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Capítulo 116

A Marca Negra no braço queimava-a.

Quando o quadro de Ariana Dumbledore desvendou a figura sorridente de Neville Longbottom no meio de um túnel secreto, Meredith deixara-se ficar para trás, sem sentir o raio de entusiasmo que invadiu os restantes. Para Harry, Ron e Hermione, ver um rosto familiar era um sopro de ar fresco e para Ashley, um motivo para sorrir. Ela era uma Hufflepuff, ser amigável e social estava-lhe nos ossos. Neville fora o seu companheiro em Herbologia, os dois entendiam-se muito bem e Ley não podia deixar de se sentir feliz de o ver.

Meredith, por outro lado, nada sentia.

Não fizera muitos amigos em Hogwarts. A maioria não ousava aproximar-se dela, a criança nascida em Azkaban, quanto mais quererem ser amigos. Os Slytherin desprezavam-na na maior parte do tempo, visto ser amiga de Laurel, uma traidora de sangue assumida. Os que não tinham problemas com isso, sofriam do mesmo dos restantes: medo.

Medo da criança nascida em Azkaban. Medo da filha de Amanda Lovelace. Medo dela.

- Neville estava a contar-nos como estão as coisas em Hogwarts. - disse Ley, aproximando-se dela; notara a quietude da namorada e não podia deixar de se preocupar, por mais urgente que a situação fosse - A escola já não tem nada a ver com o que era.

- Eu sei. - respondeu Meredith - Ouvi histórias sobre as torturas e castigos. Ley, o que vocês vieram fazer a Hogwarts com tanta urgência? Quer dizer, eu sei que provavelmente vai haver uma batalha, já que ele está a vir...

- Vamos à procura do diadema de Ravenclaw.

A Lovelace ergueu uma sobrancelha.

- Estão a fazer alguma coleção de objetos que pertenceram aos fundadores? Primeiro a taça, agora o diadema...

- Nós não mas o Quem-Nós-Sabemos fez. Sabes o que são Horcruxes?

- Sim. A Laurel andava a ler sobre eles no ano passado antes...

Não continuou a frase e Ashley limitou-se a assentir, explicando a missão deles em Hogwarts. Era muito bom voltar a conversar com Ley, ouvir a sua voz entusiasmada e ver os seus olhos âmbar mais vivos que nunca. O facto de terem a taça de Hufflepuff com eles dera-lhe alento, a força da sua antepassada preenchendo-a. Enquanto caminhavam para Hogwarts, Meredith inteirou-se da missão de Harry, sentindo-se feliz com a confiança que Ashley depositava nela. Houvera um breve momento em que a Hufflepuff duvidara da lealdade de Meredith; não a culpava, ela era uma excelente atriz e não poupara a esforços para manter o seu papel.

Agora, Meredith estava ali, provando a tudo e a todos que o seu lugar era ao lado dela e nem o Medo a faria escolher o contrário.

**

Quando o túnel despontou numa colorida e entusiástica Sala das Necessidades recheada de fãs de Harry Potter, Meredith fez uma careta, enjoada.

- Não dá para baixar o volume? - perguntou, com escárnio.

Vários rostos familiares fitavam Harry com um misto de alívio e esperança. Neville era claramente o líder do grupo de revoltados contra a nova doutrina de Hogwarts, mas era apenas um líder temporário, alguém que preparara o terreno para que o verdadeiro líder chegasse.

Um olhar de pânico trespassou Harry, que fitou Meredith. Esta ergueu a sobrancelha, surpreendida por ele sequer se dirigir a ela.

- Ele encontrou mais um. - disse, referindo-se aos Horcruxes - Se ele vier aqui a seguir e encontrar o diadema antes de nós...

- Não vai. - respondeu Meredith, convicta - Como todos os iludidos neste mundo, o Quem-Nós-Sabemos acredita fielmente que Hogwarts é o local mais seguro do mundo, ainda mais do que Gringotts. Temos tempo mas precisamos acabar com esta fantochada.

- Precisamos ir andando. - afirmou Ashley.

Ron e Hermione concordaram, entendendo. Era difícil não querer ficar junto dos seus amigos; não viam caras familiares à meses e matar as saudades deles e das suas vidas antigas era tentador.

Mas eles tinham uma missão e Harry, como todo o bom Grynffindor, iria cumpri-la até ao fim.

- O que vamos então fazer, Harry? - perguntou Seamus Finnigan, um Grynffindor com quem Meredith nunca trocara uma palavra na vida - Qual é o plano?

