capítulo 01
Capítulo 01
Vitória
Abaixei a cabeça ao passar pelo quarda, ele apenas me olhou com nojo e seguiu o seu caminho. Apertei aquela sacola com força sentindo uma grande felicidade. E nada ia me fazer ficar triste hoje. Afinal hoje era dia primeiro, o primeiro dia do mês, hoje finalmente era o dia de reposição, trabalhei muito para conseguir este remédio para minha mãe.
Ao atravessar o que um dia foi Nova York, agora são resquícios de uma cidade fantasma controlada por vampiros. Dou um sorriso de escárnio ao me lembrar do passado em como a vida era, o governo ao descobrir a existência dos vampiros se reuniram foi uma coisa única. Todos os países juntos pela mesma causa, mas não foi como eles imaginaram. Milhões mortos. Bombardeios as maiores capitais, guerra e sangue. E no final isso, a destruição. Acabaram com o nosso governo. Sobraram apenas vinte por cento da população mundial. E agora isso. Estamos aprisionados no que um dia foi uma cidade mundialmente conhecida. Mas que hoje não passa de uma carcaça do que um dia foi. Não temos mais governo humano. Apenas uma família real de vampiros originais no poder. Respirei fundo. A sede de toda a operação deles é aqui. Aqui que eles mantêm uma boa parte dos humanos que sobraram. Como gado prontos para o abate.
Certa vez ouvi uma frase da minha amiga. Falando que eles cuidam de nós, nos alimentam. A minha vontade era dar um socão na cara dela. É lógico que eles nos alimentam, ela não vê somos apenas alimentos para eles, afinal se toda raça humana acabar a deles também acabam, afinal eles precisam do nosso sangue para sobreviver.
Respirei fundo passando pela pequena viela antes de chegar no meu conjunto. Éramos divididos em dez conjuntos, eu e minha mãe éramos do nove, apenas um acima da extrema pobreza. Pessoas desse conjuntos eram as que mais sofriam. Certa vez vi um garoto ser brutalmente espancado em praça pública por estar segurando um livro. Um livro! Um item que era usado por todos. Mas que hoje é banido. Qualquer pessoa que for pega lendo e espancada até desmaiar, para servir de exemplo.
Sinto o cheiro de esgoto, o cheiro de morte pairando sobre o ar. Subo cinco lances de escadas até chegar em casa, pelo menos temos um lugar para dormir. Diferente de muitos outros que nem isso tem.
Entrei e encontrei a minha mãe cozinhando algo no fogão, ao me aproximar vejo que são as batatas de consegui essa semana. Ela sorri ao me ver. Retirei o casaco pesado e um muito gasto que estava usando. Mas me protegia do frio. O que era importante.
—- Onde você estava?
Me aproximei dando a ela a sacola, ela o abre levantando uma sobrancelha.
—- Onde você conseguiu isso Vitória?
—- Com o Logan.
Ela respirou fundo olhando para mim.
— Não quero você envolvida com ele, todos sabemos que ele mexe com coisas ilegais. E sabemos muito bem o que são feitos com pessoas que fazem isso. — Ela se sentou cansada.
— Eu sei mãe, mas a senhora estava tão fraca, eu estava com medo que você passasse mal. E não me custou nada. — minto.
– Não te custou nada?
— Não — Ela me observou
— Irei fingir que acreditei nas suas palavras. Se senta vamos almoçar.
Me sentei e começamos a comer aquelas batatas. Era a única coisa que tínhamos. A ordem, assim, era chamado o governo dos vampiros tinham muitas regras e a principal era que todos que completarem dezoito anos, tinham que se alistar, neste alistamento, era definido o seu futuro aqui. Ou você era escolhido para ser guarda, afinal eles não podiam sair de dia, e nós fazíamos isso para eles, o que é cômico se você parasse para perceber. Tinha os escravos de sangue, que se você tivesse um sangue bom, poderia servir a eles como escravas pessoais. Apenas um nome para bolsa de sangue com pernas era o que eu pensava, e se você não fosse escolhido para nenhuma dessas funções era apenas um peso morto, e assim era designado para serviços de limpeza ou qualquer coisa que eles quisessem. E não se enganem achando que éramos muitos valiosos para eles, porque não éramos, afinal o que eles queriam era sangue, nada mais que isso.
