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.3: Dor da Inocência (Parte Dois)

— Por favor! Prestem atenção aqui, precisamos de silêncio para essa reunião dar certo, pessoal! — Hooker fala em um tom de voz elevado, parando atrás de um palanque montado no ginásio de esportes da Universidade Webber. De cada lado seu, estão dois soldados com as mãos juntas atrás de suas cinturas.

ㅤㅤㅤㅤDos dois lados das arquibancadas, todos os sobreviventes que residem na instituição estão acomodados, a maioria conversando sobre as tensões em torno dos satânicos. Hooker acabou atrasando seu comunicado em um dia, deixando todos ainda mais apreensivos e os boatos que corriam pelos corredores não ajudaram em nada. Sentados próximos da saída, estão os recém-chegados e, nas palavras de alguns, os grandes causadores de toda essa confusão. Do grupo, apenas Abraham — por razões óbvias — e Ashley não estão presentes. A mulher ficou no prédio um, fazendo companhia para Millie e Yato, após o grupo concordar que as duas únicas crianças não precisavam vir. Aos poucos, a multidão vai ficando em silêncio, até que o general é o único que pode ser ouvido, pedindo novamente para que as pessoas prestem atenção nele:

ㅤㅤㅤㅤ— Ok, agora podemos começar essa reunião... quero primeiro me desculpar. Queria ter feito isso ontem, mas aconteceram alguns empecilhos. Enfim, todos vocês estão cientes sobre os rumores que estão circulando dentro da nossa casa: "Os satânicos vão nos atacar"; "Eles vão matar todos nós"; "A culpa é do grupo de novatos"... bom, os satânicos são reais, mas nós não corremos o risco de um ataque. Isso, eu lhes asseguro.

ㅤㅤㅤㅤ— Como pode ter certeza disso? Eles já mataram muitos soldados e até mesmo amigos nossos. Que garantia nós temos de que estamos realmente seguros? — a voz de um homem de barba cheia e cabelo preto penteado para trás se eleva no meio das arquibancadas do lado direito.

ㅤㅤㅤㅤ— Os satânicos não sabem onde estamos. Essa é a nossa vantagem. E mesmo que descubram, nós iríamos conter qualquer ataque e devolver com ainda mais força, para mostrar que eles não podem se meter com a gente. — ele ergue o punho direito, o fechando com força.

ㅤㅤㅤㅤ— Mas e quanto aos que trouxeram tudo isso pra cá? Eles vão continuar vivendo entre nós?! — dessa vez, é uma mulher com aparentes mais de cinquenta anos, que vocifera em um lugar das arquibancadas.

ㅤㅤㅤㅤ— Tava demorando... — comenta Thomas, à esquerda de Dylan e Yumi, observando a mulher de suéter verde desbotado.

ㅤㅤㅤㅤ— Já era previsível. Só continua em silêncio — responde Yumi.

ㅤㅤㅤㅤ— De uma vez por todas, eles não podem assumir a responsabilidade por isso! Eles foram resgatados pelos meus homens e acolhidos entre nós. Eles não trouxeram essa ameaça — Hooker fala alto, olhando as arquibancadas.

ㅤㅤㅤㅤ— Por que nenhum deles fala? Quero ouvir se eles têm algo a dizer sobre tudo isso! — outro homem exclama, ficando de pé na arquibancada, logo acima de onde os sobreviventes estão.

ㅤㅤㅤㅤMarco, Jacob, Lydia e Dylan olham o desconhecido de casaco laranja e com um gorro branco e Hooker, por sua vez, se vira na direção das pessoas em questão:

ㅤㅤㅤㅤ— Se alguém ou alguns de vocês quiserem falar, sintam-se à vontade para virem ao palanque.

ㅤㅤㅤㅤJacob é o primeiro a abaixar a cabeça, já indicando que não quer ser o escolhido. Os demais ficam em silêncio, mas Max vira o rosto na direção de Dylan e Yumi, que estão à sua direita.

ㅤㅤㅤㅤ— Vamos! Nenhum de vocês vai dizer nada?! Preferem ser um bando de covardes em silêncio? — o tom de voz do homem aumenta e ele fuzila os sobreviventes com os olhos, fechando os punhos.

ㅤㅤㅤㅤ— Ok! Já chega — Yumi se levanta, caminhando até a quadra do ginásio e se virando para a arquibancada. — o próprio líder de vocês já disse que nós não somos responsáveis por isso, pelo contrário, somos tão vítimas quanto vocês!!

ㅤㅤㅤㅤ— Não tente pôr o seu pessoal no mesmo lugar que o nosso! Nós estávamos indo muito bem até vocês chegarem aqui com os seus problemas!

ㅤㅤㅤㅤ— Ele tem razão! — uma mulher de cabelo ondulado preto exclama, intrometendo-se na conversa. — Foram só vocês chegarem, que agora estamos todos dormindo com medo.

ㅤㅤㅤㅤLogo, mais civis começam a dirigir suas declarações contra Yumi, que não consegue mais ser ouvida em meio a tantas vozes raivosas e descontentes.

ㅤㅤㅤㅤ— Isso tá virando uma zorra de novo... me passa o megafone — pede Hooker, olhando um dos seus soldados.

ㅤㅤㅤㅤO militar pega o aparelho que estava em uma bolsa no chão e entrega ao sargento, que o aproxima do rosto:

ㅤㅤㅤㅤ— ORDEM!! PRECISO QUE TODOS FAÇAM SILÊNCIO AQUI!!

ㅤㅤㅤㅤDe imediato, a maioria da plateia volta a ficar silenciosa e a olhar seu comandante. Yumi também se vira para o militar, o agradecendo. Na arquibancada, Dylan suspira e observa seus arredores, vendo as dezenas de pessoas sentadas, aguardando alguma resposta concreta vinda de qualquer lugar. O policial pensa mais um pouco e se levanta.

ㅤㅤㅤㅤ— Sinceramente, vocês precisam parar de olhar para o próprio nariz — ele fala alto o suficiente para que sua voz ecoe no ginásio, enquanto caminha até onde Yumi está. — Do jeito que vocês falam, faz parecer que não estamos nem aí pro que está acontecendo, mas vocês estão é fazendo pouco das nossas mortes. Sabemos e respeitamos as perdas que vocês tiveram, mas parem pra pensar um minuto: quando nós chegamos aqui, estávamos com duas pessoas feridas, duas desaparecidas e três para enterrar! — ele enfatiza os números, parando ao lado da asiática. — E há dois dias, estamos com um homem vivendo graças a um tanque de oxigênio, outro desaparecido e uma criança nas mãos dos satânicos. "Nós somos tão vítimas quanto vocês" não é uma desculpa, é uma forma de falar que nós também perdemos!

ㅤㅤㅤㅤTodo o ginásio continua em silêncio por mais alguns instantes, e algumas pessoas começam a cochichar coisas inaudíveis para os sobreviventes.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu entendo que vocês estejam com medo e apreensivos com tudo isso; meu pessoal também tá. Mas o Hooker já--

ㅤㅤㅤㅤ— General Hooker —  corrige, fazendo sua voz ser ouvida por todos.

ㅤㅤㅤㅤ— Eles com certeza entenderam — Dylan fala olhando o militar por cima do ombro e depois se vira para o público. — Ele já disse que os satânicos não sabem onde estamos e por isso temos a vantagem. Claro, não podemos menosprezar a ameaça, mas também não devemos criar pânico ou apontar culpados sem antes vermos o que vai acontecer.

ㅤㅤㅤㅤNovamente, mais cochichos podem ser ouvidos, seguido por um silêncio sepulcral nas arquibancadas. As pessoas continuam desconfiadas, mas não parecem mais que vão atacar com palavras.

ㅤㅤㅤㅤ— Certo... acho que tudo está entendido por aqui. Bom, quero dizer também que eu proibi qualquer incursão direcionada na busca pelos satânicos, para que as chances de perigo sejam as mínimas. Vocês podem seguir com suas vidas normalmente, que continuarão seguros tanto dos mortos, quanto dos vivos.

ㅤㅤㅤㅤApós a declaração final de Hooker, as pessoas começam a se dispersar do ginásio e os olhares de repúdio diminuíram consideravelmente depois da fala de Dylan. Do lado de fora, finos flocos de neve caem e a temperatura segue ainda próxima de zero. Lydia olha ao redor e avista Aurora andando com as mãos dentro de um casaco preto e com o cabelo amarrado em um rabo de cavalo.

ㅤㅤㅤㅤ— Ei, já volto — ela fala com Yumi e começa a se aproximar da médica.

ㅤㅤㅤㅤ— Tá, claro. — a asiática observa a mulher se afastando e fica junto do seu grupo.

