Capítulo 100
- Está pronto?
- Só mais um minuto...
- E agora?
- Ron, estás a pressionar-me.
- Desculpa... E agora?
Ashley revirou os olhos. Parou de mexer o caldeirão lentamente, olhando com os olhos muito brilhantes para Hermione.
- A Poção Polissuco está pronta. - anunciou, entusiasmada.
Ron fez uma careta.
- E com o mesmo aspecto horrível de sempre. Blagh.
A Hufflepuff sorriu, entregando a Hermione três frasquinhos de vidro. Os habitantes do Nº12 de Grimmauld Place tinham passado um mês a preparar o plano para entrar no Ministério e roubar o medalhão de Slytherin a Dolores Umbridge. Enquanto o Trio de Ouro vigiava o Ministério e montava o plano ao pormenor, Ashley preparara a Poção Polissuco de maneira infalível, a sua perícia naquela matéria de fazer inveja até a Hermione.
O orgulho que tinha da sua Poção quase saltava pelos olhos âmbar de Ashley.
- Vamos? - perguntou, olhando para Harry.
O moreno assentiu. Os quatro dirigiram-se para a porta, despedindo-se de Kreacher vagarosamente. O elfo mudara radicalmente de postura desde que Harry lhe entregara o falso medalhão de Regulus Black e era agora o melhor elfo doméstico de sempre.
- Menina Hufflepuff... - chamou Kreacher, puxando Ashley pela bainha da sua saia - Se encontrar a Ama Laurel, a menina vai trazê-la para casa?
Os grandes olhos raiados de sangue fitaram a jovem com esperança. Ashley engoliu em seco, suprimindo as lágrimas e assentiu, sorrindo ao elfo.
- Claro que sim, Kreacher. Claro que sim.
Hermione foi a primeira a Aparatar, levando Ron consigo. Em seguida, fez o mesmo com Harry e por fim com Ashley. O plano era simples: disfarçavam-se de funcionários do Ministério com a Poção Polissuco, procuravam Umbridge e saíam o mais depressa possível. Ashley ficaria no Átrio à espera deles, pronta para efectuar a extração de Harry caso desse para o torto.
Ele era a peça-chave daquele jogo e nem Ron nem Hermione discutiram com Ley sobre isso quando o mencionara.
Um a um, Hermione e Ron trataram de arranjar os seus respetivos cabelos para usar na sua Poção, fazendo o mesmo com Harry e Ashley, que engoliu a Poção Polissuco sem pensar duas vezes.
A sensação era realmente estranha. Lera sobre isso várias vezes mas sentir o seu corpo modificar em conjunto com o sabor horrível da Poção Polissuco era extraordinária, a magia deixando-a exatamente igual a Rosaleen Yaxley, uma funcionária do Ministério que chegava sempre atrasada ao trabalho.
- Vamos. - disse Harry, acelerando-a.
Ashley assentiu, sentindo-se incomodada com a sua fisionomia. Era extremamente alta, com uns cabelos loiros atados numa bastante apertada trança em conjunto com um lenço na garganta capaz de sufocar um elfo doméstico.
Ao passar em frente a uma janela, estacou, surpreendida.
Estava branca.
Não havia caracóis escuros, pele cor de café ou olhos âmbar. Havia pele leitosa, cabelos loiros e uns olhos azuis cor do céu perfeitamente arredondados.
- Ashley! - chamou Ron, puxando-a.
Os quatro despediram-se atabalhoadamente, indo cada um para a casa de banho pública correspondente ao seu género. Ashley fez uma careta ao adentrar na das senhoras, achando aquele o pior local para se construir a entrada do Ministério.
"Sanitas? A sério?" pensou, fazendo uma careta ao puxar o autoclismo.
O seu corpo desintegrou-se, ressurgindo no grande Átrio. As memórias de ali ter estado na noite da morte de Sirius assolaram-na de imediato, recordando a forma dolorosa com que Laurel levitara atrás de Bellatrix, a assassina do seu tio.
Ashley abanou a cabeça, afastando as memórias.
Tinha de se focar.
- Nós já voltamos. - murmurou Harry, passando por ela.
A Hufflepuff ficou a ver as figuras disfarçadas dos amigos a afastarem-se. Retirou um jornal Profeta Diário do bolso, esquentou a chávena de café que a verdadeira Rosaleen estivera a beber e sentou-se no banquinho mais próximo, fazendo de conta que estava apenas a descansar antes de ir trabalhar quando na verdade observava o vaivém de feiticeiros que entravam no Ministério.
