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.20: Vingança e Pecado

Cantarolando ao som de "The Only Exception", Millie Holmes sente a água fria cair sobre suas mãos, as esbranquiçando levemente. A menor está terminando de lavar o prato que havia usado para jantar minutos atrás e assim que conclui a tarefa, retira do bolso de seu avental, um pano branco, usando-o para enxugar a peça de louça, a qual guarda em um armário do outro lado da cozinha. Depois de tirar o avental e o dobrar sobre o balcão do armário, ela olha a janela acima da pia e pode ver a caminhonete Ford F-250 vermelha de Allen estacionar com as duas rodas da direita sobre a calçada. Ela sorri e pega seu celular que estava sobre a bancada no centro da cozinha e se dirige à sala de estar, para esperá-lo.

ㅤㅤㅤㅤQuando Allen destranca a porta e adentra na antessala, a primeira coisa que ele faz é identificar Millie, parada na entrada da cozinha, com seu celular já silencioso.

ㅤㅤㅤㅤ— O que tá fazendo? — indaga o homem.

ㅤㅤㅤㅤ— Nada, só tava te esperando. Acabei de jantar e lavei a louça. — ela segura o aparelho com a destra, o batendo na mão esquerda levemente.

ㅤㅤㅤㅤ— Bom. Então já pode ir dormir — Allen fala tirando eu casaco e o pendurando em um gancho preso à parede.

ㅤㅤㅤㅤ— É, tava te esperando pra dar boa noite. — um tímido sorriso se forma no rosto da menina.

ㅤㅤㅤㅤ— Ah, sim. Boa noite. — ele passa por Millie e caminha à cozinha.

ㅤㅤㅤㅤ— Boa noite... pai — Millie dita a última palavra um pouco mais baixo, mas ainda é suficiente para que Allen possa ouvir.

ㅤㅤㅤㅤO homem parou assim que a ouviu e corrigiu sua postura, a observando por cima do ombro. Millie permanece no mesmo lugar, mas se vira para olhá-lo, engolindo em seco assim que o percebe com um ar diferente.

ㅤㅤㅤㅤ— Você disse o quê? — sua voz sai séria.

ㅤㅤㅤㅤ— Não, nada... só boa noite. — ela começa a caminhar até as escadas.

ㅤㅤㅤㅤ— Para, Millie. — seu tom de voz agora é autoritário e alto, fazendo a espinha da garota gelar. Ele se vira e caminha até ela, que já estava com um pé no primeiro degrau e a segura pelo braço, a virando. Seus olhos já estão marejados, mas ela se controla. — Você disse o quê? — ele repete, agora pausadamente.

ㅤㅤㅤㅤ— Boa noite... pai... — Millie fala quase soluçando, mas consegue proferir tudo de uma vez, olhando para o rosto de Allen.

ㅤㅤㅤㅤ— Nunca mais me chame assim, entendeu? — seu tom ainda é autoritário.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu só pensei que--

ㅤㅤㅤㅤ— Não é pra pensar nisso. — ele a solta e recua um passo. — Nós não somos pai e filha. Eu apenas garanto que nenhum drogado te use como correio e te dou uma vida decente. Isso não nos torna uma família.

ㅤㅤㅤㅤ— Tá... — ela funga.

ㅤㅤㅤㅤ— Agora vai lá pra cima. Amanhã a gente se vê — Allen fala e se vira, andando novamente até a cozinha, sem remorso algum pelo que acabou de dizer.

ㅤㅤㅤㅤMillie então torna a subir as subir os degraus, ainda contendo as suas lágrimas, que enfim vencem a batalha de resistência quando ela empurra a porta do seu quarto e corre para a cama, jogando o celular em uma pilha de roupas amassadas — mas ainda limpas —, e se deitando sobre as cobertas, enfiando o rosto em um travesseiro para que este possa abafar o som do seu choro.

ㅤㅤㅤㅤAgora, quase um ano após esse ocorrido, Allen não existe mais, bem como a antiga vida que Millie levava em Fosnny. Tudo o que existe hoje, até onde os resquícios da humanidade sabem, é um mundo tomado por canibais que não quiseram ficar mortos e vagam, aterrorizando os vivos. Millie agora tem novas pessoas em sua vida, mas nesse momento, a mesma dor que sentiu quando Allen a rejeitou, é repetido para com Dylan, que ela acreditava ser diferente; que iria finalmente ter uma família — ou algo que chegasse perto disso —, mas tudo o que ela sente é tristeza. No hall da recepção, ela olha fixamente para um quadro na parede, onde duas mulheres e uma criança parecem fazer um alegre piquenique debaixo da copa de uma macieira e enquanto uma parte dela a faz sua imaginar como se estivesse nessa mesma situação, outra parte joga na sua cara que isso nunca acontecerá.

ㅤㅤㅤㅤSe aproximando do corredor onde a menina está isolada, Amy a nota seu olhar hipnótico para a pintura e abeira Millie, anunciando sua chegada:

ㅤㅤㅤㅤ— Admirando a arte? — a jovem cruza os braços e sorri para a pintura, olhando Millie se desencostar da parede.

ㅤㅤㅤㅤ— Não exatamente... só pensando, enquanto não saímos daqui.

ㅤㅤㅤㅤ— A gente pode ouvir música. — ela dá de ombros, sabendo que esse único passatempo disponível já saturou um pouco.

ㅤㅤㅤㅤ— Não tô muito afim.

ㅤㅤㅤㅤ— Tá, quer fazer alguma coisa?

ㅤㅤㅤㅤ— Não sei.

ㅤㅤㅤㅤ— Tá tudo bem?

ㅤㅤㅤㅤA pergunta de Amy faz a menina refletir se seria uma boa ideia falar sobre o ocorrido da última noite ou apenas guardar para si, já que o assunto remete apenas a ela, pois Dylan não quer "ter essa responsabilidade". Por fim, ela umedece os lábios e abraça os cotovelos, olhando a amiga:

ㅤㅤㅤㅤ— Tá sim, só tô entediada.

ㅤㅤㅤㅤ— Ah... — Amy sabe que Millie está escondendo algo, assim como Millie sabe que sua desculpa não foi nem perto de ser convincente. Entretanto, nenhuma das duas têm tempo para dizer mais nada, pois os sons distantes de umas dezenas de disparos chegam aos seus ouvidos, bem como aos de todos na recepção.

ㅤㅤㅤㅤ— Isso tá vindo da estrada? — pergunta Aurora, se aproximando da saída junto de Alex.

