Capítulo 124
Ela suspirava.
Desta vez, colocara o vestido esmeralda de princesa que se encontrava no fundo do armário. A cor era exatamente a mesma de Slytherin, com fios de prata a brilharem por entre as camadas de tecido verde-esmeralda que lhe caía em ondas pelo corpo abaixo. Ao contrário do vestido negro que vestira alguns dias antes, este arrojava pelo chão, deixando-a majestosa e extremamente agradecida a Meredith por tê-la ensinado a usar saltos altos o suficiente para não pisar a cauda daquele vestido. Os cabelos cor de fogo permaneciam soltos, os olhos safira opacos e sem vida fitando o seu próprio reflexo, os seus lábios finos e vermelhos suspirando de alívio e terror.
Iria finalmente sair daquele quarto.
Os motivos porque isso iria acontecer não eram os ideais, visto ter de alegadamente se unir a Voldemort para que isso acontecesse, mas a esperança de sentir a brisa lá fora e o calor do Sol a beijar-lhe a pele como há muito tempo não sentia dava-lhe forças para continuar.
Quando a porta se abriu, Laurel sentiu a pele arrepiar-se, a presença do Lord das Trevas gélida como sempre.
Com um sorriso distorcido no seu rosto de boneca, a ruiva segurou a barra do seu vestido e inclinou-se ligeiramente, numa vénia que nada mais era do que uma mistura de deboche e seriedade.
- Milord.
Os olhos cor de sangue de Voldemort analisaram-na, o manto negro arrastando-se pelo chão. As mãos ossudas puxaram-lhe o braço, o rosto de serpente demasiado perto dela, as narinas salientes inspirando-lhe o odor feminino a jasmim.
- Pronta para te renderes a mim?
Laurel sorriu, fria, cruel, debochada. Os seus olhos safira brilharam, o azul substituído rapidamente pelo mesmo vermelho-sangue que a fitava a ela. Inclinou a cabeça, fitando Voldemort como se de uma presa se tratasse.
- Eu não me rendo, Milord. Achas que te entregava o teu poder de volta assim sem mais nem menos? - a ruiva abanou a cabeça, soltando uma risada - Eu quero fazer parte. Aliás, eu quero fazer a única coisa que tu não podes em troca de me deixares a mim e aos meus em paz.
O homem que de humano nada tinha estreitou os olhos, intrigado.
- Que é?
- Não é óbvio? Pensei que fosses mais inteligente...
Voldemort rosnou, apertando-lhe o braço. Junto dos seus pés, Nagini sibilou, o seu corpo roçando-se no vestido de Laurel, num claro sinal de aviso. Quando esta sequer pestanejou, Voldemort soltou-a, a raiva faiscando na sua expressão.
- Não me testes, Ravenclaw.
- Não tenho medo de ti, Voldemort. Colabora comigo e saímos os dois a ganhar. O Herdeiro de Slytherin e a Herdeira de Ravenclaw, juntos... Não era isso que querias? - Laurel ergueu o queixo, desafiando-o - Tu não podes matar o Harry, nem mesmo com a Varinha de Sabugueiro.
- Mentirosa!
Com brusquidão, o Senhor das Trevas soltou-a, fitando-a. Num movimento subtil, alcançou a varinha que jazia escondida no interior do seu manto, a varinha que Laurel tantas vezes vira nas mãos de Dumbledore, a varinha que Voldemort roubara do seu túmulo.
A Varinha que nunca lhe obedeceria.
- Se essa é a tua tentativa idiota de me impedir de saquear o túmulo do teu querido avô, chegaste tarde. - o feiticeiro ergueu o braço, cravando a ponta da sua nova varinha no peito de Laurel, que mordeu o lábio inferior para impedir-se a si mesma de gemer de dor - A Varinha de Sabugueiro é minha, Laurel Ravenclaw, e ela dar-me-á o poder para matar o Potter. Só preciso da minha magia de volta para me tornar completo...
- Não vais conseguir matar o Harry. Nem mesmo com essa varinha.
As palavras repousaram entre eles, cravando-se em Voldemort como facas. Laurel entrelaçou as mãos à frente do corpo, fitando serenamente o Lord à medida que ele entendia que ela falava a sério.
- Porquê? - perguntou Voldemort, o medo e a incerteza bem escondidas na voz gélida e vazia.
- As vossas vidas estão ligadas. Usaste uma varinha diferente para o atacar da última vez que se encontraram e não funcionou...
- Quem te contou isso? - questionou o Lord, pressionando ainda mais a varinha contra a pele de Laurel, que rangeu os dentes.
- Ninguém.
- Não estavas lá, não podes ter sabido que pedi a varinha a Lucious...