O semblante sério e angustiado de muitos deles era assustador. Não havia local mais perigoso do que o Ministério naquele momento, com os interrogatórios e investigações ao estatuto de cada feiticeiro. Todos os nascidos Muggles eram imediatamente apreendidos e levados para interrogatório para serem questionados sobre a quem tinham roubado a magia que agora habitava neles. Os mestiços eram igualmente intimados e apenas os puro-sangue estavam a salvo da crítica e do julgamento.
Um homem franzino passou por Ashley a chorar, cada um dos seus braços sendo segurados por dois homens corpulentos. O pequeno homem balbuciava coisas incompreensíveis e apenas uma palavra se fez perceber:
Injustiça.
Ashley pôs-se de pé, deixando cair o café no chão com estrondo. Os homens que escoltavam o prisioneiro riam e gozavam com ele, chamando-lhe de Sangue de Lama e Ladrão de Magia. O sangue de Ley ferveu ao ver o homem soluçar, tentando debater-se e fugir.
Eles iam levá-lo para Azkaban.
Antes que Ley pudesse agir, uma figura alta pôs-se no seu campo de visão, surpreendendo-a. Lentamente, o horror espalhou-se no seu rosto mas disfarçou de imediato, esboçando o seu melhor sorriso.
- Rosaleen? Está tudo bem? - perguntou Narcisa Malfoy, de sobrolho franzido.
- Claro, Narcisa. Estou apenas a terminar o meu... - fez uma pausa, notando a chávena partida no chão - Café.
A expressão de Narcisa alterou-se, deixando Ashley desconfiada. Com um movimento de varinha, o café e os cacos da chávena desapareceram, deixando o chão impecável como estava.
A mulher aproximou-se dela lentamente, sussurrando-lhe ao ouvido:
- Quem és tu?
- Rosaleen. - respondeu Ley, prontamente.
- Eu conheço a Rosaleen e nunca na vida ela ousaria me chamar pelo primeiro nome. - Narcisa sorriu, fria - Ashley Hufflepuff, és tu?
Ley arregalou os olhos, surpreendida. Fez menção de dar um passo atrás mas a mão de Narcisa prendeu-a pelo braço com uma força inesperada, as unhas cravando-se perigosamente na sua pele.
- Reconheço esse olhar de desafio. - disse Narcisa, fitando-a - Não é toda a gente que tem a lata e o descaramento que Sarah Hufflepuff tinha, para além de que é óbvio o teu desconforto com esse corpo. A Poção Pollissuco está impecavelmente bem feita mas... Uma mulher negra no corpo de uma branca? - soltou uma risada graciosa, abanando a cabeça - Só posso imaginar a estranheza.
- Solte-me. - ordenou Ashley, calmamente.
- Não posso fazer isso e tu sabes, querida. - sussurrou a mulher, olhando em volta - Harry Potter está aqui contigo, não está?
Ashley tentou levar a mão esquerda ao bolso direito, em vão. A mão de Narcisa prendia-lhe o movimento do braço direito e, como tal, o acesso à sua varinha. Mesmo que conseguisse alcançar a sua varinha, daria demasiado nas vistas enfeitiçar a mulher em frente a toda a gente.
Narcisa ergueu a manga esquerda do vestido que usava, revelando a Marca Negra. Ashley engoliu em seco, o pânico subindo-lhe pelo corpo acima.
- O que está a fazer? - perguntou, com a voz trémula.
- Tenho que chamar o Senhor das Trevas, Ashley. Mesmo que o Potter não esteja aqui, tu és igualmente valiosa...
- Como a Laurel?
O corpo de Narcisa estremeceu. A menção do nome da sobrinha fê-la engolir em seco, deixando visível que ainda se preocupava com a menina.
- Laurel está segura com ele...
- O que ele lhe fez? - questionou Ashley, aproximando-se dela - Eu senti a dor dela... Narcisa, diga-me o que ele lhe fez.
- Ele... Ele...
Narcisa cerrou os dentes, tentando evitar que as lágrimas lhe caíssem.
- Ele destruiu-a. - os olhos cinza fitaram Ashley com pesar - Ele destruiu-a por dentro. Ordenou a Belatrix que... Que... Amaldiçoou-a... - fez uma pausa, a voz saindo-lhe estrangulada pela dor - A Laurel nunca poderá ter filhos.