ㅤㅤㅤㅤ— Doutora Kannenberg, oi. Eu queria saber se posso ir ver o Abraham.

ㅤㅤㅤㅤ— Ah, claro. — Aurora sorri para a outra mulher e ajeita seu óculos no rosto. — Eu ia mesmo falar com você depois. O Abraham já acordou, deixei ele apenas sedado, pra que não se mexesse muito enquanto eu estava aqui.

ㅤㅤㅤㅤ— Sério? — Lydia imediatamente alegra-se com a notícia. — Isso é ótimo.

ㅤㅤㅤㅤ— Sim, queira me acompanhar, por favor.

ㅤㅤㅤㅤJacob nota a inquietude de Max, que olha para várias direções diferentes, parecendo procurar alguém no meio da multidão. O homem se aproxima dela e pousa a canhota em seu ombro.

ㅤㅤㅤㅤ— Ei, tá tudo bem?

ㅤㅤㅤㅤ— An? Ah, tá sim. Eu só tô procurando a Alex — comenta Max, olhando-o de soslaio.

ㅤㅤㅤㅤ— Quem?

ㅤㅤㅤㅤ— A professora daqui. Eu... quero perguntar se posso ajudar ela nas aulas. Você sabe que eu ensinava o Tommy antes e... eu sinto falta disso. Acho que se eu tentar fazer algo bom, a dor vai diminuir.

ㅤㅤㅤㅤ— Ah, é uma boa ideia. E... eu posso falar com você depois? — pede Jacob, pondo as mãos nos bolsos da sua calça.

ㅤㅤㅤㅤ— Sobre o quê?

ㅤㅤㅤㅤ— É um assunto particular. Sabe, não é bom falar agora.

ㅤㅤㅤㅤ— Ah, claro. Depois que eu falar com a Alex, tudo bem?

ㅤㅤㅤㅤ— Sim, tudo bem. Eu vou en-- — Jacob é interrompido quando sente uma mão em seu ombro e ao olhar para trás, dá de cara com Marco.

ㅤㅤㅤㅤ— Preciso falar com você, agora.

ㅤㅤㅤㅤ— Eh... — ele titubeia, olhando para Max.

ㅤㅤㅤㅤ— Vai lá, eu vou pro quarto mais tarde e te vejo lá. — a morena declara e segue andando.

ㅤㅤㅤㅤO Lanson mais velho começa a andar no sentido contrário da multidão, se afastando cada vez mais das pessoas. Ele já não está mais usando muletas e embora consiga andar normalmente, ainda precisa ir devagar para não sentir muita dor, vendo Jacob em seu encalço.

ㅤㅤㅤㅤ— Você não devia tá com o seu irmão? — indaga.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu disse a ele que queria andar um pouco; esticar as pernas — explica Marco, saindo da multidão e indo até o campus da universidade. — Aí ele foi com o Dylan e a Yumi.

ㅤㅤㅤㅤ— Saquei. — se mantendo sério, Jacob guarda as mãos nos bolsos da calça. — Então, qual o assunto?

ㅤㅤㅤㅤ— Eu andei pensando em algumas formas de fazer o Dylan sentir um pouco do que causou a mim e a sua namorada.

ㅤㅤㅤㅤ— A Max não é minha namorada... — ele cora levemente e olha para a neve no chão. — Mas fala aí no que pensou.

ㅤㅤㅤㅤ— Você vai ter uma conversa com a garotinha dele.

ㅤㅤㅤㅤ— Ou, calma aí, como é que é? — Jacob Indaga, erguendo as mãos, um tanto incrédulo.

ㅤㅤㅤㅤ— Você esperava o quê? Ir no soco com ele? — Marco cruza os braços e arqueia a sobrancelha.

ㅤㅤㅤㅤ— Também não, mas... sei lá.

ㅤㅤㅤㅤ— Vai dar pra trás agora? Não era você o machão? Você o acusou mais que qualquer um por aqui.

ㅤㅤㅤㅤ— Tá, tá... e sobre o que exatamente vai ser essa conversa? — Jacob entende que não conseguirá argumentar e então desiste.

ㅤㅤㅤㅤ— Vem, vou te explicar direitinho. Acho que praticamente ninguém ligou muito para essa última discussão de vocês, muito menos o Dylan. Então, de certa forma, a vantagem é sua — Marco comenta com um sorriso no rosto e começa a caminhar mais adentro do jardim.

A visão de Abraham está turva, permitindo que ele veja apenas borrões pelo seu olho esquerdo. As dores pelo corpo estão mais leves devido aos sedativos e analgésicos e ele permanece consciente, podendo ouvir o som da porta do consultório sendo aberta e vendo duas mulheres entrando no recinto. Mesmo com a visão embaçada, ele reconhece Lydia se aproximando dele. A mulher sorri e entra no leito, se sentando em uma cadeira próxima da maca.

ㅤㅤㅤㅤ— Ei, Abe... e aí, cara?

ㅤㅤㅤㅤAbraham vira o rosto para a amiga e ela pode ver melhor seu olho direito, agora menos inchado do que na última visita. Os hematomas em seu rosto também estão melhorando e ele está com apenas alguns poucos curativos.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu... o que houve? Lembro só de ter ido atrás daquele... daquele filho da puta — ele murmura e sua voz sai fraca, ainda sob efeito dos remédios.

ㅤㅤㅤㅤO sorriso no rosto da mulher se desfaz e ela engole em seco, suspirando logo em seguida.

ㅤㅤㅤㅤ— Olha, eu, Blake e Downs te salvamos do Karl. Ele tava pra te matar quando aparecemos. Foi por muito pouco mesmo...

ㅤㅤㅤㅤ— Ele fugiu?

ㅤㅤㅤㅤ— Infelizmente.

ㅤㅤㅤㅤ— E cadê o Jason? Achei que ele fosse vir com você.
ㅤㅤㅤㅤNesse momento, o coração de Lydia se aperta e ela desvia o olhar rapidamente, logo pensando em uma desculpa para o momento. A mulher sabe que mentir não é o ideal, mas é a sua melhor opção. Aurora, que estava de braços cruzados na entrada do leito se vira de costas e se afasta, dando-lhes mais privacidade.

ㅤㅤㅤㅤ— Ele tá de vigia com os soldados. Disse que ia vir aqui de noite, pra poder passar mais tempo.

ㅤㅤㅤㅤ— Lydia... eu te conheço. Cadê o Jason? — Abraham pergunta novamente, ouvindo um suspiro pesado vindo da mulher.

ㅤㅤㅤㅤ— Tá bem... depois que você foi atrás do Karl, nós fomos atacados pelos satânicos e só restamos nós quatro. Depois que entramos em uma padaria, ele ficou pra distraí-los e acabamos por nos separar.

ㅤㅤㅤㅤ— Ele tá morto? — Abraham pergunta e se acomoda melhor no colchão.

ㅤㅤㅤㅤ— Não sabemos. Quando o encontramos, te trazer pra cá se tornou nossa preocupação maior. — com um semblante triste, Lydia abaixa a cabeça.

ㅤㅤㅤㅤ— Merda... e os outros? Dylan e Yumi?

ㅤㅤㅤㅤ— Eles estão bem, conseguiram trazer a Millie de volta, depois de acharem ela com o Lúcios. Eles chegaram aqui de noite, quase mortos pelo frio, mas já estão melhores.

ㅤㅤㅤㅤ— Nada do Tommy?

ㅤㅤㅤㅤ— Não. Jacob tá puto por causa disso, mas a Max parece estar se conformando.

ㅤㅤㅤㅤ— Entendi... queria ter ajudado mais. Talvez se eu não tivesse tão cego por vingança, Jason estivesse aqui agora.

ㅤㅤㅤㅤ— Ei, não se culpa por isso, tá? Não é culpa de ninguém.

ㅤㅤㅤㅤ— Mas se for pôr no papel, eu que agi que nem um idiota; deixei vocês pra trás e ainda trouxe problemas... — Abraham fica cabisbaixo e fecha o olho, virando o rosto para cima. — Não pude salvar meus filhos e nem meu melhor amigo.

ㅤㅤㅤㅤ— Abe, para. Não é hora pra pensarmos nisso. Você... quer que eu chame os outros aqui? Para eles verem que você tá bem.

ㅤㅤㅤㅤ— Não. Eu imagino que alguns deles já me viram assim, mas não quero estar acordado com eles me olhando.

ㅤㅤㅤㅤA atenção dos dois se volta para a porta do consultório sendo aberta por uma mulher ruiva que entra logo em seguida, acompanhada por uma menina pequena, com os cabelos da mesma cor.

ㅤㅤㅤㅤ— Oi, Doutora Kannenberg, eu vim pegar alguns remédio pra resfriado. Essa garotinha aqui acordou um pouco doente hoje — diz Alex, andando até a mesa da médica, segurando a mão da sua filha.

