Capítulo 36
Draco Malfoy não ficou feliz por Laurel ir com eles.
Na verdade, assim que os seus olhos cinza pousaram na figura pequena e ruiva de Laurel ao lado da alta e muito elegante Narcisa Malfoy, as suas bochechas pálidas ficaram tão ruborizadas que a garota julgou que ele fosse explodir quando a sua boca se abriu.
- O que raio está ela aqui a fazer?
Laurel perguntava-se a mesma coisa desde que Remus a deixara na Diagon Alley horas antes. A expressão do seu tutor legal e pai adotivo era tão atormentada e preocupada que qualquer um que passasse na rua julgaria que Laurel iria ser raptada a qualquer instante; se pensasse bem, talvez fosse esse o medo de Remus. A sua mãe, Cora Ravenclaw, insistira que permanecesse escondida de tudo e de todos por medo que os seguidores de Voldemort a encontrassem e a entregassem ao seu mestre, estivesse ele onde estivesse. A ideia de estar perante um dos mais leais Devoradores da Morte era assustadora e contra tudo o que a mãe desejava para ela; ainda assim, fora Dumbledore que sugerira uma aproximação com uma das poucas Black vivas e a única com quem já contactara, anos antes. Assim, Laurel aceitara o convite de Narcisa para estar com os Malfoy durante a Copa Mundial de Quidditch, o evento mais falado no mundo bruxo.
O que ela não esperava era ser abordada por uma mulher alta, loira e tão fria como o marido mas cujos olhos se encheram de lágrimas assim que pousaram em Laurel. A postura de Narcisa derreteu rapidamente enquanto se debruçava para colocar o rosto à altura da garota, que por si só era pequena para a idade.
- És tão parecida com a tua mãe. - dissera ela, a sua expressão idêntica à que Remus usava quando falava em Cora Ravenclaw - É um prazer conhecer-te. Não te enganes; contínuo a achar que devia manter-te longe desta família e das suas... Responsabilidades. - por esta altura, Narcisa endireitara-se e voltara a colocar a sua postura elegante e altiva, segura de si - Para meu descontentamento, o mundo descobriu que és uma Black e esse continua a ser o meu nome de solteira...
- Como tal, ficaria mal não entrar em contacto comigo, desta vez de forma oficial. - interrompeu Laurel, erguendo as sobrancelhas - Estou ciente das implicações que certos nomes têm no mundo bruxo, Mrs. Malfoy. Não dou a mínima para a formalidade presente entre as famílias que se autointitulam "Puro-sangue" e, apesar de ter muito orgulho no meu sobrenome, traz-me demasiadas complicações para pensar nos benefícios que poderia ter. - a ruiva fez uma pausa, sorrindo com gentileza para a mulher que a fitava de boca entreaberta - Estou aqui para conhecê-la, Mrs. Malfoy. É a parente mais próxima que tenho e a senhora foi muito simpática na carta que dirigiu a mim.
- Tudo o que escrevi na carta ainda se mantém, Laurel. Peço-te que evites Lucious ao máximo e tenta não partilhar a tua... Perspetiva em relação ao nosso estatuto. - referiu Narcisa, dando-lhe o braço - Agora, espero que não te importes mas gostaria de te comprar algumas roupas antes de irmos para a Mansão dos Malfoy. Tens toda a liberdade para escolheres o que quiseres, querida.
E assim fora. Parada no hall de entrada da Mansão dos Malfoy, Laurel ajeitava delicadamente o vestido azul índigo que Narcisa lhe comprara, um dos seus preferidos. As mangas compridas e soltas protegiam-lhe os braços pálidos do frio e da chuva, o cetim ajustando-se perfeitamente ao corpo e a bainha cosida de forma a ser comprida sem pisar o vestido enquanto andava. Sem uma presença feminina por perto desde sempre, Laurel pouco ou nada ligava a roupas mas tinha de admitir, ficava linda em todos os vestidos que escolhera.
O peso do olhar mal humorado de Draco sobre si era enervante, fazendo-a ajeitar mais uma vez o tecido que a cobria. Narcisa ignorara por completo o chilique do filho e abandonara de imediato o aposento para conferir se as malas de todos estavam prontas. Laurel remexeu-se, desconfortável, enquanto Draco cruzava os braços, inexpressivo.
- Não devias estar aqui.
Laurel era uma pessoa paciente, até certo ponto. No entanto, aquele rapaz tirava-a do sério, um feito que mais ninguém conseguia realizar com tanta facilidade.
- Mas tu és bipolar ou quê? - questionou, bufando - Ou só um miúdo mimado?
Draco empertigou-se, chocado com a língua afiada da jovem à sua frente. A adolescência acentuava a personalidade forte e assertiva de Laurel, que ergueu mais o queixo ao ver o rapaz se aproximar como um touro.
- Era suposto ficares longe da minha família, não foi isso que a minha mãe te disse naquela carta?!
- Tu leste a carta?!
- Li muito tempo depois! Se eu soubesse quem tu eras...
- Ias ser diferente? A sério? Continuas a tratar-me da mesma maneira, nem sequer querias que eu viesse! Pensei que pudéssemos ser amigos mas sequer sabes o que isso significa?!
Draco abriu e fechou a boca, sem saber o que dizer. Laurel abanou a cabeça, sentindo-se humilhada pela forma como ele a recebera. Depois daquele dia na enfermaria, tinham trocado poucas palavras e nunca mencionavam o momento que tinham partilhado; contudo, Malfoy deixara de fazer pouco dela ou compactuar com as provocações de Pansy Parkinson e companhia. Por mais que puxassem por ele, Draco recusava-se a comentar ou gozar com a Ravenclaw, mesmo que nunca se aproximasse dela em público.
O rapaz prensou os lábios ao ver a mágoa nos olhos de Laurel. A verdade é que Draco não sabia como se comportar em relação a ela e por isso tinha tantas oscilações. Ela era uma traidora de sangue, amiga de pessoas como Hermione Granger, Harry Potter e Ron Weasley, o que o irritava. Ainda assim, havia alguma coisa nela que o atraía, talvez a sua bondade ou o facto dela ser gentil até com quem não merecia.
Laurel baralhava-o. E Draco deixava-a igualmente confusa.
- Estou aqui para conhecer a tua mãe, a pedido dela. Nada mais. - afirmou a Ravenclaw, os olhos safira fitando-o sem emoção - Lamento que a minha presença te incomode.
- Eu... - começou Draco, gaguejando.
- Sê bem-vinda à minha casa, Laurel Ravenclaw.
Lucious Malfoy entrou em cena como um lorde. As vestes negras e ricas deixavam o seu cabelo loiro quase branco ainda mais evidente e os seus olhos frios pousavam em Laurel como um predador observa a presa. A garota endireitou-se, evitando demonstrar a surpresa que a assolou ao ver Draco aproximar-se dela, ocupando ligeiramente o espaço que existia entre ela e Lucious.
- É um prazer vê-lo novamente, Mr. Malfoy. - disse Laurel, estendendo-lhe a mão, que tremia.
O homem sorriu, apertando a mão estendida. Naquele momento, Laurel soube que nunca mostraria o quão intimidada ela ficava quando Lucious estava presente; na verdade, nunca iria baixar a cabeça a um Malfoy.
Tal como o predador e a presa: quanto mais medo a presa mostra, mais feroz o predador se torna.
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