Ashley sentiu o seu corpo desfalecer, não tombando devido à força com que Narcisa a segurava. A dor que sentira em Laurel fora mais forte do que qualquer outra, fora física e emocional, para lá de qualquer coisa que imaginara.
- Ela está...
- Viva. Está em recuperação, perdeu muito sangue e está para lá de fraca... Mas está viva.
- Narcisa, tem de me soltar, por favor. - pediu Ley, desesperada - Eu preciso salvar a Laurel, eu sei que ela está na Mansão Malfoy e preciso de a tirar de lá...
- Estás louca? - sibilou Narcisa - Se ela fugir, ele vai atrás dela e não terá problemas de assassinar quantos inocentes sejam precisos para a apanhar. Ashley, é um ciclo vicioso, lembraste? O Senhor das Trevas está obcecado pela Laurel. Ele afastou Draco da Mansão para que eles não estejam juntos. - a Malfoy abanou a cabeça, tristemente - Ela está mais segura junto dele, acredita. Ninguém lhe poderá fazer mal, a não ser o próprio Lord.
- A Ordem vai proteger a Laurel. Eu vou proteger a Laurel. Ele está a destrui-la, ela não está segura com ele coisa nenhuma! Por favor, Narcisa, deixe-me ir...
Narcisa prensou os lábios, derrotada.
- Não posso. Se te deixar ir, o Senhor das Trevas saberá e a minha família é que paga.
- A Laurel está a pagar na mesma!
- A Laurel aguenta. O meu Draco não. Se eu falhar, se eu cometer um erro, ele mata o meu filho e eu não vou permitir que isso aconteça, nem pela Laurel.
Ashley puxou a mulher para junto de si, enraivecida. Os olhos azuis de Rosaleen Yaxley foram substituídos pelo âmbar vibrante de Ashley Hufflepuff, que faria de tudo para proteger quem mais ama.
- Sabe qual era a pessoa mais cobarde que conhecia? Draco Malfoy. - os olhos de Narcisa arregalaram-se, surpreendida - Mas sabe que conseguiu ser ainda pior que o seu filho? Caramba, o Draco afastou-se de Laurel quando o seu marido lhe disse que ela seria vantajosa para vocês quando Voldemort voltasse. O Draco protegeu-a quando teve de o fazer e ele hesitou em matar Dumbledore por causa dela...
- Tu não estavas lá, não sabes o que aconteceu.
- Sei o que Harry me contou e mesmo que não soubesse, conheço a Laurel e sei do que ela é capaz. A Laurel tem o Dom mais poderoso de todos, algo que nem Voldemort, nem Dumbledore alguma vez conseguiram alcançar: o poder da bondade. Ela é Boa, é gentil, é pura e o seu filho, com o mau carácter que tem, com a maldade que lhe corre nas veias, nem mesmo ele teve hipóteses contra ela. - Ley fitou Narcisa nos olhos, pouco se importando com a ofensa bem presente no olhar da mãe de Draco - Ele nunca mataria Dumbledore, não teria coragem de partir o coração de Laurel dessa maneira. Por isso ele hesitou. Draco continua a ser uma péssima pessoa mas, graças a Laurel, ele tornou-se corajoso o suficiente para ser Bom por ela. Laurel mudou o seu filho porque é isso que a bondade faz: transforma as pessoas.
Os olhos da Hufflepuff suavizaram ao ver as lágrimas escorrerem pelo rosto de Narcisa.
- Por favor, Narcisa, deixe que a bondade de Laurel lhe dê coragem também.
A Malfoy abanou a cabeça. Ela não podia. Não podia.
- Eu não consigo... Não há volta a dar para mim. - disse Narcisa, enxugando as lágrimas - Fui eu que entreguei Cora aos Devoradores da Morte. Fui eu que disse à minha irmã onde ela estava, fui eu que levei Cora à morte. - fez uma pausa, vendo o choque assolar Ashley como uma flecha - Não há bondade que reste em mim, Ashley. Nem mesmo pela Laurel...
- Tem de haver. Por favor...
Gritos ecoaram pelo Átrio fora, atraindo a atenção das duas mulheres. Ao longe, Harry corria, atirando feitiços aos Aurors que o perseguiam. Atrás dele, Ron e Hermione faziam o mesmo, a Poção Polissuco deixando de fazer efeito.
