Capítulo 4
As estrelas estavam particularmente brilhantes no dia em que Laurel Ravenclaw foi pela primeira vez conduzida a detenção pelo horroroso e antipático Filch. A menina andava com insónias à dias e preambular por Hogwarts à noite era incrível e tranquilo. Nunca tinha sido apanhada mas naquela noite o azar batera-lhe à porta. No entanto, ao que parecia, não tinha sido a única a ter de cumprir detenção por alguma coisa.
Arrastada por Filch na direção da Floresta Proibida, a ruiva pôde ver ao longe quatro pessoas do seu tamanho e o simpático Hagrid junto deles. Quando se aproximou, a menina sentiu-se ainda mais pequenina do que o normal. Ali estavam ninguém mais ninguém menos do que Draco e Hermione, duas pessoas que aparentemente a odiavam. Harry e Neville Longbottom também lá estavam, o primeiro sorrindo-lhe de forma simpática e o último alheio à sua chegada. O pequeno grupo parecia pronto a partir para a Floresta Proibida quando Filch gritou por Hagrid, irritado.
- Trago-te mais uma fedelha, Hagrid!- com um safanão, empurrou a menina para junto do enorme homem, que a encarou seriamente por entre as barbas e o cabelo muito comprido- Andava por aqui a preambular à noite, a quebrar o recolhimento obrigatório. Virei buscar o que sobrar de ti juntamente com os teus amiguinhos, princesinha...
- Chega seu velho rabugento! Vamos lá acabar com isto.- resmungou Hagrid, irritado- Temos trabalho a fazer.
O grupo começou a andar, deixando Laurel para trás, confusa. Vendo-a sem entender o que estava a acontecer, Harry olhou para ela, sorrindo.
- Vamos à procura de um unicórnio na Floresta Proibida, Laurel. Alguém anda a feri-los e a matá-los e o Hagrid está preocupado com eles.- o rapaz encolheu os ombros, constrangido- O Hagrid geralmente é mais simpático e com certeza não se importaria de te explicar o castigo de novo mas ele está realmente preocupado com os unicórnios. Vem daí, não vai ser um castigo assim tão mau, não te preocupes.
Laurel pestanejou, surpreendida. Esperava que Harry a odiasse tanto quanto Hermione ou que pelo menos não lhe dirigisse a palavra por ser uma Slytherin mas ali estava ele, simpático como sempre. A Ravenclaw sorriu, contente.
- Obrigada Harry.
Seguiram caminho, a escuridão apenas não tão densa pelo pequeno candelabro de Hagrid e pela Lua Crescente que se erguia no céu, iluminando vagamente a noite. As árvores erguiam-se à volta deles, enormes e sombrias. Ao lado de Laurel, Neville tremia, o medo estampado no seu rosto. A Ravenclaw sorriu-lhe, tentando passar alguma tranquilidade ao menino.
- Vai correr tudo bem, Neville. Ninguém nos vai atacar.- disse-lhe, ouvindo o bufar de Draco de imediato.
- Claro que não, só os lobisomens e outras mais criaturas que aqui vivem!- a voz do loiro destilou desprezo- Quando o meu pai ouvir sobre isto, vocês vão ver!
- És um medricas, Malfoy.- retrucou Laurel, farta daquele miúdo.
Draco sorriu-lhe com maldade, os olhos cinzentos faiscando.
- Vamos pôr-nos a chamar nomes, Falsa Weasley? Ou preferes mentirosa?
Laurel parou de andar, enfrentando Malfoy com raiva.
- Qual é o teu problema, Draco?! Eu não sei do que estás a falar!
Draco ignorou-a propositadamente, continuando a andar junto de Hagrid. A ruiva cerrou os punhos, extremamente enervada. Perto de Draco, Hermione encarava-a, de braços cruzados. Laurel desviou o olhar, continuando a andar, a sensação de raiva a acumular-se de forma perigosa no seu peito. Respirou fundo e deu por si perto de Harry, que a olhava preocupado.
- Estás bem?- perguntou-lhe, ao que a ruiva assentiu, sem expressão- Não ligues ao Malfoy, ele é um idiota. É um verdadeiro medricas.- comentou, fazendo Laurel sorrir.
