Cassius e Alberto se encontraram no escritório. Era possível contar tudo que aconteceu via mensagens instantâneas, mas preferiram conversar pessoalmente. Perguntaram ao chefe se seria possível pularem a pausa do almoço para que pudessem sair mais cedo e João Cabral não discordou da ideia. Ele tendia a ser bastante flexível.

Uma nova mesa no escritório chamou atenção dos meio-irmãos. Ficava ao lado da mesa de Cassius, mas não havia ninguém a ocupando ainda.

Após o horário de almoço um homem com feições estranhas chegou acompanhando João Cabral. Tinha porte e estava vestido com o uniforme da empresa. Aquela maldita camisa branca que Cassius tanto detestava. Era um homem realmente alto e parecia um clichê de galã.

— Rapazes, vim apresentar o novo colega de vocês. Esse é Alif Nur. Mostrem a ele como o trabalho funciona e sejam camaradas. — Cabral falou enquanto Alif se sentava em seu lugar, a mesa que estava vazia até então. Claro que João disse para Alif não ficar lá, não era adequado para um sócio, mas o estrangeiro era um excêntrico e gostava de trabalhar entre os funcionários.

— Olá, sou Cassius Pollux. — O ruivo apertou a mão de Nur, pois estava ao lado dele.

— E eu sou Alberto Shame. — O outro apenas acenou.

— Alif Nur, prazer em conhecê-los. — A voz do chegante era muito grave, bem mais grave que a de Cassius. Na opinião de Alberto aquela voz combinava bem com ele. — Espero que sejamos amigos. Interessante o sobrenome Pollux.

"Porque você não viu o nome do meu clone", pensou Cassius, mas acabou dizendo outra coisa:

— Claro, para começar a amizade basta fazer uma festinha do pijama, Alif. — Provocou o novo conhecido.

Alberto e Alif riram.

— Não seja por falta disso, amanhã em minha casa. Podem levar acompanhantes se quiserem. — Alif convidou em tom decidido enquanto olhava nos olhos de Cassius. Era decidido e tinha interesse em estreitar os laços com esses dois funcionários. — Às sete da noite está bom?

Alberto e Cassius estavam estupefatos. O novo colega parecia louco, dar uma recepção a estranhos, além de incomum e arriscado, requeria planejamento por algum tempo, mas isso não parecia ser problema para ele. Os amigos se entreolharam como quem diz "vamos".

— Tudo bem, então. Levaremos apenas Lilith, nossa irmã. — Alberto respondeu.

Alif ficou intimamente satisfeito porque eles eram tão decididos quanto ele e não fizeram cerimônia para aceitar algo tão simples.

Depois pensou sobre como a convidada deles tinha um nome diferente. Lilith, soava poderoso. Jamais pensou que conheceria uma mulher assim nomeada apesar de já ter viajado muito. Outro detalhe que se destacou entre tantos foi que disseram ser irmãos, mas os sobrenomes eram diferentes. Shame e Pollux? Alberto e Cassius também eram completamente diferentes em suas características fenotípicas.

O tempo passou depressa enquanto divagava em pensamentos. Duas horas antes do final do expediente os colegas foram embora. Compreendeu de imediato que eles haviam sacrificado o almoço para sair mais cedo. Era possível que tivessem um compromisso muito importante e por isso saíram bem antes do horário habitual. De toda forma não era de sua conta.

Precisava oferecer uma festa do pijama no dia seguinte, isso sim devia ser sua preocupação. O que era costume nessas recepções brasileiras? Ligou para a assistente pessoal e pediu ajuda.

A assistente morava em um prédio perto da casa que ele comprou. Tinha cópias das chaves. Ficou responsável por organizar tudo e explicar para ele como eram festas do pijama e como ele deveria se portar. Tudo resolvido, bastava se concentrar no trabalho.