.6: Sementes do Medo
O frio implacável dentro da sala escura faz Jason se tremer na cadeira onde já está sentado há tanto tempo, que nem lembra quantos dias se passaram. Fome e sede também o acometem de maneira terrível — seu abdômen se retraiu e seus lábios descascam de tão ressecados. Embora sinta uma forte dor em seu pescoço, por passar horas com a cabeça baixa, essa nem se compara com as dores no seu braço esquerdo, que teve a pele removida assim como a da sua coxa. Ambas as partes foram tratadas e cobertas por bandagens, mas ele sabe que isso é apenas para que ele continue vivo, seja lá qual for o propósito dos satânicos.
ㅤㅤㅤㅤEle não tem nenhuma reação quando a porta é aberta abruptamente, batendo na parede e dando passagem para duas pessoas entrarem no cômodo.
ㅤㅤㅤㅤ— E aí, tudo em cima? — Karl se aproxima do homem e segura seu cabelo, erguendo sua cabeça e o olhando, fazendo uma expressão de nojo. — Você tá péssimo... tem que cuidar melhor dos seus pacientes, Doutor.
ㅤㅤㅤㅤ— Será que dá pra você ir logo com isso? Nosso pai já deu as ordens. — Bart entra logo em seguida e fica com os braços cruzados, parado ao lado da porta.
ㅤㅤㅤㅤ— É, eu sei. Mas quero só conversar um pouco com ele. — Karl olha o médico por cima do ombro esquerdo e depois volta a encarar Jason. — Você sabe que vai morrer, né? Vai encontrar de volta seu pessoal que tá morto. A garotinha, o bebê... vai matar a saudade deles.
ㅤㅤㅤㅤJason não tem forças para falar, mas a expressão de ódio fica evidente em seu rosto machucado. Ao ver isso, Karl começa a rir e então fecha o punho esquerdo, o afastando e golpeando o diafragma do homem, que cospe a pouca saliva que tinha na sua boca. Em seguida, o satânico joga a cabeça de Jason para trás e se afasta, caminhando até Bart.
ㅤㅤㅤㅤ— Beleza, então vai logo e pega o bisturi. Se ele não morrer pela dor, eu dou cabo dele logo em seguida. — ele para ao lado de Bart e vê o médico descruzar os braços para levar a canhota até um bolso em seu jaleco, de onde retira uma pequena bolsa. Ao abri-la, Karl pode ver o bisturi prateado que é pego.
ㅤㅤㅤㅤ— Só tome cuidado para não me desconcentrar. Preciso de calma aqui — Bart adverte, ajeita o óculos em seu rosto e caminha até Jason.
ㅤㅤㅤㅤ— Doutor, se eu pudesse, eu mesmo faria esse seu serviço e aí você poderia ir pra sua salinha, tomar café com leite. — Karl ri fraco, se encostando na parede.
ㅤㅤㅤㅤ— Cale logo a boca, Karl. — o médico faz uma expressão séria e fuzila o ex-militar com os olhos. — Lúcios me pediu para fazer isso pois sei como prolongar a dor e sofrimento. Você é só um troglodita que não sabe apreciar momentos assim.
ㅤㅤㅤㅤ— Vê lá como fala, Doutor. Não é porque o Lúcios te tem como um preferido, que você pode sair mandando nos outros. — Karl se mantém neutro, observando Bart.
ㅤㅤㅤㅤ— Desculpe se o ofendi. Então... você poderia gentilmente fazer silêncio enquanto eu faço meu trabalho? Pode ir pra minha "salinha" tomar café com leite, se não quiser esperar.
ㅤㅤㅤㅤ— Filho da puta...
ㅤㅤㅤㅤBart dá de ombros e se volta para Jason, ficando mais próximo do homem e se curvando na sua frente. Ele então começa a cortar a pele do seu tórax e umedece os lábios enquanto escuta os gritos de agonia de Jason. Karl também vai até eles, mas para segurar o infiel e impedir que ele se debata. O médico segue fazendo movimentos cursivos, até que, após cerca de oito minutos, ele se afasta e fica com a coluna reta, escutando Jason ofegar.
ㅤㅤㅤㅤ— Pronto, faça sua parte agora. — ele olha para Karl.
ㅤㅤㅤㅤ— Pensei que nunca fosse falar isso. — em um movimento rápido, Karl envolve o pescoço de Jason com seu braço direito e lhe aplica um mata-leão que não dura muito tempo, pois logo o corpo de Jason fica inerte e é solto. — Beleza, Bart. Agora você se certifica e depois informa ao Lúcios. Meu trabalho aqui tá feito. — o ex-militar caminha até a saída.
ㅤㅤㅤㅤ— Certo, farei isso e em alguns minutos, vocês já podem começar a próxima etapa.
ㅤㅤㅤㅤ— Maravilha. Agora eu vou tomar uma, pra ter energia pro resto do dia. Até depois, Doutor. — Karl se despede e sai da sala.
ㅤㅤㅤㅤ— Ok... — Bart olha seu bisturi e depois volta sua atenção para o homem desacordado na cadeira, encarando fixamente para seu tórax.
***
Jacob se recosta uma das arquibancadas do campo de futebol, pondo as mãos nos bolsos do seu casaco de diversos tons de azul e com o zíper fechado até o pescoço. Respirando fundo, ele olha para o céu coberto de nuvens pálidas e solta o ar pelo nariz, que ainda está um pouco vermelho nas narinas, em decorrência da joelhada que recebeu na região, dada por Dylan. Porém, ele não se importou com as dores nem quando elas estavam mais fortes; não se importou com o olhar de desprezo com que Aurora tratou do seu sangramento e muito menos com os olhares das pessoas que sabem o que ele fez. Para Jacob, a única opinião realmente importante era a de Max e agora tudo o que ele recebe da mulher é a mesma feição de nojo. Ele fecha os olhos e começa a lembrar do momento em que tudo ocorreu, quando se abriu para Max e estava para ser correspondido, quando tudo deu errado.
ㅤㅤㅤㅤ— Ei, tá dormindo? — a voz de Marco vem logo após um leve chute que o Lanson mais velho lhe dá no pé esquerdo.
ㅤㅤㅤㅤ— Ah, merda... o que veio fazer aqui? — Jacob se recompõe após o susto e corrige a postura, encarando o gramado esbranquiçado após passar as mãos no rosto.
ㅤㅤㅤㅤ— Não entendo por que eles mandam limpar esse lugar. Ninguém o usa e a neve vai cobrir tudo de novo. — Marco também olha para o campo, sentindo a brisa em seu rosto.
ㅤㅤㅤㅤ— Veio só pra me perguntar isso? — olhando para cima, Jacob encara o rosto de Marco, que umedece os lábios e se senta à sua esquerda.
ㅤㅤㅤㅤ— Tô te procurando desde a sua surra, cara. Dois dias, tá ligado? Parece que você some tão bem quanto fala merda fora de hora.
ㅤㅤㅤㅤ— Dá pra desembuchar logo?
ㅤㅤㅤㅤ— Eu soube que o plano deu certo. Você mandou bem lá com a Millie. — Marco dá uma breve risada, mas logo a contém.
ㅤㅤㅤㅤ— Certo? Certo pra quem? Max me odeia por causa disso agora e--
ㅤㅤㅤㅤ— E levou um sacode do Dylan. — ele o interrompe e sorri de canto.
ㅤㅤㅤㅤ— O que você veio fazer aqui mesmo? — Jacob arqueia a sobrancelha, impaciente com a presença do homem.
ㅤㅤㅤㅤ— Te dar os parabéns. Eu tava andando por aí, ouvindo conversas e o assunto entre as velhas fofoqueiras é a briga que aconteceu entre dois do grupo novo.
ㅤㅤㅤㅤ— E daí?
ㅤㅤㅤㅤ— E daí que mesmo tendo gente que saiba de toda a história, têm aqueles que veem só o lado que lhes convém. Alguns falam que o Dylan é louco; outros que a briga aconteceu por causa da Max--
ㅤㅤㅤㅤ— Ei, ei, que história é essa? — Jacob fica de pé e olha para Marco, que permanece sentado.
ㅤㅤㅤㅤ— Senta aí, cara. Isso não importa agora, até porque eu acho que a última coisa que ela ia fazer agora é se apaixonar pelo Dylan — o Lanson fala e gesticula com a destra, mandando seu colega se sentar. — As pessoas estão começando a ficar contra o cara que as tranquilizou. Eu aproveitei e coloquei lenha em algumas fogueiras, falando algumas das coisas que ele fez, como querer abandonar o grupo, destruir lugares e matar garotos.
ㅤㅤㅤㅤ— Tá, já deu seus parabéns... pode ir embora agora.
ㅤㅤㅤㅤ— Ir embora? — Marco dá uma breve risada nasal. — Meu amigo, só estamos começando, eu ainda tenho muitas coisas planejadas praquela garota. Tipo, têm lugares aqui onde quase ninguém anda. Inclusive, achei uma porta de metal bem nos fundos, onde só tem neve. Quebrei o cadeado e fui olhar em volta... seria perfeito pra levar ela.
ㅤㅤㅤㅤJacob engole em seco e suspira fundo, vendo em primeira mão um lado até então desconhecido de Marco. O homem ri e sorri ao falar de coisas que ele imagina serem terríveis.
ㅤㅤㅤㅤ— Você não tá pensando em... machucar a menina, né?
ㅤㅤㅤㅤ— Tá maluco? Eu tenho meus princípios, quero apenas que a gente fique agindo como intermédio pra que ela mesma faça as coisas, que nem foi com os cortes. Eu tava falando de trancar ela em um lugar longe de olhares alheios. Aterrorizar ela.
ㅤㅤㅤㅤ— É, mas não tem mais "nós" nessa história. Eu fui idiota em não pensar nas consequências. Agora você se vira com essa sua vingança.
ㅤㅤㅤㅤNesse momento, a feição de Marco fica mais séria e uma expressão de raiva toma seu rosto. Usando de força, ele agarra Jacob pelo casaco e o puxa para perto, o encarando profundamente, de maneira que faz a espinha do homem gelar.
ㅤㅤㅤㅤ— Escuta aqui, eu não vou aceitar que você dê pra trás agora, entendeu? É difícil fazer algo com a garota, mas com você... ah, com você... do jeito que ninguém tá nem aí, ninguém ligaria de você aparecer todo ferrado, vítima de um espancamento. Ou até mesmo, fosse encontrado morto debaixo dessas arquibancadas depois do inverno. — a voz do Lanson sai sem emoção, fria e séria, enquanto ele fuzila o homem com o olhar.
ㅤㅤㅤㅤ— Você é louco, cara! — Jacob tenta se soltar, sem sucesso.
ㅤㅤㅤㅤ— Não, eu não sou um louco. Eu sou apenas um pai em busca de justiça pelo filho que foi morto, covardemente. E, como eu já disse, não vou aceitar desistências. Se não, vou mudar meu alvo. — ele faz uma pausa. — Deu pra sacar?
ㅤㅤㅤㅤ— Tá, tá... agora me solta. — já livre, Jacob se acomoda melhor na arquibancada, passando a mão em seu casaco amassado. — Tá bem.
ㅤㅤㅤㅤ— Você não tem mais nada a perder no momento. Mas se tudo der certo, e vai, o Dylan sai de cena e você vai poder tentar se reconciliar com sua namorada e aí tudo volta a ser como antes — Marco diz, torna a sorrir e se deita nos acentos de madeira, juntando as mãos atrás da cabeça.
ㅤㅤㅤㅤ— E o que você pretende fazer agora? — Jacob o olha por cima do ombro.
ㅤㅤㅤㅤ— Primeiro, temos que aguardar uma oportunidade... vamos seguir o Dylan e a garota e no momento em que ela estiver sozinha, a gente dá o bote. — ele fecha os olhos e suspira. — Agora, vamos aproveitar um pouco o dia.
ㅤㅤㅤㅤPermanecendo em silêncio, Jacob passa a destra no rosto e suspira, refletindo sobre tudo o que vem acontecendo nos últimos dias e, dessa vez, também no que pode acontecer futuramente.
A movimentação de soldados sempre é mais intensa perto do portão da Universidade Webber. O adarve interno e também o posto de vigia é onde alguns dos militares passam o dia segurando seus rifles de precisão, sempre se mantendo atentos a qualquer movimentação que possa vir tanto da estrada que passa em frente à faculdade, quanto da floresta na outra margem, sempre com os encarregados fazendo um revezamento. Porém, para que não ficasse sobrecarregado para um único grupo, Hooker autorizou que alguns civis ajudassem nesse serviço. E no meio dos recrutados, Lydia se voluntariou, para que tivesse algo com o que se ocupar agora que Abraham já está quase que totalmente recuperado. Nesse momento, ela se encontra no adarve com sua AWM, ao lado de Downs e de outra militar, ambos também armados com rifles.
ㅤㅤㅤㅤ— Sentiu falta de empunhar? — o soldado bíblia segura a bandoleira da sua Barrent em seu ombro, usando a mão esquerda.
ㅤㅤㅤㅤ— E como. — a mulher observa a paisagem pela mira telescópica. — É como reencontrar uma velha amiga.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu sei como é isso, sinto o mesmo pelo meu revólver. — a mulher cuja identificação está escrito "West" leva a destra até seu coldre e saca um revólver Taurus RT 357H prateado, mas com o tambor e o cano pretos, o exibindo. — Ganhei do meu pai, que era general. Ele me disse que me daria sorte, assim como deu pra ele.
ㅤㅤㅤㅤ— É bem bonito. — Lydia admira a arma e depois olha para Downs. — Mas então, nós três que vamos ficar vigiando agora?
ㅤㅤㅤㅤ— Até o horário do almoço, sim. Aí a gente troca com outro trio. Eu e a Mia aqui já somos acostumados, mas caso você queira sair mais cedo, não tem problema.
ㅤㅤㅤㅤ— Mia? — Lydia pergunta, sorri e olha para West.
ㅤㅤㅤㅤ— Meu primeiro nome. — a morena sorri também. — Ele tem essa mania de não me chamar pela identificação.
ㅤㅤㅤㅤ— É um hábito que preciso largar — Downs estica o canto direito da boca e dá de ombros.
ㅤㅤㅤㅤ— Bom, eu vou ficar até o final do turno, não tem problema.
ㅤㅤㅤㅤ— Beleza, vou lá pro outro lado da plataforma. Vocês podem ficar por aqui. — Downs mantém a Barrent nas costas e caminha até a escada do adarve.
ㅤㅤㅤㅤLydia torna a olhar além da floresta pela mira da sua AWM e Mia faz o mesmo, usando sua SVD. As duas permanecem sem trocar uma única palavra; focando a atenção apenas em vigiar os arredores. Porém, um som abafado de grunhido vindo das árvores as faz ficarem alertas e procurarem a origem do som, que está ficando mais próximo. Mia é a primeira a ver o sangrento surgir por entre as árvores. O cadáver ambulante possui uma enorme ferida na testa, por onde pingam sangue e pus, além de vários hematomas pelo corpo completamente nu. O que mais a incomoda são os cortes perfeitos em seu antebraço esquerdo e na coxa, que estão em carne viva. Mas o maior destaque é o grande envelope branco amarrado com uma corda fina ao redor do pescoço do canibal.
ㅤㅤㅤㅤ— Jesus... — a militar abaixa o rifle e leva as costas da destra até a boca sentindo ânsia de vômito enquanto vê o errante seguir na direção do muro.
ㅤㅤㅤㅤLydia alcança a criatura com a mira, mas assim que faz isso, seu corpo paralisa e seu coração dispara. Começando a ficar tremula, ela tenta se concentrar no que precisa ser feito e, com os olhos marejados, consegue apertar o gatilho da AWM. O tiro abafado pelo silenciador atinge acima da orelha esquerda de Jason num piscar de olhos, levando-o ao chão, já devidamente morto. Após o ato, Lydia afasta seu olho da mira e as lágrimas descem por suas bochechas. De onde está, ela consegue ler claramente a palavra "infiel" escrita com cortes quase que desenhados no tórax do homem. Ela também escuta Downs mandar abrirem o portão, pois ele também o reconheceu.
***
— É, desse jeito. Segura firme o lápis e tenta copiar o que eu escrevi. — Dylan fica com a mão direita apoiada sobre a escrivaninha e a esquerda na cintura, atento a Millie, que está sentada com o rosto bem próximo de um caderno de caligrafia, no qual tenta escrever.
ㅤㅤㅤㅤ— Acho que não escrevo desde o shopping... é como se o pouco que aprendi tivesse sumido — Millie levanta a cabeça e olha para Dylan.
ㅤㅤㅤㅤ— Por isso que a Alex e eu vamos te ajudar, agora continua, você já fez metade. — o policial olha para o caderno.
ㅤㅤㅤㅤ— Tá. — a criança volta a focar no papel e tenta terminar de escrever, com sua usual letra torta, mas cada vez mais legível, até que finaliza a palavra com um ponto final. — Acabei — e solta o lápis.
ㅤㅤㅤㅤ— Ótimo, agora lê o que tem aí. — se curvando, ele presta atenção na menina.
ㅤㅤㅤㅤMillie começa a olhar o que acabou de escrever e o que Dylan havia escrito anteriormente. Ele não quis lhe falar o que há na página, pois o objetivo era ela aprender a escrever o ler o que ele fez. Ela umedece os lábios e suspira, começando a ler pausadamente.
ㅤㅤㅤㅤ— Mi... Mi--llie... Millie? — ela o encara.
ㅤㅤㅤㅤ— Continua. — Dylan olha para ela e inclina a cabeça para o caderno.
ㅤㅤㅤㅤ— Millie... Hol-- Millie Hol... Holmes. Millie Holmes? — ela torna a olhar para Dylan, agora sorrindo de maneira tímida. — Escreveu o meu nome?
ㅤㅤㅤㅤ— E você também — ele fica de pé e cruza os braços, sorrindo de canto. — A Alex me disse que você devia começar com coisas simples e eu acho que você saber escrever seu nome é algo importante.
ㅤㅤㅤㅤ— "Millie Holmes"... — a menor murmura para si, volta a olhar para as suas letras e agora sorri exibindo os dentes.
ㅤㅤㅤㅤ— Repete mais algumas vezes, pra treinar a caligrafia também.
ㅤㅤㅤㅤ— Obrigada, de novo. — Millie o olha. — Você tá ajudando muito agora. — ela baixa a cabeça e olha para seu braço esquerdo, enfaixado do pulso ao cotovelo.
ㅤㅤㅤㅤ— Não pensa nisso, tá bem? — Dylan se agacha, a encarando. — E não se culpa pelo que fez. Eu sei como se sentia.
ㅤㅤㅤㅤ— Ainda dói um pouco. Mas você, a Yumi e agora a Alex me ajudam a não pensar nisso direto... só queria saber por que o Jacob fez aquilo.
ㅤㅤㅤㅤDylan fica pensativo por um momento e umedece os lábios, tornando a encarar a mais nova:
ㅤㅤㅤㅤ— Olha... sempre vão ter pessoas que querem tentar te pôr pra baixo, não importa o porquê. A motivação de gente assim é te derrubar, mas você não pode cair. Eu sei que é difícil, que às vezes machuca, mas você não pode deixar que isso te abale, entendeu?
ㅤㅤㅤㅤ— Eu sei, mas é que eu não esperava que alguém do nosso grupo fosse fazer isso. — Millie o fita.
ㅤㅤㅤㅤ— Isso pode vir de qualquer lugar. Até de onde menos se espera.
ㅤㅤㅤㅤ— Entendi... agora, mudando um pouco de assunto, eu queria te pedir uma coisa. — ela corrige sua postura e se senta de lado na cadeira, ficando de frente para Dylan.
ㅤㅤㅤㅤ— O quê? — ele franze o cenho, esperando a pergunta.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu quero ser forte. Não só do tipo que não se abala, mas também forte pra fazer as coisas, manter as pessoas seguras... não quero que ninguém passe por algo nem parecido com o que eu passei... Você era policial, pode me ensinar essas coisas?
ㅤㅤㅤㅤDylan baixa a cabeça, soltando o ar pelo nariz enquanto pensa em uma resposta.
ㅤㅤㅤㅤ— Se você não quiser, tudo bem.
ㅤㅤㅤㅤ— Não, eu acho bom que você pense assim — ele diz e ergue o olhar para a garota. — Olha, uma coisa que você deve saber primeiro é ficar atenta; prestar atenção em tudo. — Dylan passa a destra no queixo e começa a gesticular com a mesma — Hoje em dia, mais do que nunca, pois talvez você precise lutar, contra os mortos, contra os vivos, contra qualquer coisa. E quando isso acontecer, apenas lute. Por você, por quem e pelo que você se importar. Em resumo, sempre fique preparada.
ㅤㅤㅤㅤ— Então me ensina a lutar, eu já sei um pouco sobre atirar. — Millie fecha os punhos sobre as pernas, encarando Dylan, mas o som de batidas na porta a fazem olhar para a entrada do quarto.
ㅤㅤㅤㅤ— Olha, por enquanto, vou te ensinar só a escrever. — Dylan fica em pé e começa a andar até a saída do recinto. — Mas uma coisa simples e que pode te ajudar é sempre bater onde mais dói. — assim que ele gira a maçaneta e puxa a porta, se depara com Downs parado, arfando levemente. — Downs?
ㅤㅤㅤㅤ— Você precisa vir comigo, Dylan, agora. — o soldado não esconde a preocupação.
ㅤㅤㅤㅤ— Aconteceu algo com alguém do meu pessoal?
ㅤㅤㅤㅤ— Sim, mas o assunto também tem a ver com "eles".
ㅤㅤㅤㅤNesse momento, a feição de Dylan muda também para uma de preocupação e ele engole em seco, se virando e andando até sua cama, onde pega um casaco preto.
ㅤㅤㅤㅤ— Você fica aqui, Millie, escreve em duas folhas e depois pode fazer uma pausa. Só não sai do quarto. — com a peça de roupa na destra, ele volta à saída.
ㅤㅤㅤㅤ— Espera, eu vou com você. — a menina se levanta.
ㅤㅤㅤㅤ— Não, fica aqui, é sério. — ele se vira para Millie e aponta para a cadeira. — Eu volto assim que der.
ㅤㅤㅤㅤO som que Millie escuta logo em seguida é o da porta do quarto se fechando. Ela suspira e relaxa os ombros, frustrada por ter ficado de fora do que quer que seja o assunto que ele iria tratar, mas mesmo assim, ela volta ao caderno de caligrafia e torna a escrever seu nome.
Dylan segue Downs com desconfiança, pois o militar não quis dar detalhes sobre o porquê de tê-lo chamado. Ao invés disso, apenas disse que ele precisaria "ver com os próprios olhos" e o levou até o prédio das clínicas, o fazendo achar que era algo envolvendo Aurora. Porém, eles estão longe da enfermaria. O policial sabe que o assunto tem a ver com os satânicos, pois em algumas conversas, os sobreviventes do Sítio Foster concordaram em não tratar dos cultistas pelo nome, mas sim pelo pronome que os representasse. E por saber disso, o policial já imagina que com certeza, não pode esperar nada de bom.
ㅤㅤㅤㅤ— Aqui. — Downs chega em uma porta e gira a maçaneta, dando passagem para Dylan, que entra no laboratório e vê algumas pessoas do seu grupo já esperando.
ㅤㅤㅤㅤAbraham, se levanta da cadeira onde estava sentado e caminha na direção de Dylan, que também identifica Lydia, Yumi, Ashley e Yato.
ㅤㅤㅤㅤ— O que tá havendo? — pede o policial.
ㅤㅤㅤㅤ— É o Jason. Lúcios mandou ele reanimado pra cá — Abraham fala com pesar na voz, mas também com raiva.
ㅤㅤㅤㅤ— Quê?! — o espanto de Dylan é evidente. — Como ele sabe desse lugar?
ㅤㅤㅤㅤ— Ninguém faz a mínima ideia — Yumi admite e encara o policial, segurando a mão de Lydia, que repousa a cabeça em seu ombro. — Mas ele sabe e mandou um aviso.
ㅤㅤㅤㅤ— E cadê o corpo?
ㅤㅤㅤㅤ— A Dra. Kannenberg tá fazendo os processos pra que possamos enterrá-lo. — Downs caminha até Dylan. — Blake foi chamar os demais do seu grupo, como a Yumi disse, mandaram um aviso.
ㅤㅤㅤㅤ— Tinha uma carta amarrada no pescoço do Jason, a Lydia disse — comenta Ashley, sentada entre Lydia e Yato.
ㅤㅤㅤㅤA porta atrás deles é novamente aberta, chamando a atenção de todos, que veem Blake entrando na sala acompanhado de Marco, Thomas, Max e Jacob, que é o mais retraído de todos, evitando contato visual com Dylan, que apenas o olha brevemente e dá passagem para os demais.
ㅤㅤㅤㅤ— Estão todos aqui? — Blake questiona, passeando pela sala com os olhos e depois vira o rosto para Dylan. — Cadê a Millie?
ㅤㅤㅤㅤ— Ficou no quarto estudando.
ㅤㅤㅤㅤ— Bom, então é melhor você falar com ela sobre o aconteceu, assim que sair daqui. — o tenente caminha até uma mesa no meio da sala.
ㅤㅤㅤㅤ— Dá pra mostrar logo essa carta? — pede Abraham, acompanhando o soldado, que abre um pequeno bolso em seu colete, tirando um pedaço de papel dobrado várias vezes.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu li ela quando a Dra. Kannenberg a tirou do corpo do Jason. Devido a um detalhe, é melhor que você leia. — Blake se vira estende o braço, entregando-a para Dylan.
ㅤㅤㅤㅤEle comprime os lábios e pega a carta, a desdobrando até que todo o conteúdo seja visível. Abraham fica ao seu lado, também conseguindo ler e Max se aproxima, com os braços cruzados e com a atenção total nas letras cursivas. Marco fica encostado na parede ao lado da porta, de braços cruzados e olhando as costas de Dylan; Jacob fica curvado sobre uma das bancadas do laboratório, olhando Max; Thomas caminha até onde Ashley está e, assim como os demais, fica em silêncio.
ㅤㅤㅤㅤ— Merda... — Abraham é o primeiro a quebrar o gelo e pega a carta de Dylan com a canhota. Max o abeira para poder reler e sua expressão é emotiva.
ㅤㅤㅤㅤ— Não acredito nisso. — o policial põe as mãos na cintura e se afasta, indo até um dos balcões e se apoiando com as mãos no mesmo.
ㅤㅤㅤㅤ— O que tá escrito aí? — Ashley os olha, apreensiva.
ㅤㅤㅤㅤ— Eles tão dizendo que o Tommy "tá vivo e com saudade da Max"... — Abraham começa a resumir o texto. — Lúcios exige uma troca; a Millie pelo garoto, em uma permuta pacífica. Ele vai esperar três dias e caso a gente aceite, seremos "perdoados por nossos pecados". Caso contrário, devemos esperar um ataque iminente. Tá assinado pelo Lúcios.
ㅤㅤㅤㅤNovamente, todos ficam em silêncio, processando toda a informação nova, que cai como uma bomba sobre todos. Marco é o primeiro a se pronunciar, indo na direção de Abraham.
ㅤㅤㅤㅤ— Deixa eu ver isso. — ele toma a carta para si e começa a ler.
ㅤㅤㅤㅤ— Não tem história de pacifismo nisso. O plano dele é matar todo mundo — Dylan fala e se vira para os demais.
ㅤㅤㅤㅤ— Isso já ficou óbvio. — Lydia fica de pé. — Ele acha que somos idiotas.
ㅤㅤㅤㅤ— E mandou o Jason naquele estado pra provavelmente nos intimidar... nos deixar com medo pra que assim a gente possa ceder a essa chantagem — completa Downs.
ㅤㅤㅤㅤ— O anfiteatro Connor Seth fica em Dimper e aqui diz que já têm satânicos esperando lá... são só doze quilômetros até lá. — Marco entrega a carta para Max.
ㅤㅤㅤㅤ— O que você quer dizer com isso? — Dylan o encara.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu? Nada, só quis reforçar o fato de que eles estão perto. — Marco permanece com sua feição neutra e olha para Max. — Mas acho bom escutar uma opinião que importe.
ㅤㅤㅤㅤ— Marco, melhor você não ficar falando nada — Thomas adverte, dá um passo adiante e encara o irmão.
ㅤㅤㅤㅤ— Calma, maninho, só tô tentando ajudar a chegar numa decisão.
ㅤㅤㅤㅤ— Uma decisão? — Dylan se aproxima dele — Você tá cogitando entregar a Millie?
ㅤㅤㅤㅤ— Como eu disse, só quero chegar numa decisão.
ㅤㅤㅤㅤ— Você tá sendo patético agora — diz Ashley, o olhando com desprezo.
ㅤㅤㅤㅤ— E o que você tem a ver com isso? — pergunta Marco.
ㅤㅤㅤㅤ— Calem a boca! — a voz de Max se exalta e chama a atenção de todos — Você quer a minha opinião, Marco? Não vou decidir pela vida de uma criança. Vamos pensar em algum outro jeito.
ㅤㅤㅤㅤDylan olha para Max com alívio, por saber que a mulher não partilha da mesma linha de pensamento que Jacob, e agora, Marco. Porém, ele encara o Lanson mais velho ao ver o mesmo balançar a cabeça negativamente.
ㅤㅤㅤㅤ— Quer dizer então que você quer decidir pela vida de muitos?
ㅤㅤㅤㅤ— Não ponha palavras na minha boca. — Max agora expressa raiva. — Eu sinto falta do Tommy; choro por ele todas as noites, mas não vou dar uma vida por ele que não seja a minha. Entendeu?
ㅤㅤㅤㅤ— Max, Max... acho que você não tá entendendo a--
ㅤㅤㅤㅤ— Não, é você que não tá entendendo as coisas. — Dylan eleva sua voz uma oitava. — Todos concordam que uma vida não pode valer menos do que as outras daqui. Então, para de falar merda; fica calado se você não puder ajudar.
ㅤㅤㅤㅤMarco então olha em volta e vê todos o encarando com indiferença, com exceção de Jacob, que segue de cabeça baixa e sem a menor pretensão de falar algo. O Lanson respira fundo e torna a encarar Dylan:
ㅤㅤㅤㅤ— Ou o quê? — ele dá de ombros. — Você vai me bater por expressar a minha opinião, assim como fez com o Jacob?
ㅤㅤㅤㅤAs palavras do homem fazem Dylan lembrar da noite em que viu Millie com o braço cortado e a raiva aumenta. Ele fecha os punhos e respira fundo, vendo Marco sorrir de canto, como se estivesse esperando por uma reação agressiva. Porém, ele se contém:
ㅤㅤㅤㅤ— Não. Não vou. — ele dá um passo para trás, mas logo sente uma mão segurar seu ombro direito e o tirando do caminho.
ㅤㅤㅤㅤ— Mas eu vou. — Yumi avança de uma vez na direção de Marco, já desferindo o punho direito contra seu rosto, aplicando um soco certeiro em seu nariz, fazendo o homem ir para trás.
ㅤㅤㅤㅤEle leva a destra até o rosto e sente o sangue quente sair pelas narinas e sujar seus dedos.
ㅤㅤㅤㅤ— Sua... — ele avança contra Yumi, mas é rapidamente contido por Downs e Abraham, que tirou seu braço da tipoia apenas para apartar a briga.
ㅤㅤㅤㅤ— SUA O QUÊ?! EIN?? TERMINA A FRASE, SEU MERDA! — Yumi também tenta ir na direção do homem, mas é Dylan quem a segura e Lydia também a abeira, para acalmá-la.
ㅤㅤㅤㅤ— Yumi, não! Não vale a pena! — ela a segura pelo braço esquerdo.
ㅤㅤㅤㅤ— Ela tem razão, não faz merda. — Dylan a segura pelo abdômen.
ㅤㅤㅤㅤ— Ok, ok! Todo mundo para! — Blake enfim intervém, ficando no meio de todos eles, vendo Marco e Yumi serem soltos e afastados um do outro.
ㅤㅤㅤㅤ— Você não pode e não vai decidir isso por todos nós — Yumi fala com ódio na voz, fuzilando Marco com olhar. Ele, por sua vez, permanece calado e Thomas se aproxima dele.
ㅤㅤㅤㅤ— Parem, droga! Ficar brigando aqui não vai ajudar em porra nenhuma.
ㅤㅤㅤㅤ— Então o que você sugere? — Marco encara o tenente e limpa seu nariz com a manga do casaco.
ㅤㅤㅤㅤ— O Hooker precisa ser informado disso. Eu sei que vocês não estão indo com a cara dele, mas ele é o líder daqui. Não informá-lo pode significar problemas mais pra frente.
ㅤㅤㅤㅤ— O Blake tem razão — Downs complementa. — O ego do Hooker fala alto nessas horas.
ㅤㅤㅤㅤ— De qualquer forma, é importante ele saber, ainda mais com o perigo de--
ㅤㅤㅤㅤO estrondo de uma explosão junto de um leve tremor sentido por todos interrompe a fala de Blake e também a linha de pensamento de todos na sala, que já imaginam o que causou o abalo.
ㅤㅤㅤㅤ— Algo aconteceu... Merda! — o tenente corre para fora da sala logo após ouvir tiros serem disparados. Todos os outros o seguem.
Todo o grupo sai do prédio das clínicas, com Blake e Downs avançando com certa vantagem. Dylan, Abraham, Thomas e Marco vão logo atrás e os demais fecham a fila. Ao olharem por cima do muro, podem ver um cogumelo de fumaça subindo ao céu, sob o som de alguns disparos; uma troca de tiros que faz os civis correrem em busca de abrigo.
ㅤㅤㅤㅤ— West, situação!! — Blake avista a atiradora parada próxima da escada do adarve.
ㅤㅤㅤㅤ— Seis pessoas com casacos brancos estão atirando a esmo da floresta, tenente. Nenhum ferido, mas esses civis não podem ficar aqui!! — West vê os demais se aproximando atrás do seu superior.
ㅤㅤㅤㅤ— Eles não querem ferir ninguém ainda. — Abraham olha para cima, enquanto os disparos começam a diminuir.
ㅤㅤㅤㅤ— Então pra quê isso? — a militar caucasiana o fita e sua respiração vira fumaça, conforme o silêncio recai sobre todos.
ㅤㅤㅤㅤ— ISSO É APENAS PRA CASO ALGUÉM NÃO SAIBA QUEM MANDOU O RECADO PARA OS INFIÉIS!!! VOCÊS SABEM O QUE PRECISAM FAZER!! LÚCIOS TÁ ESPERANDO!!! — a voz masculina se eleva graças a um megafone e pode ser ouvida muito além dos muros, além de ser facilmente reconhecida por algumas pessoas, que escutam sua risada e depois apenas o silêncio outra vez.
ㅤㅤㅤㅤ— Karl... — Abraham fecha os punhos.
ㅤㅤㅤㅤ— É como a Lydia disse... querem nos assustar — completa Ashley.
ㅤㅤㅤㅤ— Acha que o Jason...? — Dylan olha para Abraham.
ㅤㅤㅤㅤ— Nunca, o Jason morreria sem nos entregar — o homem fala e olha para Max, que se encolhe no casaco e se vira.
ㅤㅤㅤㅤ— Não comenta nada — diz o policial, também a olhando, já tendo entendido o que ele quis dizer.
ㅤㅤㅤㅤUm novo barulho chama a atenção de todos, que olham para trás e podem ver um Hummer amarelo se aproximando em alta velocidade, vindo da área dos edifícios administrativos.
ㅤㅤㅤㅤ— Hora de aguentar outra bronca. — Downs suspira e anda devagar até onde o veículo com uma .50 montada no teto começa a parar.
ㅤㅤㅤㅤ— É melhor vocês se dispersarem. A coisa vai ficar feia em breve. — Blake passa por Dylan e Abraham, seguindo seu parceiro logo após dar o alerta.
ㅤㅤㅤㅤJacob, que estava mais afastado de todos, se assusta quando sente a mão de Marco sobre seu ombro e o Lanson inclina a cabeça para trás, o puxando. Ninguém percebe a saída dos dois, pois logo Dylan pede para eles voltarem aos dormitórios.
ㅤㅤㅤㅤ— Quero saber o que aconteceu no meu portão e quero saber agora! — Hooker desembarca do Hummer pela porta do passageiro e vai direto para onde Blake está.
ㅤㅤㅤㅤ— Sofremos uma tentativa de intimidação, senhor. — o tenente mantém a coluna reta e as mãos atrás da cintura.
ㅤㅤㅤㅤ— Quer dizer que um bando de arruaceiros atiram dezenas de vezes nos nossos muros e pra você, isso é uma intimidação? Pois pra mim, tenente, isso é uma declaração formal de guerra.
ㅤㅤㅤㅤ— Eram os satânicos, senhor. — Downs intervém. — Descobriram nossa localização.
ㅤㅤㅤㅤ— O quê? Como?? — Hooker olha incrédulo para seu soldado.
ㅤㅤㅤㅤ— Também não sabemos, senhor. Mas eles estão perto agora... o indivíduo que estava desaparecido desde a incursão a Nolbank City foi enviado de volta, mas como um morto-vivo. Junto dele, havia uma carta que o próprio Lúcios, líder dos satânicos, escreveu.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu quero todos os detalhes, agora! — o general engole em seco.
Apenas Dylan, Max, Ashley e Yato retornam para os dormitórios, já Lydia levou Abraham para a enfermaria — contra a sua vontade — por ele ter tirado o braço da tipoia e Yumi os acompanhou, assim como Thomas que espera encontrar seu irmão tratando do nariz, já que o mesmo sumiu de vista junto de Jacob. Os quatro podem ver a calamidade nas pessoas assustadas com o tiroteio e que saem ou para ver o que aconteceu, ou para buscarem informações.
ㅤㅤㅤㅤ— Ashley, me espera no quarto? Eu quero falar com o Dylan — pede Max, parando sua amiga por alguns segundos.
ㅤㅤㅤㅤ— Ah, Claro. Tá bom. Vem, Yato. — Ashley segura os ombros do garoto e os dois viram em um corredor.
ㅤㅤㅤㅤ— Dylan, espera. — a morena o alcança assim que ele para e se vira.
ㅤㅤㅤㅤ— O que foi? — ele volta a andar, agora com Max ao seu lado.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu sei que você imaginava o que eu iria dizer naquela hora. — a mulher caminha cabisbaixa. — Eu faria tudo pelo Tommy, não tenha dúvida disso. Mas eu nunca envolveria outras pessoas dessa maneira. É minha culpa ele estar nas mãos desses monstros...
ㅤㅤㅤㅤ— Não pensa assim, ninguém poderia prever isso. — Dylan a olha de soslaio.
ㅤㅤㅤㅤ— Isso não tira o fato de que se eu tivesse deixado ele treinar e ter uma arma, talvez ele pudesse ter tido uma chance. E agora, talvez ele que tenha dito sobre esse lugar... não sei se o torturaram mais ou apenas se aproveitaram do medo dele... Só sei que preciso me redimir. Não importa o que o Jacob ou o Marco digam; pensem e sei lá mais o quê... — ela ergue a cabeça e olha o policial. — A Millie não tem culpa.
ㅤㅤㅤㅤ— Isso me deixa mais aliviado. E você é uma boa mãe, de verdade. Tommy tem sorte de ter alguém como você.
ㅤㅤㅤㅤ— Obrigada. A Millie também tem sorte de ter alguém como você cuidando dela. Parecem um pouco como pai e filha — Max admite e sorri de canto.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu... — ele solta o ar pelo nariz. — Prefiro não tratar dessa forma. Só tô ajudando ela, da mesma forma que a Yumi faz.
ㅤㅤㅤㅤ— Não se sente pronto pra responsabilidade ainda?
ㅤㅤㅤㅤ— Eu não... não quero falar disso, tá bem? — ele vira o rosto para a mulher. — Não quero parecer rude.
ㅤㅤㅤㅤ— Não, tudo bem. Desculpa se pareci invasiva.
ㅤㅤㅤㅤ— Tudo bem. — Dylan chega na porta do seu quarto e a abre.
ㅤㅤㅤㅤNo mesmo instante, Millie, que estava apreensiva e andando de um lado para o outro no cômodo corre até a porta, vendo Dylan e Max.
ㅤㅤㅤㅤ— Dylan? O que houve?? Eu escutei os tiros e depois as pessoas começaram a sair e gritar... fiquei preocupada de ter acontecido algo com você ou os outros... não sabia se devia sair... — ela questiona, encarando ele e depois Max.
ㅤㅤㅤㅤ— Tá tudo bem com todo mundo, não se preocupa. Eu... tenho que te falar umas coisas. — Dylan põe a canhota no ombro da menor, que fica menos agitada.
ㅤㅤㅤㅤ— Bom, eu vou deixar vocês a sós. — Max põe as mãos nos bolsos de trás da calça e olha para Millie. — Tchau.
ㅤㅤㅤㅤ— Ei, Max — Millie a chama. — Eu... sinto muito pelo Tommy, de verdade. Queria muito que ele tivesse aqui.
ㅤㅤㅤㅤ— Olha, Millie, tá tudo bem. E obrigada, é bom saber que se importa com o meu filho. — Max sorri.
ㅤㅤㅤㅤ— Então... você não tá com raiva de mim?
ㅤㅤㅤㅤ— Por que eu estaria? — ela pergunta após se curvar e apoiar as mãos nos joelhos.
ㅤㅤㅤㅤ— Bom, é que o Jacob... — Millie faz uma pausa e passa a destra sobre as bandagens em seu braço.
ㅤㅤㅤㅤ— Escuta. — ela segura a mão esquerda da criança. — O que o Jacob faz ou pensa, eu não tenho nada a ver. Também fiquei muito brava com ele por causa disso; eu ainda tô. Mas você não tem culpa de nada nessa história. Não se martirize, ok?
ㅤㅤㅤㅤ— O que é... martirizar? — ela olha para Dylan.
ㅤㅤㅤㅤ— Não se sinta mal pelo que aconteceu — responde.
ㅤㅤㅤㅤ— Ah, sim... Tá bem. — ela se volta para Max e sorri de canto.
ㅤㅤㅤㅤ— Agora eu vou indo. Vocês precisam conversar. — a morena corrige a postura e se vira, andando pelo corredor.
ㅤㅤㅤㅤ— O que quer falar? — Millie vê Dylan entrar no quarto e tirar seu casaco.
ㅤㅤㅤㅤ— Senta. Não é algo muito legal... — ele joga a peça de roupa na cama.
ㅤㅤㅤㅤA menina engole em seco e fecha a porta, caminhando até a escrivaninha novamente.
Pela janela do seu consultório, Aurora pode ver a movimentação intensa dos residentes da universidade pelo campus e alguns militares tentando conter os ânimos dos mais agitados. Ela ainda está um pouco desconfortável, após ver o estado em que o corpo de Jason se encontrava. Porém, já está preparando um chá no seu pequeno fogão portátil, em uma tentativa de se sentir melhor e esquecer principalmente o fato de terem escrito uma palavra no tórax do homem usando um bisturi de maneira tão precisa — ela se arrepia só de imaginar a dor que ele deve ter sentido e também no fato dos satânicos terem um possível cirurgião tão habilidoso. Nos fundos da sala, Butch está sentado na maca, também está impaciente, mas pelos seus próprios motivos.
ㅤㅤㅤㅤ— Algo assim já aconteceu antes, Doutora? — o satânico infiltrado conversa para tentar se distrair e obter informações.
ㅤㅤㅤㅤ— Não... é a primeira vez. Bom, pelo menos desde que cheguei aqui. — ela abraça os cotovelos e se vira, olhando seu paciente.
ㅤㅤㅤㅤ— O que acha que vai acontecer agora? — Butch olha a médica dos pés à cabeça.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu não sei. O Hooker vai fazer algo, isso é certeza. Mas não tenho como saber — a loira olha para a sua direita no instante em que a porta se abre e Lydia entrar com Abraham e Yumi.
ㅤㅤㅤㅤ— O teimoso aqui tirou o braço da tipoia — anuncia.
ㅤㅤㅤㅤ— Teve algum motivo especial? — Aurora arqueia a sobrancelha e aponta com o queixo, a mesa para Abraham se sentar.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu quebrei o nariz do Marco e o Abraham segurou ele pra não revidar — Yumi fala de uma vez, entrando na sala junto de Thomas.
ㅤㅤㅤㅤ— O quê? — agora a médica fica surpresa, andando até Abraham.
ㅤㅤㅤㅤ— Longa história, Doutora... mas falando no Marco, ele passou por aqui? — Thomas leva a destra até a nuca, olhando a mulher.
ㅤㅤㅤㅤ— Não, eu não o vejo desde que lhe dei alta após vocês chegarem da fazenda.
ㅤㅤㅤㅤ— Merda... onde ele se meteu agora...? Bom, obrigado. Vou ficar procurando ele. — o caçula Lanson sai da enfermaria e fecha a porta.
ㅤㅤㅤㅤ— Satânicos filhos da puta... — Abraham se senta sobre a mesa e espera Aurora.
ㅤㅤㅤㅤ— Satânicos? Quem são esses? — Butch observa o outro homem.
ㅤㅤㅤㅤ— Os caras que vêm nos causando tantos problemas e matando nossos amigos — ele murmura, não fazendo contato visual com o paciente.
ㅤㅤㅤㅤ— Eles que são os caras de branco que aquele soldado perguntou?
ㅤㅤㅤㅤ— Sim, são. — Lydia olha o homem, encostada na bancada.
ㅤㅤㅤㅤ— Podem me falar mais deles? Se os caras que me atacaram forem desse grupo, eu quero vingança... o que eles fizeram comigo foi humilhante.
ㅤㅤㅤㅤTodos ficam em silêncio, olhando Butch, com exceção de Aurora, que está fazendo os exames iniciais em Abraham.
ㅤㅤㅤㅤ— Você não precisa se envolver nisso — diz Yumi, de braços cruzados no meio da sala.
ㅤㅤㅤㅤ— Mas eu quero. — Butch encara Abraham. — Você me parece ser um cara orgulhoso... eu também sou. E quero fazer os patifes sentirem a mesma dor que eu senti.
ㅤㅤㅤㅤNovamente, o silêncio se torna sepulcral dentro da enfermaria e agora até Aurora olha para o homem coberto de curativos. Após mais alguns instantes, Abraham suspira.
ㅤㅤㅤㅤ— Certo, vou te contar.
***
A noite só estava começando quando Hooker convocou uma reunião de emergência com todos os residentes no ginásio, logo após ter ciência de todos os últimos acontecimentos envolvendo os satânicos. Mais do que da última vez, as pessoas estão apreensivas e o medo delas está ainda mais evidente. Muitas estão conversando entre si sobre os piores cenários possíveis, agora que os cultistas sabem onde eles vivem. Todos os sobreviventes do Sítio Foster também se encontram no local, mas espalhados entre as demais pessoas. Do lado de fora, estão apenas Dylan, Blake e Ashley, que está sentada com Millie em um dos bancos.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu tive que falar pra ele sobre a troca. Ele ficou muito com o pé atrás... não acho que ele considere isso uma opção — explica Blake, encostado em um dos portões do ginásio.
ㅤㅤㅤㅤ— Assim espero. Eu falei disso com a Millie. Ela tá com medo do que as pessoas vão achar. — Dylan mantém as mãos na cintura, observando Hooker tentar conter as dezenas de vozes amedrontadas.
ㅤㅤㅤㅤ— Acho que todos eles ali tão com medo. Até o Hooker.
ㅤㅤㅤㅤ— Mas todos ali são adultos, têm até a mínima noção de defesa. Ela é só uma criança — diz o policial, olhando por cima do ombro direito, vendo Millie sentada com Ashley logo atrás deles.
ㅤㅤㅤㅤ— Vai começar — Blake anuncia e toca de leve no bíceps de Dylan, chamando a sua atenção para Hooker, que finalmente conseguiu o silêncio da sua plateia.
ㅤㅤㅤㅤ— Certo, agora que todos estão calmos, podemos dar início a esse encontro... primeiramente, gostaria de me desculpar pelo horário, mas eu tive que passar algumas horas deliberando sobre todas as informações que recebi, envolvendo esse ataque ao nosso lar. Sim, isso foi obra dos satânicos, o mesmo grupo que atacou nossos recém-chegados e nossas tropas em Nolbank City. Mas peço que todos fiquem calmos, pois eles não irão nos amedrontar. Nós somos mais fortes que eles e iremos mostrar nossa força. — a voz do general se eleva e todos conseguem ouvir em alto e bom tom.
ㅤㅤㅤㅤ— E como pretende fazer isso? Antes era fácil, pois eles não estavam jogando bombas e tiros na gente. Mas agora a história é bem diferente! — diz um dos residentes nas arquibancadas, um rapaz usando óculos com armação preta e um gorro com listras horizontais vermelhas e brancas, que ficou de pé para ser visto.
ㅤㅤㅤㅤ— É nesse momento que irá entrar a nossa cooperação. Juntos, faremos nossa própria segurança com a ajuda de todos que puderem e quiserem se juntar a nós. Todos os homens e mulheres que quiserem nos defender passarão por um treinamento, para que quando Lúcios e seus seguidores chegarem, recebam uma lição que nunca mais esquecerão — o general agora fala com determinação, batendo o punho direito no palanque. — Não quero obrigar ninguém a lutar, mas os que estiverem dispostos, se levantem. Vocês estarão ajudando a construir o futuro da nossa sociedade!
ㅤㅤㅤㅤTodos ficam em silêncio — pela primeira vez, quase total — e começam a conversar entre si. Algumas pessoas entre homens, mulheres e até alguns jovens começam a se levantar dos seus acentos e irem para o centro do ginásio.
ㅤㅤㅤㅤAinda no portão, Blake suspira aliviado, vendo a quantidade de pessoas se voluntariando.
ㅤㅤㅤㅤ— É, parece que ele não vai considerar a troca uma opção. E pra ter convencido rápido assim, o pessoal tá disposto a lutar pra se livrar dos satânicos. — o tenente se vira, vendo Dylan andar até o banco onde Millie e Ashley estão. Ele permanece onde está e torna a prestar atenção em Hooker, que começa a discursar sobre a importância que os voluntários têm.
ㅤㅤㅤㅤO policial se agacha na frente da criança, que o olha com um claro medo em seu rosto. Ela junta as mãos e começa a entrelaçar os dedos de vários jeitos, inquieta.
ㅤㅤㅤㅤ— Tá tudo bem, ele não disse nada sobre a troca. Não vai acontecer te acontecer nada. — Dylan a tranquiliza, a encara e nota seus olhos avermelhados.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu tô com medo... não quero voltar praquele lugar. — a voz de Millie é melancólica e seu queixo treme.
ㅤㅤㅤㅤ— Nenhum de nós vai deixar isso acontecer, Millie. — Ashley envolve a menina com o braço esquerdo e a puxa para um abraço.
ㅤㅤㅤㅤ— Ela tá certa, se alguém quiser levar você, vai ter que passar por cima de todos nós.
ㅤㅤㅤㅤ— Por que essas coisas tão acontecendo? — ela desvia o olhar para a neve e uma lágrima desce pelo seu olho direito.
ㅤㅤㅤㅤ— Ei, lembra do que eu te disse mais cedo: não deixa isso te abalar. É difícil, machuca, mas você não vai perder porque é forte e também porquê têm pessoas pra te ajudar. — Dylan se levanta um pouco e fica curvado, levando a destra ao rosto de Millie e afastando seu cabelo para trás da orelha. — Você não tá sozinha.
ㅤㅤㅤㅤ— Tá bom... — ela esboça um pequeno sorriso.
ㅤㅤㅤㅤO policial fica com a coluna reta e olha Ashley, que sorri com as atitudes dele. Dylan suspira e se volta para Blake, após escutar os passos do mesmo na neve e vê-lo se aproximar.
ㅤㅤㅤㅤ— Ele já acabou. É melhor vocês voltarem pros quartos. Vou falar com o Hooker pra que pelo menos você possa ter sua arma de volta, já que é policial e recebeu treinamento.
ㅤㅤㅤㅤ— Tá bem, mas se conseguir isso pra Max e pro Abraham, vai ajudar. Ela era perita criminal e ele sabe usar uma tanto quanto qualquer um.
ㅤㅤㅤㅤ— Vou ver o que posso fazer, agora vão — ele fala e aponta para o caminho com o queixo.
ㅤㅤㅤㅤMillie se levanta, seguida por Ashley, que segura a mão da menina e as duas caminham juntas, com Dylan logo atrás. Blake se vira para o portão, vendo os residentes começarem a deixar o ginásio e se mistura na multidão.
As horas passaram e agora a Universidade Webber está afundada na escuridão da noite, que trouxe consigo uma nevasca não muito forte, mas o suficiente para que Downs e os demais vigias se abriguem sob uma das tendas do estacionamento, aquecidos por cinco tonéis que eles usaram como fogueiras. Todavia, a quantidade de neve não foi capaz de parar duas pessoas que cruzaram todo o campus da faculdade até os prédios administrativos e batem as botas na entrada do edifício da diretoria, as limpando.
ㅤㅤㅤㅤ— Você tem certeza de que isso é uma boa ideia? A gente vai se meter com gente grande — Jacob questiona, tira o capuz e passa a mão esquerda no cabelo.
ㅤㅤㅤㅤ— Claro que tenho — Marco responde e faz o mesmo, começando a andar pelo corredor iluminado. — Hooker disse saber de tudo. Ou ele mentiu sobre a troca, ou então mentiram pra ele sobre terem falado tudo.
ㅤㅤㅤㅤ— E caso ele recuse sua ideia, o que vai fazer? — após ajeitar seu topete, Jacob se apressa e caminha ao lado do seu colega, que já sobe as escadas para o segundo andar.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu tô apostando todas as minhas fichas nisso... Terem mandado o Jason pra cá com aquela carta foi uma alegre coincidência. Agora é ver se as coisas continuarão assim.
ㅤㅤㅤㅤOs dois seguem em silêncio pelo corredor do segundo piso, até que Jacob chama a atenção de Marco para a sala do diretor logo à frente e o Lanson caminha na direção da mesma, respirando fundo antes de bater na porta três vezes. Apreensivos, os dois escutam passos dentro do recinto e, instantes depois, a porta é aberta e eles podem ver Hooker usando uma regata branca exibindo seus braços definidos, junto de uma calça camuflada. Ele encara os dois com desconfiança.
ㅤㅤㅤㅤ— Aconteceu algo de importante, pra vocês dois baterem na minha porta a essa hora? — o general apoia o antebraço direito no batente da porta.
ㅤㅤㅤㅤ— Sim, aconteceu... será que podemos conversar? — Marco mantém sua postura correta o tempo inteiro.
ㅤㅤㅤㅤ— Não tem ninguém nesse prédio além de nós, pode falar aqui mesmo.
ㅤㅤㅤㅤ— É sobre todo o desenrolar quanto aos satânicos... você--
ㅤㅤㅤㅤ— "Senhor". Ainda sou o chefe daqui. — Hooker o interrompe.
ㅤㅤㅤㅤ— Claro... o senhor sabe mesmo de todas as informações sobre o que aconteceu hoje?
ㅤㅤㅤㅤ— Você tá falando sobre eles quererem uma garotinha do seu grupo, não é? Lembro de você, falei com você e seu irmão dias atrás — o general comenta e agora cruza os braços e olha Jacob. — Esse aí, eu só conheço de vista.
ㅤㅤㅤㅤ— Sim, era eu. Marco Lanson e esse é o Jacob. E sim, vim falar sobre essa troca.
ㅤㅤㅤㅤ— Ok... entrem. — Hooker dá passagem para que a dupla entre em sua sala e depois fecha a porta. — Escutem, eu não vou considerar isso, ok? Primeiro que seu pessoal não iria aceitar e segundo que eu não vou pôr o meu na reta, como assassino de crianças, porque aquela garota vai morrer se for levada até os satânicos. — ele caminha até um pequeno frigobar e o abre, tirando uma cerveja.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu sei disso, imaginei que não quisesse se envolver diretamente nesse assunto, por isso que nós viemos nos oferecer pra fazer isso. — Marco se vira e fica de frente para Hooker, que fica surpreso com sua declaração.
ㅤㅤㅤㅤ— Como é? — ele arqueia a sobrancelha e os olha com surpresa.
ㅤㅤㅤㅤ— Tem... pessoas no nosso grupo que não são boa gente. Eles mataram pra chegarem onde tão hoje — Jacob fala um pouco retraído, ainda receoso com tudo.
ㅤㅤㅤㅤ— Atire a primeira pedra quem nunca atirou uma bala em alguém vivo ou morto.
ㅤㅤㅤㅤ— Mas a história é outra quando ele mata um filho seu, ou deixa alguém próximo de você pra trás. — Marco toma a palavra, com raiva ao lembrar de Marten.
ㅤㅤㅤㅤ— De quem você tá falando? — Hooker arqueia a sobrancelha.
ㅤㅤㅤㅤ— Dylan. Ele se acha o comandante de tudo, quer ditar o que fazemos e decidir quem vive, que no caso são seu seleto grupinho; e quem morre, no caso, o restante de nós. Ele já começou a tentar fazer isso, quando tomou a palavra na primeira reunião, mas o senhor viu como ele é desequilibrado, pois bateu no Jacob no mesmo dia — Marco argumenta, fecha os punhos e semicerra os dentes, encarando Hooker com fúria nos olhos. — Além disso, ele já tentou me agredir e agrediu o Jason quando ainda era vivo. Como se não bastasse, ele tentou fugir quando precisávamos de ajuda e agora banca de bom-samaritano... ele precisa ser parado.
ㅤㅤㅤㅤ— E onde é que eu entro nisso? Por quê está me falando essas coisas?
ㅤㅤㅤㅤ— Porque eu mesmo quero fazer isso; faço qualquer coisa pra que ele sinta o mesmo que vem causando a vários de nós. Eu entrego a menina pros satânicos, sei a localização pois já li na carta... eles nos deixam em paz e ninguém precisa mais arriscar a vida. Pense em quantas pessoas você vai salvar, por um preço que sequer importa.
ㅤㅤㅤㅤ— Você também pensa assim? — Hooker olha para Jacob.
ㅤㅤㅤㅤ— Sim, penso... nós estamos trabalhando juntos nessa.
ㅤㅤㅤㅤ— Ok...
ㅤㅤㅤㅤO silêncio do general após isso causa um incomodo imenso tanto em Marco, quanto em Jacob, que não tira os olhos do veterano de guerra, qual olha para baixo e respira fundo, soltando o ar pela boca. Em seguida, ele abre sua cerveja e começa a andar, tomando a bebida e passando pelos dois, dando a volta na mesa, sendo seguido fixamente por eles. Marco engole em seco ao vê-lo esticar a mão livre até uma gaveta e a abrir, sem poder ver o conteúdo da mesma.
ㅤㅤㅤㅤ— Seu amigo aí parece estar com medo, mas eu entendo como é fazer algo arriscado assim. Enfim, eu espero que saibam no que estão se envolvendo. Mas não quero meu nome ligado à nada disso, pelo menos até que tudo esteja acertado... — ele põe a destra dentro da gaveta e puxa uma pistola Glock 17, a segurando pelo silenciador e a colocando sobre a mesa. — Apenas façam. — Hooker olha para os dois, vendo um sorriso maligno se formar no rosto de Marco.
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