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.23: Algo Pelo qual Lutar

Os dias sempre passam mais devagar quando não se tem o que fazer. Com o advento da praga, a lista de passatempos daqueles que vêm sobrevivendo se reduziu drasticamente. As pessoas que eram viciadas em eletrônica certamente foram as mais afetadas pelo apocalipse, agora que não existem mais computadores, televisores ou celulares — pelo menos que funcionem corretamente — em circulação. Porém, um dia na magnífica Daywake, as agitações parecem não terem parado, apenas mudaram o seu teor. Carros de passeio deram lugar a veículos modificados com proteções de metal e armas montadas, pedestres deram lugar a guerrilheiros de primeira viagem, mas com vontade e sede de sangue o suficiente para apertar gatilhos contra qualquer outro ser vivo — ou morto — que não seja seu companheiro.

ㅤㅤㅤㅤEm meio a esse cenário de guerra diária que nunca deveria ter eclodido, um único sobrevivente consegue se manter longe dessas disputas por territórios e recursos, na segurança de um pequeno edifício de quatro andares, onde vem se refugiando há mais de quatro meses e, inclusive, conseguindo se manter ocupado com coisas do mundo antigo. Cameron Will sempre dedicava seu tempo livre da faculdade em videoaulas da internet, que ensinavam a consertar, montar e usar rádios. Por seu pai ser guarda-noturno de um shopping cujo nome ele já esqueceu, os dois costumavam manter contato por esse tipo de aparelho, mesmo que não fosse permitido durante o emprego.

ㅤㅤㅤㅤO seu dom também se tornou a sua maldição durante o começo do apocalipse. Resgatado pelo exército, ele fez parte da primeira leva de habitantes do Fort Timothy, qual era o maior atrativo que Daywake tinha a oferecer para os jovens cujo sonho era entrar para as forças armadas — o que nunca foi uma ambição para Cameron. Ele foi automaticamente incluído em um pequeno pelotão que tinha como missão, manter os sistemas de comunicação funcionando. Isso não era tão ruim para ele, até que as verdadeiras intenções dos comandantes do fort foram reveladas.

ㅤㅤㅤㅤCom uma dose extrema de coragem e inteligência, Cameron foi capaz de fugir de Timothy após causar um dano severo em suas instalações e, embora tenha sido perseguido por algumas semanas, conseguiu também ocultar seus rastros até que os militares do fort desistiram de procurá-lo. Já liberto, ele encontrou um refúgio na Rádio Green Lifes, onde seus talentos novamente foram úteis e ele passou a gravar mensagens alertando sobre os perigos do Fort Timothy, bem como espalhar algumas mensagens em placas montadas anteriormente pelos militares. Entretanto, ele nunca imaginaria que sua boa ação geraria tanto caos.

ㅤㅤㅤㅤPor nunca ter revelado exatamente sua localização — para se proteger tanto de estranhos, quanto dos moradores de Timothy —, apenas ter dado a dica da torre verde, em uma cidade onde todas as torres de rádio, internet e até mesmo catedrais são pintadas dessa cor, provavelmente os sobreviventes que chegaram à cidade ficaram confusos e algo aconteceu, fazendo com que todos começassem a se matar. O motivo é desconhecido para Cameron, que devido ao perigo constante, se absteve a apenas observar os combates do topo da torre da rádio onde vive — um lugar alto, que lhe dá visão de praticamente toda uma zona da cidade —, usando um telescópio que furtou de um museu.

ㅤㅤㅤㅤFoi desse camarote que ele pode observar algo inusitado por aqueles lados: um ônibus escolar trafegando pelas ruas cercadas de morte e destruição, pensando inicialmente se tratar de uma armadilha feita por alguma das facções que estão baseadas em Daywake. Porém, essa tese caiu por terra assim que ele observou pela sua luneta, os passageiros em fuga sendo atacados por todos os grupos sanguinários. Foi nesse momento que ele teve certeza de que precisava ajudar aquelas pessoas, pois sabia que eles não teriam chances no inferno que são aquelas ruas. Se munindo com uma MP40 que é a arma mais fácil para ele usar e outra dose extrema de coragem, ele deixou a segurança do seu refúgio com o objetivo de resgatar aquele grupo.

ㅤㅤㅤㅤAgora, ele se vê andando à frente deles, vivos — alguns deles meio machucados, mas ainda respirando. Já tendo se apresentado e sabendo os nomes de alguns deles, seu coração bate mais rápido e ele começa a suar frio, mas tenta não demonstrar apreensão por ter várias armas destravas nas suas costas e dedos certamente experientes, esperando apenas um único vacilo seu, por menor que seja. Ele engole em seco e para de andar quando chega na metade de um beco, pisando na tampa de um bueiro:

ㅤㅤㅤㅤ— O grandão aí, pode tirar isso pra gente? — indaga, olhando diretamente para Kelly.

ㅤㅤㅤㅤ— Pra onde pretende nos levar? — pede Ashley, com o rosto ainda sujo de lama e poeira.

ㅤㅤㅤㅤ— Vocês já viram que não é seguro andar pelas ruas. Eu uso os esgotos. Foi assim que consegui chegar até vocês. — Cameron estala os dedos das mãos. — Não é o caminho mais cheiroso, mas garanto que é o mais seguro.

ㅤㅤㅤㅤ— Sem crocodilos? — pergunta Jason.

ㅤㅤㅤㅤ— O quê? — o jovem olha confuso.

ㅤㅤㅤㅤ— Ignora ele... — Kelly se aproxima do bueiro e levanta a tampa sem nenhum esforço, sentindo o odor azedo subir ao seu nariz, fazendo-o recuar. — E pra onde esses esgotos vão?

ㅤㅤㅤㅤ— Pra vários lugares, mas nosso destino é a Rádio Green Lifes. — Cameron passa a bandoleira da MP40 pelo peito e olha os demais.

