30 - O começo do fim
*Mídia do capítulo:
You are the reason -
Calum Scott
— Sabia que seria inteligente o suficiente para aceitar minha proposta, querida.
— Como se você tivesse me dado escolha, Stefan. -Resmungo fazendo uma careta e um sorriso caricato se forma nos seus lábios carnudos.
— Vamos, você sabe que eu te dei sim, só deixei bem claras as consequências caso não aceitasse. -Diz com a voz suave como uma mãe quando está prestes a dar um sermão no filho.
— Que seja, de todas formas, não posso sair assim do nada do apartamento. Certeza que meu tio e Angel desconfiariam de algo. Preciso de um tempo para... terminar tudo. -Engasgo com a última frase e seu sorriso fica ainda mais distorcido.
— Entendo, você tem três dias. Se depois desse prazo você não estiver morando com a sua mãe, todo o país vai conhecer uma outra face do seu namoradinho e pode ter certeza de que ele jamais conseguirá lutar outra vez. -Se aproxima e cada palavra que atravessa seus lábios, chega até mim carregada de intimidação.
Balanço a cabeça sentindo um sabor amargo na boca. Que merda eu fiz para merecer isso?
Tento não transparecer o medo que me invade diante da ameaça e ergo meu corpo ficando à sua altura. Não posso deixar ele pensar que tem o controle sobre mim, apesar de ser exatamente o que está acontecendo.
— Tudo bem, Stefan. Eu vou cumprir minha parte do trato, mas se você por algum segundo se atrever a não cumprir a sua, pode ter a certeza de que vai se arrepender de ter nascido. -Ele franze o cenho antes de sorrir abertamente. Stefan é um cara muito bonito e elegante, no entanto, toda essa beleza é estragada pelo caráter podre e a personalidade horrível que ele tem.
— Pode ficar tranquila que eu sempre cumpro minha palavra. -Assegura ficando pela primeira vez sério.
Prefiro nem responder nada e me viro caminhando de volta para a Strong.
— Três dias, Blair. -Diz para minhas costas e levanto a mão mostrando o dedo do meio para quem queira ver.
Uma risada rouca ressoa pelo ar e suspiro pela milésima vez.
Já estou me arrependendo dessa decisão, mas agora é tarde demais. Não posso colocar a carreira de Angel em risco por algo que concerne somente a mim. Ele não pediu para estar no meio desse caos chamado família Blair.
Ao entrar na academia, o balcão onde Becca trabalha está vazio e agradeço internamente por isso.
Deixo a sacola com os bolinhos em cima da mesa e vou até o banheiro feminino.
Isso não está certo.
Não está nada certo, porém não há outra solução. Pelo menos não por agora.
Lavo meu rosto repetidamente, como se esse ato fosse limpar tudo de ruim que me aconteceu até agora e meus olhos ficam vermelhos, as lágrimas se misturando com a água fria que escorre incessante pela torneira metalizada.
Encaro meu reflexo no espelho e mais uma vez ele me devolve o olhar debochado.
— Você é uma idiota, Makenna.
Quase consigo ouvir sua voz atravessando o vidro, quebrando-o em pequenas farpas que me atingem em cheio. E ele está certo.
Eu sou uma idiota.
Seco as mãos com uma toalha de papel e puxo uma respiração profunda, criando coragem para sair do banheiro e fazer de conta que não está acontecendo absolutamente nada.
Cruzo a porta com a intenção de ir até Becca, porém não chego muito longe já que acabo colidindo com alguém bastante apressado e dou alguns passos para trás perdendo levemente o equilíbrio.
— Droga, me desculpe. Foi sem querer. -Murmuro apoiando as mãos na parede ao meu lado, me estabilizando novamente.
— Tudo bem, Makenna. -Mia devolve com um olhar estranho. — Se machucou? -Indaga parecendo sincera e não consigo evitar uma expressão de surpresa.
Desde quando ela se preocupa comigo?
— Não... nem foi tão forte. -Asseguro e ela suspira aliviada. Levanto uma sobrancelha confundida.
Mia abre e fecha a boca várias vezes como um peixinho fora d'água e cruzo os braços, a curiosidade aumentando cada vez mais no meu interior.
— Hã, já que estamos aqui, será que podemos conversar? -Questiona levemente envergonhada.
O que diabos está acontecendo hoje?
— Eu acho que sim. -Respondo mais por interesse em saber o que ela quer me dizer do que educação.
