Capítulo 8
As carruagens pararam junto do castelo de Hogwarts. Laurel Ravenclaw inspirou fundo, respirando o ar fresco e mágico que pairava no ar. Estava de volta. O medalhão no seu peito pulsou, o leve brilho azul bem presente. A menina não ligou, os olhos fixos no castelo. Os seus pensamentos dividam-se entre as saudades daquele lugar e o homem que deixara para trás de novo, o seu pai legal, que não tinha ninguém além dela. Suspirou, triste. Por mais que amasse Hogwarts, tinha uma dívida muito grande com o seu tutor, uma dívida de amor e carinho que a levava a sentir-se culpada por tê-lo deixado.
Um a um, os alunos saíram da carruagem, tagarelando entre si. Ao lado de Laurel, Ashley e Hermione tinham se embrenhado numa conversa sobre Muggles, que a ruiva tinha acabado por deixar de acompanhar. Apesar de concentrada na conversa, Hermione estava preocupada, desviando o olhar de Ley várias vezes para olhar em volta, de sobrolho franzido.
- Mas onde é que aqueles dois se meteram?- questionou a morena, pela centésima vez.
Laurel encolheu os ombros. Era muito estranho não avistar Harry e Ron em lado nenhum e a própria Ravenclaw começava a ficar preocupada. Ley, pelo contrário, mantinha a expressão tranquila, pousando a mão no ombro de Hermione enquanto caminhavam para dentro do castelo.
- Eles vão aparecer. Não te preocupes.
Hermione assentiu, incerta. Laurel sorriu-lhe, tentando transmitir-lhe confiança, mesmo não se sentindo nem um pouco segura. Harry tinha estado em perigo no final do ano anterior, poderia muito bem estar em perigo de novo. Levou a mão ao pingente de coração que nunca a abandonava. Se Voldemort tivesse feito alguma coisa ao Menino Que Sobreviveu, ela saberia. Tinha certeza disso.
As três meninas entraram juntas no castelo, esboçando ao mesmo tempo um sorriso encantado ao ver o maravilhoso banquete que tinha sido preparado para receber os alunos. Ao longe, os professores sorriam aos seus alunos, cada um nos seus lugares habituais. Havia apenas uma presença nova naquela longa mesa, um homem mais novo, exalando charme e confiança com o seu cabelo loiro impecável e um sorriso largo no rosto. Laurel torceu o nariz, perguntando-se se aquele seria o novo professor de Defesa Contra as Artes Negras. Ao lado do senhor, um lugar vazio chamou-lhe a atenção. Deu uma vista de olhos aos professores, tentando perceber quem faltava. "Snape" pensou, estranhando a ausência, "Onde ele estará?".
Laurel afastou os pensamentos, percebendo que ficara muito tempo parada junto da porta. Hermione e Ley já se tinham afastado, seguindo cada uma para a mesa da sua Casa. Laurel fez o mesmo, acenando discretamente a Dumbledore quando se sentou, recebendo um sorriso fraternal do seu avô. Quando olhou para a frente, deu de caras com Pansy Parkinson e a sua expressão de puro nojo.
- Ainda não pintaste o cabelo, Raven? Olha que os ruivos têm tendência para serem uns pobres coitados - acenou com o queixo para Fred e George Weasley, que entravam no Salão com os seus habituais sorrisos traquinas e postura de problemáticos.
Laurel dardejou-a com o olhar. Mesmo não sendo amiga dos Weasley, detestava o preconceito que os Slytherin tinham para com eles e a sua família, só por terem mais dificuldades financeiras.
- Ainda não te ensinaram a ser menos desagradável?- questionou-a, erguendo o queixo - Olha que pode causar indigestão essa maldade toda.
Pansy abriu a boca, os olhos faiscando de malícia. Antes que pudesse responder, Dumbledore pôs-se de pé, começando a dar início à Seleção. Com uma expressão solene, a Professora McGonagall pousou o Chapéu Selecionador, que começou a cantar, como sempre fazia.
Laurel olhou em volta, sentindo-se observada. Na outra ponta da mesa dos Slytherin, Draco Malfoy encarava-a, desviando bruscamente os olhos quando a ruiva o notou. Laurel soltou um suspiro. Aquele rapaz era muito estranho; ora era simpático ora rude, como fora na última vez que se encontraram, em King's Cross. O loiro parecia precisar de um amigo, pelo menos um a sério, não um troll como Crabbe e Goyle. Observando-o de longe, Laurel notou a sua expressão solitária, tão familiar. Abanou a cabeça, voltando a olhar em frente, onde a expressão assassina de Pansy a fez soltar uma pequena risada. Parecia um cão raivoso, sem tirar nem pôr.
- Weasley, Ginny!
Laurel deu um salto, percebendo que perdera parte da Seleção, tão concentrada que estava nos seus pensamentos. Olhou para a irmã mais nova de Ron, cujo cabelo era tão flamejante como o seu, mas muito mais curto. Parecia uma boneca, cheia de sardas. Mal tocou nela, o Chapéu Selecionador gritou:
- Griffindor!
A mesa dos Griffindor explodiu de alegria, recebendo a nova integrante com palmas estrondosas. Laurel bateu palmas também, trocando um breve sorriso com Hermione, que apenas esboçou uma careta. Dois lugares vazios ao seu lado denunciavam a ausência de Harry e Ron. Laurel olhou em volta, deparando-se com a expressão grave de Dumbledore ao observar a mesa em festa. Um miúdo franzino foi sorteado para os Slytherin, que explodiram em festa, criando a distração perfeita. Discretamente, a ruiva levantou-se, andando tranquilamente para fora dali, usando o seu tamanho franzino a seu favor. No Portão do Salão Nobre, Filch estava demasiado distraído a conversar com a sua gata Miss Nora para notar a pequena ruiva que passou por ele a sorrir levemente.
Parada no meio do corredor, Laurel pensava na melhor forma de descobrir o que tinha acontecido a Harry e a Ron. Conhecendo Dumbledore, a ausência de Snape só poderia significar que o diretor tinha mandado o professor de poções à procura dos dois alunos desaparecidos. Chegava a ser irónico, visto que Snape parecia odiar Harry de morte. Se ela fosse o professor, começaria por aguardar junto ao portão por onde os recém-chegados entravam, não fossem eles estar atrasados por algum motivo. Convicta, seguiu caminho até lá, sentindo-se confortável com a noite clara que estava, a Lua Cheia brilhante no céu.
Como previra, Snape guardava pacientemente o portão, os olhos escuros mostrando que a paciência era apenas uma fachada e o ódio por estar ali quase lhe saltava do corpo. Sem querer ser vista, Laurel ergueu a mão, cobrindo-se a si própria com magia camufladora, algo que aprendera a fazer durante o verão. A mente de Laurel trabalhava a mil, pondo várias hipóteses para a não chegada daqueles dois, que nunca na vida deixariam passar a oportunidade de voltar a Hogwarts. Claramente tinham perdido o comboio, mas porquê?
Duas figuras ao longe subiam as escadas que levavam até aos grandes portões de carvalho. O cabelo ruivo de Ron destacava-se mesmo à distância e a voz de Harry ouvia-se ali perto. Laurel suspirou, aliviada por o rapaz estar bem. Preparou-se para descer até junto deles quando reparou que Snape virara as costas, voltando a dirigir-se para o Castelo. Surpresa, a menina seguiu-o, curiosa com o objetivo do professor em deixar os rapazes na rua àquela hora. O professor encostou-se à parede com vista direta para a Porta do Salão Nobre, de braços cruzados, as vestes negras a cobrirem-no dos pés ao pescoço. Estava de tal forma quieto escondido nas sombras que não daria por ele, não fosse estar bem ao seu lado, ainda mais camuflada que ele.
Harry e Ron aproximaram-se do Salão Nobre, espreitando lá para dentro. De onde estava, conseguia ouvir a conversa deles e assistiu de perto Snape aproximar-se deles por trás, surpreendendo-os no momento exato em que estavam a falar dele.
- Ou talvez ele esteja a querer saber porque não vieram no comboio para Hogwarts. - afirmou, finalizando as teorias que os rapazes estavam a fazer em relação à sua ausência na mesa dos professores.
As palavras de Snape saíram frias mas Laurel podia apostar que o professor estava a desfrutar mais daquilo do que deveria. A satisfação dele ao olhar para Harry era palpável. Se havia algo que o professor de Poções adorava era odiar Harry Potter com todas as suas forças e mostrar isso sem vergonha nenhuma.
- Sigam-me. - ordenou, prestes a entrar no Salão Nobre - E você, Miss Raven, volte para junto dos seus colegas. Têm sorte de eu estar de bom humor ou começaria por tirar pontos à minha própria Casa pelo seu momento de coscuvilhice.
O feitiço de camuflagem desvaneceu-se de imediato, revelando a figura muito corada de Laurel. A ruiva sorriu para o professor de forma atabalhoada, apressando-se a passar pelos rapazes e pelo professor. Os dois amigos limitaram-se a olhar para ela, totalmente confusos mas sem ter muito tempo para pensar pois Snape começara a andar, diretamente para as masmorras onde o seu gabinete se encontrava.
Enquanto isso, Laurel voltou para o seu lugar, lançando um olhar de soslaio à mesa dos Griffindor, onde Hermione a olhava na expectativa. A ruiva limitou-se a levantar o polegar e a soletrar devagarinho um "Falamos depois" antes de se voltar para Dumbledore, que a observava com uma expressão grave. Engoliu em seco, preocupada com os dois rapazes. O que quer que lhes tivesse acontecido, tinham decepcionado e muito o seu avô.
A rapariga voltou a sua atenção para a comida à sua frente. Havia imensas coisas deliciosas e ela mal sabia por onde começar. Encolhendo os ombros, serviu-se de tudo um pouco, comendo com elegância. Apesar de estar a desfrutar da comida, havia algo que a incomodava, um olhar fixo nela que não a largara um segundo desde que entrara no Salão pela segunda vez. Junto da mesa dos Ravenclaw, escondida num canto do Salão, uma figura observava-a atentamente. O fantasma de uma jovem mulher encarava-a, os seus traços familiares, com uma beleza fascinante mesmo depois da morte. Laurel pousou o garfo na mesa, semicerrando os olhos para tentar perceber quem era aquela mulher. Quando percebeu, baixou de imediato os olhos, sentindo o medalhão no seu peito ferver, o azul celeste brilhante não deixando margem para dúvidas.
Ali, no meio do Salão, uma mulher que não ela tinha um medalhão exatamente igual ao seu no peito, tendo provavelmente morrido com ele posto. Um medalhão que dizia tudo.
Uma Ravenclaw.
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