Capítulo 2
Laurel não era grande fã de Quidditch. Adorava voar mas o jogo em si não lhe chamava de todo à atenção. No entanto, a pedido de Harry, ali estava ela para assistir ao primeiro jogo do amigo, que claramente não cabia em si de nervoso. Infelizmente, após ter vários olhares indignados dos Griffindor, tivera de se afastar de Hermione e Ron para ir para junto dos outros Slytherin. Ali a voz mesquinha de Draco e Pansy em conjunto era o que mais se ouvia e isso sempre era algo nada fácil de engolir, especialmente desde o dia em que Laurel lhe dissera que era muito mais Slytherin que ele.
Desde esse dia, Draco aproveitava todas as oportunidades para a importunar e provocar, como se isso fosse a única coisa que os Slytherin faziam. Em contrapartida, ela mostrara-lhe que ser daquela Casa era mais do que isso; de todas as vezes que respondia certo às perguntas mas aulas, recebia pontos para os Slytherin, coisa que Draco raramente fez. Isso a deixava tranquila e com menos vontade de arrancar o sorriso mesquinho da cara do miúdo.
Uma sensação ruim preencheu os sentidos de Laurel. A menina ergueu os olhos do livro com que se distraía quando o jogo ficava desinteressante e focou-se. O coração dela deu um pulo ao ver Harry Potter pendurado na sua vassoura, segurando-se com força enquanto esta se esperneava como se estivesse possuída. Na bancada dos Griffindor, Hermione lançou-lhe um olhar aflito e apontou para a bancada dos professores. Laurel franziu o sobrolho, vasculhando entre eles o que a morena queria dizer-lhe. Por fim percebeu; com as suas vestes negras e pele pálida, Severus Snape parecia em algum tipo de transe, sibilando alguma coisa, os olhos postos em Harry. A ruiva arregalou os olhos; sabia que o professor da sua Casa e o que mais admirava não gostava nem um pouco do rapaz mas nunca pensou que fosse ao ponto de o boicotar e metê-lo em perigo. Abanou a cabeça. Aquilo não interessava.
Quando voltou a olhar para Hermione, esta já tinha sumido, provavelmente indo tratar do professor. Laurel focou a sua atenção em Harry, que se segurava apenas com uma mão. A menina concentrou-se, estendendo a mão discretamente na direção do rapaz. Correntes de ar invadiram o estádio, despenteando alguns cabelos e circundando a vassoura, obrigando-a a estar parada. Com dificuldade, Harry começou a puxar-se para cima, aproveitando a estabilidade da vassoura.
Dando uma olhada de relance, Laurel viu o professor Snape ergueu-se de rompante, tentando apagar as pequenas chamas que tinham surgido na sua longa capa negra. A vassoura de Harry ficou imediatamente normal e Laurel procurou afastar o vento que chamara. No entanto, o descontrolo preencheu-a abruptamente e a menina sentiu a magia transbordar. O vento tornou-se mais forte e espalhou-se pelo estádio, abanando perigosamente as estruturas de madeira onde alunos e professores assistiam o jogo. Estruturas que não aguentariam muito tempo.
Laurel levantou-se, em pânico. Gritos de medo começavam a ser ouvidos e a menina começou a correr, empurrando as pessoas à sua frente. Com toda a sua força de vontade, a ruiva exigiu que o vento a seguisse, puxando-o com magia. A menina correu para longe, para a fronteira da Floresta Proibida e, com um grito, esticou as mãos. A magia obedeceu-lhe e o vento seguiu o seu rumo, abanando as árvores da floresta com brusquidão. Exausta, a menina caiu de joelhos no chão, ofegante, acalmando o coração deveras agitado.
Quando Dumbledore a encontrou, Laurel continuava no mesmo sítio, sentada com o queixo pousado nos joelhos sujo de terra. O professor analisou-a, procurando indícios de ferimentos.
- Os Griffindor ganharam.- comentou o diretor, calmamente- E Harry está bem.
- Foi o Snape.- a menina disse, cansado- Ele estava a lançar-lhe um feitiço.
- Tenho a certeza que estás enganada, pequena. Severus nunca faria mal ao Harry.
- EU VI-O!- Laurel gritou, a tremer- Harry podia ter morrido...
- Laurel, acredita em mim, Severus nunca o faria. Não sei o que aconteceu mas não foi ele. Se me é permitido dizer, penso que estava a tentar salvá-lo.
Laurel franziu o sobrolho. Aquilo não fazia sentido nenhum. No entanto, não disse nada. Sabia bem que não valia a pena perguntar o que Dumbledore queria dizer com aquilo.
- Peço desculpa pelo vento. Fugiu do meu controlo...
- Eu sei, pequena. Ninguém se machucou, nem tu. Isso é o que importa.
A menina assentiu, abraçando as pernas ainda mais. Dumbledore fez-lhe uma festa na cabeça, carinhoso.
- Pequena, a tua magia não precisa ser um segredo. Podes contar a alguém, alguém como a Miss Granger.
Laurel abanou a cabeça de imediato, negando.
- Prometi à minha mãe que não contaria a ninguém. Se alguém soubesse, seria perigoso. Eu sou um perigo, professor. Não controlo a minha magia e não tem nada mais perigoso do que um feiticeiro sem controlo. O senhor sabe muito bem disso.- frisou, olhando-o nos olhos.
Dumbledore suspirou. Aquela menina tinha demasiado peso sobre os seus ombros pequenos, maior do que qualquer Ravenclaw tivera, ainda maior do que a sua própria mãe.
- O descontrolo não é tua culpa. Cora não iria querer que passasses por tudo sozinha, Laurel. A tua mãe desejava mais para ti do que apenas solidão e medo.
Depois do jogo de Quidditch, Laurel procurara esconder-se de Hermione e seus amigos. As palavras de Dumbledore só tinham trazido à tona a certeza de que ela era um perigo para as pessoas à sua volta, por mais que o professor pensasse o contrário. Sendo assim, procurou afastar-se, recusando-se a olhar para eles nas aulas que tinham juntos, muito menos no Salão, durante as refeições. Todos os dias Hermione tentara aproximar-se dela e todos os dias Laurel tinha que sair a correr para longe dela. Todos os dias, até a morena desistir e passar a simplesmente olha-la de longe, sem se aproximar.
A biblioteca tornara-se o lugar onde Laurel passava mais tempo. Mesmo vendo Hermione lá todos os dias, arranjara um sítio mais escondido onde podia estudar sem ser perturbada e esconder-se de encontros indesejados. Era o único lugar onde podia estar sozinha, visto que a Sala Comum dos Slytherin estava sempre ocupada por Draco e seus capangas e os corredores eram demasiado barulhentos. Ali, a menina dispunha todas as suas coisas espalhadas na mesa, punha os óculos de leitura no rosto e passava o tempo ora a fazer trabalhos ora a ler um bom livro. Algumas vezes, apanhava-se simplesmente a olhar pela janela, apreciando a paisagem que Hogwarts proporcionava. Era nessas alturas que se sentia mais tranquila e aí Laurel não se sentia tão sozinha.
No dia de Natal, Laurel fora como sempre até à biblioteca. Maior parte dos alunos tinham ido para casa festejar aquele dia especial mas a menina fora mandada ficar pois não havia condições para ela ir para casa. Laurel não estranhou; o seu tutor tinha muitas dificuldades financeiras e tinha preferido que ela ficasse no castelo, onde tinha tudo o que precisava e que a faria feliz. Mal ele sabia as saudades que Laurel tinha dele, a única outra alma solitária que conhecia.
Quando chegou ao seu lugar preferido, viu que alguém já lá estava, não na cadeira que costumava ocupar mas ainda assim na mesma mesa. Laurel não disse nada, embora fosse estranho. Deu a volta à mesa e sentou-se, pondo o livro de Poções que iria começar a ler. Com o ruído da sua chegada, a pessoa levantou a cabeça, olhando de forma curiosa para a ruiva. Era uma menina do seu ano e o seu rosto não era estranho. Laurel observou as suas vestes, parando no símbolo da Casa da menina. Uma Hufflepuff. Tinha uns olhos castanhos enormes, a pele cor de café com leite e o cabelo cheio de canudos negros caídos por todo o lado. Era muito bonita e quando sorriu parecia extremamente simpática.
- Olá.- a morena disse, com uma voz doce- Feliz Natal!
Laurel sorriu de volta, ligeiramente incomodada.
- Igualmente. O meu nome é Laurel...
- Eu sei. Acho que toda a gente sabe quem tu és. Uma das melhores alunas do primeiro ano! A competidora direta de Hermione Granger.
Laurel baixou os olhos ao ouvir o nome da sua primeira e única amiga. Queria ter podido ao menos desejar-lhe um Feliz Natal mas isso seria idiota depois de se ter deliberadamente afastado dela. O mais provável é que Hermione sequer quisesse voltar a olhar para a sua cara.
- Sou Ashley mas prefiro ser chamada de Ley. Adoro diminutivos! Mas para o teu nome não consigo encontrar nenhum. Lau? Feio. Rel? Esquisito.- a menina pôs a mão no queixo, pensativa- Vou ter de pensar melhor no assunto. Mas não vou desistir!
Laurel riu, achando graça à menina, que continuava a tagarelar. No seu íntimo, sabia que estava a cometer um erro ao deixar outra pessoa entrar na sua vida mas, só por breves momentos, não fazia mal ter companhia. Só por um dia. Afinal de contas, era Natal.
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