- Obrigada Harry.- a menina disse pela segunda vez naquela noite, sentindo-se mais calma.
- Então foste apanhada fora do dormitório?- perguntou-lhe Harry, ao que Laurel assentiu- O que estavas a fazer?
Laurel abriu a boca para responder mas calou-se, sentindo um breve queimar no peito. A ruiva baixou a cabeça, segurando no seu colar. O medalhão em forma de coração brilhava com um forte tom de vermelho com laivos dourados, como um rubi. Arregalou os olhos, surpreendida. Escondendo o medalhão dentro da camisa que usava, a Ravenclaw sorriu ao Grinffindor, um sorriso tão bonito que deixou o menino constrangido.
- Insónias.- respondeu-lhe por fim- Não tenho conseguido dormir. E tu?
Harry abanou a cabeça, meio a rir. Antes que pudesse responder, uma voz interrompeu-os.
- Harry.- Hermione chamou, apontando para Hagrid.
O guarda de campo tinha parado, observando o lugar. Uma sensação de sufoco invadiu Laurel, que cambaleou para trás, o coração acelerando abruptamente. A menina apoiou-se numa árvore, sem conseguir ouvir o que as pessoas à sua volta diziam. Uma mão gelada agarrou-a no momento em que uma tontura a fez cair para o lado, impedindo-a de bater no chão. Havia algo errado na Floresta, algo que a estava a afetar. Sentindo como se estivesse a afogar-se, Laurel procurou magia em si, concentrando-se nisso para que pudesse voltar ao normal. O ramo de uma árvore caiu ali perto, respondendo à magia da Ravenclaw, o som ecoando na escuridão e acordando os sentidos da menina.
- Laurel?
Laurel abriu os olhos, sem se ter apercebido que os fechara. Os olhos brilhantes de Hermione e os frios de Draco encaravam-na, um de cada lado. A sensação de sufoco desaparecera e Laurel respirou fundo, empurrando a magia para longe. Levantou-se com a ajuda de Hermione, cujo ódio parecera desaparecer por momentos. Hagrid aproximou-se da menina, preocupado.
- 'Tá bem, Miss Raven? É melhor levá-la para a enfermaria, 'nã parece muito bem.
- Não, eu estou bem.- afirmou Laurel, recompondo-se - Precisamos encontrar esse unicórnio.
O grupo continuou a falar entre eles mas Laurel não ouviu. Os seus pensamentos estavam longe, presos à sensação horrível que sentira. Quando deu por si, estava com Draco e Neville, acompanhados de Fang, o cão de Hagrid. A ruiva não disse nada quando se apercebeu, preferindo ficar em silêncio a andar. Atrás de si, Draco observava-a e Laurel perguntava-se porque haveria Malfoy de estar preocupado com ela. Os quatro embrenharam-se na floresta, atentos. Os dois rapazes tremiam de medo, enquanto Laurel permanecia alheia ao mundo à sua volta. O barulho de um galho quebrado fez Draco soltar um grito, agarrando-se ao braço de Laurel. A menina parou de andar, pondo os braços à volta dos rapazes, de forma protetora. Fang, o grande e imponente cão, encolheu-se aos pés dela, também ele a tremer. A ruiva revirou os olhos, sem querer acreditar.
- Estou rodeada de medricas.- sussurrou, sem deixar de estar atenta ao que a rodeava.
- Vou lançar as faíscas vermelha.- Malfoy tremia, os olhos arregalados de medo- Foi o que o Hagrid disse para fazermos se tivéssemos em perigo.
- Nós não estamos em perigo, Draco.- ripostou a ruiva, pensando no que poderia fazer para acalmar os dois meninos- Vamos tentar encontrar o unicórnio o mais rápido possível e sairmos da...