- Eles acham que Harry veio aqui para os ajudar. - sussurrou Ley perto da Lovelace, com um aperto no peito - Os Carrow... Aqueles Devoradores da Morte fizeram-lhes a vida num inferno e acham que o Harry está aqui por isso.

- Quando acabarmos com a raça do Quem-Nós-Sabemos, acabamos com os Carrow e esta nova Hogwarts.

Ashley assentiu, as duas observando Harry debater-se com a multidão, que murchara à medida que entenderam que ele não estava ali por eles. Não que ele não quisesse; apenas tinha de pensar no Bem Maior, no grande plano.

- Mas porquê que não podemos ajudar? - questionou Neville, confuso.

As mãos de Harry tremiam, o sobrolho ligeiramente franzido. Havia algo errado, Meredith conseguia ver isso perfeitamente.

- O Dumbledore deixou-me uma tarefa... A mim, Ron, Hermione e Ashley... E não podemos revelá-la... Quero dizer, ele queria que fossemos nós a fazê-lo, sozinhos.

- Nós somos o seu Exército. - frisou Neville - O Exército de Dumbledore. Éramos todos membros, temo-lo mantido ativo enquanto vocês andavam a agir por conta própria...

A Marca Negra queimava-a.

Meredith dobrou-se sobre si própria, mordendo a língua para não gritar de dor. A fúria de Voldemort espalhara-se pelos seus discípulos à medida que ele os invocava. Marchavam em direção a Hogwarts, o epicentro da Guerra que estava por chegar.

- Mer, estás bem? - perguntou Ley, preocupada.

- Preciso de ar. - informou, sentindo-se sufocada.

Atrás deles, o túnel secreto voltou a abrir-se, deixando Luna Lovegood e Dean Thomas adentrar a Sala, para espanto e pânico de Harry. Este parecia prestes a explodir e Neville também não aparentava estar muito melhor, o rosto furioso por Harrt não os deixar ajudar na sua missão secreta.

Meredith começava a hiperventilar.

Detestava multidões e o ardor no seu braço começava a elouquecê-la. A sua visão tornou-se turva no instante em que mais pessoas saíam do maldito túnel. Uma delas era Ginny Weasley, que se aproximou dela e de Ashley, de sobrolho franzido.

- Ela está bem? - ouviu a ruiva questionar, ao que Ley simplesmente abanou a cabeça, preocupada.

As vozes dos gémeos Weasley e de Lee Jordan cortaram o ar. A multidão aumentara e Harry estava a começar a entrar em pânico, vendo-se encurralado. Os alunos de Hugwarts queriam a sua escola de volta e o Potter era o seu líder. Eles queriam ajudar, lutar ao lado do rapaz que sempre os inspirara.

Quando o rapaz esfregou a testa, a única Devoradora da Morte bufou, assumindo as rédeas da situação.

- CALEM-SE!

Ela tremia. Não propriamente de fúria, mas de dor. Eles vinham aí. Não havia tempo para aquela palhaçada toda.

- Vocês querem ajudar? Parem de se vitimizar. - a voz fria de Meredith ecoou pelo silêncio tenso que os assolara - Querem a vossa escola de volta? Acham que passaram por muita coisa só porque dois atrasados mentais vos andaram a torturar e a amaldiçoar? Por Merlim, cresçam! - Meredith ergueu o braço, sentindo na pele o medo que a Marca Negra no seu braço invocava - Vocês não fazem ideia do que é sofrer! Não fazem ideia do que está em jogo mas eu sei. Ele vem aí. Querem lutar? Podem ter a certeza que o vão fazer, mesmo que não seja já. Querem a vossa liberdade de volta? Vão tê-la se confiarem naquele rapaz que tanto admiram. - apontou para Harry, que a observava, em choque - Parem de impingir a vossa ajuda e de se acharem um máximo porque sobreviveram a um ano letivo com dois Devoradores da Morte. - fez uma pausa, observando a multidão - Eu sou uma Devoradora da Morte e vos garanto: vocês ainda não passaram por nada.

Física e emocionalmente exausta, Meredith deixou-se cair na cadeira mais próxima. A mão de Ashley apertou-lhe o ombro, um gesto de conforto e gratidão. A Lovelace esboçou um sorriso, notando que as dores tinham diminuído. Talvez nem fossem reais; talvez fosse apenas o seu psicológico a sucumbir ao medo. Fosse como fosse, o seu ato impulsivo distraíra-a o suficiente para que as dores suavizassem, a manga da camisa escondendo a maldita Marca.

Por instantes, ninguém falou. Por fim, Neville suspirou, encolhendo os ombros.

- Faz o que tiveres de fazer, Harry. Nós confiamos em ti.

