Capítulo 27
- Porque é que a tua mãe te quer matar afinal? - perguntou Laurel, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo.
A aula de Poções estava a correr pior do que a ruiva sequer imaginara ser possível. Snape provocava-a o tempo todo, passeando junto do seu caldeirão e tentando encontrar defeitos na sua poção, os quais não existiam. Pansy Parkinson e Daphne Greengrass estavam na mesa ao lado da de Laurel e Meredith, lançando olhares desconfiados à morena, que tentava fingir a repugnância que sentia por estar com uma Sangue de Lama e aborto como Laurel, uma fantasia que Pansy criara por não encontrar qualquer registo do sobrenome Raven ou sequer saber a verdadeira linhagem da garota. Por fim, para piorar, era o primeiro dia de Malfoy depois do incidente e a voz insuportável do garoto fazia-se ouvir de cinco em cinco minutos, normalmente para importunar Harry e Ron, que se viram obrigados por Snape a ajudar Draco com a sua poção devido ao braço engessado.
- Podes não dizer isso em voz alta? - bufou Meredith, mexendo cuidadosamente o caldeirão - Já é difícil que chegue fingir que te odeio para me safar de ser alvo de rumores, mais difícil seria se soubessem que a minha mãe está a caminho de Hogwarts para assassinar a filha, não achas?
Laurel encolheu os ombros.
- Tu é que te quiseste fazer amiguinha da Pansy. Podias muito bem ignorar os boatos.
- Os rumores sobre ti não te afetam? - perguntou a Lovelace, curiosa.
Laurel olhou para Meredith. A rapariga exibia sempre uma postura altiva e confiante, usando sempre os melhores sapatos com um pequeno tacão para ficar mais alta e os cabelos enormes impecavelmente penteados. Era apenas uma máscara, a forma que Meredith encontrara para esconder a insegurança de uma garota que aparecera nas notícias por ter nascido em Azkaban, a prisão mais segura e tenebrosa do mundo bruxo.
- O único motivo porque me afetam é porque são mentira. Claramente não sou um aborto. - a Ravenclaw fez um gesto suave com a mão, o lume intensificando-se de imediato, sem sequer tocar na sua varinha - E ser neta de Dumbledore não me traz qualquer privilégio. Para além disso... - baixou a voz, olhando em volta - Sou uma Ravenclaw. É realmente necessário dizer que sou do mais puro sangue que há? E o que isso interessa? Os filhos de Muggles dão bruxos tão bons como os puros sangue ou os mestiços.
Os olhos de Laurel pousaram em Hermione, que lhe sorriu timidamente. A Granger era filha de Muggles e ainda assim conseguia ser tão ou mais inteligente quanto Laurel, sem precisar de um sobrenome importante para isso.
- Eu concordo contigo mas não sabia o que mais usar para convencer Pansy que te acho desprezível. Só o fiz para ela me deixar em paz por uns tempos, pelo menos até a minha mãe ser apanhada. - afirmou Meredith, prensando os lábios - Sabes perfeitamente que és a pessoa em quem mais confio nesta escola.
- Não sei como te posso ajudar, Mer. - confessou Laurel, olhando para a receita mais uma vez para conferir se estavam a ir no caminho certo - Porque é que a tua mãe te quer matar?
- Pouco depois de eu fazer seis anos, houve um novo julgamento para o caso da minha mãe, anos depois dela ter sido presa. Um casal tinha sido encontrado morto recentemente e tudo apontava para ela. Foi o último crime que ela cometeu antes de ser presa. - Meredith estremeceu, parando de mexer a poção - Quando o julgamento terminou, levaram-na para o carro onde a tinham trazido e deixaram-na sozinha com o motorista por um curto período de tempo, achando que, por não ter a sua varinha e estar acorrentada, ela não seria um perigo para ninguém.
Meredith fez uma pausa, pensativa.
- Eu e o meu pai tínhamos ido ao julgamento, por sermos da família. Quando ela foi levada, eu esgueirei-me para vê-la uma última vez antes dela ser levada para Azkaban para sempre. A pena era prisão perpétua e era a minha última chance de a ver, por mais que a odiasse por todos os crimes que ela cometeu eu ainda a amava. Ainda amo.
Laurel engoliu em seco, entendendo exatamente o sentimento que a menina sentia, os pensamentos presos à única fotografia que tinha do pai, um homem que fora pai muito novo por saber o que o destino lhe reservava.
- Na linhagem da minha mãe, existe sangue Veela. Era uma das suas muitas armas. De alguma forma, mesmo com um aspeto miserável de quem não via a luz do Sol há anos, ela conseguiu seduzir o motorista a ponto deste a libertar. Quando notou que eu estava ali, ela veio ter comigo, prometendo tornar-se numa pessoa melhor se eu fugisse com ela naquele instante. Eu disse-lhe que ia mas que tinha de me despedir do meu pai, mesmo que indiretamente. Tudo o que ela tinha de fazer era esperar por mim uns minutos e eu iria com ela. Seríamos uma família. - Meredith abanou a cabeça, deixando as lágrimas escorrerem - Eu tinha apenas seis anos, Laurel. Não sei como consegui, não sei de onde veio aquela coragem toda mas no segundo em que voltei para dentro do Ministério eu gritei para quem quer que me ouvisse que a minha mãe tinha fugido. E quando os Aurors vieram cá para fora, ela estava lá, à minha espera. E quando percebeu o que eu tinha feito...
- Sentiu-se traída. - concluiu Laurel, em choque - Tu entregaste a tua mãe. Como, Mer?
- Não sei. Até hoje não sei o que me deu. - confessou Meredith, sem a olhar - Eu sabia o que a minha mãe era: uma assassina, uma Devoradora da Morte. Cresci com essa sombra, não podia simplesmente ignorar esse facto apenas porque a amava. A minha mãe não é boa pessoa e tinha de pagar pelo que fez. Até com seis anos eu sabia disso.
As duas calaram-se, fitando Snape, que se aproximava delas com uma expressã indecifrável. Os olhos negros pousaram na poção acabada das duas meninas, que brilhava de tão perfeita que estava. O professor resmungou baixinho, mexendo com a colher o caldeirão, sem conseguir disfarçar o desapontamento.
- 50 pontos para os Slytherin. - anunciou, olhando com irritação para Laurel, que mais uma vez lhe mostrara o quanto ele precisava dela se quisesse ganhar a Taça.
Quando passou por Draco, que a olhava feio, não pode deixar de sorrir.
- Ser um Slytherin é vencer todos os desafios, meu caro. - disse-lhe, vendo com satisfação Draco afastar-se dela - Não é ter medo de um bichinho.
Com uma piscadela, a ruiva saiu da sala, seguida com o olhar por Meredith, que não pode deixar de rir com o descaramento da amiga.
**
O gabinete de Dumbledore era muito acolhedor, pensou Ashley enquanto aguardava pelo Diretor. As paredes estavam decoradas com quadros de antigos Diretores, onde a maioria acenava para ela e lhe sorria. Uma fênix repousava delicadamente nas costas da cadeira onde Dumbledore se sentou, trazendo consigo o chá que lhe oferecera mal chegara. Embora não fossem relacionados pelo sangue, era impressionante como Laurel herdara a gentileza do avô adotivo, uma caraterística presente em todas as ações e sorrisos. Mesmo quando queria provocar alguém ou responder torto, Laurel fazia-o corretamente, tal como Dumbledore fazia quando estava a ralhar com algum aluno.
- Obrigada, senhor. - agradeceu, educada - Peço desculpa incomodá-lo mas... Não sabia mais a quem recorrer...
- Não tem problema, Miss Diggory. O que a preocupa?
Ashley baixou os olhos, incerta. Ela não sabia se estava a tomar a atitude certa mas ainda assim, ela tinha que saber a verdade.
- Eu sei sobre Laurel. - disse, olhando para o Diretor.
Ley esperou que ele ficasse zangado por Laurel lhe ter contado sobre ser uma Ravenclaw. Contudo, o mais velho limitou-se a assentir, incentivando-a a continuar.
- Eu notei que... O medalhão dela...
- Eu já pedi para a Laurel não andar com o medalhão quando está em Hogwarts. É um objeto mágico e, como tal, pode ser perigoso e enganador. Infelizmente, a mãe de Laurel, nas mensagens que deixou à filha, insiste que ela o use sempre e ambos sabemos como Laurel consegue ser muito teimosa no que toca a respeitar os pedidos da mãe.
A morena assentiu, ciente de que Dumbledore tinha razão. Ainda assim, aquilo não lhe saía da cabeça e as várias cartas que enviara ao Ministério sem ninguém saber não a tinham ajudado em nada.