ㅤㅤㅤㅤ— Fiquem todos aqui, não sabemos o que tá acontecendo ainda — Lydia eleva seu tom de voz e ergue a canhota, mandando as duas pararem.

ㅤㅤㅤㅤ— Tem uma nuvem de fumaça lá — diz Jacob, olhando na direção do comboio com uma mira óptica que ele tirou de uma das armas e agora a usa como uma luneta convencional.

ㅤㅤㅤㅤ— O que tá acontecendo lá...? — indaga Alex, levando as mãos à cabeça e andando para os lados.

***

Não tão distante do residencial Keller, Abraham e os demais começam a ter suas visões limitadas pela fumaça branca, mas sua principal preocupação nesse momento, além dos tiros que passam rasgando o ar sobre sua cabeça é a mulher conhecida apenas como Ny correndo rapidamente até Dylan, que foi atingido pela flechada disparada anteriormente. Ele tenta erguer seu fuzil, mas a ninja consegue se ocultar antes que ele pudesse pôr o dedo no gatilho.

ㅤㅤㅤㅤ— Merda — ele vocifera só para si, no momento em que os disparos cessam e, ainda agachado, também usando a fumaça para se esconder enquanto tenta alcançar Ny.

ㅤㅤㅤㅤSentindo a queimação na lateral do seu bíceps esquerdo, Jason se levanta e cata a Colt 1911 que havia deixado cair logo no início do ataque, mas assim que deixa sua coluna ereta, é surpreendido por uma figura colossal, com mais de dois metros de altura, encapuzada — ao melhor estilo Jason Voorhees, pensa ele, também notando que eles poderiam ser charás —, portando a M249 de Kelly e a usando para golpeá-lo no rosto usando a coronha. A força do golpe é tamanha, que faz o policial de Clerittown ir de encontro a lataria do seu querido motorhome, batendo o lado esquerdo da cabeça no metal, soltando a pistola novamente e tornado a cair, agora completamente desnorteado. Orc vê seu primeiro alvo já incapacitado e segue andando em meio à fumaça, com a metralhadora em seu ombro.

ㅤㅤㅤㅤParado à direita da porta lateral do trailer, Kelly fica na espera do seu maior rival e assim que pode ver o menor indício da silhueta de Orc, o gigante se projeta para fora do veículo já com seu martelo firme na mão direita, que está com as veias quase explodindo para fora. O pesado braço do homem se ergue e ele acerta a cabeça do martelo no topo do crânio do encapuzado, mas em vez de escutar um osso se partindo em um som angustiante, ele escuta uma batida metálica. Entretanto, ele já esperava que Orc tivesse essa proteção extra, entretanto ter usado seu martelo foi uma manobra pensada minuciosamente por ele, justamente para que isso pudesse atordoá-lo. E foi exatamente o que aconteceu.

ㅤㅤㅤㅤO grande caucasiano pende para o lado, emitindo um dos seus usuais resmungos e tirando a metralhadora pesada do ombro, agora fazendo o gutural e, embora esteja tonto, mira a arma de qualquer jeito e aperta o gatilho.

ㅤㅤㅤㅤNão muito distante, Ny não se importa com ou como Orc está lidando com os outros. Ela não vê que Kelly conseguiu bater com o braço esquerdo na metralhadora, fazendo com que todos os tiros errassem e atingissem a lateral prateada do motorhome. E que agora iniciou uma luta corpo-a-corpo contra seu parceiro. Tudo o que ela tem na sua frente é Dylan; o homem que ousou lhe bater, tirar seu sangue. Algo que para ela, só pode ser correspondido com uma lenta e dolorosa morte, porém, para executar o que sua mente fantasiou nos seus sonhos, ela precisa primeiro capturá-lo.

ㅤㅤㅤㅤDylan já viu Ny e antes que a mulher saltasse para desferir um pisão em seu estômago, ele conseguiu, rolar para trás e escapar do golpe. O policial de Denverport fica agachado, sem tirar os olhos da mulher, coloca-se de pé, com a canhota sobre o ferimento da flechada. Ele entende os riscos que corre e entende que é ainda mais perigoso lutar com algo alojado em seu ombro. Por isso, ele segura o meio do dardo e o puxa, sentindo sua carne ser novamente rasgada e joga-o no chão, agora esperando pela nova investida da sua oponente.

ㅤㅤㅤㅤ— Você é durão... mas não vai se safar dessa vez — Ny fala com um sorriso sínico no rosto e investe contra Dylan, que aguarda o momento certo para projetar o punho esquerdo contra seu rosto, mas dessa vez, ela está mais atenta e consegue levar o corpo para a direita no último momento, fazendo o golpe passar direto.

ㅤㅤㅤㅤO que se sucede para Dylan é uma sequência de eventos dolorosos: primeiro, Ny alcança seu ombro ferido e de imediato, penetra o vão deixado pela flecha com seu dedão, arrancando-lhe um grito agonizante. Em seguida, ela o golpeia com um soco certeiro na jugular, lhe tirando o fôlego, cessando o grito e fazendo-o se curvar, levando as duas mãos ao pescoço e cambalear para trás. Porém, Ny ainda não terminou. A loira ergue os punhos e os desce com força na nuca do homem, o fazendo ficar ainda mais desnorteado do que antes e ir ao chão, com a visão turva e escurecida.

ㅤㅤㅤㅤEla o olha, satisfeita com seu serviço, mas também se dá conta de que a fumaça que os envolve está começando a se dissipar. Ela então se vira e puxar o ar para dentro dos pulmões — com um pouco de fumaça — e grita:

ㅤㅤㅤㅤ— Orc!! Aqui!!

ㅤㅤㅤㅤMas para a surpresa da mulher, quem aparece após o seu chamado é um dos amigos de Dylan. Abraham surge em um salto, já com o dedo no gatilho do seu fuzil e atira, mas a ninja consegue virar o corpo de uma vez para a direita, escapando da rajada de três tiros cuspida pela arma. Impaciente, ela aproveita uma cortina de fumaça que se pôs entre eles — mais para o lado de Abraham — e avança contra o diafragma do homem, lhe acertando um gancho certeiro de direita, que o faz cuspir saliva e soltar a M-16 no chão. Ele não desiste e, apesar das dores, tenta avançar novamente contra Ny, entretanto é impedido por uma enorme mão que envolve sua cabeça, cobrindo seu nariz e boca, mas não as orelhas, permitindo que ele escute a suave e maligna voz da mulher:

ㅤㅤㅤㅤ— Boa, Orczinho. Agora se livra dele.

