57. Preparativos
Alif poderia ter dito para a assistente preparar toda a festa, mas queria essa chance de estar com Lilith. Conhecê-la melhor, apreciar sua companhia. Não a viu mais desde domingo, quando fizeram o almoço na casa de Alberto, que estava se recurepando de maneira esplêndida. Ao vê-lo sem camiseta, notou que ele tinha uma cicatriz de tiro no peito. Achou melhor não questionar, soaria inconveniente.
Todos se revezaram para cuidar de Alberto, de maneira que ele nunca estava sozinho, mas eles não se viam. Alif disse à João Cabral que não punisse Cassius e Alberto pelas faltas, era sua exigência como sócio. O outro nem questionou. Nur entendia que soava estranho defender tanto aqueles dois. E era, mas do seu ponto de vista, era normal defender os amigos.
Estava no carro parado esperando Lilith sair do prédio onde trabalhava. Ela ganhou uma folga especial, como contara à ele. Só que Alif também era sócio do estúdio e disse para Suzanna que precisava de Lilith naquela tarde e seu desejo era uma ordem. Não costumava falar desse jeito babaca com as pessoas, mas foi necessário.
Lilith enfim saiu. Vinha em sua direção. Estava como sempre, simples, camiseta de banda nacional que nessa ocasião era Dorsal Atlântica, mochila, bermuda jeans e cabelos soltos. Os lindos cabelos de Lilith com os cachos ao vento e aquela estranha mexa branca. Ela chegou.
— Olá garotão, topa fazer um programa? — ela disse se debruçando na janela.
— Claro. Quanto? — ele entrou na brincadeira.
— Decidiremos mais tarde. — ela piscou em falso flerte e riu. Alif amava o riso e o sorriso de Lilith, eram luminosos.
— Entre no carro, senhorita. Vamos às compras.
Ela obedeceu. Alif ligou o som, colocou The Eyes of Sharbat Gulla da banda Nightwish. Lilith comentou que curtia, então foram falando sobre música até chegar ao centro da cidade. Lilith sugeriu que fossem ao shopping porque encontrariam tudo por lá, menos o bolo. Ele obedeceu.
— Então, onde iremos primeiro? — ele perguntou, perdido.
— Uai, eu esperava que o melhor anfitrião do mundo soubesse. — provocou.
— Primeiramente, compraremos a comida. Ali. — Ele apontou uma loja para a qual foram imediatamente.
— Maravilha. Primeiro, que tipo de brigadeiro faremos? Dos que já vem prontos e só enrolamos ou brigadeiro de colher? — ela ergueu um pote de brigadeiro.
— Bem, eu prefiro o de colher. Podemos colocar muito chocolate nele. — fez uma cara maliciosa erguendo uma embalagem de pó de cacau.
— Sobre a quantidade, quantas pessoas teremos?
— Você conhece melhor, quem devemos chamar?
— Quanto menos gente, mais comida pra mim, então... acho que nós quatro e a Natasha.
— A detetive Green? — Alif se surpreendeu.
— Sim, parece que ela e Cassius tem uma queda de meteorito um pelo outro.
— Nouffa, que bafo! Ele contou do dia que eles almoçaram juntos? — Lilith acenou que não. — Pois é, ela tem uma Fat Bob.
— Uau, ela anda por aí em uma Harley? — Lilith estava admirada, pois era cara.
— Pior que sim. Chamá-la é a melhor ideia, na minha humilde opinião!
— Com base nessa extensa lista de convidados, vamos pegar o que precisaremos. — ela pegou uma caixa de leite condensado em cada mão.
— Pegue com fartura, por favor. Fazer pouca comida dá azar.
E assim seguiram comprando os itens alimentícios necessários para preparar beijinho, brigadeiro e cachorro quente. Então Alif teimou que queria fazer esfirra e pizza e foram atrás dos ingredientes.
— Que tal se fizermos uma torta de frango? — ele disse.
— Vamos festejar o aniversário de Alberto por quantos meses? Aqui já tem comida suficiente para enfrentar o Apocalipse.
— Não importa, quero muita comida mesmo. Dá azar fazer festa sem fartura.
— É uma pena você não ser o deus dos cristãos, pois você salvaria o mundo da fome.
— Pare de me enrolar e pegue os ingredientes, moça, ou serei obrigado a deixá-la sem bolo.
— Dou uma voadora em você, árabe grandalhão. — e deu um soco leve no peito dele.
— Pode vir, valentona.
E Lilith se lembrou dos irmãos a chamando de valentona porque bateu em Jonathan Kira. Alif tinha o mesmo jeito carinhoso e descontraído que os irmãos tinham. Era bom estar com ele, ela se sentia a pessoa mais especial da terra. A memória daquele dia trouxe consigo a lembrança que ela tinha poderes. Ainda não tinha se acostumado com isso, era como se não tivesse.
— Lilith! Lilith! — ele a chamava um pouco mais alto que o usual. — Você está aí parada e vidrada nessa caixa de absorvente para os pés, creio que não podemos comer isso.
Ela riu.
— Desculpa, estava lembrando de algo que ocorreu a alguns dias.
— Será que está bom de comida? — ele olhou preocupado.
— Se não está teremos problemas, porque você já pegou o mercado todo e colocou nesse carrinho. — Ela gesticulou para a montanha de comidas.
— Bom, então vamos pagar.
— Que tal sairmos sem pagar? Só pra testar o que vai acontecer. — ela brincou.
Ele gargalhou e foram para o caixa. Pagaram, depois levaram a imensa pilha de comida para o carro e retornaram para comprar a decoração da festa. Eles passaram frente à uma joalheria e olharam os itens da vitrine. Lilith ficou encantada com um par de pulseiras feitas de correntes finíssimas em ouro, ambas com um delicado coração azul de alguma gema que não perguntaram qual era. Depois de admirar as correntes foram para a loja de artigos para festa.
— Acho que devemos comprar chapéus. — Alif sugeriu de repente.
— Ótima, ideia! — ela disse, exultante.
— Que tal do Batman?
— Ele prefere as heroínas. Esse aqui é perfeito. — disse apontando chapéus lilases com a imagem da Ravena. Então Alif pegou sete.
— Língua de sogra?
— Sério? Pode ser. — ela pegou algumas.
— Agora chegou a vez dos balões. — ele disse olhando para ela desafiadoramente.
— Deixa eu ver, quero os ME-LHO-RES balões que o mundo já viu. Os mais bonitos e resistentes. — ela analisava os pacotes e falava com ares de cientista. — E também vou comprar MUITOS porque ao contrário do que certas pessoas pensam, eu também posso pagar.
— No dia do MEU aniversário vou querer uma festa de arromba, tudo por sua conta, senhorita Bravo. — ela sorriu.
— Pois bem, alugarei o Taj Mahal e chamarei um sultão para massagear seus pés.
— Ah claro, chama o Aladin também.
Ambos riram muito enquanto compravam os itens de decoração. Compraram muito, Lilith observou o preço de tudo que compraram, Nur era mesmo muito generoso. Depois de levarem tudo para o carro voltaram para comer na praça de alimentação, depois iriam para a confeitaria e a distribuidora de bebidas.
— Hum, geralmente detesto comida de fast food, mas tem um espaço alí que vende pastéis bem gordurosos e saborosos. — disse para Alif.
— Por quê não gosta de fast food?
— Não tem sabor. Quando você come um podrão é bem melhor, um sanduíche bem cheio de colesterol e feito em chapas duvidosas.
— Tens toda a razão. — ele não era fã de fast food. Preferia levar Lilith à um restaurante, mas não tinham tempo.
Ambos comeram pastéis e riram mais. Muito mais. Disseram várias bobagens, falaram de coisas sérias, do passado e do presente. Lilith se soltou, como geralmente não fazia com estranhos e o coração de Nur acelerava a cada sorriso que ela deu. De repente o clima foi mudando, ficando mais romântico. Alif queria beijar e abraçar Lilith. Levar ela ao cinema, tocar os cachos dela. Por algum tempo ficou observando-a falar do trabalho, ela realmente amava aquilo. Amava tudo o que fazia e sentia e fazia com intensidade. Ele cansou de observar e em um rompante de coragem perguntou o que queria.
— Lilith, quer namorar comigo?
Ela mudou a expressão. Estava surpresa, congelada olhando para ele. O coração batendo rápido e forte, porque ela gostava dele como ele gostava dela. Mas ele achou que ela ia recusar, então começou a se consolar mentalmente e organizar formas de ir embora de Oriente.
— Como? Nós nem nos beijamos ainda.
Era verdade, então ele respondeu com toda a sinceridade.
— Eu gosto de você desde a primeira vez que te vi. Eu quero você de uma maneira que vai além da relação física. Façamos de uma maneira diferente, da nossa maneira.
— Você tem certeza?
— Sim. Certeza absoluta.
— Eu aceito.
Então Alif se levantou e saiu correndo. Lilith ficou sozinha e assustada. O que deu nele? Será que fugiu do hospício? Mas alguns minutos depois ele voltou, trazia uma caixinha de veludo preto. Quando ele abriu ela viu as pulseiras que tinha adorado. Não usariam alianças.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro