Prólogo
— Tem certeza que é por aqui, Nolan?
Ele nem se deu o trabalho de responder. Era a quarta vez que seu irmão fazia a mesma pergunta e aquilo já estava ficando cansativo.
— Olha, eu sei que você pode sentir o cheiro dela e tal — Ryan continuou falando, como se o silêncio de Nolan não significasse que o mais velho estava de mal humor —, mas não acho que alguém como ela viria pra um lugar como esse. É clichê demais.
— A maioria das mulheres gosta de lugares clichês, Ryan — respondeu Nolan simplesmente. — Você deveria saber disso.
Ryan fez uma careta enquanto fugia de uma mulher bonita que passava ao seu lado — provavelmente era de propósito a proximidade ser excessiva — para chamar sua atenção. Nolan achava muito estranho ver o irmão tentar fugir de sua natureza só para completar a missão. Não era algo que via sempre. Aliás, aquilo era muito raro. Dificilmente Ryan era capaz de resistir a uma mulher bonita que queria se entregar a ele.
— Mulheres normais gostam de lugares normais — Ryan reclamou, respirando fundo quando dispensou outra mulher bonita, uma morena como ele preferia. — Você melhor do que ninguém deveria saber que ela não é normal, então o mais provável é que ela não goste de lugares normais.
— Ela pode não saber que é diferente — retrucou Nolan —, isso seria mais plausível, já que ela deixa seu cheiro tão facilmente por onde passa.
De repente, o caminhar de Nolan foi interrompido por uma mulher loira — ou uma menina, pois ela com certeza não tinha idade para estar ali — que esbarrou nele, praticamente caindo em seus braços.
Nolan levantou uma sobrancelha para ela, que se afastou dele sorrindo e ficou encarando-o. Ele sabia que ela estava tentando flertar de uma maneira bem simples e tímida, mas ele não tinha tempo nem interesse para isso. A moça logo perdeu o sorriso diante do olhar sério e desinteressado que Nolan fixou em seu rosto. Quando a mulher se afastou, Nolan ouviu o risinho de Ryan atrás de si.
— O que é agora?
— Se fizer isso quando a encontrarmos — Ryan apontou com o queixo para a jovem que acabara de se afastar de Nolan de cabeça baixa —, ela fugirá igualzinho a essa mulher.
— Nenhuma outra interessa, Ryan. — Nolan tinha noção de como soava clichê e torcia para que ninguém além de Ryan soubesse que ele falou aquilo, mas não podia evitar. Era muito mais difícil para ele se desconcentrar quando precisava sentir o cheiro de alguém. — Não perca seu foco.
Nolan voltou a abrir caminho pela multidão. Não precisava fazer muito esforço, já que as pessoas se afastavam dele com muita rapidez quando viam sua expressão carrancuda, o que fazia com que Ryan risse cada vez mais. Entretanto, ele não estava com tempo para perder naquele mar de gente. Quanto mais demorasse no meio daquelas mulheres, menos focado Ryan ficaria e eles acabariam perdendo o rastro de quem procuravam mais uma vez. Nolan não gostava de deixar de cumprir com seus deveres.
Já Ryan gostava de irritar o irmão. Muito antes de Nolan ter se transformado, ele já era como um velho ranzinza, sempre sério e reclamando de tudo, focado demais em suas obrigações como o mais velho da família. Essa característica do irmão fazia com que Ryan se sentisse na obrigação de ser o contrário dele. Por esse motivo, mesmo sabendo que, quanto mais tempo levassem para encontrar quem deveriam, pior seria para o irmão, ele também não podia deixar de curtir o momento e obrigar Nolan a fazer o mesmo.
Depois de conseguir atravessar metade das pessoas que se aglomeravam ao redor do palco, Ryan finalmente caiu na tentação e agarrou a primeira mulher bonita que viu pela frente, obrigando Nolan a parar e esperar por ele.