- Eu sou tu. Sou a parte de ti que te aprisiona, a magia que és incapaz de controlar na totalidade - os olhos de Laurel faiscaram, o vermelho escurecendo com a sua fúria - Eu sei o que tu sabes porque eu sou o que tu és.
Voldemort afastou-se, dando-lhe as costas. Um fio de sangue escorria pelo peito de Laurel, exatamente onde a Varinha de Sabugueiro lhe perfurara a pele com a força que o feiticeiro que a empunhava fizera. A rapariga rodeou-o, o vestido esmeralda iluminando-lhe o rosto, tornando-a tão letal como ele.
- Nessa noite, as varinhas duelaram, tal como fizeram na noite em que retornaste, no cemitério. Marcaste Harry como igual quando tentaste matá-lo e um não poderá viver enquanto o outro sobreviver. É uma profecia; achas que seria assim tão fácil de resolver? Arranjas uma varinha lendária e já está?
O coração de Laurel acelerou ao ver a dúvida no semblante de Voldemort. Ela sabia porque razão Voldemort nunca poderia matar Harry; ela sabia sobre a Profecia dos Herdeiros, a qual Voldemort não possuía qualquer conhecimento. Ela estava em vantagem naquele jogo.
Poderia a Rainha Branca vir a fazer xeque-mate ao Rei Negro?
- O que tens em mente? - questionou Voldemort, num sibilar de morte.
Laurel curvou ligeiramente a cabeça, numa vénia.
- Eu mato Harry por ti, Milord. Juntar-me-ei a ti nesta Guerra. Serei a tua arma, como sempre desejaste.
- E em troca?
A Ravenclaw sorriu, sentindo-se orgulhosa de si própria. Voldemort estava tão obcecado em matar Harry e em tê-la ao seu lado que sequer se dava conta que ele não lhe tinha que dar nada em troca, ele poderia simplesmente ameaçá-la ou ameaçar os seus que ela cederia. Ela tornar-se-ia uma Devoradora da Morte se isso significasse proteger a sua família e os seus amigos. Ele poderia tê-lo feito muito tempo antes.
Em vez disso, quisera quebrá-la, deixando-a sozinha para enlouquecer. Semeara nela a raiva e o ódio, esperando que ela desistisse, esperando que ela cedesse, esperando por aquele exato momento em que ela se juntaria a ele e juntos matariam o Herdeiro de Grynffindor.
Slytherin e Ravenclaw unidos na Magia Negra, exatamente como mandava a maldição que começara tudo aquilo.
Voldemort queria o seu poder de volta, ansiava por ele, desejava-o. Mas a parte destorcida da sua alma queria a Ravenclaw consigo, por muito aprisionado e limitado que se sentisse.
- Em troca, a minha família sai ilesa. O único que morre é Harry.
- Pelas tuas mãos.
Laurel assentiu e o rosto à sua frente iluminou-se num sorriso cruel, de um louco que teria finalmente tudo o que desejava.
- Estende o braço.
Esperara por aquilo, claro. Voldemort não seria Voldemort se não a humilhasse, se não a forçasse a ser uma dos seus seguidores. Com relutância, Laurel estendeu o braço esquerdo, arregaçando a manga do seu vestido e expondo a pele cor de marfim imaculada ao Herdeiro de Slytherin.
Quando a ponta da Varinha de Sabugueiro se aproximou do seu corpo, Laurel desviou o olhar, incapaz de ver a Marca Negra desenhar-se dolorosamente na sua pele, traçando o seu destino para sempre.
**
A Mansão dos Malfoy estava mergulhada no silêncio mais sinistro que Laurel já presenciara. Recordava-se da única vez em que pisara aquele chão de mármore, quando Narcissa a convidara para ir à Copa Mundial de Quidditch com a sua família, um convite que Laurel fora persuadida por Remus a aceitar. O seu pai adotivo achara que ter uma relação com aquela parte da sua família seria positivo para ela, para além de estar mais protegida dos seguidores de Voldemort. Aliar-se ao inimigo era por vezes vantajoso, uma lição que Laurel estava agora a aplicar.
Os seus saltos batiam com violência no chão à medida que caminhava, o som cortando o silêncio de forma brusca. O seu antebraço esquerdo formigava, a atrocidade a que fora exposta sendo apenas mais uma para juntar à lista das que já sofrera. Não havia tempo para se focar nisso. Passara demasiado tempo sentindo pena de si própria, pena da sua maternidade destruída, pena por toda a dor com que tivera de lidar.
Estava na altura de agir.
