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"O governador não vai gostar nada disso"

CAPÍTULO OITO

"O governador não vai gostar nada disso"

†††

– Levante-se, Caio! – Disse Alice, estendendo a mão para o garoto ainda deitado, devido ao soco que levou. Ele a segurou e se ergueu de pé novamente – Venha, vamos dançar! – Chamou o rapaz, e os dois foram seguindo, em passos lentos, o ritmo da música.

Ficaram cerca de dois minutos juntos. No entanto, a euforia que Caio demonstrava enquanto dançava incomodava demais a bela psicóloga.

– Você é boa com isso, hein! – Comentou ele, em um berro, observando os movimentos da mulher, apesar de ainda sentir a dor que sumia gradativamente.

– Pois é. Diferente de você que não consegue falar nada sem gritar, né? Está muito bêbado...

– Eu? Bêbado? Só bebi um pouquinho... – respondeu ele, rindo e lacrimejando.

– Olha, Caio... Não sei porque eu vim perder meu tempo com você... – Disse ela, dando de ombros para ele e procurando outro par.

Perto do bar de bebidas, Vinícius conversava um pouco mais com Camila, sua ex-namorada.

– Não vai beber nada? – Perguntou ela, com um copo de água na mão.

– Não sei, tenho receio de ficar bêbado como esses daí... – Ele falava, apontando para os mais alterados da festa – E veja você, que só está na água!

– Ah, não seja por isso. Miguel! – chamou.

– Diga, Camila! – respondeu o estagiário, esboçando um sorriso de lado.

– Pode me ver dois coquetéis de frutas, por favor?

– Claro! Com álcool? – Disse ele, e Camila fez que sim. Após dois minutos, entregou o pedido para eles. Vinícius bebeu um pouco e gostou. Ela riu após ele terminar sua bebida.

– É bom mesmo – disse, encarando a jovem – Você está gostando da festa?

– Claro. Eu também não sou de ficar bebendo coisas alcóolicas, sabe... Meus rins agradecem. Mas, vez ou outra, não vejo problema... É só dosar.

– Sim. Concordo.

– Olha, eu queria que mantivéssemos com a nossa amizade... – falou ela.

– Sim. Podemos continuar amigos!

– Bem, mas... – ela chegou mais perto dele, alisou seu peito, em um tom mais sedutor. Sorrindo, desabotoou sua camisa. Vinícius engoliu a seco, gostava dessa intimidade com ela. Em seguida, a jovem lhe deu um beijo, que foi correspondido.

– Nossa, que coisa! – Ele exclamou. Após pouco mais de um mês que terminou o namoro, sentiu que o toque de Camila já não era mais o mesmo.

Não nutria o mesmo sentimento de ficar com ela ali. Não ia ser algo que se orgulharia no futuro.

– Estamos em uma festa. Sem compromisso, sabe? – Ela sugeriu.

– Hum, sei. Mas... – Ele pensou bastante – Hoje não. Mesmo que estejamos em uma festa. – Ela revirou os olhos, e assentiu. Pegou seu copo de coquetel e saiu de perto. Procurando um outro par.

Vinícius suspirou.

– Ainda gosta dela, né? – Alice falou ao seu lado, espantando o rapaz. Logo, os dois gargalharam da situação.

– Dois coquetéis de cítricos, Miguel! – disse Vinícius.

– Oh, eu não gosto muito desse coquetel não...

– Os dois são para mim, não se preocupe! – Ele respondeu, e Alice deu uma gargalhada.

– Cuidado, hein!

– Esse nem tem álcool!

– Sendo assim, está bem! Mas responda... Ainda gosta dela?

– Bem, talvez um pouco... Mas se ficássemos hoje, eu ia me iludir. Não quero isso. Tem vezes que ela demonstra gostar de mim. Outras vezes... – falou ele, apontando para Camila, que já estava abraçada com Renan.

A bebida chegou e, em goles rápidos, Vinícius foi bebendo seu coquetel.