Harry assentiu. Antes que se pudesse mover, Ashley avançou, a voz firme deixando claro que não queria saber da opinião de ninguém, nem mesmo a de Harry:

- Vocês podem ajudar, sim. Precisamos achar o diadema de Rowena Ravenclaw, alguém sabe onde o encontrar?

- Ashley! - repreendeu Harry.

- Harry, nós não precisamos fazer tudo sozinhos. - murmurou Hermione - Não precisam saber o que é...

- Mas podem saber onde está. - completou Ron, meneando a cabeça - A Ashley sabe o que está a fazer, confia nela.

- O diadema perdido de Ravenclaw? - perguntou Luna, interessada - É desse que falam?

- Não pode ser desse porque esse perdeu-se, Luna. - referiu Michael Corner, revirando os olhos - Não há nada a fazer.

- E quando foi que se perdeu? - perguntou Harry.

- Dizem que foi há séculos. - respondeu Cho Chang, a Seeker dos Ravenclaw - O Professor Flitwick diz que o diadema desapareceu com a própria Ravenclaw...

- Precisamos da Laurel. - murmurou Meredith, inquieta.

Ashley assentiu, os olhos âmbar fixos na porta da Sala das Necessidades.

- Ela virá. Tenho a certeza disso.

- Oiçam. - chamou Harry, atraindo a atenção dos outros quatro - Sei que não é uma grande pista mas vou até à Torre de Ravenclaw ver a estátua, pelo menos fico a saber o aspeto do diadema. Esperem por mim aqui e .... mantenham o outro a salvo.

Harry apontou discretamente para a bolsa que Ashley sempre trazia consigo. Junto dos seus frascos com as mais variadas poções, estava a taça de Hufflepuff, camuflada como um frasco igual aos outros.

- Vou contigo. - afirmou Ashley.

- Não. Fica aqui. Precisas manter... isso... seguro.

Os dois Herdeiros trocaram um olhar, medindo forças. Ashley nunca fora boa a acatar o que Harry decidia mas deixou-se ficar, mordendo o lábio inferior de forma apreensiva.

- Tem cuidado. - foi tudo o que disse.

Meredith colocou-se de pé, estendendo-lhe a mão enquanto o Potter se afastava. Ao sentir o seu toque, os ombros de Ley descaíram-se suavemente, sentindo-se mais confortada.

- Já sabemos que ele tem de ser o herói, deixa-o lá. - brincou Meredith, vendo um sorriso surgir no rosto de Ashley.

- A Câmara! - Ron, de repente.

Hermione deu um salto, assustando-se com a afirmação repentina do Weasley. Os olhos deste brilhavam, fixando-se em Ashley com entusiasmo.

- A Câmara dos Segredos contém o cadáver do Basilisco, certo? Aquilo ainda não se deve ter deteriorado...

- Sim, claro. E então?

- Os dentes! Foi assim que Harry destruiu o diário, lembraste?!

Os olhos de Hermione arregalaram-se, compreensivos.

- Claro! Mas não conseguimos entrar, nenhum de nós fala a língua das cobras...

- Eu acho que consigo.- disse Ron, hesitante - Harry fala durante o sono... Talvez, com um pouco de treino...

- Vale a pena tentar. - afirmou Ashley, embora os olhos estivessem longe dali.

A morena soltou um suspiro, esboçando um sorriso. Os olhos âmbar focaram-se em Meredith, repletos de entusiasmo.

- Ela está aqui.

A Lovelace engasgou-se, surpreendida.

- Tens a certeza?

- Nunca me enganei. - respondeu a Hufflepuff, convicta - Ron, toma. - estendeu-lhe a taça apressadamente, afagando o metal enfeitiçado com suavidade - Destrói-a.

Ron hesitou.

- Mas é tua...

- Há coisas mais importantes do que uma relíquia de família. Meredith, precisamos ir.

- Mas o Potterzinho disse para ficarmos aqui...

- E desde quando é que tu obedeces a alguém? - questionou Ashley, num misto de impaciência e divertimento.

Sem esperar resposta, Ashley virou-lhe as costas, correndo para junto da porta da Sala das Necessidades. Com um revirar de olhos dramático, Meredith levantou-se, atando o cabelo rapidamente e olhando para os outros dois:

- Tenham cuidado, está bem?

Hermione assentiu. Ron, que há muito se esquecera da Casa de Meredith ou se ela era uma Devoradora da Morte ou não, esboçou um sorriso, estendendo a mão:

- Vocês também.

Meredith apertou-a.

Estavam finalmente todos do mesmo lado.


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