazes. - resmungou Meredith, sentando-se ao seu lado na relva fresca.
O Lago Negro estava especialmente tranquilo naquela manhã. Da última vez que ali estiveram, uma mensagem sangrenta tinha sido deixada para Meredith por parte da mãe, que empalideceu ao recordar isso. Percebendo o desconforto da amiga, Ashley deu-lhe um encontrão no ombro, com um sorriso pequeno no rosto.
- Ainda no outro dia querias conversar com o Krum...
- Pois mas hoje só acho que os rapazes são irritantes e nojentos. Estou há semanas a recusar convites para essa porcaria de baile.
- Porquê? - questionou Ashley, surpreendida - Achei que tu irias adorar, podes comprar um vestido bonito, acessórios, pensar no penteado...
- Isso tudo é fantástico exceto esta parte do par. A maioria dos rapazes nunca falou comigo mas veio convidar-me só pela minha beleza! Sequer pensam no cérebro! O que raio vou eu falar com um bando de trogloditas? Nem dançar devem saber e eu não vou para o baile para ficar a ver navios, querida.
Ashley suspirou, encolhendo os ombros.
- Pelo menos a ti convidam. A mim não...
Meredith olhou para amiga, surpreendida.
- Porquê? És linda e inteligente, quem perde são eles.
- Para além de ser a rapariga que teve internada no St. Mungus? Sou negra.
- E isso é um problema porquê?
Ley soltou uma risada, como se a Lovelace estivesse a brincar. Para Meredith, tudo era preto no branco: uma rapariga era uma rapariga, não havia cá cor da pele, orientação sexual ou qualquer outro rótulo. Uma rapariga era uma rapariga e um rapaz era um rapaz.
Se bem que todos os rapazes fossem uns idiotas, naquele momento.
- Olha, queres vir comigo ao baile? - perguntou a dos cabelos lisos, fitando a amiga com seriedade.
- Como um... Par?
- Não, como um trio para fazermos uma ménage a trois. - Meredith revirou os olhos, impaciente - Claro que é como um par! Quem disse que os pares tinham de ser rapaz com rapariga? Pelo menos posso conversar com alguém com cérebro.
A Diggory franziu o sobrolho, pensativa. Depois, sorriu, vendo a perfeita lógica no pensamento da Lovelace.
- Eu alinho mas não me obrigues a levar vestidos a combinar! - exclamou, rindo.
- Não mas vamos juntas escolher o vestido, os acessórios, o penteado...
E continuou a tagarelar por aí afora, falando de moda como sendo o que mais a apaixonava no mundo e sem perceber o sorriso grato que Ashley tinha no rosto.
**
A duas semanas do Baile de Natal, Draco Malfoy encontrava-se sem par.
Sabia quem queria convidar. A rapariga que o testava, que lhe respondia à altura tantas vezes como as vezes que era gentil para ele de forma natural. Laurel Ravenclaw era a única rapariga com quem conseguia ter uma conversa decente, que não lhe lançava olhinhos e que lhe provara que ser um Slytherin era muito mais do que menosprezar os Muggles e os Sangues de Lama.
Laurel era inteligente.
Astuta.
Orgulhosa.
E extremamente focada no que realmente lhe interessava em Hogwarts: aprender, algo que já não escondia e mostrava orgulhosamente de cada vez que erguia a mão no ar durante as aulas, completamente indiferente às caretas que lhe faziam e às bocas que lhe mandavam por ser uma Ravenclaw.
Draco admirava-a. Ninguém sabia que os dois eram amigos (nem ele próprio tinha a certeza se podiam-se chamar assim) e nenhum dos dois alguma vez tocara na cena que ele presenciara na Copa de Quidditch. A ruiva pedira-lhe desculpa mas o facto dela usar magia sem varinha tornara-se claro para ele, notando a descrição com que ela o fazia durante as aulas e que ninguém reparava.
Sim, Draco sabia quem queria convidar. O que ele também sabia é que era exatamente isso que Lucious Malfoy desejava.
