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26 - Escolhas

But I'm a creep
I'm a weirdo
What the hell am I doing here?
I don't belong here

I don't care if it hurts
I wanna have control
I want a perfect body
I want a perfect soul

Mas eu sou uma aberração
Eu sou um esquisitão
Que diabos estou fazendo aqui?
Eu não pertenço a este lugar

Eu não ligo se isso machuca
Eu quero ter o controle
Eu quero um corpo perfeito
Eu quero uma alma perfeita

Creep - Radiohead

O tempo passou em Vermogen. Quase 3 anos depois a nação caminhava devagar. A Rainha Dragão não parou de trabalhar por nenhum momento. Ela fez projetos sociais para os menos favorecidos, reabriu escolas, deu comida a quem tinha fome e aos poucos foi reerguendo a outrora gloriosa nação. Veridiana tornou-se sua conselheira Real. Desmond era o responsável pelo Palácio, Philippe "Trigun" Sherman era o General do exército e Baren era o guarda real da rainha.

Já havia se passado bastante tempo desde a queda de Heide e muita coisa melhorou desde então. O Palácio Dourado foi aos poucos ganhando mais vida e a delicadeza de Betina, ela abriu mão de várias coisas que julgava desnecessárias. A rainha também se dedicava pelo menos uma vez no mês para ouvir as questões de seu povo. E com isso foi tornando-se uma rainha amada, mesmo que algumas pessoas ainda tivessem certo receio. O fato de ela ser a esposa de um eldiano era motivo de desconfiança tanto em seu país quanto fora dele.

Com relação ao marido, Levi Ackerman, o soldado a visita de tempos em tempos. A última vez que havia visitado fora a 6 meses. O trabalho em Paradis também não parou. Construíram casas, estradas, uma ferrovia, o progresso na ilha estava finalmente acontecendo.

Ao chegarem em Paradis após o confronto em Vermogen, Levi e Hange descobriram que Ygritte havia acordado, mas que ela não ia poder mais andar. A jovem havia fraturado a coluna na queda mesmo com a tentativa de Sasha de poder ajudar. A ruiva caiu em cima de uma pedra.

Em Vermongen, Betina soube da conspiração de Manta, Taiga e Falke e os manteve presos por 2 anos, além de serviços comunitários para seu país. Betina estava tentando levar a vida. Vivendo do jeito que Astrid queria.

Naquela manhã, no escritório da rainha, Betina e Veridiana assinavam documentos e liam cartas enviadas de outras nações. Um trabalho muitas vezes estressante.

-Veridiana, as correspondências já chegaram?

-Quer saber se tem carta do Levi? - Veridiana disse debochada.

-Não. Na verdade sim. Estou com saudades dele. - ela disse apaixonada. - e você também quer ver se tem cartas da Hange.

-Não sei do que está falando! - Veridiana fingiu de boba.

-O Levi veio aqui a uns seis meses parece que foi a um século!

-Casamento a distância, só vocês mesmo! - Veridiana disse balançando a cabeça.

-Leia logo minhas cartas Veri!

Veridiana riu e começou a abrir as cartas, ao ler o conteúdo fez cara de espanto.

-Leio em voz alta? É de uma das nações aliadas de Marley.

-Por favor.

-"Prezada rainha Vagabunda. Espero que esteja mal e que morra logo, é o mínimo para uma profana que se deita com demônios..."

-Esse foi até gentil desta vez. - Betina disse ironicamente.

-Pelo menos não chamou de puta. Enfim, continuando... aqui diz que teve uma reunião com as nações do mundo sobre uma possível guerra contra Paradis.

-Quando? - Betina disse curiosa.

-Há uns dois, três meses.

-Levi mencionou algo quando esteve aqui, que estavam indo para Marley, mas, não fomos convidadas pelo visto.

-Bom, pela carta do Tybur de Marley devo imaginar o porquê. - Veridiana disse abrindo a carta.

-O que ele diz?

-"Prezada Rainha, por muitos anos Vermogen e Marley foram aliadas, e gostaríamos que ficasse assim, entretanto, soube que a Rainha se casou com um eldiano chamado Levi Ackerman infelizmente receio que não poderemos manter a paz entre nossas nações, visto que a senhora é a consorte de um demônio. Se é aliada de Paradis é inimiga de Marley..."

-Se reuniram para decidir sobre uma aliança. Aqueles putos.

-Carta da Hange. - Veridiana disse empolgada.

Hange e Veridiana seguiram seus caminhos separadas de certa forma. Mas, o carinho ainda permanecia entre elas e sempre trocavam cartas.

-Huuum. - Foi a vez de Betina debochar.

-Bem, a Ygritte está se recuperando. Aos poucos. Mas, ela não sabe se ela voltará a andar. E o resto você não precisa saber. - Veridiana disse sorrindo.