- Senhor, quando estou com Laurel, o medalhão brilha a dourado, como se de âmbar se tratasse. - contou Ashley, notando a expressão de surpresa que inundou o rosto de Dumbledore - Eu sei como é que funciona; o medalhão brilha a azul safira quando a Laurel assume que é uma Ravenclaw, verde esmeralda quando está perto de Voldemort e escarlate cor de rubi quando está com Harry. Voldemort é o Herdeiro de Slytherin e Harry, segundo consta, é o Herdeiro de Grinffindor, ainda que nenhum dos dois tenha mantido o sobrenome dos fundadores. Eu queria saber... Eu preciso de saber...
Ashley fez uma pausa, vendo Dumbledore recostar-se na cadeira, mudo.
- A Laurel não notou. - apressou-se a dizer, a voz a falhar - Pode ser apenas porque sou uma Hufflepuff aqui em Hogwarts mas...
- Queres saber quem são os teus pais biológicos, estou certo? - perguntou Dumbledore, com suavidade - O facto do medalhão brilhar perto de ti só veio accionar o gatilho que tens mantido trancado durante estes anos todos, Ashley.
A menina desabou a chorar, pensando em Cedric e no seu pai. Os Diggory eram a sua família e Cedric sempre fora o seu melhor amigo, protegendo-a de tudo e de todos e tratando-a como se fossem irmãos de sangue. Com ele, nunca houvera o problema da idade; apesar de ser três anos mais velho que Ley, nunca se recusara a brincar com ela, muito menos deixou de lhe falar quando entraram para Hogwarts.
- Eu... Eu tentei descobrir sozinha, mandei cartas ao Ministério mas... Sem a autorização do meu pai, Amos, não me dão acesso a essa informação. Tentei o St Mungus e responderam o mesmo... - Ley limpou as lágrimas, embaraçada - Não queria que a minha família descobrisse que ando à procura dos meus pais biológicos mas sozinha também não consigo descobrir nada...
- Ashley. - chamou Dumbledore - Não posso ter acesso a essa informação, pois não sou teu familiar. Posso, contudo, falar com Amos e explicar a situação. Parte dela, pelo menos. - Dumbledore piscou olho, referindo-se claramente ao medalhão de Laurel - Seja como for, a tua família ama-te e não vão deixar de te amar por quereres saber qual o sangue que corre nas tuas veias.
- Cedric vai pensar que o quero deixar... - balbuciou, chorosa.
- Tenho a certeza que não, Ashley. O teu irmão ama-te.
O mais velho bebericou o seu chá, levando Ley a fazer o mesmo. Os canudos da menina caíam-lhe para a cara, colando-se ao rosto por causa das lágrimas que ainda escorriam face abaixo. Cuidadosamente, limpou a cara, olhando para o Diretor quando terminou.
- Mandarei uma coruja a Amos e pedirei para que ele venha a Hogwarts. Aí poderemos os dois conversar com ele e eu ajudarei no que puder. Pode ser? - perguntou Albus.
- Sim. Muito obrigada, senhor. - Ley levantou-se, pousando a chávena vazia no respetivo pires - E obrigada pelo chá, estava maravilhoso.
A Diggory sentia-se melhor, o chá quente tinha-a revigorado. Tinha que falar com Cedric antes de falar com Amos. O irmão merecia saber pela própria o que ela queria e tinha que saber que Ashley nunca o deixaria, mesmo que encontrasse os seus pais biológicos. Acenou distraidamente para o Diretor, andando determinada para as escadas do escritório. A voz de Dumbledore fê-la parar, interrompendo o seu caminho.
- Miss Diggory, a senhora sabe onde a Laurel se encontra neste momento? . questionou o Diretor, os olhos perscrutando-lhe o rosto.
- Claro. Ela está no dormitório. - respondeu Ashley, automaticamente.
Dumbledore fitou-a, inexpressivo.
- Como é que sabe? Não teve aulas com ela.
Ashley pestanejou.
- Não faço ideia... - sussurrou, assustada.
A rapariga virou as costas ao Diretor, correndo dali para fora como se a sua vida dependesse disso. Dumbledore deixou-se afundar na cadeira, os pensamentos longe dali, as dúvidas presentes na sua mente brilhante como facas.
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