ㅤㅤㅤㅤ— Ah, claro. Sente-se, vou pegar. — Aurora caminha até seu armário de remédios.

ㅤㅤㅤㅤAbraham fica olhando a pequena Stella parada ao lado da sua mãe e, naquele momento, seu cérebro começa a lhe pregar uma peça, o fazendo não ver uma menina ruiva, mas sim uma de cabelos pretos, usando um vestido rosa e um pequeno casaco de jeans azul.

ㅤㅤㅤㅤ— Angel...? — ele chama e sua voz é ouvida no consultório inteiro, atraindo a atenção tanto de Alex, quanto da criança.

ㅤㅤㅤㅤ— Pois não? — pede a professora, olhando o homem deitado na maca.

ㅤㅤㅤㅤ— Me desculpa, é que ele tá sob o efeito de remédios... deve ter alucinado — diz Lydia.

ㅤㅤㅤㅤO homem fica em silêncio, encarando a criancinha que se esconde atrás das pernas da sua mãe, mas também olha para ele. Logo, sua visão volta ao normal e ele percebe que não se trata da sua filha. O homem tenta falar algo, mas sua língua trava e ele desiste, desviando o olhar para a parede.

ㅤㅤㅤㅤ— Aqui, Alex... ela tem razão — Aurora fala e entrega um pequeno frasco laranja para a ruiva. — Eu tive que aplicar sedativos nele. Nem tudo o que ele vê é real.

ㅤㅤㅤㅤ— Claro... eu vou indo agora. Muito obrigada. — Alex sorri para a médica e depois encara o homem na maca, começando a andar até a saída, segurando a destra de Stella.

ㅤㅤㅤㅤAbraham não olha mais na direção delas. Apenas escuta a porta se fechando e, ainda encarando a parede, deixa as lágrimas descerem pelo seu olho esquerdo.

— Seu cabelo é muito macio, Millie. O que você usa nele? — pergunta Ashley, enquanto passa uma escova nas mechas loiras da criança.

ㅤㅤㅤㅤ— Ah... eu só lavava ele antes. Hoje, usei um xampu que a Yumi me deu. Millie fica sentada na cama à direita, de costas para a mulher. — Eu... não lembro o nome agora.

ㅤㅤㅤㅤElas estão dentro do quarto onde Max, Ashley, Jacob e Yato dormem. O garoto, por sua vez, está sentado em uma das escrivaninhas no fundo do quarto, escrevendo em um caderno.

ㅤㅤㅤㅤ— Ele é muito bonito também.

ㅤㅤㅤㅤ— Obrigada — Millie fala agradecida e passa a manga vermelha do moletom em seu nariz.

ㅤㅤㅤㅤ— Ei, Millie. Posso falar uma coisa? — Yato se vira na cadeira, olhando as duas, que estão de costas para ele.

ㅤㅤㅤㅤ— Aham.

ㅤㅤㅤㅤ— E tô feliz por você ter voltado. — ele se vira para a garota e sorri.

ㅤㅤㅤㅤ— Valeu. Millie retribui, só que mais discreta.

ㅤㅤㅤㅤ— É legal ver vocês conversando. Sabe, os dois são as únicas crianças do nosso grupo. — Ashley ri e deixa a escova de lado para pegar uma pequena caixa branca, a abrindo. — Claro, há outra aqui, mas vocês dois não podem ficar mais amigos e tal. Agora vira pra mim, Millie.

ㅤㅤㅤㅤA garota se vira e fica de frente para Ashley, que tira uma pequena presilha rosa de dentro da sua caixinha e coloca logo acima da orelha direita de Millie, prendendo o cabelo para o lado. A mulher também o arruma um pouco com a mão, cobrindo uma parte da testa dela.

ㅤㅤㅤㅤ— Pronto, você tá linda, não é, Yato? — Ashley sorri e olha o garoto.

ㅤㅤㅤㅤ— Sim, tá.

ㅤㅤㅤㅤMillie fica um pouco corada e sorri, olhando para as próprias pernas.

ㅤㅤㅤㅤOs três então escutam o som da maçaneta girando e a porta do quarto é aberta, permitindo que vejam Jacob entrando. O homem para ainda na entrada e observa Millie sentada perto de Ashley.

ㅤㅤㅤㅤ— Ah, você voltou. Já terminaram a reunião? O que deu lá? — Ashley o acompanha com os olhos.

ㅤㅤㅤㅤ— Yumi e Dylan falaram algumas coisas lá e parece que o pessoal desse lugar vai aquietar o rabo pra falar da gente agora. — Ele fecha a porta e começa a tirar seu casaco.

ㅤㅤㅤㅤ— Isso é bom. Cadê a Max?

ㅤㅤㅤㅤ— Ela foi procurar a professora. Parece que quer dar aulas com ela, pra esquecer um pouco dos problemas. — O homem caminha até a outra cama e se senta, deixando a jaqueta de lado.

ㅤㅤㅤㅤ— Entendi. Bom, você fica aqui um instante? Quero ir no refeitório pegar algo pra comer.

ㅤㅤㅤㅤ— Claro, vai lá — Jacob concorda e apoia os cotovelos nos joelhos.

ㅤㅤㅤㅤ— Vocês querem algo? — Ashley olha os dois jovens.

ㅤㅤㅤㅤ— Não, obrigada — Diz Millie.

ㅤㅤㅤㅤ— Qualquer coisa — Yato continua a rabiscar o caderno.

ㅤㅤㅤㅤ— Tá bem. — A loira se levanta, calçando seus tênis, indo até a porta e saindo do quarto.

ㅤㅤㅤㅤO dormitório fica em silêncio por alguns instantes, depois que a mais velha sai. Yato continua na escrivaninha, fazendo seus textos, Millie fica sentada na cama, com as pernas cruzadas em forma de índio e olhando para o colchão. Jacob, por sua vez, encara a menina e por um momento reluta, mas respira fundo e se decide no que fazer, virando o rosto para Yato:

ㅤㅤㅤㅤ— Ah, Yato. Pode ir atrás da Ashley? Queria que trouxesse umas maçãs pra mim.

ㅤㅤㅤㅤ— Ah... beleza. — O garoto fecha o caderno, se levantando. — Só maças?

ㅤㅤㅤㅤ— Aham, vai lá. Aproveita e ajuda ela a trazer as coisas que ela pegar.

ㅤㅤㅤㅤYato concorda com a cabeça e pega um pequeno casaco azul que estava nas costas da cadeira, o vestindo enquanto caminha até a porta. Jacob e Millie podem ouvir o trinco encaixando na fechadura e o silêncio perdura novamente.

ㅤㅤㅤㅤ— É melhor eu ir. Vou procurar o Dylan. — a menina começa a se levantar da cama.

ㅤㅤㅤㅤ— Ei, espera. Queria trocar uma palavrinha com você. — Jacob a chama, erguendo a destra, pedindo para a mais nova parar.

ㅤㅤㅤㅤ— Sobre...? — ela fala de forma desconfiada.

ㅤㅤㅤㅤ— Você tá feliz por estar aqui?

ㅤㅤㅤㅤ— An? — a menor demonstra clara confusão e arqueia a sobrancelha.

ㅤㅤㅤㅤ— Se você tá feliz por estar nesse lugar. Sabe, por ter escapado dos satânicos.

ㅤㅤㅤㅤ— Bom, sim. Eu tô.

ㅤㅤㅤㅤ— É? Pois não devia. Você só tá aqui por sorte. Porque quem foi atrás de você foi o Dylan, a única pessoa que finge ligar pra você.

ㅤㅤㅤㅤ— Por que tá dizendo isso? — ela fica visivelmente desconfortável.

ㅤㅤㅤㅤ— Porque é a verdade. Você tá aqui só ocupando o lugar de alguém que realmente merecia. O Tommy que devia ter sido resgatado, era o cabelo dele que a Ashley devia ter penteado... o seu lugar, garota, não é aqui. E agora ninguém mais pode sair pra tentar achá-lo. Ela pode estar morto e a culpa é toda sua.

ㅤㅤㅤㅤ— Para! — Millie exclama com os olhos marejados. Ela se levanta da cama e corre até a porta.

ㅤㅤㅤㅤ— Sai daqui mesmo! É melhor assim! — Jacob vocifera e vê a menina abrir a porta do quarto e sair do dormitório, batendo-a com força. Agora em total silêncio, ele suspira e leva a destra até a cabeça, pensando no que fez.

***

As mesas do refeitório do prédio um estão lotadas de pessoas almoçando depois do comunicado dado por Hooker. O lugar é iluminado por luzes de LED no teto, mas também por seis janelas nas paredes de cada lado. No meio da cantina, uma fila com cerca de trinta pessoas ainda caminha até onde uma militar serve os pratos. Em uma mesa próxima do canto esquerdo, Dylan, Yumi, Thomas, Blake e Downs terminam de comer.

ㅤㅤㅤㅤ— Aí, Dylan. Eu sei que é um assunto chato, mas o que você pretende fazer quanto ao Jacob? — pede Thomas, com os cotovelos sobre a mesa e as mãos juntas. Seu cabelo castanho cobre o curativo em sua orelha esquerda.

ㅤㅤㅤㅤ— Não há muito o que fazer a não ser ignorar. É melhor que arrumar uma discussão que não levaria a lugar nenhum. Não é isso que vai salvar o menino — Dylan fala com a cabeça apoiada na mão direita e olhando o Lanson.

ㅤㅤㅤㅤ — Cara, se eu fosse você, não teria tido tanta paciência — comenta Downs, recebendo alguns olhares do grupo. Os dois estão à esquerda de Thomas.

ㅤㅤㅤㅤ— Não valeria a pena, a tensão que o pessoal daqui tinha com a gente só ia ficar pior.

ㅤㅤㅤㅤ— Hm, já que o Thomas tocou nesse assunto, por que não trouxe a Millie pra almoçar com a gente? — Yumi o questiona.

ㅤㅤㅤㅤ— Ela não quis comer nada de manhã, tava sem fome. Perguntei antes da reunião se ela ia querer almoçar e disse que também não. Mas vou levar essas coisas pra ela, ver se sendo besteira, ela come. — ele mostra duas barras de chocolate, que pegou como sobremesa.

ㅤㅤㅤㅤ— Olha, pela minha experiência em campo, eu acho que ela pode estar com estresse pós-traumático. Sei lá, eu nunca falei com ela, mas você não viu nada de estranho nela? Falta de apetite pode significar algo. — Blake olha para Dylan.

ㅤㅤㅤㅤ— Ela tá ruim, sim. Eu vou ajudar ela... ia chamar você também. — o policial olha para Yumi.

ㅤㅤㅤㅤ— Claro, pode contar comigo — Diz a mulher.

ㅤㅤㅤㅤ— Deveria falar com a Doutora Kannenberg. Ela não é da área psicológica, mas pode ajudar com alguma coisa. — Downs termina de comer e junta os talheres no prato.

ㅤㅤㅤㅤ— E eu posso ajudar com qualquer coisa também. Vai ser uma forma de compensar a falta que a Madson me faz. E sei que a Christin também iria querer fazer algo — Thomas fala e olha para os dois.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu agradeço, mas por hora, não acho que seja bom ter muitas pessoas em cima. Não tô negando nada, só quero ir com calma.

ㅤㅤㅤㅤ— Você tá certo, cara. Esses assuntos são delicados. — O Lanson mais novo coça a barba.

ㅤㅤㅤㅤTodos terminam de comer e levam os pratos sujos até uma mesa onde os residentes os deixam, para serem lavados posteriormente. Os dois soldados se despedem, pois precisam voltar aos seus postos e Thomas também se separa deles, falando que vai procurar por Marco, deixando Dylan e Yumi ficam andando pelos corredores.

ㅤㅤㅤㅤ— A Millie te disse alguma coisa ontem? — pergunta Yumi, olhando para a frente.

ㅤㅤㅤㅤ— Ela... ela não tá bem. Não por hora. — Dylan  olha a mulher à sua esquerda. — Me disse que o Tommy foi molestado; não falou nada dele estar morto.

ㅤㅤㅤㅤ— Meu Deus... se a Max souber...

ㅤㅤㅤㅤ— Não sei como contar pra ela. Não dessa parte.

ㅤㅤㅤㅤ— Ela disse algo mais?

ㅤㅤㅤㅤ— Disse, eu só não sei como explicar sem parecer... "frescura". — ele faz aspas com os dedos.

ㅤㅤㅤㅤ— Dylan, eu era da área da saúde. Não existe "frescura".

ㅤㅤㅤㅤ— Tá — O homem suspira. — Ela me disse que tentou se matar. Quando o--

ㅤㅤㅤㅤ— O quê?? — Yumi se surpreende com a fala, parando de andar e o encarando estupefata.

ㅤㅤㅤㅤ— É, eu também fiquei assim.

ㅤㅤㅤㅤ— Dylan, ela precisa de ajuda. Isso... e se ela... — Yumi leva as mãos à cabeça e afasta o cabelo, em claro medo e preocupação.

ㅤㅤㅤㅤ— Ei, calma. Eu conversei com ela, deixei claro que ela não tá sozinha e que eu vou ajudar ela a lidar com essas coisas.

ㅤㅤㅤㅤ— Tô muito preocupada agora...

ㅤㅤㅤㅤ— Eu sei bem pelo que ela tá passando, também tive que lidar com essas merdas e sei como é ruim. Não vou deixar que ela continue ruim ou fique pior — Dylan assegura e torna a andar.

ㅤㅤㅤㅤ— Deixa eu ajudar, por favor. Me importo com ela, não quero vê-la assim. — Yumi o segue.

ㅤㅤㅤㅤ— Claro, ela vai ficar bem. Vou fazer de tudo pra isso.

ㅤㅤㅤㅤ— Vai falar com a Aurora?

ㅤㅤㅤㅤ— Acha que ela pode mesmo ajudar? — ele franze o cenho.

ㅤㅤㅤㅤ— Dylan, ela é médica. É o melhor que temos.

ㅤㅤㅤㅤ— Tá, quer ir logo lá? – Dylan coça a nuca. — Talvez a Lydia ainda esteja com ela, não a vi no refeitório.

ㅤㅤㅤㅤ— Você não vai deixar o chocolate da Millie?

ㅤㅤㅤㅤ— Então você vai na frente e eu apareço lá depois, ok?

ㅤㅤㅤㅤ— Tá, claro. Vai lá.

ㅤㅤㅤㅤDylan confirma com a cabeça e apressa o passo para chegar nas escadas que levam aos andares superiores, enquanto Yumi se vira e segue o caminho contrário, para ir até a saída do bloco.

Sentado na cadeira em frente a uma escrivaninha e diante de um pequeno espelho, Marco retira um por um, os curativos do seu rosto e deixa à mostra as pequenas cicatrizes dos cortes que sofreu. O homem respira fundo e passa as mãos no cabelo, jogando as mechas castanhas para trás, mas algumas voltam e ficam soltas, cobrindo sua testa. Ele rapidamente se vira para a porta, quando escuta a mesma abrindo.

ㅤㅤㅤㅤ— Ah, é você — diz ele, vendo o irmão entrar e então se volta para o espelho.

ㅤㅤㅤㅤ— Estava esperando outra pessoa? — indaga Thomas, tirando seu casaco marrom e indo até a cama à sua direita.

ㅤㅤㅤㅤ— Não, ninguém — ele olha o caçula pelo reflexo do espelho. — Credo, cara, ajeita esse cabelo.

ㅤㅤㅤㅤ— Como assim? — Thomas põe a destra no cabelo, que penteou como se fosse um corte de surfista, cobrindo as orelhas e a testa.

ㅤㅤㅤㅤ— Tá parecendo aqueles cantores emos, mas com uma barba enorme. Na boa, tá horrível.

ㅤㅤㅤㅤ— Ah, bom, tô usando o cabelo pra cobrir o curativo — Explica, se sentando no colchão.

ㅤㅤㅤㅤ— Vai ficar assim pra sempre então? — Marco pergunta, o olhando. — Cara, entendo que queira esconder, mas isso aí faz parte de você agora.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu sei, mas pelo menos enquanto eu não me acostumar, vai ficar desse jeito. Você gostando ou não.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu não me importo, só achei seu visual ridículo mesmo.

ㅤㅤㅤㅤ— Vai se foder, cara. Você também tá todo detonado. — Thomas brinca enquanto sorri.

ㅤㅤㅤㅤ— Mas pelo menos eu tô inteiro — Marco o responde também com um sorriso no rosto.

***

Olhando a neve pelas janelas do corredor no segundo andar, Dylan segue caminho até o quarto onde Ashley e Max ficam; onde deixou Millie. O policial mantém as duas mãos nos bolsos do casaco e cumprimenta com a cabeça, um casal que vinha no sentido contrário, sendo respondido da mesma forma por ambos. Ele pensa constantemente no que Millie lhe disse quando saiu do consultório da Doutora Kannenberg e também sobre Tommy, no fato de não ter chamado Max para os dois terem uma conversa sobre o assunto. Ele suspira ao avistar a porta do quarto aonde tem que ir e continua na direção do mesmo, batendo ao chegar e, após alguns instantes, vê a mesma ser aberta, revelando Jacob na sua frente:

ㅤㅤㅤㅤ— Ah, você... — o homem murmura o olhando com desdém. — O que quer?

ㅤㅤㅤㅤ— Ashley, vim buscar a Millie — Dylan fala um pouco alto, ignorando depois de desviar o olhar para o interior do cômodo.

ㅤㅤㅤㅤ— Ela não tá aqui. Foi no refeitório almoçar e o Yato foi junto. Sua menina também saiu, mas não sei pra onde, ela só saiu.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu disse que ela devia me esperar... — ele murmura para si e balança a cabeça negativamente, se virando e voltando a andar pelo corredor.

ㅤㅤㅤㅤ— Tem que educar melhor ela então, não acha? — Jacob pergunta ironicamente e apoia o braço direito no batente da porta, seguindo Dylan com os olhos, mas é novamente ignorado por ele, apenas vendo-o sumir ao virar em um corredor à esquerda.

ㅤㅤㅤㅤUm tanto apreensivo, o policial só pensa em um lugar onde pode encontrar a menina e torce para ela estar no quarto onde os dois dormem na universidade, apressando o passo para chegar no mesmo. Depois de alguns instantes, ele enfim vê a porta do dormitório número 176 e gira a maçaneta, vendo que não está trancada. Ao entrar, a primeira coisa que vê é Millie sentada na cama à direita, abraçando as pernas. Ela usa seu moletom vermelho e está com a cabeça sobre os joelhos.

ㅤㅤㅤㅤ— Você tá aqui... eu disse que devia ficar me esperando no quarto da Ashley — Dylan fala enquanto fecha a porta e se aproxima da cama. — Tá tudo bem?

ㅤㅤㅤㅤA menina levanta a cabeça, revelando que seus olhos e ao redor do nariz estão vermelhos e ela passa a manga do moletom no rosto, limpando as lágrimas. Ao ver isso, Dylan se senta próximo dela e põe a destra em seu ombro.

ㅤㅤㅤㅤ— Millie?

ㅤㅤㅤㅤ— Me responde uma coisa. — ela funga, o encarando. — Se fosse o Tommy no meu lugar, desmaiado, ferido e tudo... você teria tentado me resgatar, ou tinha vindo aqui?

ㅤㅤㅤㅤ— Por que tá perguntando isso? — ele se surpreende com a pergunta e arqueia a sobrancelha, a olhando sem entender o que ela quer com aquilo.

ㅤㅤㅤㅤ— Só me responde, Dylan. Você só veio pra cá porque era eu, ou teria ido atrás de mim se fosse o Tommy?

ㅤㅤㅤㅤO policial fica em silêncio por alguns instantes, ainda confuso. Ele recua a destra e a deixa sobre sua perna, suspirando e sem tirar os olhos da menina:

ㅤㅤㅤㅤ— Eu teria trazido ele pra cá. Por mais que eu quisesse te trazer também, se ele tivesse em um caso de vida ou morte, eu faria a coisa certa... queria ter achado vocês dois, mas as circunstâncias não deixaram.

ㅤㅤㅤㅤ— Se ele que tivesse aqui, você ainda tentaria me achar, mesmo sabendo que mais ninguém pode sair?

ㅤㅤㅤㅤ— Como você sabe disso? — ele fica surpreso.

ㅤㅤㅤㅤ— Então tem coisas que eu não devia saber...? Que ótimo... acho que eu realmente não devia estar aqui.

ㅤㅤㅤㅤ— Millie, que história é essa? Quem andou falando com você?

ㅤㅤㅤㅤ— Tá tudo bem, Dylan. Você não precisa fingir que se importa comigo... eu já entendi as coisas — Ela fala e mais lágrimas descem pelas suas bochechas. — Você se sente culpado por algo, provavelmente aquele assunto lá na fazenda do Thomas e aí tá tentando resolver as coisas, não porque se importa comigo, só não quer sentir nenhum peso.

ㅤㅤㅤㅤDepois de ouvir isso da menor, Dylan fica sem palavras. Ele desvia o olhar, pois sabe que mesmo não tendo admitido se sentir culpado para Yumi, no fundo, o que Millie disse não é totalmente mentira, mas também quer tirar esse sentimento de culpa que guarda dentro de si.

ㅤㅤㅤㅤ— Não sabe o que dizer, não é? — Millie murmura, fungando.

ㅤㅤㅤㅤ— Não...

ㅤㅤㅤㅤ— Eu imaginei... então é verdade — ela suspira e passa a manga do moletom no nariz outra vez. — Escuta, não precisa agir assim por estar com pena de mim. Eu vou procurar outro quarto pra mim--

ㅤㅤㅤㅤ— Espera. — Dylan a interrompe, erguendo a mão esquerda. — Sim, era culpa no começo, embora eu nunca me importe de verdade com o que as pessoas sentem ao meu respeito. — Ele faz uma pausa e suspira. — De verdade, eu ainda me sinto um pouco culpado pelas coisas que eu disse, mas o que eu faço agora, é realmente porque eu passei a me importar com você. Eu te disse isso ontem.

ㅤㅤㅤㅤAgora é Millie que fica em silêncio, comprimindo os lábios e voltando a apoiar a cabeça nos joelhos chorando.

ㅤㅤㅤㅤ— Desculpa... eu ainda não me sinto bem. — ela soluça. — Me desculpa...

ㅤㅤㅤㅤ— Tá tudo bem, garota. Mas me diz quem conversou com você e disse sobre o Hooker proibir as saídas. — Dylan observa Millie levantar a cabeça novamente, respirando fundo.

ㅤㅤㅤㅤ— Foi o Jacob — ela explica e esfrega a mão direita no olho, fungando. — Ele apareceu no quarto e a Ashley saiu pra ir no refeitório. Aí depois ele pediu que o Yato fosse pegar maçãs pra ele e... ele começou a falar que não era pra eu estar aqui. Disse também que você é o único que finge ligar pra mim e que se o Tommy tiver morto, a culpa é minha.

ㅤㅤㅤㅤDepois que a menina para de falar, Dylan respira fundo, fechando os olhos e levantando a cabeça para o teto. O que ele mais está sentindo nesse momento é uma profunda raiva de Jacob, mas a controla rapidamente e passa a mão direita no rosto.

ㅤㅤㅤㅤ— Dylan? — Millie o observa.

ㅤㅤㅤㅤ— Olha, nada do esse cara disse é verdade. Não faço ideia do porquê ele te disse isso, mas você não tem culpa de nada e ninguém finge nada pra você. Eu me importo, a Yumi também e outras pessoas.

ㅤㅤㅤㅤ— Tá... — ela concorda, desvia seu olhar abatido para a parede.

ㅤㅤㅤㅤ— Você quer falar com a Doutora Kannenberg?

ㅤㅤㅤㅤ— Eu não tô doente. — Millie o encara.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu sei que não... mas eu e a Yumi conversamos, e ela é o mais próximo de uma psicóloga, que esse lugar tem.

ㅤㅤㅤㅤ— Psi... o quê?

ㅤㅤㅤㅤ— É um médico que ajuda as pessoas que estão tristes — ele explica, decidindo apenas por simplificar suas palavras para o melhor entendimento da menina.

ㅤㅤㅤㅤ— Ah... eu prefiro não sair daqui. — ela se encolhe, abraçando as pernas com mais força.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu posso chamar ela aqui. Vamos, Millie, você precisa de ajuda e tem gente aqui disposta a isso.

ㅤㅤㅤㅤA mais nova fica pensativa por alguns momentos, mas então confirmar com a cabeça, devagar:

ㅤㅤㅤㅤ— Tá bem... eu falo com ela, mas não quero sair daqui.

ㅤㅤㅤㅤ— Tudo bem, vou chamá-la. — Dylan se levanta e põe a canhota no bolso do seu casaco, puxando as duas barras de chocolate que pegou no refeitório e as entregando para a criança. — Peguei pra você. Tem que comer alguma coisa.

ㅤㅤㅤㅤ— Obrigada — Millie agradece e pega as embalagens.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu já volto.

ㅤㅤㅤㅤ— Ok.

ㅤㅤㅤㅤEle a olha por mais um breve momento e se vira, indo até a porta, saindo do quarto logo em seguida. Millie fica sozinha no dormitório e olha para as barras que o policial lhe deu. Ainda bastante triste e confusa, a menina leva as mãos ao rosto e chora mais um pouco. Depois de alguns instantes, respira fundo, com o rosto vermelho e molhado pelas lágrimas, observando a mochila de Dylan ao pé da cama onde ele dorme. A menina sai da cama e caminha até a bolsa, se agachando para abrir a mesma. Olhando entre peças de roupas, ela acha o coldre vazio de Dylan e o pega, observando que preso ao cinto, está o cabo de um canivete. Ela respira fundo e pega o objeto, guardando o coldre novamente na mochila e, enquanto mais lágrimas caem, ela ejeta a lâmina da arma.

***

— Então você quer me ajudar nas aulas aqui? — pergunta Alex, sentada à mesa dentro da sala de aula onde leciona, agora vazia, a não ser pela sua filha que está brincando nos fundos com um quebra-cabeça e Max, que está em uma das carteiras na sua frente.

ㅤㅤㅤㅤ— Sim, é como eu lhe expliquei... eu fazia isso com o meu filho, antes e depois dessa praga-- — ela explica, mas faz uma pausa ao perceber que iria falar uma palavra de baixo calão próximo de Stella. — Ruim. E agora que o Tommy não tá mais aqui, eu quero fazer algo que não seja chorar — a mulher apoia os braços sobre o apoio da carteira.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu entendo e sinto muito pelo seu filho, na verdade, por todos do seu grupo que perderam alguém ou que foram feridos. E olha, vai ser muito bom ter alguém me ajudando aqui. — A ruiva sorri.

ㅤㅤㅤㅤ— Sério? Nossa, muito obrigada. De verdade, não sabe o quanto isso vai me ajudar. — Agradecida, Max junta as mãos e dá um sorriso de orelha à orelha.

ㅤㅤㅤㅤ— Não precisa agradecer, sei o quanto é bom ter com o que se distrair quando se está triste... — ela para pôr um momento, mas logo se afasta de seus pensamentos. — Então, amanhã, às oito. Você pode me procurar nessa mesma sala.

ㅤㅤㅤㅤ— Claro, prometo estar aqui. — ela não esconde sua animação.

ㅤㅤㅤㅤ— Mamãe, eu acabei — diz Stella, olhando para a sua mãe, da pequena mesa onde está sentada.

ㅤㅤㅤㅤ— Sério, meu anjo? A mamãe vai ver daqui a pouco, certo?

ㅤㅤㅤㅤ— Certo. — a volta a olhar para o quebra-cabeça montado.

ㅤㅤㅤㅤ— Sua filha é muito bonita e parece ser muito inteligente também. — Max olha Stella admirada e depois se vira para Alex.

ㅤㅤㅤㅤ— Sim, ela é bem esperta pra idade... inclusive, foi isso que fez ela perceber as coisas que estão acontecendo no mundo. Enquanto as outras mães mandam seus filhos aqui pra que eles não saibam sobre os mortos, eu apenas faço a Stella não pensar neles.

ㅤㅤㅤㅤ— Oh... e ela reagiu bem? Digo, quando você explicou.

ㅤㅤㅤㅤ— Reagiu melhor do que muitos adultos, diga-se de passagem — Alex fala e cruza os braços, se recostando na cadeira. — Ela... soube lidar. Ainda há muitas coisas que eu não quero que ela veja ainda, mas do jeito que as coisas estão, vai ter que acontecer em algum momento... até lá, eu só posso ir a preparando pra isso.

ㅤㅤㅤㅤ— Isso é bom. Eu tentei privar o Tommy dessas coisas e hoje eu me sinto culpada... Dylan queria levar ele pra treinar com armas junto com os demais do grupo. Talvez se ele tivesse uma, poderia ter se defendido... — Max murmura a última parte e então respira fundo, não deixando seus olhos marejarem.

ㅤㅤㅤㅤ— Se eu puder te dar um conselho, não remoa as coisas. Você só vai ficar pior. Não importa em quem a culpa vai cair, já aconteceu e não dá pra mudar.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu sei disso... agora. Mas é que acaba sendo inevitável, entende? Eu sempre me lembro disso quando penso no Tommy. — Max abaixa a cabeça, triste.

ㅤㅤㅤㅤ— Olha, eu não consigo imaginar como é passar por uma coisa dessas, mas você precisa ter esperança de que algo bom, não importa sobre o quê, vai acontecer. Se você quiser um ombro amigo, pode me procurar aqui ou no meu quarto, é o número cento e oito.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu agradeço, por tudo mesmo, Alex. Bom, acho melhor eu ir, Jacob me disse que queria falar comigo e eu mandei ele esperar eu vir aqui primeiro. — ela se levanta, pondo as mãos nos bolsos de trás da calça.

ㅤㅤㅤㅤ— Claro, pode ir. Vejo você depois. — Alex também se levanta e vê Max caminhar até a porta.

ㅤㅤㅤㅤQuando a morena deixa a sala, a outra caminha até a pequena mesa onde Stella permaneceu sentada e se agacha próxima da filha, vendo o quebra-cabeça de 150 peças montado perfeitamente pela criança. Dando um sorriso, ela acaricia as mechas ruivas de Stella, que a olha curiosa.

ㅤㅤㅤㅤ— Mamãe, o que aconteceu com o filho daquela moça?

ㅤㅤㅤㅤ— Ele foi levado por homens maus, filha. — Alex desfaz o sorriso, mas continua com a destra na cabeça de Stella.

ㅤㅤㅤㅤ— Os homens maus o levaram por ele ser mal-criado?

ㅤㅤㅤㅤ— Não, ele era um bom menino. Os homens maus o levaram apenas por que eles são maus, entendeu?

ㅤㅤㅤㅤ— Hm. — a pequena olha o desenho de um leão no quebra-cabeça. — Eles vão me levar também?

ㅤㅤㅤㅤ— Não, claro que não, minha princesa. A mamãe não vai deixar. — Alex fala com convicção e a encara, porém se mantendo neutra. — Eu prometo que vou proteger você de tudo o que possa lhe fazer mal. E de quem for também.

ㅤㅤㅤㅤ— Que nem você fez com o papai?

ㅤㅤㅤㅤAlex fica completamente sem palavras e respira fundo.

ㅤㅤㅤㅤ— Stella... nós já conversamos sobre isso, filha. O seu pai tinha virado um homem mal... aquelas coisas acontecem com pessoas más. — Alex comprime os lábios, desviando o olhar da menina. O lado ruim de ter uma filha que entende tudo ao seu redor é que ela pode entender coisas específicas e fazer perguntas difíceis de serem respondidas, não porque suas respostas são complicadas; mas sim porque podem ser dolorosas. — Olha, que tal se a gente pensar em algo pra tia Max? — Ela pergunta segurando as mãos da filha. — Pra ajudar ela. O que me diz?

ㅤㅤㅤㅤ— Pra ela ficar feliz?

ㅤㅤㅤㅤ— Pra ela ficar feliz — Alex reafirma e sorri.

ㅤㅤㅤㅤ— Tá bem! — Stella confirma, dando uma pequena risada, exibindo os dentes de leite.

ㅤㅤㅤㅤ— Vamos pra cantina agora, tá hora de você comer — ainda sorrindo, Alex posiciona a garota nos braços, se virando, para a porta.

ㅤㅤㅤㅤ— Posso comer doce hoje? — Stella apoia sua cabeça no ombro da mãe.

ㅤㅤㅤㅤ— Só se comer toda a comida que eu colocar no prato — a ruiva gira a maçaneta e sai da sala, trancando-a logo em seguida.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu vou comer tudinho, prometo. — bastante feliz, ela abraça o pescoço da mulher.

Dentro do consultório da Doutora Kannenberg, Yumi já explicou toda a situação para a médica e, junto de Lydia, as três começaram a debater sobre os traumas que Millie pode ter adquirido durante o tempo que passou nas mãos dos satânicos que, embora tenha durado pouco, pode ter agravado uma situação já não muito boa no psicológico da menina. Durante a conversa das três, Abraham preferiu não comentar, alegando não ser bom em lidar com pessoas assim e então ficou o tempo todo calado, apenas as observando.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu vou ser sincera. — aurora suspira e ajeita o óculos em seu rosto. — Eu tô longe de ser uma profissional nessa área, mas já levei meu irmão mais novo em consultas com um psicólogo e acabava conversando um pouco com os especialistas, mas ainda assim, não sei se sou apta pra ajudar essa garotinha, já que não a conheço bem.

ㅤㅤㅤㅤ— Mas os psicólogos também não conhecem seus pacientes — argumenta Lydia, de braços cruzados e apoiada no balcão do armário.

ㅤㅤㅤㅤ— Mas eles possuem treinamento e foram orientados a como agir. Tratar do psicológico de alguém é mais complicado do que tratar de um osso quebrado. São caminhos completamente distintos e o primeiro às vezes pode não dar certo. — Aurora se acomoda em sua cadeira, olhando a outra mulher.

ㅤㅤㅤㅤ— Tá, então o que você acha que pode ajudar? — Yumi fica sentada em uma das cadeiras de espera.

ㅤㅤㅤㅤ— Ela é próxima daquele homem, certo? Dylan?