ㅤㅤㅤㅤOrc grunhe e quando está para agarrar o pescoço de Abraham com sua canhota, ele é surpreendido por Kelly, que não havia ficado inconsciente com os socos que recebeu no rosto — nitidamente machucado — e agora tenta um último esforço ao envolver o pescoço de Orc com seu braço direito. Ele acaba soltando Abraham após o movimento.

ㅤㅤㅤㅤ— Não, nem pensar, grandalhão. — agilmente, Ny puxa uma pequena adaga presa à sua coxa e salta na direção deles, cravando a lâmina amolada no antebraço musculoso de Kelly, fazendo-o se afastar.

ㅤㅤㅤㅤA nuvem de fumaça já está quase que inexistente quando Orc se vira e grunhe na forma de um gutural contra Kelly, lhe acerta um cruzado de direita no rosto, levando-o ao encontro do asfalto quente e batendo a cabeça ao cair. Por sua vez, Ny o manda se apressar e chuta o rosto de Abraham com o bico da sua bota, também o incapacitando momentaneamente. Orc então se movimenta até Dylan, que não reage ao ter seu corpo erguido e posto sobre o ombro do encapuzado. Tudo o que ele sente agora são os solavancos enquanto o gigante corre de volta para a floresta, escutando tiros e gritos mais atrás, antes de perder a consciência.

***

Caminhando furtivamente, Mia, Sarah e Downs — que havia descido do terraço — se aproximam da nuvem de fumaça que está sumindo quase completamente. Assim que eles transpõem a cerca cortada, Mia é a primeira a ver a dupla fugindo e o maior deles carregando alguém.

ㅤㅤㅤㅤ— Atenção!! Lá estão eles!! — ela ergue seu fuzil e abre fogo, mas apenas para desperdiçar munição, já que ela não pode acertar a vítima do sequestro e seus tiros não os fazem cessar sua fuga.

ㅤㅤㅤㅤ— Droga, eles levaram quem? — Sarah não espera uma resposta e já corre até o comboio depenado.

ㅤㅤㅤㅤOs outros dois militares a seguem e conforme se aproximam, podem ver os três homens caídos no asfalto, mas ainda conscientes. Romero vai primeiro em Jason, que massageia a cabeça em posição fetal.

ㅤㅤㅤㅤ— Jason? Amor? — ela o abeira e lhe ajuda a levantar, escutando seus resmungos.

ㅤㅤㅤㅤ— Eles levaram o Dylan? — Downs ajuda Abraham a levantar e olha ao redor, não vendo o policial em parte alguma.

ㅤㅤㅤㅤ— A Elizabeth não tava aqui também? — Mia ampara Kelly, que está sentado sobre o asfalto.

ㅤㅤㅤㅤSe esgueirando o mais rápido que consegue, a loira que integrou o grupo após meses de convívio com os piores tipos de pessoas faz o que pode para não perder a dupla de vista. Durante a confusão, ela sabia que não teria muitas chances contra eles em meio à fumaça, então os esperou escondida atrás do motorhome, saindo apenas quando viu os dois fugindo. Embora esteja com o pente do seu fuzil ainda pela metade, ela não cogita a possibilidade de atirar, tanto para não correr o risco de acertar Dylan, mas também pelo fato de que, mesmo que acerte Ny, não conseguirá dar conta de Orc e o mesmo ainda pode matar o policial. A única coisa que ela segura é a sua faca, a qual usa para marcar setas em árvores, na esperança de que os demais vejam e os sigam até seja lá onde for o esconderijo dos dois.

Dentro da recepção do Residencial Keller, Aurora examina os ferimentos no rosto de Kelly, mas sua mente está em outro lugar distante, pesando apenas em Dylan e no que Ny pode fazer com ele, ainda mais depois de Sarah ter contado as histórias sobre a mulher. Ela só volta para o mundo real quando seu paciente afasta a cabeça por ela ter pressionado um de seus ferimentos com mais força do que o necessário.

ㅤㅤㅤㅤ— Me desculpa, desculpa... eu... — ela respira fundo e comprime os lábios, tentando não deixar que suas emoções extravasem.

ㅤㅤㅤㅤ— Deixa eu fazer por você — Ashley fala pondo a canhota sobre o ombro da amiga. — Você não tá em condições.

ㅤㅤㅤㅤA médica assente e se afasta de Kelly, deixando Ashley terminar a limpeza em seu rosto. Mais atrás, nos fundos da recepção, Abraham — ainda sentindo as dores em sua cabeça e rosto —, conta as munições que eles ainda têm e as separa nos pentes das armas, tendo a ajuda de outros integrantes do grupo.

ㅤㅤㅤㅤ— Eles pegaram todas as nossas coisas. Então estão bem armados. Temos que poupar munição e fazer cada tiro valer a pena, ou a gente já era — comenta o gângster, encaixando um pente com apenas 20 balas na sua M-16.

ㅤㅤㅤㅤ— Então o plano vai ser desarmar e partir por combate na mão? — pergunta Jacob, olhando o tambor de um revólver.

ㅤㅤㅤㅤ— Se for possível meter uma bala na cabeça da mulher e um tiro de doze na do grandão, então façam.

ㅤㅤㅤㅤ— A Ny é ágil e sabe lutar. Ela vai tentar de tudo pra desarmar e tentar uma luta corporal — comenta Sarah, olhando o interior de um pente e o encaixando na sua Scar-L. — Por isso é melhor tentar neutralizar ela o quanto antes.

ㅤㅤㅤㅤ— E a Elizabeth? Eles não a levaram também? — Amy os olha, aflita. Assim como Aurora, ela também não para de pensar no seu irmão.

ㅤㅤㅤㅤ— A gente não viu nem sinal dela lá fora, mas o mais óbvio é que ela tenha ido atrás deles. Agora é torcer pra gente não achar ela morta no meio do caminho. — Downs municia seu rifle e passa a bandoleira pelo ombro, se afastando. — Vou ficar lá fora, vendo se nenhuma outra merda acontece.