E para a minha infelicidade, a minha hora estava chegando, daqui a dois dias completarei dezoito, e irei ver o que irão fazer comigo. Evitamos falar deste dia, na esperança de que assim não aconteceria, mas sabemos que não é bem assim.
A minha mãe é uma doadora. Na melhor das palavras. Ela servia ao comandante. Um ser desprezível que a sugava todos os dias, não se importava com nada. Certa vez ela chegou tarde da noite, mal conseguindo ficar de pé. Os seus olhos estavam fundos. E várias marcas no seu pescoço. Ela estava fraca por isso tentei conseguir essas vitaminas.
Ao olhar para o seu rosto, vejo o tanto que envelheceu nesses dez anos que os vampiros tomaram conta de tudo. Os seus olhos estão fundos. O cabelo que já foi brilhante agora não passa de fios ralos e opacos. E magra, muito magra. O ódio domina o meu corpo. Sinto as minhas mãos tremerem. Uma incrível vontade de gritar faz com que eu aperte com força a minha mão sentindo as unhas machucarem a pele. Sinto um pequeno tremor.
A minha mãe me olha com os olhos arregalados.
___ Esses tremores de terra estão cada vez piores. ___ Ela fala se levantando, observei a sua mão tremer. Me levantei ficando do seu lado. Coloquei a minha cabeça no seu ombro, sentindo o seu cheiro, fechei os meus olhos tentando manter esse cheiro na minha memória. Ela passou as mãos pelo meu cabelo delicadamente.
___ O seu cabelo está tão grande.
Abrir os olhos, e vejo aqueles olhos azuis olhando para mim. Os mesmos olhos que vejo no espelho de manhã.
___ Acho que vou cortar.
— Você sempre fala isso mas nunca cortou. E você fica muito mais linda com ele grande. ___. Ela me deu um beijo no rosto se afastando.
___ Vou descansar, me acorde mais tarde.
Ela saiu da nossa pequena cozinha, e entrou no quarto que dividimos. Mais tarde ela tem que ir para a casa do comandante.
Me sentei novamente cansada de tudo isso. Várias vezes me peguei pensando como estaria o mundo depois das muralhas, será que existe algo a mais, alguém que esteja lutando por nós. Qualquer coisa.
Às vezes sinto que a minha mãe está escondendo algo. Mas nunca descobri o que seria. Ela certa vez me disse que eu era especial, mas sinceramente nunca vi nada de especial em mim, sou apenas uma adolescente comum. Que nutre uma grande vontade de exterminar essa raça maldita de vampiros da face da terra.
Ao sair de casa nessa manhã, deixei a minha mãe dormindo, ela chegou quase cinco da manhã, machucada e exausta.
Fui na casa de Sarah, ela é uma amiga. E ontem ela tinha completado dezoito anos, quero saber o que aconteceu. Depois de uns dez minutos cheguei ao setor seis, aqui já são casas nada de minúsculos apartamentos, e não tem o cheiro desagradável de esgoto que tem onde eu moro. Bati na porta da sua casa, depois de um tempo a sua mãe atendeu. Ela me olhou de cima a baixo com nojo. Mas tentei ignorar, isso já é normal, não me magoa mais como antigamente.
___ Sarah! ___ Ela gritou. ___. A Vitória está aqui fora. ___ Ela falou isso e entrou novamente. Não saí do lugar. Sei que a mãe da minha amiga não quer que eu entre. Então esperei a Sarah na calçada. Depois de uns minutos ela apareceu. A Sarah era linda, loira de olhos verdes esmeraldas.
Mas hoje ela estava diferente, os seus olhos estavam inchados como se estivesse chorando. Ele se aproxima se sentando do meu lado.
___ O que aconteceu?
A minha amiga fica parada olhando para um ponto mais além na rua agora vazia.
___ Eu virei doadora.
Mesmo sabendo que isso era possível, o meu coração doe para saber o que vai acontecer. Passei o meu braço pelo seu ombro a consolando.
___ Eu sinto muito.
Ela me encarou, mas balançou a cabeça.
___ Como foi?
Eu sei que pode ser insensível da minha parte mas eu queria saber como é, e a Sarah é a única que pode me falar. Ela suspirou.