ㅤㅤㅤㅤ— Você primeiro — fala Dylan.

ㅤㅤㅤㅤ— Ah, claro...

ㅤㅤㅤㅤDylan fecha o bueiro antes de ser o último a descer e a sentir suas botas sobre um espelho d'água imundo e escuro, se juntando aos demais, que estão nesse lugar horrendo a menos de cinco minutos, mas já pensam em sair de lá.

ㅤㅤㅤㅤ— E agora? — Abraham olha pra Cameron, que está segurando uma lanterna na destra, tirada da mochila em suas costas.

ㅤㅤㅤㅤ— Por aqui — ele os chama e começa a andar pisando na água.

ㅤㅤㅤㅤO caminho é repleto de teias de aranha, canos velhos e enferrujados, muito musgo formado por lixo e dejetos humanos — até mesmo restos de sangrentos que misteriosamente foram parar lá embaixo. A única fonte de luz é proveniente da lanterna de Cameron, que assusta e afasta ratos que parecem pequenos gatos, dado o seu tamanho. Aquilo faz os pelos da nuca de Amy se arrepiarem e a jovem abraça os cotovelos, sentindo calafrios daquele lugar.

ㅤㅤㅤㅤDylan se recorda de quando ele e Millie foram para o estacionamento subterrâneo do seu prédio em Denverport e que a menina se queixou de claustrofobia. Tendo isso em mente, ele se mantém perto da garota, que está encolhida e com a respiração um pouco acelerada, além de aparentar estar tonta.

ㅤㅤㅤㅤ— Tá tudo bem? — pergunta ele, olhando-a de soslaio.

ㅤㅤㅤㅤ— Dá pra ir... — ela evita respirar fundo, não suportando o cheiro de podridão.

ㅤㅤㅤㅤ— Avisa se acontecer alguma coisa — Dylan fala e põe a canhota no ombro dela, que apenas aceita, sem responder mais nada.

ㅤㅤㅤㅤO grupo segue pelos grandes túneis de tijolos por cerca de dez minutos até que Cameron ilumina uma escada de metal com o feixe da lanterna, guiando-o para cima. Ele então se volta para os demais:

ㅤㅤㅤㅤ— É aqui.

ㅤㅤㅤㅤ— Agora a gente que vai primeiro — responde Dylan.

ㅤㅤㅤㅤO policial sobe já com a Raging Bull na mão direita e abre a escotilha ao final da escada, revelando uma sala parecida com a aquela onde teve seu último encontro com Ny, com alguns canos e válvulas na vertical e horizontal. As lembranças dos acontecimentos tornam a ficar evidentes em sua mente, mas ele rapidamente os afasta e sai da escada, mirando em várias direções no espaço iluminado por uma luminária a gás, dando uma coloração laranja ao ambiente, que está vazio.

ㅤㅤㅤㅤ— Podem vir — ele fala após baixar o revólver e se aproximar da escotilha.

ㅤㅤㅤㅤEle ajuda alguns dos integrantes do grupo a subirem e boa parte deles demonstram alívio em não estarem mais envoltos daquele cheiro abominável de antes, embora seus calçados sujos ainda lhes deem uma amostra daquele lugar. Com todos já dentro, Cameron fecha a escotilha e a lacra por fora.

ㅤㅤㅤㅤ— Pronto, agora estamos seguros — diz o jovem.

ㅤㅤㅤㅤ— E agora pode ir falando mais sobre o que raios tá acontecendo aqui — pede Yumi, se aproximando.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu vou falar, mas vamos pra um lugar mais arejado. Logo isso aqui vai virar uma sauna, com tanta gente amontoada. — ele os olha, percebendo a desconfiança que lhe é direcionada e tira a submetralhadora das costas, estendendo-a para Dylan: — E podem ficar tranquilos. Mesmo que eu quisesse, não poderia fazer nada contra vocês.

ㅤㅤㅤㅤ— Nós é que vamos decidir se dá pra ficarmos tranquilos. — o policial se aproxima e pega a arma.

ㅤㅤㅤㅤDepois de um certo tempo no escuro, a visão humana começa a se acostumar com aquelas condições e as pupilas se expandem para que possam enxergar o máximo possível na opacidade. Conforme a luz aumenta, elas se dilatam para absorverem apenas o necessário da tal. Quando saem à luz do dia, alguns dos sobreviventes precisam fechar os olhos ou os cobrir com as mãos, para poderem, logo depois, começar a observar os elementos que compõe o pequeno jardim que rodeiam uma cerca, que por sua vez, rodeia a enorme torre de quarenta metros de altura, repleta de antenas e outros equipamentos, todos com cabos que descem e se enterram no solo. A grama cresce aos poucos no piso tomado por areia e gravilha e algumas flores podem ser vistas pelos mais atentos.

ㅤㅤㅤㅤPela primeira vez, eles conseguem tempo para poderem ver a si mesmos e contarem os ferimentos que adquiriram durante a fuga, ou então se limparem até onde der. De todos, Dylan certamente é o que mais está ferido e sujo, por ter descido a encosta com Stella nos braços. Embora sinta suas costas e cotovelos arderem, ele se mantém calmo e apenas observando ao redor, até que Ashley se aproxima dele.

ㅤㅤㅤㅤ— Quer que eu veja as suas costas depois? Parece bem ruim... — ela observa as costas da blusa branca de Dylan completamente marrom e com alguns rasgos.

ㅤㅤㅤㅤ— Depois — diz ele, olhando-a por cima do ombro.

ㅤㅤㅤㅤ— Foi daí de cima que você viu a gente? — pergunta Mia, olhando para o ponto mais alto que sua vista alcança da torre.

ㅤㅤㅤㅤ— Sim, dá pra ver toda a zona sul da cidade. É onde os vermelhos e os azuis ficam.