– Entendo, meu irmão... Aconselho que a esqueça! Há tantas outras meninas bonitas por aí. Você é um cara incrível! É só deixar transparecer suas qualidades, que verão o quanto sua presença é agradável. – Disse, expressando bastante sinceridade.

Ele avistou Micaela, que o fitava sutilmente. A ideia de se relacionar mais amorosamente com ela não lhe parecia ruim. Já eram amigos e íntimos.

– Você também é uma pessoa maravilhosa! Pena que só fomos nos conhecer de verdade agora, né...

– Tem razão.

Quando viram, Vinícius já estava na metade do segundo coquetel.

– Ei! – Começou ela – Por que a gente não dança junto? – Propôs, e ele logo aceitou. Foram para o centro da pista e começaram a se mexer.

Diferentemente de Fernando, Víni estava mais à vontade acompanhando os passos de dança da irmã. Também estava bem mais sóbrio e controlado que Caio. Assim, passaram duas... Três... Quatro músicas. Micaela observava aquilo atenta e sozinha, bebendo seu refrigerante. Alice notou isso e puxou o braço de seu irmão em direção a ela.

– Olha, ela é uma moça bonita. Chame-a para dançar contigo! – Sugeriu, e ele assentiu, porque já gostava dela.

Enquanto o irmão de Alice chamava a bela Micaela para uma dança, a jovem psicóloga procurava por Beatriz Drummond.

Ao se virar, deparou-se com Christian beijando calorosamente Isabela Ribeiro. Era algo vulgar e sexual demais. Virou-se e continuou seu caminho.

A filha do governador foi vista bebendo mais um drink enquanto mexia no celular. Usava um vestido leve, sem mangas, de cor laranja. Seus cabelos loiros estavam soltos e, em suas orelhas, existiam lindos brincos de argola.

– Oi Bia! – Cumprimentou Alice. A estudante não estava tão seca e arrogante como no dia anterior. Talvez por estar um pouco afetada pela bebida. De qualquer forma, estava mais agradável. – Tudo bem contigo?

– Vou bem, sim – respondeu normalmente, e as duas ficaram em um silêncio constrangedor.

– Quer vir dançar? – Questionou-a, com ousadia. Beatriz refletiu bastante na resposta.

– Contigo?

– Sim. Por que não?

– Está bem. Pode ser. – Não pensou muito na resposta. Apenas aceitou o pedido. A tensão do dia anterior havia diminuído e já estava disposta a falar com sua "amiga virtual".

A filha do governador colocou seu copo sobre uma superfície e se dirigiu ao centro da festa, onde todos dançavam a música "DJ got as fallin' in love". As duas deram quase um show de dança. Cada uma acompanhando os passos da outra formavam uma harmonia incrível.

No entanto, aquilo causava olhares invejosos.

– Ah, não acredito! – Exclamou Beatriz, revirando os olhos.

– O que foi? – Alice a indagou.

– O Renan. Ele não para de olhar pra cá! – Ela respondeu, apontando para o rapaz que as fuzilava com os olhos.

– O que ele tem a ver com a sua vida?

– Lembra que te falei do garoto que namorei? – Perguntou, ao se lembrar das conversas pelo aplicativo "KnowNow".

– Lembro sim.

– Então, é ele. E ainda não superou o fim do relacionamento.

– Que cara escroto! Ainda pouco estava agarrando a Camila!

– Pois é – ela concordou – Parece que você não causou uma impressão tão boa assim para todo mundo. – Falou, e as duas deram uma risada leve.

– Tem razão. Às vezes, parece que só meu irmão me quer bem aqui.

– Vinícius te ama. Isso é fato! – Confirmou – Pelo menos você tem uma pessoa que te quer bem. Agora, eu...

Alice ficou calada. Parando para analisar, realmente, ela podia ser mais querida do que a própria anfitriã da festa.

– Acha mesmo que eu não te quero bem? – Ela disse, fitando os olhos da garota que ficou desconfortável com a pergunta.

– Ah – começou Beatriz, chateada de novo com a mulher – só a bebida para me fazer falar contigo de novo. Você não me merece! – Concluiu, ao acabar a música, e se distanciou dela.

A psicóloga não se abalou. Viu que todos já estavam bem alterados, e ficou mais longe ainda deles. Olhou seu relógio. Eram 23:00. "Hora de botar meu plano em prática" pensou.

O volume do som que o rádio emitia era estrondoso, podendo incomodar quem ficava por perto com uma música eletrônica qualquer. A casa de Rodrigo era o palco de uma grande festa entre os alunos. Eles aproveitavam como nunca antes imaginavam que podiam.

Havia gente pulando no sofá, tirando a roupa e gritando na casa. Tudo estava uma bagunça. Nem parecia aquele belo lugar de antes. Vários dos jovens participavam disso, enquanto Rodrigo e Emily preferiram sair aquela noite.

– O governador não vai gostar nada disso... – comentava Vinícius, para Micaela. Eles não haviam ingerido muita bebida alcóolica, porém, estavam relativamente alterados.

– Pois é! Mas olha lá, o filho dele também está fazendo o mesmo! – Disse Micaela, apontando para Christian que estava bastante bêbado dançando com a pouca consciência sobre si mesmo, junto com Isabela Ribeiro, que fazia o mesmo.

– Ah, mas vamos esquecer isso e curtir, pelo menos! – Falou ele. Os dois conversavam em voz alta e um perto do outro, pois com o alto volume do rádio, era impossível escutar algo com clareza.

– Sim! Claro! – Concordou, mexendo a cabeça. Ela bebeu o último gole de seu refrigerante e foi dançar com ele.

Trinta minutos depois, Hugo Torres corria esbaforido até o meio da pista de dança.

– Ei, pessoal! – Ele gritou, no meio da festa, visivelmente alterado pelo álcool – Miguel falou que está na hora dos fogos! – Anunciou, e causou alvoroço com mais gritos entre os formandos.

– Sim! – Afirmou o biólogo, lá em seu bar – Vamos para a praia soltar! Acabou a bebida!

Com gritos e gargalhadas, todos fizeram como sugerido. Com exceção de Christian Drummond e Isabela Ribeiro, que estavam tão envolvidos um no outro, que preferiram permanecer por lá. E Alice Ferreira.

Mesmo sem todo mundo, Miguel Cordeiro se voluntariou para soltar os fogos. Eram trinta quilos do material.

– Bom saber como é gasto o nosso dinheiro! – Comentou Camila, para Hugo Torres, que estava ao seu lado. Em seguida, ambos gargalharam, aparentemente alterados.

Eram 23:50 quando foi lançada a primeira rajada de fogos de artifício, que foi motivo de pulos de alegria e gritos dos estudantes, que viam aquilo como algo formidável e incrível.

– Que demais, garotas! Olhem isso! – Falava Taís Pontes, dando um abraço apertado nas amigas Micaela e Débora, que riam feito crianças.

Não esperaram muito e logo veio uma nova onda de fogos. E, então, em cinco minutos, tudo já tinha explodido no ar.

Animados, os adolescentes gritavam, abraçavam-se e gargalhavam com tudo aquilo. Porém, já tinha acabado e, portanto, deveriam voltar para a casa.

De repente, observaram, não muito distante dali, um grupo com cerca de cinco jovens um pouco mais velhos, também animados e festeiros. Vestidos como eles. Deixaram se aproximar, para ver o que queriam.

– Olá, rapaziada! – Falava um homem de, no máximo, vinte e seis anos, com a blusa desabotoada, deixando aparecer seu peitoral negro e seus pelos crespos. Seu nome era Marlon Fletwood – A gente está fazendo uma festinha ali também. Estão todos convidados!

– Opa! – Gritou Fernando – Vamos lá, galera! – Todos berraram de volta, em alegria, e correram para a festa que acontecia não muito distante dali. Cerca de apenas duzentos metros.

O homem observou bem cada integrante daquele grupo.

– Alice vem? – Ele perguntou para Camila, Caio e Taís, que estavam caminhando próximos a ele.