Ashley sentiu o seu próprio corpo voltar ao normal, o seu braço tornando-se fino o suficiente para se libertar do aperto de Narcisa. A Malfoy ergueu de imediato a varinha, apontando-a ao nariz de Ashley, que não se mexeu.
- A senhora consegue ser corajosa. - disse Ley - Deixe-me ir.
- ASHLEY CORRE! - berrou Harry, ao longe.
A varinha de Narcisa tremeu, hesitante.
- Ele irá atrás dela. - disse a mulher.
- Não pode fazer-lhe mal, ela ainda tem a Cobra dos Puros com ela.
- Qualquer Malfoy pode retirar a pulseira, basta o Senhor das Trevas ordenar que o façamos.
- Porque é que ele ainda não o fez? - perguntou Ashley, franzindo o sobrolho - A própria Laurel consegue tirá-la, está apaixonada por um Malfoy... Ela pode soltar-se e fugir...
- Está demasiado fraca para isso.
- Podia tê-lo feito logo quando chegou à Mansão.
A clareza atingiu Ashley em cheio.
- É uma jogada. - sussurrou.
Narcisa arregalou os olhos.
- O quê?!
- É uma jogada. A Laurel está lá porque quer.
As duas mulheres fitaram-se. Para Narcisa, era como regressar ao passado e olhar para Sarah Hufflepuff, a mulher que mais admirava no mundo.
- Vai. - ordenou, friamente, baixando a varinha.
- ASHLEY! - chamou Harry, na lareira mais próxima.
- Obrigada. - disse Ley para Narcisa.
E correu, tocando no braço de Harry no último minuto.
**
O seu corpo embateu na terra com força, fazendo-a gemer.
Gritos de agonia ecoaram.
- Ron! - exclamou Hermione, aflita.
Ashley e Harry puseram-se de pé ao mesmo tempo, correndo para onde o Weasley estava caído. O estômago de Ley contorceu-se ao ver o braço em carne viva de Ron, que se contorcia de dores.
- Ele foi Dividido. - afirmou Ashley, ajoelhando-se - Hermione, tens Essência de Ditaína?
- Sim. Harry, procura aí na minha mala.
- Na mala... Certo...
- Depressa!
Ashley rasgou o tecido em redor da ferida, analisando a gravidade do corte. Ron revirou os olhos, desmaiando. Hermione entregou o pequeno frasco a Ashley, que despejou duas gotas do conteúdo na ferida.
- Acho que é melhor não fazermos mais nada. - disse a Hermione, que estava quase tão pálida quanto Ron - Existem Encantamentos que o poriam bom mas são complicados e... Ele já perdeu tanto sangue...
- É-é melhor n-não arriscar. - disse Hermione, afagando a mão de Ron.
Uma súbita dor assolou Ashley, forçando-a a dobrar-se sobre si própria. A sensação familiar de milhares de facas a espetarem-se em todo o seu corpo percorreu-a, deixando-a com a mesma falta de ar que sentira quando Amanda Lovelace lhe lançara a Maldição Cruciatus que lhe quebrara a mente.
Aquela dor não era sua.
- Ashley! - exclamou Harry, segurando-a.
Ley rangeu os dentes.
- Não é minha... A dor... Não é minha...
- Laurel? - perguntou Harry, preocupado.
Abanou a cabeça, sentindo a dor desvanecer-se.
- Se não és tu... - começou Hermione.
- E não é a Laurel, nem sou eu... - continuou Harry.
- O Quem-Nós-Sabemos também não é, ninguém seria louco o suficiente para lhe lançar uma maldição. - murmurou Ashley, pensativa.
- Então quem é?
Os três entreolharam-se, em silêncio. Hermione arregalou os olhos, chocada.
- Por Merlim... Acham que existe... Um quinto Herdeiro?
- U-um q-quinto? - gaguejou Ashley, desenvencilhando-se dos braços de Harry.
- Claro, porque quatro não chegavam. - ironizou Harry, lançando os braços para o alto - Era mesmo disso que precisávamos agora!
E afastou-se, resmungando sozinho.
Ashley fitou o vazio.
Um Quinto Herdeiro?
De qual fundador?
Do bolso de Hermione, um brilho dourado chamou-a à atenção.
O medalhão de Slytherin.
Tinham conseguido.
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