29. Green e Kira
Mais um dia de expediente já tinha começado quando Natasha estacionou sua Harley em uma vaga especial para ela, na frente do departamento. Estava com uma costumeira camiseta larga, jaqueta preta, jeans e botas. Um policial passou admirando a moto e ela lançou um olhar raivoso, era supersticiosa sobre "olho gordo". Aquele era seu bebê e não gostava de estranhos rondando ele.
Entrou e foi direto à sala do delegado. Ele já a estava esperando. Quando ela entrou o homem ofereceu um café, que ela aceitou, e depois pediu para que ela se sentasse.
— Pois então Natasha, como só chamam você onde o caso é grave, você já sabe que por aqui não estamos nada bem. Primeiramente achamos três cadáveres de prostitutas enterrados no quintal de uma casa, isso está em sigilo absoluto e praticamente ninguém sabe. Os exames da necropsia mostraram que todas morreram apunhaladas. O medo reina no bordel de onde as mulheres eram e as que estão vivas nos pediram proteção, completamente alarmadas, e claro que demos. — Ele começou a colocá-la a par da situação.
A mulher sorveu um gole do café no copo branco descartável enquanto olhava para o homem com uma expressão neutra.
— O que mais? — Perguntou objetiva, tomando todo o resto do café em seguida. Desceu queimando, mas não machucou.
— Me parece que temos dois assassinos em série à solta ao mesmo tempo. Essa semana um de nossos detetives encontrou um cadáver com características muito singulares. No outro dia tínhamos mais uma vítima no mesmo estado. Assinaturas diferentes e modos de operar diferentes. Se posso chutar, vou dizer que ambos os assassinos não se conhecem e que tempos um baita azar. Um problema gigante. Esse segundo matou dois rapazes, não sabemos como ele escolhe as vítimas, só sabemos que ele é cruel, corta a cabeça e leva o coração. — O delegado apoiou as duas mãos na mesa e olhou no fundo dos olhos de Natasha. — Você terá um parceiro, ele é completamente inexperiente nesse tipo de caso, mas tem feito sua parte. É quase um incompetente, porém é sortudo. Foi quem achou o primeiro jovem.
— Já sei. Jonathan Kira. Fama de mulherengo e parece que levou uma surra de um gigante, ou de uma mina muito irritada. — Natasha riu. — Segui ele ontem e observei a casa dele. É um idiota, com certeza, nem sequer me notou, mas vai servir.
— Bom ouvir isso porque quero o mínimo de pessoas nesses casos. Todos são suspeitos. Outras duas mortes estranhas ocorreram por esses tempos. A primeira do milionário Jorge Belladona, conhecido no departamento como Jorginho Bafinho. E a segunda foi de Marvin Moraes. Sem família na cidade, talvez não tivesse em lugar algum, ninguém reclamou o corpo, então enviamos para o laboratório de uma Universidade Federal. — O delegado concluiu a introdução aos casos nos quais Natasha precisaria trabalhar.
— Marvin Moraes tinha uma espécie de tia no Pará. — Natasha mostrou por que era aquela que chamavam quando havia casos difíceis, estava sempre um passo à frente de seus pares. — Marvin fugiu de casa quando tinha seis anos de idade e nunca mais voltou. Quanto à Jorge Belladona, parece que foi assassinato premeditado muito bem organizado. Acredito que o motorista dele saiba mais que o motorista do táxi. Os assassinatos à punhaladas, presumo ‒ apesar de não saber nada ‒ que sejam fruto que alguma espécie de ritual. Punhaladas são meio fora de moda entre assassinos modernos a não ser que estejam seguindo alguma tradição. Trabalharei com essa hipótese em primeiro lugar. Quanto aos corações, podemos estar lidando com um canibal. É instinto, mas o coração é uma parte nobre e simbólica do corpo humano.
O delegado suspirou de admiração entendendo porque a fama a precedia. Era arriscado partir daquelas hipóteses complexas, mas ela parecia segura. A mulher era a personificação da eficiência.
— Vá e se apresente a seu novo parceiro. — O delegado solicitou.
— Sim. — Natasha jogou o copo no lixeiro e saiu. Andou até a mesa de Kira, onde ele digitava algo, concentrado. Deu uma batidinha na mesa, para que lhe desse atenção.
— Mas o que você está fazendo, estúpido? — John reclamou irritado antes de olhar. Quando finalmente ergueu os olhos, viu uma mal encarada à sua frente com um distintivo federal à mostra.
— Pra você é Senhora Estúpida, Sr. Kira. Sou Natasha Green, sua nova parceira. Estou assumindo o caso e por ordem hierárquica você me deve respeito e obediência. Agora vou dar uma volta e quando retornar quero que esteja com todos os seus relatórios prontos e decorados para me dizer em detalhes tudo o que já sabe. Até mais tarde. — A mulher terminou de falar e saiu sem dar chance para Kira contestar.
John estava congelado na cadeira, atônito. Teve medo de se mexer e apanhar dela. Claro que isso nunca ia acontecer. Quando a mulher saiu, no entanto, foi tomado por coragem e se dirigiu direto à sala do chefe para reclamar.
— Uma maluca chamada Natana Green acaba de dizer que vai ser minha parceira. Aquela vadia não sabe com quem está lidando. — John disse irritado.
— Ah, Natasha sabe muito bem. Melhor que eu, posso dizer. Acho bom que tenha mais respeito com sua superior, ela pode lhe prender por desacato. Além disso, por ordem hierárquica você deve respeito e obediência a ela. Agora se recolha a sua insignificância e vá para sua mesa trabalhar. Você não é pago para reclamar de seus superiores. — O delegado deu as costas ao mimado Jonathan. — Agora Kira.
John voltou inconformado para a própria mesa. Era só o que faltava. Passara a vida toda com mulheres a seus pés para àquela altura ter que obedecer a uma.
Continuou digitando os relatórios enquanto resmungava planos para tirá-la do caminho.
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