Capítulo 7
No último dia de aulas, Laurel observava divertida a expressão de Ashley, que por sua vez a fitava de olhos arregalados.
- Ravenclaw? Laurel Ravenclaw?
As duas meninas encontravam-se na sua mesa habitual da biblioteca, escondidas enquanto a maioria dos alunos fazia a mala para ir para casa. As duas já tinham tudo pronto e juntas tinham ido entregar os livros que ainda tinham para devolver. Posto isto, resolveram sentar-se no sítio do costume e conversar um pouco antes de irem embora, sabendo que, por ser o último dia de aulas, a bibliotecária não iria implicar com elas por causa do barulho. No instante em que se sentaram, Laurel soube que Ashley seria uma boa pessoa para contar a sua verdadeira identidade. Nunca chegara a ter oportunidade para falar com Hermione sobre a sua magia e sabia que a morena faria demasiadas perguntas e procuraria entender o que nem Laurel nem ninguém entendia. Ashley, pelo contrário, amava uma boa história e, apesar de curiosa e inteligente, preferia os pormenores fantásticos como a terrível história entre Salazar e Rowena do que o facto de Laurel conseguir fazer magia apenas com as mãos e nunca com a varinha. Ashley amava histórias, só muito depois vinha o interesse pelos factos.
- Isso é incrível.- repetiu Ley, com assombro- És descendente direta da feiticeira mais inteligente e sábia de todos os tempos. E ainda tens uma ligação bizarra com o Quem-Nós-Sabemos porque ele é descendente de Slytherin.
- Eu não tenho a certeza se é por isso...- murmurou Laurel, pensativa- Voldemort acha que eu tenho alguma coisa dele, alguma coisa que ele precisa. Mas o que pode ser?
- Laurel?- chamou Ley, captando a atenção da ruiva- O que aconteceu aos teus pais? Nunca falas neles...
Laurel olhou para a morena, surpresa com a pergunta. Essa parte ela não tinha contado, nem sabia se queria. Ponderou por momentos, pensando na mãe, nas cartas que ela lhe deixara, no Lembrador que Cora enfeitiçara para que a sua filha pudesse ter para sempre as memórias da mãe que perdera tão cedo.
- Os meus pais foram pais muito novos. Descobriram que iriam ter uma filha um ano depois de acabarem os seus anos em Hogwarts.- começou, pensando em tudo o que sabia sobre eles- A minha mãe, sendo uma Ravenclaw, era a bruxa mais inteligente e cativante de Hogwarts. O meu pai apaixonou-se perdidamente por ela e foi recíproco. Namoravam há três anos quando me tiveram. Amavam-se muito e amavam-me a mim. Eram jovens mas ainda assim amavam-se e respeitavam-se muito.
" Foi na altura em que Voldemort surgiu em força. Sem a minha mãe saber, o meu pai tinha-se juntado ao Senhor das Trevas, sendo um dos seus mais fiéis seguidores. Pelo que a minha mãe me contou, ele julgava que aquilo nos protegeria. Quando a minha mãe descobriu, o meu pai jurou que iria deixar a vida de Devorador da Morte para trás e que fugiriamos juntos. Mas primeiro ele tinha que fazer algo, por nós duas.
Meu pai foi-se embora e nunca mais voltou. Um amigo dele, cujo nome nunca soube, disse à minha mãe que ele tinha morrido pelas mãos de Voldemort. Eu nunca soube bem o que lhe aconteceu, a minha mãe nunca me contou. E mesmo que contasse... Bem, se não fosse a sua genialidade eu nunca saberia a verdade bem contada.
No mesmo ano em que Voldemort foi à casa dos Potter e perdeu a sua força, uns meses depois, mataram a minha mãe. Uns Devoradores da Morte vieram a nossa casa e mataram-na. Ela sabia que o iam fazer, sabia que Voldemort a temia por ser uma Ravenclaw e por ter uma forte ligação com Dumbledore, o único feiticeiro que Voldemort nunca enfrentará cara a cara. Então mandou matá-la, mesmo ele próprio já estar a beira da morte, mesmo tendo desaparecido do mapa..."