ㅤㅤㅤㅤQuando termina de se preparar, o gângster fala o mesmo que o soldado Bíblia, mas ele se dirige primeiro na direção de Alex e Stella. O silêncio recai sobre aquele pequeno grupo, que nada mais escuta além dos sons das cápsulas de pólvora sendo encaixadas nos carregadores. Yumi encaixa uma por uma no seu pente, acoplando o carregador em sua CZ-75 logo em seguida,  a engatilhando, sentindo logo uma mão em seu ombro. Quando olha para a direita, se depara com Lydia:

ㅤㅤㅤㅤ— Você quer mesmo ir, amor? Não acha que pode ser perigoso demais?— a afrodescendente a olha preocupada.

ㅤㅤㅤㅤ— Lydia, o Dylan é o meu melhor amigo. — Yumi a encara, com um pouco de indignação. — Ele me ajudou e salvou minha vida mais de uma vez. Não vou dar as costas pra ele agora.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu sei que não ia mudar de ideia, mas não custava nada tentar... — ela sorri e dá de ombros, não escondendo sua tristeza e incerteza. — Só toma cuidado, tá bem? Esses dois são perigosos, ainda mais com nossas armas.

ㅤㅤㅤㅤ— Fica tranquila, eu sei me cuidar e vou cuidar deles. — Yumi sorri e se aproxima de Lydia, lhe dando um acalorado beijo. — Até mais tarde. — a asiática sorri e se vira, caminhado junto dos demais, que já estão prontos e passam por Abraham e sua família.

ㅤㅤㅤㅤ— Toma cuidado, tá bem? Se as coisas derem errado, volta pra cá. — Alex encara Abraham, que aninha Stella em seus braços.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu vou ser cauteloso, mas não pretendo voltar sem o Dylan. — ele a encara com um semblante sério.

ㅤㅤㅤㅤ— Traz o tio Dylan, papai. Pra Millie não ficar triste. — Stella faz um biquinho com os lábios, olhando para a menina, que está sentada no piso aos fundos do salão, com os joelhos flexionados e os cotovelos sobre os mesmos.

ㅤㅤㅤㅤ— Vou trazer ele, princesa. — ele olha Millie, entendendo pelo que a menor está passando. — Agora fica com a mamãe, eu vou voltar assim que puder. — o homem deposita um beijo na bochecha de criança e a entrega para Alex, também lhe dando um beijo. Rapidamente, ele se dirige para o hall de entrada do prédio, Jacob, Mia, Kelly e Yumi o esperam. Os demais ficarão no edifício, em segurança.

ㅤㅤㅤㅤAssim que eles começam a sair, são surpreendidos por uma voz os pedindo para esperarem. Abraham olha para trás e vê Aurora caminhando até eles, com um forte ar de determinação que ela não tinha demonstrado até então.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu vou também, não importa o que digam. — ela arfa. — Se o Dylan tiver muito ferido, eu sei improvisar os curativos, já que aqueles dois estão com as nossas coisas.

ㅤㅤㅤㅤ— Tá, vamos logo. Cada segundo aqui é perda de tempo — Abraham fala diretamente para a médica e começa a caminhar apressado, sendo seguido pelos demais, sob um pedido de "boa sorte", dado por Jason.

ㅤㅤㅤㅤO pequeno grupo de resgate se encaminha novamente ao local onde ocorreu o último encontro com Orc e Ny e passam sem olhar para os veículos que permanecerão abandonados ali provavelmente pela eternidade e adentram a floresta, com Abraham e Mia se guiando pelos rastros deixados por três pessoas — todos imediatamente associam o terceiro rastro à Elizabeth — e, após alguns minutos de caminhada, acham a primeira seta desenhada no tronco de uma árvore, indicando que eles estão no caminho certo.

Alguns instantes após a saída do grupo de resgate, Jason fechou as portas do edifício e, com a ajuda de Thomas, usou alguns sofás e cadeiras para bloquear a passagem. O policial disse para todos se ocuparem com algo até que haja mais notícias sobre o grupo e, mesmo com todas as tensões e aflições, eles se dispersam, indo para as alas mais ao fundo do primeiro andar, ou para os pisos superiores. Ele, Thomas, Lydia e Sarah se mantém próximos da barricada, para que possam desmanchá-la depressa, caso precisem. Quem não foi para nenhum outro lugar também foi Amy, que não para de pensar em Dylan, mas nesse momento, sua atenção se volta para Millie, enquanto caminha até a onde a menina está, percebendo seu semblante abatido: o pequeno nariz da garota está vermelho, bem como ao redor dos seus olhos e ela funga de vez em quando, olhando fixamente para a parede à sua frente. Amy se ajoelha ao lado dela, com as mãos sobre as pernas.

ㅤㅤㅤㅤ— Millie? Vamos lá pra cima, não tem nada que a gente possa fazer agora — Amy diz com uma voz baixa, ainda encarando a de cabelos loiros.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu não quero ir... quero ficar aqui e esperar por eles. Qualquer notícia... — ela comprime os lábios e fecha os olhos, sentindo-os doer.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu sei que gosta do Dylan, eu também, mas agora tudo o que podemos fazer é esperar mesmo. Só que não precisamos ficar fazendo isso aqui, nesse lugar. — Amy afasta uma mecha de Millie para trás da sua orelha. — Você parece cansada... não dormiu direito essa noite?

ㅤㅤㅤㅤA mais nova apenas faz um sinal de negação com a cabeça e respira fundo, olhando para cima:

ㅤㅤㅤㅤ— Eu saí do quarto ontem, pra andar pelo prédio. Acabei encontrando o Dylan e fomos pro terraço. — Millie faz uma pausa e funga. Amy está totalmente focada em seu relato. — Nós fomos e lá em cima, eu criei coragem e pedi pra ele...

ㅤㅤㅤㅤ— Pediu o quê? — a jovem de cabelos castanhos franze o cenho.

ㅤㅤㅤㅤ— Pra ele me adotar. Eu e ele estamos juntos desde o primeiro dia... ele cuida de mim melhor do que qualquer outra pessoa que já conheci. — as lágrimas começam a vir. — Mas ele disse que não queria... que não queria uma família quando era criança...

ㅤㅤㅤㅤ— Ah, pequena... o Dylan... eu não sei se posso contar isso ainda, mas ele... — Amy suspira, sem saber o que dizer.

ㅤㅤㅤㅤ— Ele ia pedir desculpas. Acho que iria... — Millie passa as costas da destra no nariz sujo. — Mas eu gritei com ele e fui embora. Eu tava com raiva, ainda tô... mas agora ele sumiu e a última coisa que eu disse pra ele foi pra me esquecer.

ㅤㅤㅤㅤMillie vai aos prantos e seu choro chega até os ouvidos dos que estão na barricada e estes acabam por ficarem sentidos com a reação da menina. Ao lado dela, Amy umedece os lábios e se aproxima dela, abrindo os braços e a chamando para um abraço. A menor corresponde e a aperta, afundando a cabeça sobre o peito dela, que começa a proferir algo bem baixinho, que Millie não entende de imediato devido ao choro, mas soa parecido com um "tudo bem", que a mais velha repete várias vezes, como se fosse um mantra.

***

O caminho que Elizabeth fez até chegar numa pequena e abandonada estação de tratamento de água — construída especialmente para atender um condomínio de luxo nos arredores — não foi muito longo. A loira se manteve sempre a uma distância segura da dupla, o suficiente para não ser notada e assim que descobriu o esconderijo feito de concreto, ela os esperou entrar para então procurar uma entrada alternativa, conseguindo invadir silenciosamente o lugar graças a uma abertura na cerca de metal e, depois disso, uma janela que ela não sabe como foi destruída, mas que não dá a mínima para isso.

ㅤㅤㅤㅤCaminhado pelos corredores escuros e fedorentos, além dos sons de ratos andando pelo piso e possivelmente entre as paredes, ela também podia escutar um ou outro grito de agonia que ecoava por aquelas instalações imundas. E ela reconhecia o autor dos barulhos que faziam sua espinha gelar e todos os pelos do seu corpo se arrepiarem. A loira usou esses sons para se guiar até uma sala que estava com a porta entreaberta e parece uma caldeira de navio, repleta de canos e válvulas que já não funcionam mais, pois não há pressão para ser contida ou água — potável, pelo menos — para ser bombeada.

ㅤㅤㅤㅤEm meio a todos aqueles canos, um feixe de luz chama a sua atenção, não por expor a ferrugem dos canos, mas sim, três sombras. Uma magra e definida que está em pé, diante de outra mais robusta que está sentada. Atrás deles, uma terceira, ainda maior, fica de braços cruzados, como se fosse um guarda fazendo sua vigilância. Se escondendo entre duas paredes de canos, Elizabeth consegue achar uma fresta com espaço o suficiente para poder enxergar Dylan, com os pulsos amarrados aos braços da cadeira com rolos de fita isolante. O policial está sem as blusas e seu dorso musculoso brilha sob a luz da lanterna, devido ao suor. Diante dele, Ny, que traja uma regata preta, exibindo além das alças do seu sutiã da mesma cor, seus braços incrivelmente definidos.

ㅤㅤㅤㅤA mulher se aproxima de Dylan, o segurando pelo cabelo e erguendo sua cabeça, podendo ver seu rosto machucado e vermelho com seu próprio sangue. O olho esquerdo está inchado, bem como a maçã do mesmo lado do rosto, que está com um corte profundo, de onde todo o sangue é expelido. Outros cortes se encontram acima da sua sobrancelha e no canto da boca. Ele respira com dificuldades e seu nariz expele sangue à cada respiração.

ㅤㅤㅤㅤ— Não durma ainda, valentão. Nós temos muitas coisas pra fazer. — Ny solta um riso longo, sem abrir a boca, mas demonstrando toda a sua maldade e prazer naquela sessão de tortura.

ㅤㅤㅤㅤOlhando para o chão, Elizabeth consegue identificar um cassetete retrátil sujo de sangue. O instrumento da tortura, o primeiro de uma série que Ny planejou para castigar o homem.

ㅤㅤㅤㅤSem muita pressa, a torturadora segura uma de suas adagas que retirou de uma cinta em sua coxa e, sorrindo psicopaticamente, passa a ponta afiada da lâmina pelo peitoral do homem em linhas descontínuas, lhe causando cortes rasos, porém dolorosos, o fazendo resmungar de dor. O policial pode ver o sorriso crescer no rosto da mulher conforme ela desce a adaga prateada para seu abdômen, parando pouco abaixo do umbigo.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu poderia descer um pouco mais, você não acha? Acredito que não precisará mais disso daqui pra frente — ela solta uma rápida gargalhada enquanto afunda um pouco mais a lâmina no baixo ventre de Dylan, qual não demonstra o desespero que a mulher esperava, a fazendo cessar seu riso.

ㅤㅤㅤㅤCom raiva por não ter o impacto que esperava, ela ergue a adaga suja de sangue a gira nos dedos, a fincando com força na mão direita de Dylan atravessando a palma e ferindo alguns dedos. O policial não consegue aguentar e grita de dor. Ny volta a sorrir e com uma calma arrepiante, retira a arma lentamente, causando uma onda de dor alucinante no outro.

ㅤㅤㅤㅤ— Você tem um jeito durão, sabia...? Mas eu vou destruir isso. — ela aproxima seu rosto do dele. Dylan está suando frio e geme fraco de dor. Ele tenta se controlar, consegue sentir a respiração quente da mulher. — Vou te fazer sentir medo.

ㅤㅤㅤㅤPara a surpresa de todos que estão assistindo, Dylan, conseguindo ignorar parcialmente a dor, projeta sua cabeça para a frente e, mesmo com todos os empecilhos, consegue acertar a testa no nariz de Ny, sujando o rosto da mulher com seu sangue. Ela se afasta abruptamente para trás, levando a destra até o nariz. Orc resmunga e começa a andar até o policial, mas é impedido por um comando da loira:

ㅤㅤㅤㅤ— Não, Orc. Deixa que eu resolvo isso. — ela tira a mão do rosto e não se importa do mesmo estar sujo. — você tem muita coragem pra um homem morto. — ela se aproxima de Dylan outra vez.

ㅤㅤㅤㅤ— Os mortos hoje são tão perigosos quanto os vivos... — ele arfa e olha Ny com seu único olho aberto.

ㅤㅤㅤㅤO punho direito dela se choca violentamente com o lado machucado da face de Dylan, fazendo sua cabeça virar de uma vez e seu ouvido zunir. Sua visão fica turva e a cabeça começa a pender para baixo.

ㅤㅤㅤㅤ— Os mortos que se levantam, sim. Mas eu vou cuidar pra que você não volte. — o sorriso no rosto dela aumenta e ela torna a segurar o ombro machucado do policial, que sente a região queimar e doer, mas antes que Ny pudesse penetrar o dedão no ferimento da flecha, um som alto, parecido com um disparo, chega aos seus ouvidos.

ㅤㅤㅤㅤNy e Orc se viram e olha na direção onde Elizabeth se encontra e o coração da mulher dispara, mas felizmente, o barulho não veio dela. Os dois trocam olhares e Dylan cospe sangue, sem ser algo que atraia a atenção.