ㅤㅤㅤㅤ— E que história é essa de vermelhos? — indaga Thomas. — Ouvimos um cara falando disso.

          — Eles usaram esses nomes pois são mais fáceis de identificar. Os vermelhos são o grupo que fica numa concessionária de caminhonetes e que a fachada é vermelha. Já os azuis ficam em um Walmart. Nem preciso dizer mais nada, além de que existem outros grupos menores, mas os mais fortes e conhecidos são esses dois.

ㅤㅤㅤㅤ— E por que eles tão se matando? — pede Abraham.

ㅤㅤㅤㅤ— Acredite, eu também queria saber. Começou ainda durante o inverno e vem se mantendo até agora. Eles se matam e matam os sobreviventes que aparecem e que ninguém consegue recrutar. Todos vocês seriam mortos lá fora, já que atacaram tanto um lado, quanto o outro.

ㅤㅤㅤㅤ— A gente só tava se defendendo — comenta Elizabeth, de braços cruzados.

ㅤㅤㅤㅤ— E eles também, por um lado. — Cameron dá de ombros. — Venham, eu tenho comida e água. Também alguns kits de primeiros socorros. Nada sofisticado, mas vai servir pra ferimentos leves. — ele começa a andar até uma porta de um edifício ao lado.

ㅤㅤㅤㅤ— Foi você que fez a pichação naquela placa? — Dylan se aproxima dele.

ㅤㅤㅤㅤ— Sim. Eu fiz em todas, na verdade... e também fui eu que gravei e transmito a mensagem no rádio. Eu fiz tudo isso bem no começo, logo quando pararam de me perseguir. Mas aí a cidade virou uma zona de guerra e tudo foi pro saco.

ㅤㅤㅤㅤ— Mensagem no rádio? — pergunta Sarah.

ㅤㅤㅤㅤ— É, tenho muita coisa pra contar pra vocês. — o jovem finalmente alcança a porta e a abre, dando passagem para os outros.

***

Mais ao centro de Daywake, está um alvo que é bastante cobiçado por todos os grupos da cidade: a prefeitura. Um prédio que muito se assemelha ao Capitólio em Washington, mas em uma versão bem reduzida, porém é fonte de um verdadeiro tesouro em suprimentos, armas e veículos, já que o lugar foi sitiado pelo exército no início do surto e agora se encontra abandonado. Todos os dias, grande parte dos confrontos são realizados visando quem consegue invadir e se apossar de tais recursos. Mas hoje, além de terem que lutar entre si, os guerrilheiros têm de enfrentar algo bastante anormal:

ㅤㅤㅤㅤ— Recuar!! Depressa, seus merdas, fujam!! — vocifera um homem com a barba por fazer e que usa um capacete amassado das forças armadas, portando uma M1-Garand suja de graxa, assim como suas mãos. Ele e outros três homens correm pelas ruas imundas enquanto dezenas de tiros são disparados por uma única arma.

ㅤㅤㅤㅤSegurando a M-249 com suas caixas de munição ainda lotadas, Orc cessa o fogo da arma assim que os quatro sujeitos que fugiam que nem galinhas somem da sua vista, encobertos por uma nuvem de fumaça proveniente de um ônibus em chamas.

ㅤㅤㅤㅤ— Seu filho da puta!! — saltando por cima de um Ford Focus crivado de tiros e com os quatro pneus estourados, um homem usando um colete de motoqueiro e luvas sem os dedos ergue uma Micro-Uzi contra Orc, mas antes de conseguir apertar o gatilho, ele sente algo lhe atingir nas genitálias e uma dor fulminante o faz gritar e se curvar, caindo do carro e batendo o rosto no asfalto. — Me-merda... — ele leva as duas mãos até o meio das pernas e sente um cabo de ferro preso ao seu pênis, que não para de sangrar.

ㅤㅤㅤㅤ— Filho da puta é você, seu bosta — Ny fala surgindo em meio à fumaça que sai do motor de uma caminhonete batida e caminha até o indivíduo, pondo a sola esquerda sobre seu ombro e o empurrando, fazendo-o cair de costas. — Agora vai falando, o que raios tá acontecendo aqui? — a loira olha para os lados, assim como Orc, que está pronto para atirar com a metralhadora pesada, assim que for necessário.

ㅤㅤㅤㅤ— Vai pro inferno, sua vadia... — o homem de cabelos pretos e uma profunda calvície encara Ny, fazendo uma careta de dor, que logo se transforma em desespero e ele grita novamente, quando a mulher pisa no cabo da adaga em sua genitália, a afundando mais.

ㅤㅤㅤㅤ— Resposta errada. — ela recua o pé direito. — Tente outra vez.

ㅤㅤㅤㅤ— De... de onde vocês saíram...? Não são de nenhum outro grupo? — ele se esforça para encarar a mulher trajada de preto, que se agacha ao lado dele.

ㅤㅤㅤㅤ— Olha, cara, eu ferrei foi com a sua cabeça de baixo. Essa de cima ainda funciona. — Ny bate duas vezes na testa suada do homem, como se estivesse batendo em uma porta. — Pensa, imbecil. Se nós fôssemos de outro grupo, acha mesmo que estaríamos perdendo tempo com você?

ㅤㅤㅤㅤ— Então... então é melhor saírem daqui... hora ou outra, vão acabar sendo mortos.

ㅤㅤㅤㅤ— É só isso o que tem pra falar? — ela arqueia a sobrancelha.

ㅤㅤㅤㅤ— Não adianta eu passar informação alguma, já que vou morrer.