Um vulto negro passou por eles e os rapazes não se conseguiram conter mais. Os dois começaram a correr, aos gritos, seguidos pelo cão mais cobarde que Laurel conhecera. Laurel também se preparou para correr mas um vislumbre prateado ao longe fê-la parar, as mãos erguidas, pronta para se defender. Pé ante pé, andou naquela direção, prendendo a respiração ao ver um majestoso animal prateado tombado no chão, os olhos negros sem vida virados na sua direção. Laurel aproximou-se, sentindo lágrimas escorrerem-lhe pela cara. A menina parou de andar, os olhos fixos na zona da barriga do unicórnio, o medo a percorrer-lhe o corpo. Uma presença negra alimentava-se do sangue sagrado do unicórnio, ignorando o facto de estar a ser observado. A sensação de sufoco voltou a invadir Laurel, que caiu de joelhos no chão. O vulto virou-se para ela, o lugar onde seria o rosto a escorrer sangue prata. Com um grito, Laurel tentou levantar-se, erguendo um escudo protetor à sua volta quando viu a figura encapuzada se aproximar. Laurel tremia de medo, combatendo o sufoco que sentia. Sentia como se a sua alma quisesse sair do seu corpo, sugada por aquele ser. O colar brilhava incandescente num verde esmeralda mais vivo que já vira. A figura ficou ali, a pairar, como que a analisar a sua presa, sem de alguma forma tentar quebrar o escudo. A menina ergueu as mãos, pensando nos feitiços que conhecia e que raramente resultavam com ela. Precisava sair dali, avisar os outros, avisar Hagrid o monstro que andava a matar seres tão puros como os unicórnios. Precisava se afastar ou perderia a sua alma, sem ao menos saber porquê.
- Lumos.- sussurrou, apontando as mãos na direção do vulto, que em nenhum momento se afastou.
Uma Luz intensa iluminou a noite. O ser à sua frente gritou, cego. Cambaleou para trás, afastando-se de Laurel, que aproveitou o momento para correr, as mãos como duas estrelas no meio da escuridão da floresta. Os seus cabelos longos batiam-lhe nas costas como chicotes e o medo que lhe aquecia o sangue misturava-se com a magia, impedindo-a de pensar no que quer que fosse. Quando por fim conseguiu racionalizar, parou de correr, escondendo-se atrás de uma árvore, o corpo exausto e o coração demasiado acelerado. Olhou para trás, à procura daquela figura assustadora. Nada. Apenas árvores e escuridão. Pôs-se de pé, sentindo-se tonta e cansada. O sufoco continuava ali, impedindo-a de respirar como deve ser, levando-a quase à perda dos sentidos. Apoiou-se na árvore, respirando profundamente uma e outra vez.
- Eu preciso voltar.- sussurrou, a voz a vacilar pelo medo que sentia- Preciso avisá-los, tirá-los daqui.
Uma lágrima de medo escorreu pela sua bochecha, fazendo-a suspirar. Decidida, voltou a correr, empurrando o medo para longe, concentrando-se apenas no ar à sua volta. As suas emoções estavam ao rubro e Laurel usou isso para puxar o ar à sua volta para si, usando-o para se empurrar a si própria e correr mais depressa. Cada vez mais depressa, cada vez mais...
Algo foi contra si, violento e feroz. O corpo da menina voou, caindo com violência no chão de barriga para baixo. Laurel gritou de dor, fechando os olhos. A chorar, a menina tentou rebolar e sentar-se, sentindo ondas de dor envolver todo o seu corpo machucado.
- Peço desculpa criança. Não a vi, tão rápido que corrias. Estais bem?
Laurel abriu os olhos, encolhida no chão. A sua visão foi primeiro preenchida por cascos de cavalo e depois, devagarinho, por um tronco humano e por último o rosto de um homem. Com assombro, viu-se frente a frente com um centauro, uma das criaturas que mais gostava de ler sobre.
- Eu é que peço desculpa, senhor.- conseguiu responder, sentindo uma guinada de dor ao pousar o braço no chão para se levantar- Au!- exclamou, tombando de novo.
- Penso que tenha partido o braço, Miss Ravenclaw.
Os olhos azuis de Laurel arregalaram-se, fitando o centauro. Este observava-a de forma tranquila e respeitosa, o que a deixou mais confusa ainda.
