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15. Podre

Na segunda-feira, Jonathan chegou ao serviço já irritado. Sua avó queria que ele saísse para um encontro com uma conhecida dela: Hana Aoi, Ele sabia bem quem era a tal. De uma família bem tradicional na comunidade nipônica da cidade, a moça era das mais bonitas, mas ele não a queria. Não desejava se envolver com nenhuma mulher e tinha seus motivos, mas a avó achava que ele deveria se casar logo e lhe dar netos, para continuar o legado Kira.

— Dane-se, não preciso de nada disso. — Falou revoltado enquanto arremessava uma bola de papel amassado dentro de uma lixeira aberta.

— Falando sozinho, garanhão? — Era o chefe de Jonathan quem perguntava.

— Conversando com os deuses, senhor. E não gosto que me chame de garanhão. — retrucou enquanto soltava um suspiro exasperado. — Enfim, o que manda hoje? — Queria encurtar o assunto tanto quanto pudesse e sair depressa dali.

— Bem, estamos com pouca coisa hoje, mas uma mulher ligou três vezes reclamando de um rádio que não para de tocar na casa vizinha, parece que já faz quatro dias e está muito alto, pode resolver isso para nós? — O delegado sabia que ele não recusaria, então já disse enquanto entregava uma pasta com mais informações.

Kira saiu da delegacia e foi direto para o lugar onde o dito rádio cantava sem parar. Quando estacionou ao lado da casa se deparou com uma construção relativamente simples, de muro baixo demais e portas de madeira. Pôde ouvir o barulho do rádio assim que saiu do carro, estava muito alto mesmo. O homem andou até o portão e testou o trinco, estava apenas encostado. Jonathan retirou do bolso da calça um par de luvas de látex e calçou enquanto gritava para que alguém o atendesse.

Não viu sinal de vida, no entanto. Apenas os vizinhos que saíam curiosos e até colocavam cadeiras nas calçadas para ficar de campana. Eram também testemunhas de que ele entraria ali.

O homem abriu o portão e caminhou até a porta da frente. Girou a maçaneta apenas para descobrir o óbvio, que estava trancada. Deu a volta na casa e tentou a porta dos fundos também, mas estava tão trancada quanto a outra. Antes de tomar uma atitude extrema de invadir, chamou por diversas vezes. Ninguém respondeu.

Gritou para ninguém em especial de que tinha um mandato e poderia entrar, caso alguém estivesse ouvindo era melhor que colaborasse. Mesmo assim o único som que saída da casa era o do locutor do rádio.

Diante de tal situação tentou abrir cada uma das janelas na esperança de que alguma estivesse aberta, mas nenhuma estava. Sendo esse o cenário, seria necessário arrombar uma das portas. Estava com preguiça e irritado, chutar a porta era uma ótima maneira de descontar a raiva.

Quatro chutes foram suficientes para abrir a porta. O barulho do rádio ficou insuportável de tão alto. Jonathan entrou no cômodo escuro e sentiu um odor forte. Algo estava muito errado ali. Tateou a parede ao lado da porta e encontrou um interruptor que ligou a luz da cozinha permitindo que ele explorasse mais a frente. A cozinha estava arrumada, então o homem seguiu por um curto corredor até a sala. O rádio fora conectado em uma caixa amplificadora super potente e o odor estava insuportável ali.

O homem colocou uma máscara branca sobre o nariz, que não adiantou muito, e foi até uma porta fechada que ficava em uma das paredes da sala. Pela lógica deveria ser um quarto. E era.

Jonathan quase vomitou quando focou o que havia no quarto. Um cadáver sobre a cama, sem a cabeça. A parte decepada estava sobre a cabeceira da cama, com os olhos furados e algo amarrado nos cabelos longos. Sem roupas. O morto era um homem de cerca de trinta anos de idade. A carne apodrecia seguindo o ritmo natural da decomposição. O corpo teve o tórax aberto e os órgãos tinham sido remexidos. Alguns vermes de varejeiras passeavam sobre a carne exposta.

Kira saiu rápido da cena do crime e foi para o carro. Estava em choque, nunca vira um cadáver naquele estado. Puxou ar fresco inúmeras vezes, mas não foi suficiente para tirar o odor pútrido de sua narina. Ligou para a delegacia, informou sobre o ocorrido e pediu uma equipe de apoio lá, com total urgência.

A equipe chegou rápida e John passou todas as informações necessárias. Foi dispensado depois disso para que pudesse lidar com a forte impressão e, caso quisesse, ir para casa tomar banho, pois o odor havia impregnado suas roupas. Foi exatamente o que ele fez.

Mais tarde naquele mesmo dia recebeu as informações sobre o caso que já estavam disponíveis.

— Chamava-se Pedro Martins, era músico cristão. Segundo os vizinhos ele tinha comportamento exemplar. — Foi informado por um colega. Só então Jonathan resgatou na memória que a estação de rádio que tocava no momento em que foi lá era de um grupo neopentecostal.

— Então por qual motivo alguém o mataria? — Kira falou enquanto as cenas desagradáveis passavam por sua mente.

— Isso é o que desejamos saber. E também, por qual motivo levaram o coração dele. Parabéns, Kira. Caso novo pra você, e dessa vez não tem ninguém pra seduzir. — O delegado que estava perto informou com ironia.

— Não gosto de seduzir, faço pelo bônus. — Jonathan pegou a pasta com as informações e saiu. Tinha um mistério a solucionar, e bem depressa. Algo lhe dizia que quem fez isso, faria mais vezes.

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