– Deve vir, sei lá! – Caio respondeu, gargalhando alto. Todos fizeram o mesmo, e continuaram a andar pela praia.

– Ah, sim. Tomara mesmo, né! – Respondeu, rindo bastante, nitidamente embriagado.

– Ei! Notaram alguma coisa? – Perguntou Hugo, para os outros que estavam perto.

– O quê? – Disse a professora Susana.

– Beatriz estava aqui. Mas não está mais.

– É mesmo! – Admirou-se, percebendo a verdade. Olhou para seu relógio. Já eram 00:30.

No entanto, nada foi feito. Eles entraram em um salão que organizava festas todos os sábados. Lá era maior e tinha mais gente. E mais bebida também. Os jovens ficaram lá dançando, conversando e bebendo por um bom tempo.

Pessoas entravam e saíam a todo momento. O estado dos jovens era tão deprimente que mal lembravam por onde passavam e quem estava em sua frente. Passou-se uma hora e meia e Beatriz foi vista tirando fotos com suas amigas Calista e Sabrina.

O tempo foi passando. Às duas horas e cinquenta da manhã, Camila ia pegar um refrigerante na festa quando sentiu puxarem sua blusa amarela. Virou-se para trás. Era Vinícius.

– Camila – ele começou – você viu a Alice? Faz tempo que não a vejo.

– Não faço ideia. Deve está por aí! – Ela disse e riu, voltando a beber.

Retomando a consciência, Vinícius observou ao seu redor. Procurou a irmã por todos os lados. Em vão. Encontrou Micaela, então.

– Micaela – ele a chamou e logo foi atendido – Eu estou procurando Alice faz tempo! Você a viu?

– Olha... Não a vi. Mas por que você não esquece isso e se diverte? – Ela disse, rindo. Seu hálito confirmava que havia exagerado na bebida. Mas Vinícius não ligou, pois bebera tanto quanto ela. – A gente podia ficar um pouco juntos. O que acha?

– Ah, não sei... – ele falou. Ousadamente, ela pegou a mão dele e o fitou nos olhos. Vinícius não conseguia falar nada.

Ele notou, então, que sua amiga era mais bela do que imaginava. Ela vestia um vestido branco, com pintas pretas. Seu cabelo volumoso era bem atraente e suas sapatilhas davam graça no seu visual.

Aquele olhar o fez esquecer de tudo. Sem pensar muito, a agarrou pela cintura e encostou seus lábios aos da garota, que correspondeu sem hesitar, evoluindo para um beijo intenso com o tempo. Ambos queriam muito isso.

Às três horas e dez da manhã, todos se reuniram para voltar até a casa do governador.

Chegaram lá às três e vinte. Susana foi a primeira a abrir a porta, acompanhada de todos os outros, inclusive Tomas, que passou um tempo se banhando no mar. Quando olhou para frente, deu um grito de susto com a presença do próprio Rodrigo Drummond em sua casa. Com a expressão enfurecida.

– Impressionante, professora! – Exclamou ele, e a mulher, envergonhada, corou. Os alunos que estavam atrás dela também ficaram chocados. – Uma festa! Com bebida, música alta, sexo... – falou, estupefato – E para piorar, drogam o meu funcionário! Inacreditável!

– Olha, não tenho palavras para expressar o meu arrependimento – dizia ela.

– Cale a boca! Você fede a álcool! Vocês todos! – Bufou, apontando para cada um – Querem saber? Vão dormir! Amanhã, quando acordarmos, eu terei uma conversa com todos... A última, aliás! – Falou, pegando seu casaco e saindo da casa.

– Não irá dormir aqui? – Perguntou o estagiário Miguel.

– Depois da nojeira que fizeram na minha cama? Não! Está dito. Amanhã, vocês arrumarão suas coisas e irão embora!

De cabeça baixa, praticamente todos foram direto para seus quartos e, rapidamente, caíram no sono. Só acordaram às nove horas da manhã do dia seguinte, de cara com um terrível incidente.

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