-Safadinha... - Betina sorriu e em seguida ficou pensativa. - Eu me sinto culpada pela Ygritte.

-Não sinta. Quem iria imaginar que na queda ela iria fraturar a coluna?

-Mesmo assim... - Betina disse triste.

Veridiana notou a tristeza da rainha, mas preferiu não dizer mais nada, apenas continuou revirando as cartas.

-Carta do Levi! Acho que você vai querer ler!

-Me da! - Betina disse empolgada. A rainha abriu a carta com um sorriso no rosto e correu os olhos lentamente pelo papel até que seu sorrido foi sumindo do rosto.

-O que diz aí? - Veridiana disse preocupada.

-Bom... tem coisas que você realmente não precisa ver, mas, ela tá dizendo que o Eren saiu de Paradis e que provavelmente está a caminho de Marley.

-Mas, Marley não está em guerra com o Oriente Médio?

-Sim... - Betina ficou preocupada.

-Em que está pensando?

-Eu acho que teremos muitos problemas com este Eren.

-Por que diz isso?

-Ele é uma pessoa capaz de tudo pelos seus objetivos... te lembrou alguém?

-Heide... - Veridiana disse espantada. - Que merda.

Eren sempre foi um garoto de sangue quente. Quando a mãe dele foi comida por um titã durante a invasão em Shingashina ele jurou vingança e que mataria todos os Titãs. De lá para cá, muitas coisas foram descobertas, como a história de seu pai e como ele roubou o titã original da família Reiss, e como ele criou a resistência em Libério, em Marley e sua luta pela liberdade do povo eldiano. O poder dos Titãs dava acesso às memórias de seus antigos portadores e Eren teve acesso às memórias de seu pai e de lá para cá, ele nunca mais foi o mesmo.

Betina sempre acreditou que a loucura e a sanidade são as duas faces de uma mesma moeda. Muitas vezes, elas ficam impossíveis de serem separadas. Eren possuía o titã Original e o titã de ataque. Isso associado ao rancor de um jovem poderia ser uma arma extremamente perigosa. E Betina temia isso.

Imersa em seus pensamentos enquanto Veridiana lia a carta de Hange, Betina foi desperta de seus pensamentos, Desmond bate na porta e entra devagar.

-Majestade?

-Sim.

-Tem um rapaz te esperando ali fora.

-Rapaz? - Betina ficou curiosa. - Mande entrar.

Quando o convidado passou pela porta o olhar de Betina foi de espanto. Alto, cabelos pretos e olhos verdes esmeralda. Ela reconheceu o jovem, mas naquele instante parecia entrar outra pessoa. A mulher arregalou os olhos e disse surpresa:

-Eren...?

-Capitã... ou devo chamá-la de Majestade? - a voz saiu com tanta frieza que Betina sentiu até um arrepio.

-Me chame de Betina. A que devo a honra? Esta bem longe de casa.

-Gostaria de conversar com você... - ele olhou para Veridiana - a sós.

Betina acenou positivamente para Veridiana que saiu desconfiada. Em seguida a rainha fixou os olhos em Eren e disse.

-Pois bem, em que posso ajudar?

O rapaz sentou-se diante dela na poltrona vermelha e dourado e colocou as mãos sobre a mesa. Na palma direita um corte raso que sangrava devagar. Betina abaixou os olhos para a mão do rapaz e soube que a conversa não seria tão amigável.

-Você deve saber o que este corte na mão significa... - ele disse em tom frio.

-Sim... mas, o que exatamente você pretende é que eu não sei. - Betina encostou na poltrona ainda mantendo o olhar em Eren.

-Pois bem, como você deve saber, estamos a um passo de entrar em guerra. O mundo contra os eldianos.

-Sim... eu soube disso.

-A sua nação é grande e embora esteja se recuperando de um confronto vocês tem poder suficiente para ajudar numa guerra.

-Seja mais específico, Eren. Você não veio de tão longe para me manter a par das notícias. - Betina foi direta.

-De que lado você está? Se o seu país estiver em risco, ficaria ao lado deles ou ao lado de seu marido, o capitão Levi, um eldiano?

-Eren, está indo um pouco longe, não acha? Pode estar longe de seu país, mas aqui eu sou uma RAINHA. - Betina disse irritada.

-Eu vim preparado para enfrentar a temida rainha Dragão, mas dado as suas circunstâncias, creio que não deva me preocupar. - ele olhou para a barriga da rainha, redonda como uma melancia de uma gravidez de 6 meses.

-Então você sabe de que lado estou. Do meu filho e do meu marido. E lutarei para que não seja necessário escolher.

Eren olhou para Betina com o olhar inexpressivo e depois de um tempo disse calmamente.

-Então é isso. Nossa conversa saiu mais amigável do que eu imaginava. O capitão sabe?