"Convida-a para o Baile de Natal, filho. Nós precisamos dela." escrevera o Malfoy mais velho na última carta que lhe enviara.
Ao chegar à Sala Comum dos Slytherin, reparou na quantidade de raparigas que ali se encontravam, aos cochichos e às risadinhas, algo que piorou quando o viram. A maioria delas queria que ele as convidasse. Não tinha paciência para aquelas risadinhas. No canto mais afastado, a figura pequena e ruiva que em tempos lhe fizera lembrar os Weasley chamou-lhe à atenção. Onde ele estava com a cabeça quando a comparara a Ron ou aos gémeos? O cabelo de Laurel era mais cor do fogo, com reflexos dourados aqui e ali. Os olhos eram cor de safira, não eram apenas azuis como os dos Weasley. A pele era cor de marfim, o rosto de boneca de porcelana, tão frágil mas escondendo alguém tão forte.
Draco suspirou e os olhos de Laurel esmoreceram, a sua perspicácia sempre o impressionando. Ela já sabia o que ele ia fazer antes que ele o fizesse.
- Pansy... Queres vir comigo ao Baile?
**
Laurel caminhava distraidamente em direção às masmorras, a caminho da aula de Poções, quando sentiu duas mãos taparem-lhe os olhos, assustando-a de tal forma que deixou cair os papiros que tinha na mão, bem como os seus óculos de leitura. A pessoa que a assustara retraiu-se, soltando-a de imediato.
- Desculpa, Lau! Foi sem querer. - disse Blaise, agachando-se para apanhar as coisas dela - Não queria atrapalhar-te.
- Assustaste-me, Blaise! - reclamou ela, rindo - Mas não tens a culpa, eu sou trapalhona mesmo.
Blaise estava nervoso e isso notava-se. Para alguém observador como Laurel, era fácil ver as mãos a tremer, o suor na testa e a forma como os olhos dele nunca a fitavam por muito tempo. Ainda assim, foi apanhada de surpresa quando o rapaz a segurou na mão, acariciando-a com ternura.
- Lau... Queres vir ao baile comigo?
Laurel recuou, surpreendida.
- O quê?
- O baile de Natal...
- Sim, sim eu entendi essa parte. - abanou a cabeça, prensando os papiros junto ao peito - Mas tu queres ir ao baile... Comigo?
- Adoraria. - confirmou Blaise, achando graça às bochechas muito coradas da rapariga à sua frente.
A ruiva pensou um pouco, analisando o rosto do rapaz. Blaise era simpático para ela, um dos poucos Slytherin que realmente considerava como um amigo. Ainda assim, muitas vezes notara na forma como Blaise não se metia nas suas confusões nem a defendia, como acontecera com Pansy no Salão Nobre. Ele não gostava de estar com ela em público.
- Toda a gente vai lá estar... - referiu a Ravenclaw, incerta.
- Eu sei. Olha, tu não és propriamente a pessoa mais querida nos Slytherin e infelizmente eu... Eu tenho de fazer parte daquele tipo de círculos que odeiam Muggles. - Blaise fez uma pausa, procurando as palavras - Para eles, tu és uma traidora de sangue, como os Weasley. Mas eu não te vejo assim, Laurel. És inteligente, corajosa e não tens medo de dizer o que pensas... Não cresceste entre os puro-sangue, não sabes como é. Se eu for contra eles, os meus pais vão saber e isso é uma ofensa, uma desonra para a família.
O rapaz aproximou-se dela, que corou ainda mais.
- Mas isto é apenas um Baile e tu és minha amiga. A minha família entende o valor que a amizade tem para mim e és puro-sangue...
- Se não fosse não falavas comigo? - questionou Laurel, erguendo o queixo.
Zabini engasgou-se.
- E-e-eu...
- Eu não vou contigo ao Baile, Blaise. Como acabaste de mostrar, nunca seríamos amigos se eu não fosse puro-sangue ou mestiça. Esse é o pensamento que os Slytherin têm mas não é o meu e não posso compactuar com isso. Lamento muito.
E virou-lhe as costas, pensando no quão idiotas os rapazes conseguem ser.
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