"Será sempre assim?" o mais velho dos irmãos perguntou a si mesmo em pensamento, apesar de saber muito bem a resposta. Ryan só o deixaria seguir em frente quando estivesse saciado de seus desejos carnais, o que poderia levar a noite toda. Ser dependente do irmão mais novo tinha sido a pior decisão que tomara na vida.
Deixou seu pensamento vagar enquanto desviava os olhos do irmão agarrado aos beijos com uma mulher de cabelos escuros e corpo curvilíneo. Nolan só queria encontrá-la e levá-la para Moscou. Enquanto o cheiro dela estivesse em todos os aeroportos do mundo, ele não conseguiria cumprir com seus outros deveres. Por isso, pedira por aquela missão em particular.
Então, seus olhos encontraram uma mulher loira, de pele muito pálida, passando apressada por entre o público que estava com os olhos fixos no palco. De tão clara que era sua pele, as veias sobressaiam no seu pescoço. De repente, Nolan sentiu a sede que sempre o incomodava e se repreendeu por ter entrado em um lugar lotado como aquele.
Era fácil se controlar quando estavam sozinhos, mas, com muitas pessoas ao redor, era praticamente impossível. Talvez realmente fosse mais sensato deixar o caçula curtir a noite, já que ficaria de cama por todo o dia seguinte.
Foi então que sentiu o cheiro. Era o aroma mais delicioso que já tinha sentido na vida. Tinha cheiro de hortelã, de jasmim e da chuva fina que era capaz de alegrar os seus dias. Era como se fossem todos os melhores aromas do mundo em um só perfume.
Nolan sabia que seus olhos estavam mudando conforme olhava ao redor com desespero. Ela estava ali e ele tinha a prova disso impregnando seu olfato.
O cheiro estava indo até ele da esquerda, então esqueceu-se de Ryan e começou a empurrar as pessoas para fora de seu caminho. Não importava se machucaria os outros ao seu redor, Nolan só conseguia pensar que precisava encontrá-la e saboreá-la, era instintivo. Como se aquele fosse um momento muito importante, a sede que ele odiava tanto estava mais forte do que nunca e ela seria o elixir perfeito. Com toda certeza, a dona daquele aroma teria o melhor sabor que provaria por toda a eternidade.
Quando empurrou um casal para o lado, ele a viu. Não tinha nenhum brilho, nem um sinal de que ela era diferente, apenas seu cheiro inconfundível. Preparou-se para abordá-la. Não levaria mais de um segundo. Quando ele precisava, seus instintos e traços de vampiro faziam com que ele conquistasse sua presa de forma deliberada e inevitável.
Foi exatamente nesse momento que Ryan o jogou no chão.
A mulher de cabelos vermelhos olhou para o lado espantada e, ao vê-lo observando-a de onde estava agora no chão, saiu em disparada na direção oposta a dos irmãos.
A raiva que Nolan sentiu de Ryan por perdê-la o deixou cego e ele se virou rapidamente, colocando Ryan por baixo do seu corpo e segurando-o com firmeza contra o piso úmido de cerveja da casa de show.
— O que pensa que está fazendo? — perguntou Nolan. Sua voz estava rouca, um tom acima do normal. Se ele perguntasse ao irmão, sabia que suas presas estariam à vista, e naquele momento ele nem se importava. — Eu a encontrei.
— E quase a matou — Ryan cuspiu as palavras, ele também estava com raiva. — Levamos muito tempo para encontrá-la pra eu deixar que você estrague tudo. Prefiro esperar um pouco mais.
— Estou com fome — Nolan praticamente rugiu.
Ryan suspirou e deu um toque nos ombros do irmão mais velho, que entendeu a deixa e se levantou tão rápido que quem estava em volta olhou para os dois com confusão. Quando o caçula dos Levitt se levantou e se limpou, olhou em volta e suspirou outra vez. Não era nada divertido quando o irmão não conseguia se controlar.
Virando-se para Nolan, disse sério:
— Vamos pra casa.
*1275 palavras
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