ㅤㅤㅤㅤ— Vai ver o que é isso, Orczinho. Não é pra ter vermes nesse lugar. — ela caminha até próximo da porta.

ㅤㅤㅤㅤCom um resmungo, Orc assente e se dirige até a marreta que estava escorada em um cano, a pegando sem dificuldade alguma e caminha rapidamente até a saída. Ny o observa sumir nas sombras e junta as mãos, estalando os dedos enquanto se aproxima de Dylan:

ㅤㅤㅤㅤ— Onde estávamos, valentão?

Graças as setas que Elizabeth deixou pelo caminho, o grupo conseguiu se guiar até a estação de tratamento de água, aonde assim que chegaram, a primeira coisa notada foi o Troller T4 azul-marinho com as portas e vidros fechados. Ao redor do veículo, estavam as provisões que pertenciam a eles e foram tiradas do antigo comboio. Abraham se esgueirou por uma passagem nas cercas, olhando pequenas — quase que imperceptíveis — pegadas sobre o chão de areia cinza e pequenas pedras, suspeitando serem de Elizabeth. Mas isso não o fez se sentir menos tenso, já que não havia como saber do seu paradeiro ainda. Se guiando pelas pegadas, eles foram levados até a mesma janela destruída e adentram os corredores escuros. Já lá dentro, eles começaram a caminhar entre as montanhas de poeira e lixo, papéis velhos e teias de aranha. Com a baixa luminosidade, eles precisam forçar suas vistas até estas se acostumarem e conseguirem ver o caminho à sua frente.

ㅤㅤㅤㅤAo virarem em um corredor, eles conseguem identificar uma porta entreaberta e Abraham prontamente mira seu fuzil na direção da mesma, com Mia e Jacob se aproximando. O homem de topete é o primeiro a pegar na maçaneta, mas para a surpresa dele — e de todos —, o que acontece é que as dobradiças velhas e enferrujadas se desprendem do batente e a estrutura vai ao chão, levantando uma cortina de poeira e gerando um barulho parecido com um tiro, que ecoa por toda a área interna.

ㅤㅤㅤㅤ— Puta merda! — ele exclama com os dentes cerrados, mas logo se assusta com as dezenas de ratos que correm desesperados para fora da sala, assustando a todos, que se afastam rapidamente.

ㅤㅤㅤㅤO estouro da manada de roedores dura ainda alguns instantes e todos correm em várias direções, assustados não apenas com o barulho alto, mas também com os seres gigantes que invadiram sua enorme toca. Os sobreviventes sequer repararam no odor fúnebre que sai da sala, oriundo de uma ossada ainda com resquícios de pele e alguma carne já há muito tempo em decomposição, pertencendo agora às larvas e aos demais parasitas que habitam entre aquelas paredes de concreto.

ㅤㅤㅤㅤ— Temos que sair dessa área, o som, com certeza, deve ter chegado em cada buraco desse lugar — comenta Mia, sussurrando para os demais.

ㅤㅤㅤㅤYumi responderia alguma coisa, mas ela petrifica ao escutar fortes e pesados passos sobre o piso duro, que são acompanhados por sons de ratos rapidamente cortados por um barulho nojento, que se assemelha a um pedaço de carne sendo rasgado pelas presas de algum felino. Abraham é o primeiro a ver a enorme sombra. Orc então começa a correr, sem se importar de sujar mais as suas botas a cada rato que esmaga com seus passos. O enorme caucasiano chega neles com uma velocidade espetacular e ergue a marreta, grunhido e a projetando contra os sobreviventes.

ㅤㅤㅤㅤ— Caralho!! — Abraham se afasta três passos para trás, quase sendo atingido em seu pé esquerdo. As pontas de metal da marreta perfuram o chão e antes que a ferramenta mortal parasse no piso, Orc solta seu cabo e golpeia o estômago de Jacob com o antebraço esquerdo, o jogando de costas contra a parede, soltando a Scar-L. em seguida, ele faz o mesmo com Mia, que solta o AR-15.

ㅤㅤㅤㅤAbraham mira sua M-16 contra o encapuzado, mas antes que pudesse apertar o gatilho, Orc alcança o cano da arma com a mão direita e o levanta, fazendo os disparos atingirem o forro acima deles, liberando dezenas de lascas de cimento. Pela abertura em sua máscara, ele pode ver uma silhueta escura, quase do seu tamanho, se aproximando com o que parece ser uma escopeta nas mãos. Sabendo dos riscos que corre contra esse tipo de arma, ele ergue o punho esquerdo e o desfere com toda a sua força sobre o tórax de Abraham, fazendo seus pulmões se retraírem. Em seguida, ele vira o corpo do gângster e o chuta contra Kelly, que se vê obrigado a parar e amparar seu companheiro.

ㅤㅤㅤㅤÉ essa a brecha que Orc queria. Ele investe contra os dois, grunhindo de raiva e junta os punhos à esquerda da cintura, os jogando contra a cabeça de Kelly, que mesmo se afastando, ainda é atingido no olho direito e no nariz, perdendo o equilíbrio e soltando Abraham, que vai ao chão.

ㅤㅤㅤㅤ— Corre!! — Yumi grita para Aurora e ergue sua pistola, disparando contra Orc. Porém, a falta de luminosidade a faz errar os tiros que eram destinados à cabeça do gigante, que começa a se aproximar delas.

ㅤㅤㅤㅤAurora fica petrificada de medo com o tamanho do encapuzado e não consegue se mexer. Quando ele está quase alcançando Yumi, as duas — e ele próprio — são surpreendidas por Jacob, que conseguiu ser rápido o bastante para saltar nas costas de Orc e agarrá-lo pelo pescoço usando toda a sua força.

ㅤㅤㅤㅤ— Fujam!! Eu ganho tempo aqui!! — armado com um canivete na mão direita, Jacob golpeia o encapuzado na altura da clavícula, tendo a sorte de acertar uma parte do seu corpo que não está com a armadura. Ele constata isso pela facilidade com que a lâmina foi penetrada e pelo uivo gutural aterrorizante que Orc profere.