ㅤㅤㅤㅤ— Bom, sim. Ele que a resgatou na primeira noite.

ㅤㅤㅤㅤ— Ele é a pessoa mais apta pra isso. Os dois já possuem um vínculo mais firme.

ㅤㅤㅤㅤ— Olha... o Dylan disse que tá disposto a fazer tudo pra ajudar ela, mas é que ele... como eu posso dizer...?

ㅤㅤㅤㅤ— "Não gosta de conversar?"; "é de poucas palavras?"; "não sabe ou simplesmente quer se expressar?" — Aurora fala prontamente e a encara.

ㅤㅤㅤㅤ— Eh... eu ia dizer que ele é caladão — a asiática dá e ombros. —, mas essas opções definem melhor.

ㅤㅤㅤㅤ— É, eu falei um pouco com ele... e deu pra perceber isso. — ela afasta uma mecha do seu cabelo para trás da orelha.

ㅤㅤㅤㅤ— É muito evidente — reforça Lydia.

ㅤㅤㅤㅤ— Desde que o conheço, ele sempre foi assim. Poucas palavras, poucos amigos. Chegou a dizer que eu era uma das pessoas mais próximas de um amigo pra ele. E vão por mim, isso vindo do Dylan, significa muita coisa. — Abraham finalmente entra na conversa.

ㅤㅤㅤㅤ— Uau, não conheço esse nível de humanidade dele — Yumi fala em tom de brincadeira.

ㅤㅤㅤㅤ— O fato do Dylan ser daquele jeito não quer dizer que ele não seja uma pessoa boa... — Ele fala e faz uma pausa. — Em partes.

ㅤㅤㅤㅤ— O que quer dizer com "em partes"? — Pergunta Aurora.

ㅤㅤㅤㅤ— Bom, ele não é ruim... desde que você não seja ruim. Ele me contava algumas histórias de casos que ele resolvia na polícia. Às vezes ele acaba agindo por impulso. Justiça com as próprias mãos. Dava pra ver que ele se arrependia, mas ele é o tipo de cara que faz as coisas.

ㅤㅤㅤㅤ— Tá, não é o momento pra falar sobre como ele agia e sim como ele pode ajudar a Millie — diz Yumi, olhando todos um por um.

ㅤㅤㅤㅤNesse momento, o som de batidas fracas na porta chama a atenção de todos, que olham o policial abrir a mesma e entrar no consultório. A primeira pessoa ele vê é Abraham, que engole em seco, desconfortável devido ao estado em que ele se encontra nesse momento. Mesmo notando isso, Dylan caminha até seu amigo.

ㅤㅤㅤㅤ— É bom ver que você tá legal. — ele para perto da maca.

ㅤㅤㅤㅤ— Mas não é legal estar assim. Ainda mais ser visto assim.

ㅤㅤㅤㅤ— Todo mundo passa por isso de vez em quando, mas logo você sai dessa.

ㅤㅤㅤㅤ— É... a Yumi explicou a situação da Millie. Melhor ir resolver logo isso. Garanto que não vou sair daqui. — Abraham esboça um sorriso, mas logo o desfaz.

ㅤㅤㅤㅤ— É, depois eu venho aqui — Dylan confirma com a cabeça, se afastando da maca.

ㅤㅤㅤㅤ— Beleza.

ㅤㅤㅤㅤAssim que se vira, Dylan olha para Yumi, que se levanta da cadeira onde estava sentada:

ㅤㅤㅤㅤ— E aí, falou com ela?

ㅤㅤㅤㅤ— Falei, queria trazê-la, mas ela disse que não tá a fim de sair — ele põe as mãos nos bolsos do casaco e olha Aurora. — Se importa de ir ver ela no quarto?

ㅤㅤㅤㅤ— Olha... eu tava falando com elas e eu talvez não possa fazer muita coisa. Por causa da minha especialidade ser outra — Aurora apoia os cotovelos sobre sua mesa e junta as mãos na frente do rosto. — Você é o mais próximo dela. Pode fazer mais coisas.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu sei que não é certo chamar você pra tentar fazer o trabalho de um psicólogo, mas eu era policial, tô muito mais longe disso do que você. — Dylan fica de frente para a médica. — Só uma vez, é o que te peço.

ㅤㅤㅤㅤAurora suspira e mesmo um pouco nervosa, ela pensa um pouco no que Dylan disse, enquanto encara o homem. Ela se afasta da mesa e se levanta devagar, desabotoando o jaleco:

ㅤㅤㅤㅤ— Certo, mas só uma vez. Se eu ver que não tá adiantando de nada, eu volto pra cá.

ㅤㅤㅤㅤ— Obrigado. — ele confirma com a cabeça.

ㅤㅤㅤㅤ— Yumi, se importa em ficar aqui? Você entende um pouco de medicina, pode ajudar caso alguém apareça. — Aurora dobra seu jaleco e caminha até o balcão do armário, pegando sua bolsa marrom e pondo o jaleco em seu lugar.

ㅤㅤㅤㅤ— Claro, eu fico sim. — Yumi confirma, olhando Dylan. — Quando ela voltar, vou ver a Millie.

ㅤㅤㅤㅤ— Tudo bem. — o policial caminha até a porta, esperando a médica.

ㅤㅤㅤㅤJá fora do consultório, Dylan começa a caminhar até a saída, com Aurora logo atrás, ajustando a alça da sua bolsa no ombro esquerdo. Os dois saem do prédio das clínicas e cruzam todo o caminho até o prédio um sem trocarem uma única palavra. Apenas quando batem suas botas no degrau para tirarem o excesso da neve, é que Aurora resolve quebrar o gelo:

ㅤㅤㅤㅤ— Sei que eu já disse isso antes, mas a sua preocupação pela Millie é algo bonito. Não vejo muito isso por aqui, a não ser pela Alex com a Stella, mas ela são mãe e filha de sangue — a médica comenta o acompanha dentro do edifício.

ㅤㅤㅤㅤ— Só tô tentando fazer a coisa certa. Eu errei com ela antes, quero corrigir um pouco as coisas.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu entendo, isso vai ser bom pra ela. — Aurora sorri.

ㅤㅤㅤㅤOs dois chegam até as escadas que levam ao segundo andar e sobem em silêncio. O caminho até o quarto número 176 é rápido e silencioso e Dylan respira fundo ao pegar na maçaneta, olhando Aurora.

ㅤㅤㅤㅤ— Um idiota do meu grupo disse umas coisas pra ela, e isso piorou um pouco a cabeça dela, espero que nada de mais grave, mas ela tá muito... sensível. Não sei que outra palavra usar.

ㅤㅤㅤㅤ— Tudo bem, prometo que vou fazer uma conversa descontraída — diz Aurora, sorrindo.

ㅤㅤㅤㅤDylan confirma com a cabeça e esboça um sorriso mais discreto, abrindo a porta do quarto, dando passagem para Aurora. Porém, quando os dois olham dentro do cômodo, veem Millie parada sem seu moletom, de costas para eles e soluçando um pouco devido ao choro. Porém, o que faz o coração de Dylan disparar são as manchas de sangue pelo piso do dormitório.

ㅤㅤㅤㅤ— Millie?? — ele se aproxima da menina, que se vira para os dois:

ㅤㅤㅤㅤ— Me desculpa... eu só queria que a dor parasse... — chorando, ela segura seu antebraço esquerdo, exibindo sete cortes horizontais sobre seu pulso. O canivete do policial está jogado sobre a cama, sujo de sangue.

ㅤㅤㅤㅤAurora leva as mãos à boca, horrorizada com a cena. Dylan sente uma mistura de emoções ao ver o estado de Millie, mas deixa tudo isso de lado para ir ao amparo da menor. Aurora tira sua bolsa do ombro e eles começam a tratar dos cortes ali mesmo.

***

Dentro do quarto número 134, Ashley fica sentada na cama à esquerda, lendo um livro, enquanto Yato deixou de escrever para agora desenhar o que parecem ser os personagens dos gibis que o garoto possui. Na outra cama, Jacob fica sentado com as costas rentes à parede, perdido em seus pensamentos. Ele está tão atônito que mal percebe a porta do quarto se abrindo e Max entrando no cômodo.

ㅤㅤㅤㅤ— Max... — Ashley sorri. — finalmente voltou. E aí? Jacob disse que você foi falar com a Alex — ela rapidamente se senta, fechando o livro e marcando a página com o dedo.

ㅤㅤㅤㅤ— Aham, vou começar a ajudar ela amanhã, — a morena sorri e fecha a porta, caminhando até a cama onde Jacob está e ele finalmente a nota.

ㅤㅤㅤㅤ— Isso é ótimo, agora tem com o que se distrair. — ele também sorri.