— Okay. -Caminha até um pequeno banquete e se senta, de modo que faço o mesmo.
— Eu vou ser sincera para você, eu gosto do Angel. Muito, para falar a verdade. -Começa e fecho os olhos sentindo um aperto no peito. O dia não poderia ficar melhor.
— Acho que isso ficou bem claro. -Murmuro acirrada e ela sorri nervosa.
— Não é isso que está pensando. Na verdade, minha intenção é pedir desculpas por como agi nos últimos dias. -Completa torcendo a barra da blusa. — Angel está louco por você e todos aqui sabem disso, é só que... por algum momento na minha cabeça idiota eu pensei que talvez ele pudesse me dar uma chance, porém ele deixou bem claro que te ama. -Confessa agora completamente envergonhada e me sinto terrível por tratá-la de uma forma tão arrogante e mesquinha, quando ela só estava apaixonada por um garoto e eu cheguei de supetão arrebatando a possibilidade deles ficarem juntos.
Seguro suas mãos entre as minhas e ela suspira cabisbaixa.
— Está tudo bem, Mia, sério. Eu também não te tratei da forma que deveria e acho que isso acabou afastando uma possível amizade. -Digo sinceramente e ela levanta a vista até mim.
— Só desejo que algum dia alguém me olhe como Angel olha para você. -Sorri desanimada e meu estômago se revira outra vez.
— Garota, você parece uma modelo de tão linda que é! Tenho certeza que vários garotos devem te olhar assim, você só precisa prestar atenção. -Ela balança a cabeça sorrindo e ficamos em silêncio. Depois de alguns minutos as coisas começam a ficar estranhas, então solto suas mãos e me levanto repentinamente.
Ela acompanha meus movimentos e me dá um abraço desajeitado.
— Obrigada por não arrebentar minha cara. -Brinca e deixo escapar um riso anasalado sem querer.
— Vontade não faltou, pode acreditar. -Afirmo e ela nega com a cabeça.
É incrível como julgamos uma pessoa apenas por algumas atitudes sem nem ao menos tratar de conhecer seus reais motivos. Não que esteja justificando certas condutas, mas algumas vezes temos que reconhecer que nos equivocamos, e nessa ocasião tanto ela quanto eu erramos.
— Agora, preciso voltar para o trabalho. Nos vemos por aí, Mia. -Aceno rapidamente e caminhamos em direção contrária.
Não demoro para chegar até o posto de Becca e ao contrário de minutos atrás, ela se encontra sentada no lugar de sempre, distraída com o celular.
Becca é tão linda e amável, foi a primeira pessoa que quis ser minha amiga de verdade e será difícil ter que deixá-la sem nenhuma explicação. Se eu lhe contar sobre Stefan, tenho certeza que ela correria até Marcus e diria tudo em um piscar de olhos. Por isso não posso arriscar.
Um barulho de mensagem nova apita e ela estreita os olhos mordendo a unha enquanto lê o conteúdo.
Seus lábios rosados se curvam em um risinho de lado e suas bochechas ficam vermelhas quase que instantaneamente.
— Queria saber o que esse celular tem de tão interessante para te fazer ruborizar desse jeito. -Sussurro me debruçando sobre o balcão e ela solta um gritinho, quase derrubando o aparelho no chão.
— Droga Kenny, me assustou! -Resmunga com as mãos no coração, dramática como sempre.
Caio na risada com sua reação, deixando-a ainda mais brava.
— Não quis te assustar. -Afirmo recebendo um olhar zangado da morena. — Vim só avisar que trouxe bolinhos da casa de chá. -Aponto para a sacola ainda no mesmo lugar que deixei minutos atrás.
— Oh, obrigada querida. -Enfia uma mão dentro do pacote e puxa um dos quitutes, levando-o até a boca e mordendo com gosto a massa doce.
— De nada, vou ver como anda a academia... já volto. -Informo já me afastando, sem realmente saber se ela escutou, já que agora está distraída com os bolinhos em vez do celular.
Subo até o segundo andar e começo a arrumar todas as coisas largadas pelo chão sem saber realmente porque estou fazendo isso, sendo que em três dias estarei bem longe daqui.
Talvez seja uma maneira indireta de me despedir.
Definitivamente estou maluca.
Guardo tudo no seu devido lugar e passo um olhar pelo salão lotado de pessoas se exercitando alienados a tudo o que acontece ao seu redor, imersos sob os fones de ouvido enquanto se esforçam para moldar um corpo de acordo aos padrões impostos pela sociedade.