ㅤㅤㅤㅤVendo a cena do gigante se debatendo para se soltar de Jacob, Yumi segura a mão de Aurora e as duas correm de lá, indo pelo caminho que haviam feito antes. Ao virarem o corredor, elas são poupadas de verem Orc se jogar de costas contra uma parede, esmagando Jacob entre seu corpo e o concreto. Entretanto, ele não o solta, puxa o canivete, pronto para lhe dar outro golpe, mas o gigante consegue segurar seu pulso no último instante e fica parado, segurando o outro braço e o tirando do seu pescoço sem nenhuma dificuldade, já que a força de Jacob mal se compara à sua. Ele então se curva para a frente, fazendo Jacob deslizar pelo seu corpo e cair de costas no piso duro. Em seguida, ainda o segurando, Orc chuta o ombro esquerdo do homem com o bico da sua bota, lhe arrancando um grito de dor, que é rapidamente calado quando ele cobre sua boca com a enorme mão.

ㅤㅤㅤㅤSentindo seu sangue escorrer pelo ferimento, o encapuzado se agacha e segura a coxa esquerda de Jacob, o erguendo acima da sua cabeça como se estivesse segurando um pedaço de estofado com quase nenhum peso. Gritando de raiva, ele projeta Jacob para o chão, mas o trajeto é interrompido pela sua enorme e musculosa coxa, que acerta em cheio a coluna cervical de Jacob. O som dos ossos se partindo pode ser ouvido no corredor, mas é rapidamente cortado pelo grito de Kelly:

ㅤㅤㅤㅤ— NÃÃÃÃOOO!!!! — o afrodescendente, que já havia pegado sua escopeta, a mira nas costas de Orc, mas antes que pudesse atirar, o gigante se vira e usa o corpo de Jacob como escudo humano, que recebe quase toda a carga do tiro dado. Jacob não morre na hora, mesmo tendo seu tórax destroçado pelos detritos do disparo calibre .12. Seu sangue se espalha em uma nuvem escura e fluido escapa pela sua boca. Sua vida começa a se esvair e sua última visão antes de tudo ficar escuro e kelly, ficando cada vez mais próximo.

ㅤㅤㅤㅤAinda usando o cadáver como escudo, Orc consegue alcançar seu rival e joga o corpo em seus braços. Completamente, chocado por ter atirado em Jacob, Kelly não reage e se deixa cair com o peso deles, largando sua arma, que desliza até os pés de Mia, que ainda está um pouco tonta, mas consegue ver toda a cena. Resmungando alguns palavrões, a militar cata a Mossberg 590 e, ainda sentada, mira contra Orc, que está sufocando Kelly a pouco mais de dois metros de distância e então aperta o gatilho. O primeiro disparo é imediatamente sentido na região das costelas do lado direito de Orc, que solta seu oponente e sai de cima dele, imediatamente recuando para a sala cuja porta se desprendeu, mas, ainda assim, ele é atingido de raspão na sua perna esquerda, pelo segundo tiro. Mia se levanta, mas logo escuta o barulho alto de outra porta sendo arrombada e os passos de Orc ficando cada vez mais distantes.

***

Dentro da sala parcialmente iluminada, Ny para na frente de Dylan e o encara, pensando no que deve fazer com ele agora. Ela gira sua adaga, manchada de sangue, no dedo indicador enquanto pensa, logo voltando a sorrir.

ㅤㅤㅤㅤ— Esse seu olho fechado... acho que podemos abri-lo, que tal? — ela dá uma pequena risada.

ㅤㅤㅤㅤAtrás dos canos, Elizabeth vê aquele como o momento certo para agir e prontamente pega seu fuzil, se locomovendo entre as tubulações, enfim achando uma passagem que seja o bastante para ela transpor e assim que o faz, vê que Ny está com a mão esquerda puxando o cabelo de Dylan e a ponta da adaga está quase em seu olho. Na face do homem, está uma expressão de agonia, onde ele não pode fazer nada além de esperar pela dor lancinante que está por vir. Porém, o que o policial escuta são passos se aproximando e um baque seco que é dado bem perto dele, seguido por um curto grito de dor por parte de Ny, que o solta e solta também a adaga, que vai emitindo um barulho metálico por onde cai. Ao olhar para a frente, Dylan fica surpreso ao ver Elizabeth parada na sua frente, manuseando o fuzil em seu braços, pronta para atirar em Ny, mas apesar da pancada acima da sua orelha, a ninja consegue mover o suficiente para dar um salto à esquerda e sair da linha dos tiros, que atingem o piso e alguns canos.

ㅤㅤㅤㅤ— Esse seu pessoal é uma pedra no sapato... devíamos ter matados o máximo de vocês quando tínhamos chance. — a voz de Ny pode ser ouvida da escuridão onde ela está escondida.

ㅤㅤㅤㅤ— Agora quem vai morrer é você, vadia — Elizabeth fala com determinação na voz e olha Dylan de soslaio, baixando o tom da sua voz para falar com ele: — Aguenta aí, logo eu te solto.

ㅤㅤㅤㅤO policial fica em silêncio, sem poder fazer nada para ajudar. Ele apenas observa Elizabeth dar alguns passos para a frente, tentando inutilmente achar sua oponente.

ㅤㅤㅤㅤ— O que foi? Tá com medo de aparecer? Cadê aquela mulher que atacou a gente duas vezes? Virou uma cadela e tá com a merda do rabo entre as pernas? — ela se afasta um pouco de Dylan e segue na mesma direção para onde Ny saltou, usando a luz fraca da lanterna para se guiar.

ㅤㅤㅤㅤ— Mesmo uma cadela, continua tendo dentes — Ny fala bem próximo da orelha esquerda de Elizabeth que é atingida por um soco na bochecha antes que pudesse se virar. Ela cambaleia para o lado e a outra mulher aproveita para erguer a perna direita e acertar um chute na arma em suas mãos, fazendo-a soltá-la. — Vamos, me mostra o que sabe fazer. Me dê uma diversão. — ela fica em posição de luta, erguendo os punhos.

ㅤㅤㅤㅤ— Vai se arrepender por isso.

ㅤㅤㅤㅤPor estar de costas, Dylan não sabe o que está acontecendo um pouco mais ao fundo daquela claustrofóbica sala de encanamentos. Ele não vê Elizabeth puxar suas duas facas da bainha, mas escuta Ny falar que aquilo é jogo sujo, sendo seguido de um "foda-se" por parte da sua colega, que inicia o combate se pondo à frente, erguendo a faca que está na sua canhota e tentando acertar um corte na diagonal, que erra por pouco. Ny tenta se aproveitar dessa guarda baixa, mas ela precisa se defender do próximo golpe, que deveria ser uma estocada em seu ombro esquerdo, mas ela repele o ataque ao segurar o punho de Elisabeth. A força física da ninja se mostra superior, além de uma vantagem crucial, pois a partir desse movimento, sua oponente se vê sem opções de locomoção e apenas de ataque, que é o que ela faz: outro golpe limpo visando agora o ombro direito, mas novamente, é repelido por uma agarrada perfeita de Ny, que agora segura ambos os punhos de Elizabeth e tenta a empurrar para trás.