- Espera.- pediu Ashley, concentrada- Como é que tu sabes isso tudo? Aliás, como é que te lembras da tua mãe te contar isso tudo? Eras um bebé, nem um ano tinhas.
- Como disse, ela sabia que viriam atrás dela então enfeitiçou um Lembrador e guardou lá todas as minhas memórias de bebé. Não sei como ela fez aquilo mas é como se estivesse a ver um filme projetado à minha frente. É incrível.- sorriu, sentindo uma lágrima involuntária ao recordar o rosto da mãe a falar com ela- Era brilhante. Não só inteligente mas brilhante.
Ley sorriu, pegando na mão da amiga. A história dela era fascinante, tão boa quanto a de Harry Potter, com a vantagem de ser completamente anónima e de só ter sido contada pela menina à sua pessoa. A Hufflepuff, com o seu coração de ouro, sentiu-se honrada por a ruiva lhe estar a contar tudo aquilo, sabendo que Laurel passara todo o ano a fugir das pessoas.
- Porque é que a tua mãe era próxima do Dumbledore?- perguntou-lhe, curiosa.
Laurel sorriu, encolhendo os ombros.
- Dumbledore fascinou-se muito cedo pela inteligência da minha mãe. Os meus avós... Bem, não eram pessoas muito fáceis, acho eu. A minha avó materna, uma Ravenclaw como eu, era muito rígida e orgulhosa do seu nome. Quando a minha mãe veio para cá, Dumbledore afeiçoou-se a ela.- encolheu de novo os ombros- Quando a minha mãe morreu, foi Dumbledore que me acolheu e me entregou a alguém capaz de tomar conta de mim enquanto ele estava aqui em Hogwarts. Esteve sempre por perto. É o avô que eu nunca conheci.- finalizou, olhando para Ley com um sorriso gigante- E eu sou a neta dele!
- Isso ainda é mais espetacular.- comentou Ley- Descendente direta de Ravenclaw, filha de uma bruxa extraordinária e neta do maior feiticeiro de todos os tempos. Mais alguma coisa brutal?
Laurel baixou os olhos. Agora vinha a parte pior.
- Sim... Eu nasci com um problema, uma coisa que a minha mãe me pediu que guardasse segredo e escondesse...- fez uma pausa, procurando as palavras certas- Quando nasci, soube-se de imediato que eu não tinha controlo da minha magia. Nenhuma criança tem mas eu... Por cada birra minha, alguma coisa em casa explodia. Por cada gargalhada, um vento forte abria todas as janelas. Quando fiz 6 anos, o meu tutor, ou o meu pai adotivo e Dumbledore começaram a ensinar-me a controlar e a direcionar a magia para aquilo que eu queria.
Laurel fez uma pausa. A menina suspirou, tirando a sua varinha do bolso do mundo, que estava praticamente nova.
- Escolher uma varinha foi muito difícil. O Senhor Ollivander nunca tinha tido tantas varinhas a voar pela loja com vontade própria- comentou, fazendo a morena rir.
- Deve ter sido um pouco divertido.
- Um pouquinho.- admitiu a ruiva, sorrindo com a lembrança- É muito difícil usá-la. Por isso que raramente o faço.
- É por isso que quase nunca praticas os feitiços nas aulas de Feitiços e Transfiguração?- perguntou Ley, que já tinha reparado que, sendo a aluna brilhante que era em todas as disciplinas, naquelas a Ravenclaw raramente tentava fazer os exercícios pedidos.
- Sim.- respondeu, lembrando-se que por vezes os Slytherin tinham aulas com os Hufflepuff àquelas duas disciplinas- Reparaste?
- Claro! Eu reparo em tudo!
Riram. As duas meninas encararam-se, a sensação de partilharem um segredo a uni-las.
- Normalmente os feiticeiros mais experientes conseguem fazer magia sem usar varinha.- comentou Ley-, olhando para as mãos da amiga- Mostra-me lá por favor.
Laurel assentiu, apreensiva. Olhou em volta, pensando no que podia fazer. Olhou para as estantes da biblioteca, feitas de madeira velha. Com um gesto de mão, fez pequenas tulipas crescerem na madeira da estante mais próxima, cobrindo-a de um vermelho forte. O odor a tulipa inundou o ar e a expressão de Ashley fez Laurel sorrir, contente com o resultado.
- Incrível.- foi tudo o que a Humplepuff conseguiu dizer.
Com outro gesto de mão da ruiva, as tulipas desapareceram, a estante voltando ao seu estado normal. Laurel encolheu os ombros.
- Correu melhor do que pensava.- comentou, rindo.
De olhos arregalados, Laurel pulou na cadeira, levantando-se.
- Ainda não consegui agradecer ao Draco por me ter ajudado!- exclamou, vendo a expressão incrédula de Ley, que não gostava nem um pouco do menino mal educado- Ele ajudou-me a não cair ao chão quando... Bem, quando a minha mente foi ter com o Voldemort.
Ley fez uma careta. Detestava ouvir aquele nome, embora não o temesse como os restantes. Levantou-se também, sorrindo para a ruiva.
- Então vemos-nos daqui a uns meses!
Laurel sorriu de volta, feliz.
- Claro que sim!
As meninas abraçaram-se. Quando se separaram, Laurel acenou, desatando a correr para fora dali, com esperança de encontrar Draco Malfoy.
Nenhuma das duas raparigas reparou num brilho dourado que iluminara o medalhão de Rowena Ravenclaw durante toda a conversa.
- Draco!
A estação de King's Cross estava cheia. O comboio de Hogwarts acabara de deixar os seus alunos e respetivas bagagens e o som de corujas a piar, pessoas a despedirem-se e o comboio a apitar era ensurdecedor, fazendo a cabeça de Laurel girar. Os seus olhos estavam focados no cabelo loiro platinado do menino que ainda não tinha tido oportunidade de falar. Aproximou-se dele, pousando o seu malão no chão e tocou-lhe no ombro, assustando-o.
- Laurel?- perguntou, com uma careta- O que queres?
- Vim agradecer por me teres levado à enfermaria naquele dia e não me teres deixado cair quando desmaiei.- disse a menina, encolhendo os ombros- Ainda não tinha tido oportunidade de falar contigo.
- De nada.- retrucou Draco, com certo desdém.
Um homem alto e muito loiro aproximou-se dos dois, pousando a mão no ombro de Draco, cujo rosto endureceu.
- Quem é a tua colega, Draco?
Laurel encolheu-se, os olhos arregalados de medo. Aquele homem possuía uma aura maligna e observava-a como se ela fosse uma presa. Tentou recompor-se, erguendo o queixo e olhando o homem de frente, escondendo o medo que sentia.
- O meu nome é Laurel, senhor. Sou colega do Draco.
- É uma Slytherin também, pai.- disse Draco, a contragosto- Pelo menos segundo o Chapéu Selecionador.
Laurel olhou para ele, magoada. O rapaz estava de novo a ser desagradável; seria por estar na presença do pai?
- Sou Lucious Malfoy, pai do Draco. É um prazer conhecê-la Miss...- olhou-a com atenção, à espera que ela pronunciasse o seu sobrenome.
- Raven. Laurel Raven.
As narinas de Lucious dilataram-se, como se sentindo o odor a mentira presente na voz dela. A menina engoliu em seco intimidada pela forma intensa como o homem a encarava. Focou-se em Draco, que observava o pai com desconfiança.
- Boas férias, Draco.- desejou, acenando ao menino, que acenou de volta, de forma distraída.
Laurel fez um aceno a Lucious, que não retribuiu. Apreensiva, virou as costas a ambos, desejosa de sair dali. Não olhou para trás, embora sentisse os olhos frios de Lucious Malfoy cravados nas suas costas.
Draco franziu o sobrolho, alternando o olhar entre o cabelo ruivo de Laurel e os olhos fixos do pai nela. O que quer que tenha chamado a atenção do seu pai, não gostou. Pigarreou, segurando com firmeza no seu malão.
- Vamos pai?
Lucious pestanejou, encarando o filho. Esboçou um sorriso gélido, pousando a mão nos ombros do filho.
- Que menina encantadora... E tão familiar... Conta-me mais sobre ela, Draco.
Draco lançou um último olhar por cima dos ombros, observando com certo pesar os cabelos flamejantes de Laurel a misturarem-se na multidão, indo para bem longe dele.
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