ㅤㅤㅤㅤ— Aham, agora vai, me diz o que queria falar antes. — sem muita expressão, Max se senta ao seu lado.

ㅤㅤㅤㅤ— An, agora? — ele a encara, um pouco nervoso.

ㅤㅤㅤㅤ— É, ué. Por que não?

ㅤㅤㅤㅤ— É que... queria que fosse algo só a gente, entende?

ㅤㅤㅤㅤ— Vai se declarar pra ela finalmente? — pergunta Ashley, sorrindo.

ㅤㅤㅤㅤ— Ashley! — Jacob exclama e olha para ela, constrangido.

ㅤㅤㅤㅤ— Ei, que história é essa? — Max questiona arqueando a sobrancelha, confusa, mas sorrindo.

ㅤㅤㅤㅤ— Não é preciso ser muito inteligente, Jac. Todo mundo vê que você gosta da Max — diz a loira, olhando Yato, que havia se virado, curioso. — Não é, Yato?

ㅤㅤㅤㅤ— Até eu via.

ㅤㅤㅤㅤMax dá uma pequena risada anasalada e leva a destra até a boca, escondendo um sorriso.

ㅤㅤㅤㅤ— Tá, ok, eu confirmo. — ele olha a morena. — Já faz um tempo que eu passei a te ver com outros olhos... eu quero ser mais do que um amigo, Max. Quero cuidar de você, estar ao seu lado nos bons e maus momentos. Sei que talvez não seja o melhor momento pra dizer isso, por causa de tudo o que você tá passando, mas eu quero estar ao seu lado. Sempre. — ele tenta, mas não consegue esconder o sorriso apaixonado.

ㅤㅤㅤㅤAshley sorri de alegria ao ver Max envergonhada e Jacob rindo fraco com a cena. Os dois ficam agindo que nem dois bobos apaixonados até que a morena o olha, com o sorrio maior depois de suspirar:

ㅤㅤㅤㅤ— Olha, Jac... acho que desde que todas essas coisas começaram, você me dizer isso foi a melhor coisa que já me aconteceu.

ㅤㅤㅤㅤO sorriso de Jacob aumenta e ele umedece os lábios, levando a mão direita até a lateral do pescoço de Max, que corresponde e aproxima o seu rosto do dele. Yato sorri, bem mais contido do que Ashley, que só falta pular da cama de tanta alegria. Os lábios dos dois estão a centímetros de se juntarem, quando são interrompidos por uma sequência de fortes batidas na porta.

ㅤㅤㅤㅤ— O que é isso? — Max questiona, virando o rosto para a porta, no último segundo antes de beijar Jacob, que também olha para a saída, frustrado.

ㅤㅤㅤㅤ— Parece ser algo urgente... — diz Yato, antes de se assustar com batidas ainda mais fortes.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu vou ver. — Jacob se levanta da cama, ouvindo o que agora parecem socos, que fazem a porta chacoalhar nas dobradiças. — Calma aê, droga! Já vai!

ㅤㅤㅤㅤO homem enfim chega e gira a maçaneta. No instante seguinte, ele se depara com Dylan parado na entrada, mas o ar do homem está bastante diferente; parece mais sombrio, é como se ele quase pudesse sentir o sangue do homem fervendo e isso é reforçado pelo cabelo bagunçado e algumas mechas grudadas na sua testa pelo suor — de nervosismo — e pela grande mancha de sangue no lado direito do seu tórax, sobre a blusa branca. Em seus olhos, ele pode ver a fúria que faz sua espinha gelar.

ㅤㅤㅤㅤ— O quê--

ㅤㅤㅤㅤO policial não deixa Jacob concluir sua pergunta; ele o agarra pela gola da sua blusa social azul com a mão esquerda e o puxa, erguendo o outro punho e o projetando com força contra seu rosto, acertando o soco em cheio na sua bochecha, o fazendo ficar tonto imediatamente.

ㅤㅤㅤㅤ— Dylan!! — assustada, Max salta da cama ao ver a agressão, enquanto Ashley e Yato ficam chocados com a cena.

ㅤㅤㅤㅤDylan agora segura a blusa de Jacob com as duas mãos e o puxa para fora do quarto, dando alguns passos para trás e quando chega no meio do corredor, ele vira o corpo, arremessando Jacob contra a parede. Ele bate com as costas na estrutura e cai sentado, completamente em choque e sem reação.

ㅤㅤㅤㅤ— Você ficou maluco??! — Max sai do quarto e segura o braço direito de Dylan, mas não pode fazer nada além disso e ele se solta sem nenhuma dificuldade, caminhando na direção do homem caído. A morena apenas fica parada, em choque.

ㅤㅤㅤㅤJacob tenta se levantar, mesmo tonto após o soco, mas é impedido pela joelhada que Dylan lhe dá com a perna direita, acertando sua boca e nariz, o fazendo cair novamente no chão, com as costas para cima. Em seguida, o policial se agacha e o vira, encarando o rosto com o pânico estampado. Ele dá mais dois socos pesados em sua face, ouvindo os ossos do nariz quebrarem. Em seguida, ele pressiona seu antebraço esquerdo contra a jugular do homem, que começa a sufocar. O grito de Max e os barulhos da briga atraíram alguns curiosos, que saíram dos seus quartos e agora observam assustados o homem que havia discursado mais cedo, agora atacando alguém do seu próprio grupo.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu vou dizer só uma vez — A voz de Dylan é carregada de ódio e audível tanto para Jacob, quanto para Max: — Se eu souber que você falou com a Millie outra vez; que você sequer chegou perto dela, eu venho atrás de você e garanto que quando eu acabar, o que o Abraham te fez vai parecer cócegas — ele ameaça dando continuidade ao estrangulamento; vendo Jacob começar a ficar azul pela falta de ar.

ㅤㅤㅤㅤ— Dylan, caralho! Para com isso! — Max avança novamente em Dylan o agarrando para tentar tirá-lo de cima de Jacob, mas o policial resiste por mais alguns instantes, até que finalmente tira o braço da jugular do homem e se livrar de Max outra vez, ficando em pé e afastando-se deles.

ㅤㅤㅤㅤ— Você tá avisado. E é bom fazer o que eu disse! — Dylan aponta para Jacob com o indicador sujo com seu sangue, o vendo ser amparado por Max.

ㅤㅤㅤㅤ— Mas o que diabo deu em você? — Ashley encara Dylan, assustada. — Chegou aqui do nada só pra bater nele?

ㅤㅤㅤㅤ— Não foi do nada. — ele encara a mulher, que logo se encolhe também com medo. — Esse idiota disse pra Millie que o lugar dela não é aqui; que ela não devia ter sido salva e que se o Tommy tiver morto, a culpa é dela — Dylan fala furioso olhando para Jacob, que o encara ainda desnorteado. — Ela já tá traumatizada por tudo, seu filho da puta! Agora eu fui no quarto e ela tava se cortando! Sabe o que é isso?! Ela tá perdendo a vontade de viver!! — ele dá dois passos adiante, que assustam ele e Max. — Se ela fizer algo assim de novo, se ela chegar em um ponto crítico, eu juro que acabo com você!!

ㅤㅤㅤㅤOfegante, Dylan percebe sua alteração e respira fundo, se virando e indo para longe deles, sem fazer contato visual com nenhum dos curiosos, que ficaram com medo das suas atitudes e voltam aos seus quartos conforme ele passa.

ㅤㅤㅤㅤ— Jacob... isso é verdade? — Max se afasta e olha para ele, que fica em silêncio.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu... — ele toma ar. — eu não menti, Max... Você ficou horrível pelo sequestro do Tommy... — e massageia a traqueia. — eu tinha que fazer algo...

ㅤㅤㅤㅤMax então fica de pé, se afastando ainda mais dele e levando a destra até a boca. Seus olhos ficam marejados, mas não de tristeza e sim de raiva.

ㅤㅤㅤㅤ— Aí você resolve atacar uma criança que tá ainda mais assustada do que a gente?! Porra, Jacob!

ㅤㅤㅤㅤ— Eu... — ele tenta se levantar. — eu só queria--

ㅤㅤㅤㅤ— Cala a boca! — Ela aponta o indicador direito para ele em uma explosão de raiva, mas logo se controla, respirando fundo. — Ashley, pega as coisas dele e põe pra fora do quarto.

ㅤㅤㅤㅤ— Max...

ㅤㅤㅤㅤ— Não, Jacob. Nada do que você me diga vai mudar o que eu sinto por você agora. — Max se vira, caminhando até o quarto, deixando Jacob sozinho. Algumas lágrimas descem pelas bochechas do homem, que sente apenas tristeza e vergonha nesse momento, sendo encarado pelos curiosos que restaram.

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