Parou em frente às portas que davam para a sala de jantar, onde sabia que Voldemort a esperava, junto dos seus servos. Os nervos de Laurel inflamaram ao recordar que Draco poderia lá estar, o seu noivo, que nem olhar podia. Meredith também lá estaria, a amiga que a traíra, a mulher que a entregara de mão beijada a Voldemort. Por mais que compreendesse os seus motivos, era impossível não se sentir ligeiramente enraivecida por a Lovelace não ter procurado outra opção que não envolvesse ficar prisioneira durante meses.
- ... É uma Devoradora da Morte em treinamento mas tenho a certeza que será uma vantagem nos nossos planos. - ouviu Voldemort dizer dentro da sala - Querida, junta-te a nós.
Com o coração acelerado, ajeitou o vestido, respirou fundo e abriu a portas de par em par, a expressão vazia e elegante fitando única e exclusivamente os olhos cor de sangue do Senhor das Trevas.
O impacto da sua chegada era maior do que esperara. Tinha a certeza que os Devoradores da Morte tinham sido avisados de que ela se juntaria a eles e que aquilo não passava de uma fachada, uma forma que Voldemort tinha de a exibir como se de um troféu se tratasse. Ele ganhara, queria ele mostrar. Ele quebrara a sua Herdeira de Ravenclaw, a miúda que continha uma boa parte da Magia Negra que adquirira ao longo dos anos.
Pobre Voldemort.
Como podia ele pensar isso?
De queixo erguido, Laurel adentrou a assoalhada, a cauda do vestido arrastando pelo chão, completando o cenário de princesa que criara para si. Em silêncio, aproximou-se de Voldemort, os olhos azuis-safira fitando-o com a mesma frieza e desprezo de sempre.
- Chamaste? - questionou, com ousadia.
Voldemort prensou os lábios, visivelmente desagradado. A Ravenclaw pestanejou, sem quebrar o contacto visual, desafiando-o até ao fim. Ela seria sim sua aliada e ele conseguira quebrá-la, retirando-lhe toda a esperança, toda a sua Luz, toda a sua bondade.
Mas ela continuava a ser a Herdeira de Rowena Ravenclaw e jamais se rebaixaria para qualquer homem.
- Preparada para a tua missão, Laurel?
Com desprezo, limitou-se a assentir, desviando os olhos para enfrentar os Devoradores da Morte. Sentados em redor de uma enorme mesa de vidro, podia sentir o medo que tinham dela, apenas suplantado pelo medo que tinham dele. Apenas as Lovelace e os Malfoy a fitavam de forma diferente. Laurel forçou-se a não olhar para Draco, a dor de o ver ali demasiada para suportar. Em vez disso, focou-se em Meredith, cujos olhos negros como a noite pareciam prestes a rebentar em lágrimas, as quais não podiam cair.
Voldemort continuou a falar, dirigindo-se aos seus súbditos. Como a boa Rainha Negra que seria, Laurel permaneceu como uma estátua bonita ao seu lado, as mãos entrelaçadas atrás das costas com seriedade. No seu peito, o medalhão de Ravenclaw brilhava no verde-esmeralda venenoso que brilhava sempre que o Senhor das Trevas se encontrava por perto. A jóia jazia gélida contra o seu peito, a única fagulha do seu verdadeiro ser presente no suave brilho azul-safira bem no centro do coração.
Meredith fitava-a, tão quebrada como ela se sentia. Parecia sentir-se culpada, a sua expressão familiar tão fácil de ler como sempre fora. Ninguém era capaz de ler Meredith como Laurel, à exceção de Ley. A Hufflepuff derrubava as barreiras que a Lovelace erguera à sua volta com a suavidade, o toque do seu amor como a simples brisa quente que soprava no Verão.
As barreiras na mente de Laurel baixaram ligeiramente, buscando a de Meredith.
"Estás comigo?"
Não importava o que tinha acontecido entre elas. Não importava quão traída Laurel se sentira quando percebera que Meredith a iria entregar. A única coisa que importava era acabar de vez com Voldemort e a Lovelace seria sempre sua amiga e uma das suas mais poderosas aliadas.
E Laurel precisava de aliados mais do que nunca.
Os olhos negros buscaram os dela. A expressão de ambas permanecia em branco, sem emoção, enquanto os seus corações aceleravam, batendo no sentido da Luz e do Bem.
"Sempre"
A resposta era a que esperava da Slytherin que a seguiria até ao fim do mundo se lhe pedisse, a Slytherin que se sacrificara por amor, por lealdade, por amizade, a Slytherin que a ajudara a provar que a Casa das Cobras era muito mais do que Salazar Slytherin fizera os seus alunos acreditar.
Laurel sorriu, sentindo-se mais poderosa do que nunca.
**
Um capítulo mais tranquilo, meio que uma passagem para percebermos como é que a Laurel se uniu a Voldemort... O próximo será um pouco mais emocionante, garanto ;)
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