___ Quando cheguei ao castelo, fui encaminhada para uma pequena sala. Que mais parecia uma sala de hospital. Eles me mandaram retirar as roupas, me observaram por um momento, depois retiraram um pouco do meu sangue. E saíram, fiquei lá na marca nua, morrendo de medo, sozinha.
Ela chora, a abracei mais forte.
___ Eles voltaram depois de mais ou menos uma hora. E me falaram que o meu sangue era bom, que eu seria uma doadora. Mas isso não foi o pior.
___ O que você quer dizer com isso?
Ela suspirou, limpando os olhos.
___ Eles me entregaram um papel. E nele estava escrito que fui selecionada para ser uma das doadoras do castelo.
O meu sangue gelou, quando você é selecionada para o castelo, você tem que morar lá, servir a eles a tudo que for mandado, e para piorar nunca vi ninguém que foi selecionado para lá voltar.
___ Eu não entendo, porque você?
Ela se virou me encarando.
___ Você sabe o que acontece com todos que são selecionados para lá. ___ Não respondi, ele continuou ___ Uma vez a amiga da minha mãe me disse que elas além de dar o sangue, eram obrigadas a manterem relações sexuais com o seu dono, ou com quem ele quisesse.
Abaixei a cabeça com ódio, e mais uma vez apertei a minha mão em punho, sentindo o ódio dominar.
Ela chorou sem parar no meu ombro, e eu não pude fazer nada, hoje mesmo ela iria ser levada para lá, eu nunca mais ia ver a Sarah. E para piorar amanhã era o meu dia de saber qual destino eu teria.
Ao voltar para casa passei pelo mercado, não me orgulho disso mas mesmo assim procurei por algo para roubar, e não deu, porque o mercado estava cheio de guardas, e eu não podia ser pega, afinal não seria somente eu a pagar, quando você é pego roubando toda a sua família é presa.
Voltei para casa, a minha mãe estava sentada. Me aproximei sentando do seu lado. E mesmo me controlando chorei, ela me abraçou e assim nos seus braços eu contei o que aconteceu com a Sarah. Mas ela não falou nada, apenas ficou quieta, quieta como a muito tempo eu não via.
Na manhã seguinte eu não conseguia ficar quieta, hoje era o meu aniversário, hoje eu saberia o que me aguardava. A as vinte e uma horas era o meu teste, e essa espera estava me matando, quando acordei não vi a minha mãe em nenhum lugar, quando cheguei na cozinha apenas um bilhete falando que estava resolvendo algo.
As horas foram passando e nada dela chegar, já estava pegando o casaco para ir atrás dela quando a vi chegando, já eram oito horas da noite faltava só uma hora para teste, ela chegou toda ofegante. Me aproximei dela.
___ O que aconteceu?
Mas a minha mãe não disse nada, apenas foi para o nosso quarto pegou duas bolsas e me entregou uma. Fiquei olhando para ela sem saber o que fazer.
___ O que você está fazendo, mãe?
Ela parou se aproximando de mim. Segurou os meus ombros e olhou diretamente nos meus olhos.
___ Vamos embora daqui!
___ Embora? Mas como mãe? Não podemos simplesmente ir embora, você ficou doida, e se nos pegarmos. ___ Balancei a cabeça nervosa. ___ Não, não não. ___ A minha mão se fechou em punho mais uma vez. E senti a casa mexendo mais uma vez, mais um tremor de terra.
Ela me encarava, suor se formava no seu rosto o seu peito subia e descia rapidamente, a vi engolindo em seco antes de falar.
___ Nós precisamos sair daqui, eles não podem saber, eles não podem fazer o teste em você.
Balancei a cabeça sem entender.
___ Eu entendo você acha que serei escondida como a Sarah, mas as chaves são muito pequenas, eu não tenho nada de especial, não sou bonita como ela mãe, posso ser igual a você, e poderia te ajudar, assim a senhora poderá descansar. ___ este era o meu plano desde o começo ficar no lugar da minha mãe para que ela tenha uma vida melhor.
Mas ela balançou a cabeça, as suas mãos ainda estão no meu ombro. A vejo chorando.
___ Você tem que entender filha. Eu tenho certeza que você será escolinha para ficar no castelo, eu não quero você lá. Por isso vamos fugir.
Eu não perguntei o motivo da sua certeza, não questionei, apenas a ajudei a pegar umas poucas roupas. E o restante de comida que ainda temos.
Em menos de trinta minutos já estávamos andando para a muralha, eu já tinha vindo aqui antes. Mas nunca tão perto. Ela era enorme, estamos em um prédio abandonado, a minha mãe a todo momento olhava de um lado para o outro. Ela não falou em como iríamos sair, apenas segurava a minha mão.
Já passava das vinte e uma horas, a uma hora dessa provavelmente um guarda já estaria na minha casa me procurando. E esse fato faz o meu corpo tremer, o meu coração está tão acelerado que por um momento não sei se vou conseguir. Depois de um tempo vejo uma sombra se movimentando até parar ao nosso lado. Vejo um homem beirando os trinta anos, uma cicatriz no rosto que ia do olho direito até a boca, engoli em seco percebendo que a minha mãe se meteu em algo grande demais.
___ Conseguiu? ___ Ele perguntou a minha mãe. Ela por sinal balançou a cabeça concordando, ela retirou de dentro da sua bolsa uma pequena caixa e o entregou, vejo o homem a abrindo, e deu para ver que se tratava de pequenos frascos de vidro com um líquido transparente dentro. Queria perguntar o que era, o que ela tinha feito para conseguir aquilo. Mas não deu tempo. Ouvimos um estrondo fazendo com que caíssemos no chão, tossir sem parar, ao tentar respirar e não consigo ver nada uma fumaça densa demais. Procurei por minha mãe, comecei a gritar por ela e nada.
Ouço barulhos de tiros, corri na direção dos tiros, rezando para que a minha mãe não estivesse no meio.
Mas quando cheguei na rua a vejo sendo arrastada por um demônio. Um vampiro a arrastava pelos cabelos. Vejo mais cinco chegando. A minha mãe tenta se debater para sair do seu aperto. Mas não conseguiu. Corri o mais rápido possível para poder ajudar, quando já estou a um metro de distância dela sinto alguém me pegando pelo pescoço me levantando, tentei sair, o arranhei, fiz de tudo para conseguir sair mas não consegui, ele apenas me encarou. Com aqueles olhos vermelhos como sangue. Não estou conseguindo respirar, ouço a minha mãe gritando que eu não sabia, que foi ideia dela roubar o veneno.
Neste momento o vampiro me jogou no chão com força, sinto todo o meu corpo doendo, mas mesmo assim me arrastei para chegar perto da minha mãe, gritando para que ele parasse de segurar ela pelo pescoço. Mas ele não parou, vejo os olhos da minha mãe olhando para mim. E mesmo sofrendo ela sorri. O vampiro dá um soco no peito da minha mãe. Naquele momento eu não conseguia ouvir nada, era como se o tempo parasse, o vejo arrancando o coração da caixa toráxica dela. Ele segurou o coração da minha mãe com força o esmagando em frente aos seus olhos.
Não, não, não, não. ___ Nãooooooooooo. ___ Gritei o mais alto que consegui. O chão começou a tremer, ao abrir os olhos vejo o corpo sem vida da minha mãe no chão uma poça de sangue ao seu redor. Ela ainda está olhando para mim. Mas nesse instante não consigo fazer nada, sinto uma forte dor na cabeça e desmaio.
Aos poucos vou abrindo os olhos, estou em um lugar úmido e frio, a minha cabeça dói sem parar. A minha garganta está seca. Tentei me levantar mas não consegui. Ouço uns soluços e vejo várias pessoas também aqui todas sujas, não que eu esteja melhor. Minha mãe. E neste momento me lembrei de tudo que aconteceu. Os meus olhos ardem sem parar, e fico ali naquele lugar escuro, e só imagens do seu olhar sem vida na minha mente.
Eu não acredito, não consigo acreditar. Eu tremo toda, já chorei tanto que acho que não tenho mais lágrimas.
Já se passaram horas que estou aqui, que aos poucos percebi ser um calabouço.
Mais cedo um guarda jogou uns pedaços de pães para nós, como se fossemos cachorro, algo sem serventia nenhuma.
As pessoas que estão comigo aqui começaram a brigar para ver quem pegava mais. Mas eu não me movi, apenas fiquei quieta no lugar que eu acordei, lembrando de tudo que aconteceu.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro