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22. Em série

Na manhã de terça Jonathan foi trabalhar exatamente como estava: inchado e cheio de cortes por todo o corpo. Era possível pegar um atestado se ausentar do trabalho por uns dois dias, mas seu orgulho não permitiu. Todos os colegas ficaram boquiabertos quando o viram andando pelo departamento, comportamento que o detetive Kira apenas ignorou. Como se nada tivesse acontecido, pegou um café, se acomodou na própria mesa e começou a raciocinar. Precisava esquematizar a investigação do caso do dia anterior, começaria pelos vizinhos do morto, depois família e amigos.

Estava perdido em pensamentos e anotações quando o chefe entrou bruscamente na saleta.

— Kira, temos mais um morto no depósito de um supermercado. É urgente, vá imediatamente. — Quando Kira ergueu o rosto o delegado pôde contemplar as marcas escuras. — Mas o que aconteceu com você? Foi atropelado por um caminhão monstro?

— Não. Isso são marcas de amor. — Kira se levantou, andou até o delegado e pegou um papel que o homem tinha em mãos. Estava ali anotado o endereço do depósito onde o cadáver fora encontrado.

O detetive Kira não de confiança para a conversa do delegado, por isso saiu o mais rápido possível.

Quando chegou ao destino encontrou o dono do depósito muito agitado, sentada em um canto uma funcionária chorava copiosamente. O caso foi que, ao abrir o depósito pela manhã a mulher encontrou o corpo de um dos colegas de trabalho. Era um empacotador que tinha somente vinte anos de idade. Na noite anterior ele saiu do serviço - como sempre fazia - e foi para casa, mas pela manhã foi encontrado ali.

Kira entrou no depósito e não precisou andar muito entre pilhas de caixas e fardos para que pudesse encontrar o cadáver perturbador. O defunto estava na mesma posição daquele encontrado no dia anterior, a diferença era que ao invés de estar sobre a cama, estava sobre fardos de arroz. Também estava nu e a cabeça havia sido separada do corpo. Os olhos furados contemplavam o vazio. John calçou as luvas de látex e colocou uma máscara branca. Esse cadáver ainda não estava pútrido então chegou bem perto para examinar.

Os órgãos foram remexidos e faltava o coração. A iluminação do lugar não era das melhores, por isso Jonathan pego uma pequena lanterna e iluminou o chão poeirento para ver os detalhes. Encontrou um fio de cabelo, que nos jogo das probabilidades poderia ser de qualquer um, inclusive do assassino. Colocou a evidência em um saquinho plástico. Procurou pelas roupas do jovem, que estava nu, mas não as encontrou. Por fim, depois de checar tudo duas vezes, saiu do local e se dirigiu ao proprietário que ainda estava ali.

— Ele tinha algum meio de transporte? — Perguntou àquele que tinha sido patrão do moço.

— Sim, uma moto. — O outro respondeu sem dar muitos detalhes.

— E ela está por aqui? — John desejou internamente que aquele senhor falasse tudo sem que ele precisasse ficar fazendo perguntas.

— Não. Ao menos não nessa quadra onde dei a volta enquanto chegava aqui. — O homem respondeu.

— Vocês têm câmera de segurança? — Kira achava tudo estranho. Como o rapaz chegou ali? Não estava em sua moto, então ele não voltou sozinho. Será que alguém tinha transportado o cadáver até o depósito? Se fosse isso, seria alguém muito forte, porque um jovem saudável daqueles pesava absurdamente. Também havia a hipótese de ser mais de uma pessoa.

— Não temos câmeras de segurança. — o homem respondia pacientemente enquanto Jonathan anotava em um bloquinho. "Por que esse detetive está todo roxo? Deve ter apanhado de um homem grande", o homem pensava enquanto isso. — O sistema de segurança é caro.

— Quem tem as chaves do depósito? — "Onde será que Lilith vai almoçar?", John pensou paralelamente, por sua vez.

— Eu e Daniele. — O proprietário disse e depois apontou para a funcionária que tinha finalmente parado de chorar.

— Sabem se ele tinha namorada? — Kira questionou despretensiosamente.

O chefe de Daniele e ela trocaram um olhar tenso por dois segundos e responderam energicamente:

— Não!

Algo estava errado nessa troca de olhares. John anotou para investigar a vida dos dois mais a fundo. Depois autorizou a equipe a retirar o cadáver do depósito. Agora ele tinha dois assassinatos idênticos nas mãos e nenhuma pista maior que um fio de cabelo. Por que o assassino sempre levava o coração? E o que ele usava para cortar o corpo?

Jonathan saiu do supermercado e foi interrogar os vizinhos de Pedro Silva, o morto do dia anterior. Precisava resolver aquilo com urgência. Se fosse um assassino em série, a tendência era piorar muito. E ainda tinha outro problema: a imprensa, que logo estaria em cima do caso.

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