Vou sentir falta disso.
Inevitavelmente no meu interior eu sabia que uma hora ou outra, minha diversão teria fim e eu seria obrigada a voltar para a realidade da qual fui submetida minha vida inteira.
Só não pensei que aconteceria tão rápido.
As coisas com Angel ocorreram de uma forma tão abrupta, tão intensa que parece que nos conhecemos a vida toda.
E é justamente essa intensidade que me deixa apavorada. Ele se enraizou no meu coração de uma forma tão profunda que nem em um milhão de anos poderia terminar de contar quanto o amo, o que torna tudo ainda mais difícil.
Aprendi da forma mais impiedosa, que o mundo está cheio de pessoas malditas e infelizmente não posso fazer nada contra o impasse que me acertou em cheio: se eu for embora agora, Angel jamais vai olhar na minha cara outra vez, mas por outro lado, se eu ficar, estarei destruindo sua vida e sua carreira para sempre.
É isso, eu, Makenna Anne Blair estou completamente ferrada.
Termino de arrumar toda a bagunça que deixaram e desço para o andar de baixo na intenção de limpar a área dos tatames, no entanto, acabo dando de cara com uma situação que me deixa com o sangue fervendo e ao mesmo tempo ansiosa pois sei que vai me servir para começar o meu plano, caso contrário ninguém vai comprar esse meu teatro de quinta categoria.
Várias garotas estão ao redor de Angel tirando fotos com ele, pedindo autógrafos e algumas até tem a cara de pau de ficar tocando nele como se fosse um maldito pingente da sorte.
Como ele estava treinando há minutos atrás, ainda não trocou de roupa, então as meninas estão aproveitando a vista do garoto vestido apenas com o short, luvas e tênis.
Angel como sempre trata a todas com educação e nenhuma malícia, o que me deixa orgulhosa e triste ao mesmo tempo.
Me aproximo lentamente e paro ao seu lado de braços cruzados, observando a cena sem dizer nada.
Ele não demora muito para notar minha presença e se despede das tietes que só faltam me mandar à merda. Seus braços musculosos envolvem meu corpo e respiro fundo sentindo meus batimentos cardíacos adquirindo uma velocidade insana, não recomendada para uma pessoa saudável.
— O dia está bem agitado hoje, pelo visto. -Resmungo cética e ele sorri amarelo.
— Já sabe que não posso simplesmente ignorá-las, assim como sabe que só penso em você, amor. -Me vira lentamente e desvio o olhar do seu.
Não posso fazer isso, não posso simplesmente deixá-lo sem uma explicação. Seria demais para ele.
Seria demais para mim.
— Se você diz... -Tento me afastar, porém seus dedos me impedem rapidamente.
— Ei, está tudo bem? Aconteceu algo? -Segura meu rosto com os dedos e solto o ar pausadamente.
Angel não é idiota e com certeza já notou que algo não anda bem comigo, o problema é que não posso deixá-lo perceber o real motivo da minha conduta tão estranha.
Para todos os efeitos, apenas estou com ciúmes de toda essa aproximação feminina para cima dele.
— Não sei se vou conseguir lidar com toda essa gente querendo sua atenção. -Reclamo cabisbaixa e ele franze o cenho pensativo.
— Kenny, não diga isso, por favor. Quantas vezes terei que demonstrar o quanto te amo? -Exclama com algo de irritação na voz e fecho os olhos com força para não acabar derramando alguma lágrima.
— Infelizmente, para mim é difícil ter que ver como essas meninas praticamente pulam em cima de você. -Me libero do seu aperto e dessa vez ele permite que eu me afaste ainda com a expressão confundida. — Vou para casa, nos vemos mais tarde. -Saio de perto dele sem lhe abraçar, muito menos beijá-lo.
Angel não vai atrás de mim, sequer diz nada. Apenas fica parado no mesmo lugar, provavelmente pensando que eu virei uma daquelas típicas namoradas desconfiadas e extremamente ciumentas.
NOTA DO AUTOR
Helloooooo acharam que não ia ter att hoje né? kkkk
Os horários mudaram, mas os dias continuam os mesmos!
Novamente: não me matem.
Tudo tem uma razão de ser.
O que acharam da atitude de Mia? O que fariam no lugar da Kenny?
Não se esqueçam de votar e comentar,
Amo vcs 😍
Bjinhossssss ❤️
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