ㅤㅤㅤㅤNy torna a ficar de pé e retira do coldre uma pistola CZ-75 prata, a mirando no rosto do estranho:

ㅤㅤㅤㅤ— Agora a sua cabeça funciona? — ela aperta o gatilho sem hesitar e vê o rosto do homem desaparecer em uma explosão escarlate, que joga restos de carne e ossos para o alto. — Vamos, Orczinho, talvez a gente ache algum deles que queira colaborar. — se agachando outra vez perto do cadáver, Ny pega a sua adaga e a puxa, limpando-a no colete surrado e a guardando na faixa de couro ao redor da sua coxa, olhando para os espaços vazios das que ela abandonou dias atrás.

ㅤㅤㅤㅤOrc resmunga e ajeita a metralhadora em seus braços, caminhando ao lado da menor, que guarda sua pistola novamente no coldre e retira a AR-15 que estava em suas costas, a destravando logo em seguida.

***

— ... o lugar era bom. Muros, guardas, comida e conforto. Mas o poder meio que subiu à cabeça dos generais. Torturas e estupros foram ficando comuns e o lugar se tornou uma ditadura. Ou você era um deles, ou era vítima deles. Eu não queria nenhum dos dois e por isso fugi — conta Cameron, com a cabeça baixa enquanto se lembra dos horrores que presenciou dentro do Fort Timothy.

ㅤㅤㅤㅤ— E o que você fez lá mesmo? — pergunta Abraham, de pé atrás da cadeira onde Alex está sentada ainda com Stella abraçada a ela.

ㅤㅤㅤㅤ— Explodi a sala de comunicação com todos os rádios. Eu era o único que sabia mexer bem com eles. Mesmo que tenha outro, tudo virou cinza — o jovem dá de ombros, cruzando os braços logo em seguida.

ㅤㅤㅤㅤ— E se escondeu aqui desde então? — indaga Dylan, sentado em dos degraus da escada que leva ao segundo andar, agora vestindo uma blusa verde desbotada, que Cameron lhe deu após Ashley examinar suas costas.

ㅤㅤㅤㅤ— Foi. Pra minha sorte, aquela sala por onde entramos tinham tijolos soltos. Eu os tirei e usei o vão entre os pisos pra me esconder dos batedores que vinham aqui.

ㅤㅤㅤㅤ— Deve ter sido angustiante — comenta Amy.

ㅤㅤㅤㅤ— Você não faz ideia. — ele fita a jovem.

ㅤㅤㅤㅤ— E que outro lugar seguro é esse? O que você mencionou na pichação. — Kelly o olha, com os braços cruzados e os bíceps quase saltando para fora.

ㅤㅤㅤㅤ— É outra mensagem que eu interceptei algumas vezes, mas nunca consegui manter contato por muito tempo, talvez pela distância.

ㅤㅤㅤㅤ— Distância? E estamos falando de quantos quilômetros? Tem uma noção? — Lydia se manifesta.

ㅤㅤㅤㅤ— O litoral.

ㅤㅤㅤㅤNesse momento, todos na sala ficam surpresos e encaram Cameron com espanto, se perguntando se ele estaria mesmo falando sério, mas Jason ri e caminha na direção dele:

ㅤㅤㅤㅤ— Cameron, meu rapaz, você sabe que a gente tá quase na fronteira com o Canadá, né? E o litoral fica a centenas de quilômetros daqui, não, meu filho? — embora esteja rindo, Jason está tão espantado como qualquer outro.

ㅤㅤㅤㅤ— Lázaros. É esse o nome do lugar, uma referência a ressurreição bíblica; uma nova vida para os sobreviventes. Fica localizado no Porto de Myev. O lugar é completamente funcional e seguro, pelo que informaram.

ㅤㅤㅤㅤ— É, mas o Fort Timothy também era e olha só o que aconteceu. — Elizabeth o fuzila com um olhar de desconfiança.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu disse que consegui fazer contato, por alguns minutos, com uma pessoa que vive lá. Ele se chama Jed e nós conversávamos quase todo dia e ele me falou que o lugar é completamente livre de canibais. Todas as pessoas trabalham para mantê-lo funcionando, eles têm dessalinizadores pra água do mar, fora que pescam. É água e comida praticamente ilimitados, além de ser seguro — ele fala com convicção.

ㅤㅤㅤㅤ— E por que você não foi pra lá ainda? — pergunta Yumi.

ㅤㅤㅤㅤ— A distância. São mais de seiscentos quilômetros daqui até lá, eu não vou conseguir fazer todo esse trajeto sozinho. Meu plano era o de juntar um grupo com um bom número de pessoas e sair daqui. Mas a guerra explodiu lá fora e eu quase não encontro sobreviventes neutros, até agora.

ㅤㅤㅤㅤ— E se recusarmos? — Abraham o encara, mudando a perna de apoio.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu não posso obrigar vocês, mas já fiz minha oferta. Podemos viver aqui até a gasolina dos geradores acabar, ou os próprios geradores pifarem, ou até a comida acabar e então morrermos, ou então, fazer uma última viagem e nos salvarmos.

ㅤㅤㅤㅤ— Esse papo de última viagem... — Jason se afasta dele e retorna para perto de Sarah.

ㅤㅤㅤㅤ— Bom... — Cameron leva a destra para a nuca, bagunçando a longa cabeleira dura como palha. — Vocês podem se espalhar pelo prédio. Têm cadeiras e sofás acolchoados, onde dá pra descansar e não se preocupem, os animais do lado de fora não atacam aqui.

ㅤㅤㅤㅤ— Certeza disso? — Ashley o olha preocupada.

ㅤㅤㅤㅤ— Eles vasculharam esse lugar ano passado, mas eu me escondi. Pra eles, é abandonado.

ㅤㅤㅤㅤOs sobreviventes então começam a se dispersar, para enfim terem um mínimo de descanso. Dylan sai das escadas, dando passagem para alguns que buscam nos andares superiores, algum conforto nos móveis que Cameron mencionou. Todos mantém suas armas nos coldres ou em bandoleiras e o jovem anfitrião se dirigiu até um corredor, sumindo nas sombras das luzes de halogênio que irradiam uma luz branca por todo o pequeno auditório onde eles estão.

ㅤㅤㅤㅤDylan mexe seus ombros, sentindo um desconforto por conta nos cortes em suas costas, Ashley usou os kits disponíveis no lugar e também os conhecimentos que Aurora lhe passou na Universidade Webber para fazer o melhor trabalho possível, embora todos os materiais fossem simples. O policial rapidamente se recompõe, ao ver Alex se aproximar junto com Abraham. Ela carrega Stella em seu colo e a pequena aparenta já estar bem mais calma.

ㅤㅤㅤㅤ— Oi, Dylan — Alex o cumprimenta com a cabeça. —, a Stella queria te dizer uma coisa, é que ela ainda tá meio assustada, por isso a gente veio.

ㅤㅤㅤㅤ— Claro. — ele olha a criança.

ㅤㅤㅤㅤ— Obrigada por me salvar do homem mal, tio Dylan — Stella fala baixinho, ainda chocada com os últimos acontecimentos. Ela rapidamente deita a cabeça no ombro esquerdo da mãe e a abraça.

ㅤㅤㅤㅤ— Tudo bem, criança. — ele pousa a destra na cabeça de Stella, que se vira para ele. — Seus braços ainda doem?

ㅤㅤㅤㅤ— A mamãe lavou eles. Ardeu um pouquinho, mas não doem mais não... — ela esboça um sorriso quando sente a mão do policial acariciar seu cabelo.

ㅤㅤㅤㅤ— Obrigada outra vez, Dylan. Não sei o que eu faria se algo tivesse acontecido com ela... — Alex passa as costas da destra em seu nariz, controlando seu choro.

ㅤㅤㅤㅤ— Não pensa nisso. O importante é que ela tá bem. — ele recua a mão.

ㅤㅤㅤㅤ— Mas sério, cara. Eu nem sei como agradecer por ter salvo a minha filha. — Abraham se aproxima deles, pondo o braço esquerdo em volta de Alex, acariciando o rosto de Stella.

ㅤㅤㅤㅤ— Continua o que você tá fazendo. Dando alegria pra essa garotinha... — Dylan suspira. — Você é o tipo de pai em que eu vou me inspirar.

ㅤㅤㅤㅤApós as palavras de Dylan, Abraham franze o cenho, ainda sorrindo e olha por cima do ombro, onde está Millie. A garota olha uma máquina de discos já a muito tempo parada, mas que ainda atrai a sua curiosidade.

ㅤㅤㅤㅤ— Então você... — ele olha novamente o amigo.

ㅤㅤㅤㅤ— É, vou.

ㅤㅤㅤㅤ— Finalmente. — Alex baixa o tom da voz. — Ela vai ficar muito feliz.

ㅤㅤㅤㅤ— Boa sorte lá, cara. — Abraham leva a destra ao ombro direito de Dylan.

ㅤㅤㅤㅤ— Obrigado. — o policial se despede deles, indo até Millie.

ㅤㅤㅤㅤA menor usa a barra da sua blusa para limpar o vidro que protege os vinis e pode ver uma reluzente bandeja preta com um nome escrito à mão usando um pincel preto, no adesivo vermelho no seu centro. Ela começa a ler mentalmente, mexendo a boca em silêncio, até proferir "The Beatles", que ela fala bem baixo algumas vezes, para assimilar e mostrar a si mesma que aprendeu a ler o nome dessa banda. Ela se afasta do aparelho e olha ao redor, vendo que o grupo já se espalhou, mas Dylan se aproxima dela:

ㅤㅤㅤㅤ— Ei, posso falar com você um minuto?

ㅤㅤㅤㅤ— Ah... sim, tá tudo bem? — a menor o olha com certa desconfiança.

ㅤㅤㅤㅤ— Vem.

Dylan guia a menina até o mesmo projeto de jardim onde fica a imponente torre verde e atravessa o chão pedregoso até um banco de pedra montado perto de um bebedouro que claramente não funciona, dado o estado deplorável em que a ferrugem o deixou. Ele leva a mão esquerda até o seu ombro e apalpa um dos cortes, o sentindo pinicar com o tecido da blusa, mas ignora isso e aponta para o assento:

ㅤㅤㅤㅤ— Senta — ele pede e faz o mesmo logo após Millie.

ㅤㅤㅤㅤ— O que quer falar? — a menina apoia as mãos no banco e o olha.

ㅤㅤㅤㅤ— É mais um... pedido de desculpas. Outra vez.

ㅤㅤㅤㅤ— Não precisa disso, Dylan — ela o interrompe. — Só... finge que aquela conversa nunca existiu.

ㅤㅤㅤㅤ— Mas existiu. E serviu pra que eu abrisse os olhos. Eu não devia ter comparado as nossas situações por causa de um... trauma do meu passado. Além disso, eu tava com... medo. Medo de não ser bom o bastante nessas coisas. Mas depois de falar com umas pessoas, me dei conta de que eu já fazia as coisas certas com você. — ele fica curvado, com as mãos juntas e os antebraços sobre as coxas.

ㅤㅤㅤㅤMillie o olha com total atenção. A menor nem pisca, escutando palavra por palavra do que Dylan fala, nervosa pelo que está por vir, notando que ele parece um pouco confuso, parecendo que vai dizer algo, mas desistindo logo em seguida e suspirando.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu vou direto ao ponto, beleza? sou péssimo nessas enrolações. — ele a encara. — Eu sinto sua falta. Você parece ter ficado mais distante ultimamente... eu também, de todo mundo, mas vou melhorar isso.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu gosto de você. — Millie sorri de canto. — Desculpa por ter me afastado. Não sabia direito como falar com você depois do que aconteceu com a Aurora.

ㅤㅤㅤㅤ— É... eu queria que ela tivesse aqui, mas eu ainda consegui tirar algo bom disso tudo.

ㅤㅤㅤㅤ— O quê?

ㅤㅤㅤㅤ— Eu não consegui dizer algo pra Aurora... tiveram muitas coisas que eu queria dizer, fazer, mas não pude e nem vou conseguir mais. E não vou cometer esse mesmo erro com você. — Dylan a encara, vendo a menor com um semblante confuso.

ㅤㅤㅤㅤ— O que você quer dizer com isso? — o nervosismo começa a ganhar força dentro dela.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu quero continuar cuidando de você, Millie. Da mesma forma que eu já vinha fazendo antes, mas dessa vez... — ele respira fundo, tomando coragem. — quero fazer isso como um pai.

ㅤㅤㅤㅤAs palavras de Dylan, sobretudo a última, faz com que o nervosismo de Millie suma, dando rapidamente lugar a um sentimento feliz, que faz seu corpo se impulsionar para a frente, agarrando Dylan em um forte abraço, quase o derrubando do banco. Mesmo sentindo as dores dos cortes em suas costas, ele não se importa com isso e  retribui o gesto, acariciando o cabelo da menina com a canhota, enquanto sente ela pressionar a cabeça contra o seu tórax.

ㅤㅤㅤㅤ— Pai... papai. — ela fecha os olhos, emocionada e o aperta mais no abraço.

ㅤㅤㅤㅤ— Só me dá um tempo pra me acostumar, tá bem? Tudo isso vai se novo pra mim. — Millie não vê, mas ele está com um sorriso sincero no rosto, olhando para o nada.

ㅤㅤㅤㅤ— Não se preocupa... o melhor, você já fez.

***

Isolado dentro de uma pequena sala, Cameron Will termina de ligar os aparelhos que vêm sendo seus companheiros nos últimos meses: vários rádios amadores, de ondas curtas, rádios da polícia, do corpo de bombeiros, ambulâncias e dezenas de walkie-talkies, todos formando um enorme emaranhado eletrônico com um único objetivo, que é manter o jovem conectado com qualquer aparelho que esteja dentro dos limites do Estado de Finger. E ele quase conseguiu essa proeza, pois de dentro dessa sala escura e com um forte cheiro de antimofo, ele consegue interceptar praticamente qualquer mensagem que esteja sendo transmitida. Entretanto, ele não é capaz de entrar em contato com certas regiões de Finger, por um motivo que ele segue trabalhando para descobrir e reparar. Até lá, ele se mantém entretido apenas com as trocas de mensagens entre os guerrilheiros espalhados por Daywake.

ㅤㅤㅤㅤEntre xingamentos, alertas de infectados e de sobreviventes, anúncios de inimigos se movendo ou troca de planos, Cameron já escutou praticamente tudo o que poderia ser dito por eles e assim, se mantém informado sobre a situação da sua cidade. Entretanto, uma troca de informações um tanto peculiares chama a sua atenção. Algo sobre um gigante de preto armado com uma metralhadora e uma mulher com facas andando pela cidade e liquidando um grande número de pessoas de ambos os lados dos combates. Ele sintoniza em uma frequência e a isola das demais, para ouvi-la, somente.

ㅤㅤㅤㅤ— "Tô te falando, Spanic. O cara tem uns dois metros de altura e braços da grossura da minha cintura!! Ele e a mulher fizeram a limpa na rua da prefeitura, mas não parecem interessados no que tem lá, pois vazaram logo depois. Mas é sério, avisa o Noah pra ele juntar o máximo de gente que der e atacar esses putos com força total" — diz uma voz masculina rouca e claramente cansada.

ㅤㅤㅤㅤ— "Tô ligado. E ainda têm aquele grupo do ônibus escolar. As coisas deles foram levadas pelo pessoal dos azuis e eles sumiram depois de matar o Burt e a equipe dele. Não temos nenhum outro sinal" — outra voz masculina, mais grossa e afinada responde.

ㅤㅤㅤㅤ— "Esquece esses putos, irmão. Foca nessa dupla de cretinos, pois enquanto a galera do ônibus sumiu, esses dois tão por aí, matando qualquer um que apareça. Eles sim são perigosos."

ㅤㅤㅤㅤ— "Certo... vou me informar melhor sobre a localização deles e informar o Noah, pra gente ir lá cobrar."

ㅤㅤㅤㅤAo ouvir isso, Cameron fica pensativo sobre a dupla, achando estranho que apenas dois estejam causando uma mobilização tão grande por parte dos Saqueadores Vermelhos e pensa se eles não teriam alguma ligação com o grupo que ele acabou de resgatar. Ainda com essas dúvidas na cabeça, ele se levanta da sua cadeira acolchoada surrada e sai da sala, andando com pressa pelo corredor, retornando ao auditório e vendo apenas Dylan e Millie entrando novamente no espaço.

ㅤㅤㅤㅤ— Ei, Dylan. Preciso falar com você. — ele se aproxima dos dois.

ㅤㅤㅤㅤ— O que foi?

ㅤㅤㅤㅤ— Vocês sabem algo sobre um cara gigante vestido de preto e usando uma metralhadora e uma mulher que usa facas?

ㅤㅤㅤㅤAs descrições, embora sejam simples, já são suficientes para que Dylan, e até mesmo Millie associem as informações a Orc e Ny. A menor engole em seco e olha seu pai, que permanece sério e vê uma gota de suor descer pela lateral direita do seu rosto.

A porta de um pequeno almoxarifado no quarto andar da rádio é aberta e as luzes de lanternas e lamparinas invade o recinto que antes estava em breu total, revelando diversos canos de armas dos mais variados tamanhos, guardadas em caixas de plástico, bem como dezenas de caixas de munição empilhadas no piso empoeirado. O pequeno — embora incrível — arsenal que Cameron juntou é composto por pistolas semiautomáticas, revólveres de diversos calibres e tamanhos, submetralhadoras, alguns rifles de precisão e fuzis de assalto que, segundo o jovem, somam 23 armas, isso sem contar as outras 18, compostas apenas por escopetas. Também há coletes gastos e outros equipamentos de proteção. Facas e até um arco composto podem ser vistos sob as luzes claras.

ㅤㅤㅤㅤ— Cacete... onde arrumou tudo isso? — indaga Kelly, entrando junto com Dylan.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu pilhava de cadáveres nas ruas. Às vezes, eles nem pegam os suprimentos das vítimas — diz Cameron, se referindo aos salteadores do lado de fora.

ㅤㅤㅤㅤ— É um estoque impressionante... e você não sabe usar nenhuma além daquela pequena? — Dylan o olha.

ㅤㅤㅤㅤ— Não é que eu não saiba. Aquela MP40 é só a única que consigo controlar na hora de disparar.

ㅤㅤㅤㅤ— Certo, vamos levar algumas. — Kelly se aproxima de uma caixa cheia de escopetas e a ergue do chão.

ㅤㅤㅤㅤ— Seus amigos não curtiram muito a ideia de irem atrás desses dois. Querem mesmo arriscar? Até eu, que só conheço vocês há uma hora, acho essa uma ideia ruim. — o cabeludo mira a lanterna em Kelly, mas não em seu rosto.

ㅤㅤㅤㅤ— Aqueles dois já me causam problemas há meses, fora que é uma questão pessoal agora. — o gigante careca caminha com firmeza, passando entre Dylan e Cameron, saindo da sala.

ㅤㅤㅤㅤ— Achei que fosse o líder deles — comenta o garoto, olhando o policial juntar mais armas, várias caixas de munição e alguns equipamentos em outra caixa. — Me admira que tenha partido de você, essa ideia.

ㅤㅤㅤㅤ— O que quero fazer é algo só meu. Eles podem não gostar da ideia, mas não precisam me seguir se não quiserem. — Dylan sai do almoxarifado, carregando o armamento.

ㅤㅤㅤㅤAssim que Dylan mencionou sobre as presenças de Ny e Orc em Daywake, ele não precisou dizer mais nada para que Kelly se apresentasse, pronto para acabar com seu maior rival de uma vez por todas, mesmo com as recusas de Sarah, Jason e até mesmo de Elizabeth, que assim como a maior parte do grupo, argumentaram que a necessidade deles no momento é decidirem se vão ou não até o Porto de Myev, ou apenas reúnem provisões para deixarem a cidade em segurança.

ㅤㅤㅤㅤMas Kelly ignorou isso. Assim como Dylan, ele tem assuntos inacabados, os quais não pode deixar de lado, pois não sabe quando terá outra oportunidade — se é que terá — de encontrá-los. Nesse momento, ele e Dylan estão recarregando suas armas e também as que pretendem levar consigo, quando notam a aproximação de mais pessoas do grupo. Jason, Abraham, Yumi, Lydia, Elizabeth e Millie os acompanha.

ㅤㅤㅤㅤ— Vieram tentar nos convencer de novo? — pergunta Kelly, olhando os demais. Dylan apenas continua o serviço.

ㅤㅤㅤㅤ— Nada disso, camarada. A gente vai com vocês — anuncia Jason.

ㅤㅤㅤㅤNesse momento, Dylan olha diretamente para Millie, surpreso e já com uma resposta na ponta da língua, mas a menor é a primeira a falar:

ㅤㅤㅤㅤ— Tudo bem, pai. Eu não vou, só vim pra pedir pra você tomar cuidado.

ㅤㅤㅤㅤ— Pai? — Jason olha para Millie, confuso.

ㅤㅤㅤㅤ— O Dylan explica a história depois, se ele quiser — Abraham dita e começa a andar até a mesa onde estão as armas, mas o policial caminha até ele.

ㅤㅤㅤㅤ— Cara, não precisa vir, você tem a sua família--

ㅤㅤㅤㅤ— Não, a gente tem a nossa família — ele o interrompe. — Se alguém mexe com um de nós, mexe com todo mundo.

ㅤㅤㅤㅤ— Desse jeito que se fala. O Cameron já disse que tá hackeando uns rádios, pra saber exatamente onde a Ny e o Orc estão — conclui Jason, indo até as armas.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu só quero mesmo é devolver as pancadas que aquela vaca me deu — Elizabeth diz de uma vez.

ㅤㅤㅤㅤ— Ele disse também que vai nos entregar um mapa, pois não é bom em se defender no meio do fogo cruzado que vai tá nas ruas — comenta Lydia.

ㅤㅤㅤㅤ— Ele deve ter dito isso pra tentar nos pôr medo, mas não adiantou muito. — Sarah segue logo atrás.

ㅤㅤㅤㅤCom a ajuda extra, eles terminam de se municiar em apenas alguns instantes e então deixam a sala de reuniões, se dirigindo diretamente para o andar subterrâneo onde está a escotilha que eles usaram anteriormente para entrarem na rádio. Lá, eles ficam esperando Cameron, todos com coletes à prova de balas por cima das suas blusas. Kelly respira fundo várias vezes, olhando para cima enquanto relaxa seus braços estupidamente musculosos, que seguem sendo fonte de atenção para Elizabeth. Abraham, Jason, Sarah e Lydia ficam em silêncio, já Millie fica ao lado de Dylan, impaciente por conta do ambiente apertado.

ㅤㅤㅤㅤ— Pode subir, fica com a Amy — pede Dylan, de braços cruzados se encostado numa parede.

ㅤㅤㅤㅤ— Não, eu tô bem.