- Como sabes o meu nome? E poderias não o dizer em voz alta?!- exclamou a menina, olhando em volta preocupada- Ninguém pode saber quem eu sou de verdade, Senhor Centauro, por isso agradecia que me tratasse apenas por Laurel.
- O meu nome é Ronan, Miss Ravenclaw. Sois a Herdeira da muito sábia e respeitável Rawena Ravenclaw. Porque haveria de se sentir envergonhada por isso?
Laurel abriu a boca para responder mas cascos aproximavam-se, fazendo-a calar-se. Outro centauro surgiu ao lado de Ronan, que baixou a cabeça, em sinal de respeito.
- O que fizeste, Ronan?!- brandiu o recém-chegado, com fúria- Não te disse para deixares Hagrid e as crianças em paz?!
- A culpa foi minha, senhor.- tratou de dizer Laurel, sentindo-se mal pela reprimenda ao outro centauro- Eu vinha muito depressa e não vi Ronan. Poderiam ajudar-me a levantar?- pediu, olhando humildemente para o centauro de olhar selvagem.
Ronan apressou-se a fazê-lo, sob o olhar sério do outro. Este aproximou-se da menina, que se sentiu observada.
- Laurel Ravenclaw.- proferiu, com respeito- O meu nome é Bane. Vieste com as outras crianças do Hagrid?
Laurel assentiu, confusa. Olhou para Ronan, que mantinha a cabeça baixa.
- Como sabem o meu nome e quem eu sou?- perguntou, fitando Bane diretamente.
O centauro olhou para cima. Sorriu.
- Marte está extraordinariamente brilhante.
Sons estranhos ecoaram até onde os três se encontravam, despertando Laurel para o seu objetivo e lembrando-a do assassino de unicórnios. Algo faiscou nos olhos de Bane, que rugiu, galopando na direção do som, logo seguido por Ronan, sem olhar para trás.
- Hey! Esperem!- gritou Laurel, vendo-os afastar.
Sem opção, arrastou-se na direção deles, agarrando o braço partido junto ao peito. Uma voz aguda chamava-a ali perto e Laurel reconheceu-a de imediato, gritando de volta.
- Draco! Onde estás?
Gritos soaram no lado oposto ao de onde vinha a voz de Draco. Laurel parou, sem saber o que fazer. E se alguém estivesse em perigo? E se ao afastar-se pusesse a vida de Draco em perigo?
A sensação de sufoco invadiu-a sem permissão, impedindo-a de respirar. Os joelhos de Laurel fraquejaram e o seu corpo caiu ao chão. O vulto encarava-a ali perto, ela sabia disso. E como depressa veio, depressa foi, o ar podendo voltar de novo aos pulmões da pequena.
- Laurel Ravenclaw.
A menina ergueu a cabeça. Três centauros observavam-na, alheios à sua exaustão. Bane e Ronan fitaram-se mutuamente e o primeiro dirigiu-se ao terceiro, que Laurel não conhecia.
- Não alteres o rumo das coisas, Firenze.
- As estrelas têm o teu destino traçado, Herdeira.- a voz profunda do centauro fê-la parar de tremer, algo que ela não se apercebera que fazia- Os teu segredos são demasiado perigosos para os guardares só para ti, criança.
- Firenze!- bradou Bane, furioso- Vamos embora!
- Por favor...- a menina sussurrou, cansada- Onde estão os meus amigos? Eles estão bem? Voldemort apanhou-os?
Os três centauros afastaram-se, temerosos.
- Reconheceste o Senhor das Trevas.- afirmou Firenze, sério.
A menina assentiu, com lágrimas nos olhos. O colar não mentia, o verde esmeralda da cor do veneno só podendo ter um dono.
- Protege-te, criança. A ti e a Harry Potter. Ele virá por vós. Primeiro precisa do corpo mas depois... Depois precisa da alma.
- LAUREL!- Draco gritou, perto de si.
Os três centauros viraram-lhe as costas, deixando a menina confusa e perdida. Cansada, fechou os olhos e começou a chorar, sem compreender nada do que o sábio centauro falara, deixando-se pela primeira vez levar pelas emoções que a consumiam, sem medo do que a sua magia pudesse fazer.
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