Betina engoliu seco. Não, ele não sabia. Iria contar pessoalmente quando ele viesse a Vermogen, mas ele demorou 6 meses. E ela não queria preocupar o marido que estava a quilômetros de distância.

-Pelo seu olhar não. - Eren disse se lamentando e caminhando até a saída. Antes de ir, ele se virou para Betina e disse.

-Seu país estará livre. Por enquanto, se entrarem no meu caminho não hesitarei em eliminar vocês.

Betina estava incrédula. Não podia acreditar no que ouvia. O agora homem de 19 anos agia e dizia com tanta frieza que chegava ser assustador.

-Eren... o que aconteceu com você?

-O mesmo que aconteceu com você. Perdeu tudo que tinha e deu a volta por cima. Se hoje você é Rainha, foi porque muito sangue foi derramado. Então não somos diferentes eu e você. Adeus, Rainha Betina.

Betina viu o jovem sair pela porta silenciosamente, Veridiana entrou ao perceber que a Rainha estava sentada com uma expressão de medo e pânico. Nunca havia visto aquela expressão na amiga. Era pavor.

-Betina, devo chamar a segurança?

-Não! Deixe que ela vá para bem longe daqui! Só certifique que ele foi mesmo embora. - Betina disse ofegante.

-O que aconteceu? Se acalme! Isso faz mal para o bebê!

-Eu to com um mal pressentimento. E sabe o que é pior? Estou grávida de 6 meses e não posso fazer nada!

-Betina... o que aquele moleque vai fazer?

-Eu não tenho a menor ideia!

-E o que você vai fazer?

Betina olhou os documentos sobre a mesa. Um projeto que estava em seus planos desde o começo de seu reinado.

-Chame o Desmond, eu preciso que ele deixe tudo pronto para no máximo duas semanas!

-Por que? - Veridiana estava preocupada.

-Eu vou para Paradis. - Betina disse decidida.

-Ta maluca? Você está grávida! E tem um País para governar! Quem vai ficar em seu lugar?

-Você!

-E você acha que vou deixar você atravessar o mar para o meio de uma guerra sozinha e GRÁVIDA? Nunca! - Veridiana disse furiosa.

Betina esfregou as têmporas e pôs os cotovelos sobre a mesa. Veridiana tinha razão, não podia simplesmente ir embora.

-Eu vou pensar em algo. Vou adiar para um mês ou mais. Verei com Desmond o que podemos fazer.

-E quem você colocaria em seu lugar?

-Taiga. - Betina disse ainda pensativa.

-Tá maluca? Ela e aquela Manta estavam dispostas a tudo por uma guerra!

-Não. Estavam dispostas a tudo pela liberdade. E foi isso que elas fizeram. Taiga manteve a resistência viva, o legado de sua família, a lealdade com aos Drachen. E Desmond conhece esse Palácio como a palma da mão.

-Se você diz...

-Além do mais, nosso plano sempre foi outro. Uma democracia. Deixar que o povo escolha seus governantes. Quando eu voltar talvez seja hora de pôr este objetivo em prática.

Veridiana deu um suspiro e soltou os ombros e sentou-se diante de Betina.

-Então, vamos lá então. Quero só ver a cara do baixinho quando ver este barrigão.

Betina alisou a barriga com ternura. O sentimento que a gravidez trazia a ela era algo tão doce e tão puro que as vezes até a fazia esquecer de todo o seu passado imerso em sentimentos de ódio, rancor e tristeza.

-É... meu pequeno... logo vamos finalmente estar com o papai.

Cerca de dois meses depois, Betina finalmente conseguiu resolveu tudo e partir para Paradis. A barriga de 8 meses pesava tanto que Betina tinha dificuldade até para andar. A rainha decidiu ir de navio, de alguma forma ela temia ir pelo ar dada as condições de guerra. Antes de partir ela recebeu a notícia de que Marley havia vencido a guerra contra o Oriente Médio e que Willy Tybur iria anunciar a aliança formalmente dentro do campo de concentração de Libério, habitado por eldianos, cerca de um mês depois. Durante o teatro montado por Tybur, Eren invadiu o evento e massacrou centenas de civis, incluindo o próprio Tybur. Betina sentia que cada vez mais ficava mais tensa a situação além do mar. O Reconhecimento foi ao "resgate" de Eren e o Massacre ficou ainda maior.

Betina saiu de Vermogen acompanhada de Veridiana, Trigun, Baren e cerca de 20 soldados, além de um médico real. A intenção da rainha não era entrar no confronto e sim proteger os que amava.

Ela desceu do navio no porto de Paradis e sentiu a brisa do mar. Faziam cerca de 4 anos que havia deixado aquele lugar. Tanta coisa havia mudado em tão pouco tempo! Seus olhos brilharam ao ver o local.

-Vamos para onde? - Veridiana perguntou.

-Para dentro das muralhas.

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