ㅤㅤㅤㅤDe repente, a porta do cômodo é aberta e todos se voltam para o mesmo, vendo Cameron com sua lamparina na canhota e alguns mapas na outra mão. O garoto adentra e vai até uma mesa velha de madeira que estava encostada em um canto da sala, abrindo seus mapas sobre o tampo imundo:

ㅤㅤㅤㅤ— Pelo que os caras falaram, os dois estão na Under Beats, com Holloway. Bem aqui. — ele circula a área com um pincel e pega o outro mapa, com as rotas dos esgotos de Daywake. — vocês devem seguir por essa linha — e a desenha. —, que dá direto pro beco entre a loja de material de construção e essa oficina. Mas têm que tomar cuidado, lá é uma zona quente, ou seja, bem pior do que aquela zona onde peguei vocês.

ㅤㅤㅤㅤ— Beleza, vamos nessa então. — Kelly é o primeiro a ir até a escotilha, a abrindo.

ㅤㅤㅤㅤAbraham pega os mapas e os dobra, guardando-os em bolsos do seu colete, seguindo Kelly. Os demais fazem o mesmo, mas Dylan primeiro abraça Millie, para se despedir:

ㅤㅤㅤㅤ— Mantém as coisas em ordem aqui, ok? Você vai ter ajuda. — ele se separa da menor e fica com a coluna ereta.

ㅤㅤㅤㅤ— Tá bem. Toma cuidado lá. — Millie os segue com os olhos.

ㅤㅤㅤㅤCameron espera todos descerem pela escotilha e após Dylan confirmar com o polegar, ele fecha a escotilha, mas sem a selar, deixando a passagem destrancada para caso eles voltem por essa mesma rota. Dentro dos túneis, todos ligam suas lanternas e Abraham vai na frente, guiando-os pela rota tracejada no mapa dos esgotos.

ㅤㅤㅤㅤ— Ah, esqueci de dizer algo — comenta Kelly, fazendo sua voz ecoar pela escuridão.

ㅤㅤㅤㅤ— Manda — pede Yumi.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu não ligo pra quem de vocês vai dar o último tiro na Ny. Mas o Orc é meu, entenderam?

ㅤㅤㅤㅤ— Tá maluco, camarada? — Jason o olha. — Só você que pode bater de frente com aquela parede. Eu nem vou chegar perto dele.

ㅤㅤㅤㅤ— Ótimo.

ㅤㅤㅤㅤ— Mas se for necessário, a gente vai te ajudar — diz Elizabeth, carregando uma Mossberg 500 à direita do afrodescendente.

ㅤㅤㅤㅤ— Vocês não vão conseguir matar ele tão facilmente mesmo, então tudo bem.

ㅤㅤㅤㅤCom exceção de Dylan e Abraham — que já haviam notado antes —, os demais ficam em silêncio e principalmente Jason, nota a mudança de tom do seu melhor amigo, agora muito mais sério do que jamais esteve antes. Ele se lembra de um episódio parecido que aconteceu antes, mas apenas mantém seu foco no objetivo e olha para a frente, vendo a outra dupla iluminando o caminho com suas lanternas.

Não se passaram nem dez minutos desde que o pequeno grupo maltrapilho mergulhou novamente naqueles túneis escuros cheios de dejetos e restos humanos, mas já foi tempo o suficiente para que todos eles desejem sair de lá o mais rápido possível. Se eles tivessem comido mais do que pequenas barras de cereal e frutas que Cameron tinha guardadas aos montes, certamente já teriam vomitado — embora a vontade esteja lhes acompanhado por todo o trajeto —, piorando assim que eles entram em um trecho onde o cheiro de morte e merda parece estar pior.

ㅤㅤㅤㅤ— Puta que pariu... — Jason põe o braço esquerdo ao redor do abdômen e a destra na boca. — Se um sangrento comece outro sangrento, esse, com certeza, seria o cheiro do vômito dele.

ㅤㅤㅤㅤDe imediato, a comparação feita pelo policial de Clerittown gera repúdio por parte de Elizabeth — principalmente —, Yumi e Lydia. Kelly se afasta dele e  suspira, controlando a bile que começara a subir pelo seu esôfago.

ㅤㅤㅤㅤ— Porra, Jason, não sabe a hora de ficar calado? — Yumi esbarra nele de propósito, furiosa.

ㅤㅤㅤㅤ— Desculpa aí, só tava tentando puxar papo. — ele se defende.

ㅤㅤㅤㅤ— Não sei se você percebeu, mas estamos na merda de um esgoto! — a voz de Elizabeth se eleva. — Já é difícil achar um assunto bom pra esses momentos, mas você conseguiu tirar um diretamente da bunda!!

ㅤㅤㅤㅤ— Dá pra vocês calarem a boca? — pede Kelly. — A melhor coisa que podemos falar aqui é nada.

ㅤㅤㅤㅤ— Até porque já vamos sair. — a voz de Abraham chega aos ouvidos de todos, que imediatamente o olham apontar sua lanterna para o alto, junto com Dylan e iluminando a fina escada de ferro que leva até o bueiro que Cameron mencionou anteriormente.

ㅤㅤㅤㅤ— Beleza, deixa que eu abro. — o gigante de regata se apressa e é o primeiro a subir as escadas.

ㅤㅤㅤㅤEnquanto os demais se aproximam, Dylan se dá conta de que aquele é o ponto em que não tem mais volta — não que ele quisesse recuar, mas agora só existe um caminho. E ele está disposto a seguir em frente, embora esteja sentindo um estranho nervosismo.

ㅤㅤㅤㅤ— Dylan, vem logo.

ㅤㅤㅤㅤEle escuta a voz de Yumi vindo do alto. A luz do dia já invade aquele pedaço de pedra e o som dos tiros enfim são captados por suas orelhas. Umedecendo os lábios, ele começa a subir as escadas, voltando a pensar no que ele provavelmente tenha que fazer.

ㅤㅤㅤㅤE isso o assusta.

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