ㅤㅤㅤㅤ— O que foi? Cadê aquela mulher que tava se achando a própria Kill Bill do apocalipse? — ela sorri, apertando as mãos de Elizabeth. Os músculos dos seus braços ficam mais visíveis e as veias das suas mãos saltam. Seu sorriso se desfaz e ela cerra os dentes, encarando a loira acobreada.

ㅤㅤㅤㅤElizabeth se esforça, mas percebe que não pode com o vigor físico de Ny, que começa a lhe empurrar. Ela então concentra toda a sua força na perna esquerda, a apoiando no chão e erguendo a direita contra a sua canela, acertando o osso em cheio. Entretanto, Ny aproveita a perca de equilíbrio para se jogar para trás, puxando sua adversária junto para que passe acima do seu corpo. A gravidade faz o restante do serviço e Elizabeth acaba por bater seu rosto em um grosso cano de ferro coberto de ferrugem. O som da pancada reverbera por todo o recinto e a mulher cai para a direita, com a visão turva. Ny se aproveita disso para, rapidamente, se recompor e atacá-la com dois fortes socos na sua têmpora, o segundo fazendo a cabeça de Elizabeth bater no piso. Ela fica parada. Inconsciente.

ㅤㅤㅤㅤ— Falou demais e no final não serviu pra merda nenhuma... mas fica quietinha aqui... você tem sorte de eu não matar pessoas como eu... — ela se levanta e olha por cima do ombro, Dylan ainda sentado e imóvel. — Certo, valentão. Agora nós vamos continuar. — se virando, ela caminha tranquilamente até onde sua vítima está, mas ela é novamente interrompida, agora por outras duas mulheres, que param na entrada da sala e uma delas grita assim que vê o homem amarrado na cadeira:

ㅤㅤㅤㅤ— Dylan!! — atraída até o recinto pelos tiros disparados anteriormente por Elizabeth, Aurora e Yumi agora adentram no espaço e a asiática mira sua pistola contra a loira de regata.

ㅤㅤㅤㅤ— Aurora!? — Dylan imediatamente olha para a entrada e vê a médica correr na sua direção, desviando de algumas paredes de tubulações.

ㅤㅤㅤㅤ— Puta merda, vocês não param de surgir?! — Ny leva a destra até sua coxa e puxa outra de suas adagas, a girando na mão e indo de encontro a elas, mas com movimentos de ziguezague, dificultando a mira de Yumi.

ㅤㅤㅤㅤ— Aurora! Sai daqui!! — os pedidos de Dylan saem carregados de súplica e ele começa a debater os braços na cadeira, tentando inutilmente se soltar das fitas. Tudo o que ele pode fazer é assistir a sua raptora avançar contra Aurora e a segurar pelo pescoço com muita facilidade, a golpeando na cabeça com o cabo da adaga, o suficiente para abrir um pequeno corte logo acima da sua testa. Em seguida, ela segura a médica e projeta seu corpo para a direita, sem tirar os olhos da arma nas mãos de Yumi.

ㅤㅤㅤㅤSoltando Aurora no chão junto com sua adaga, ela cata um cano de ferro que estava solto no piso decrépito e se levanta já o batendo nos braços de Yumi, que dispara por acidente antes de soltar a arma. O tiro passa por cima do ombro de Ny e atinge a parede ao lado de onde Dylan está. Ele continua tentando se soltar sem sucesso, olhando Aurora se levantando devagar, enquanto a ninja tenta golpear o rosto da asiática, que projeta seu corpo para trás, fazendo com que o punho acerte apenas os seus cabelos negros.

ㅤㅤㅤㅤ— É bom que, pelo menos, você saiba lutar — diz Ny, avançando novamente contra Yumi, que não tem tempo o suficiente para puxar nenhuma outra arma que esteja portando, então ela apenas se abaixa, esquivando por pouco novamente e indo para a frente, passando por sua adversária. — Ah... Você podia ter me pegado desprevenida... pena que deixou essa oportunidade passar. — Ny se vira e abre os braços, como se estivesse caçoando dela.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu não te conheço e nem você conhece a gente... só queremos levar o nosso amigo.

ㅤㅤㅤㅤ— Por favor, china... olha pra mim e vê se eu tenho cara de vilã de filme infantil. Eu vou matar esse cara e vocês deviam me agradecer! Os homens nunca serviram pra nada. Eles sempre pensam que nós é que somos suas serviçais, mas eu não sou uma marionete!

ㅤㅤㅤㅤ— Então o que vai fazer? Matar todos os homens que sobraram? E o seu amigo? — indaga Yumi.

ㅤㅤㅤㅤ— O Orczinho é diferente... ele me entende. Me protege. Sabe como eu penso e me apoia. Mas os outros... esse ali, por exemplo, me bateu!! — Ny aponta para Dylan e então se dá conta de que essa breve conversa serviu apenas para que Aurora pudesse ter tempo para alcançá-lo e agora está de pé, na frente dele, tirando uma faca da sua cintura. — Ah, não. Nem fodendo!!! — com raiva, Ny avança contra Yumi com toda a sua velocidade e não dá a menor chance para que a asiática se defenda. Seu gancho de esquerda a atinge diretamente na boca do estômago e ela ainda a segura pelos cabelos com a destra, a impedindo de cair curvada, para puxá-la até fazê-la bater com a nuca em um cano vertical, enfim a soltando e deixando-a ir ao chão.

ㅤㅤㅤㅤ— Eu vou te tirar daqui... — Aurora dita com uma voz baixa, cortando as fitas que envolvem a mão esquerda de Dylan.

ㅤㅤㅤㅤO policial responderia, mas ele vê à sua direita, Ny se aproximando perigosamente rápido e antes que pudesse alertar Aurora, a inimiga executa um salto e acerta o braço esquerdo de Aurora com as duas solas das suas botas, a jogando contra uma parede.

ㅤㅤㅤㅤ— Por que todo mundo atrapalha meus planos?! — ela se pergunta após levantar e olha para Dylan, que está em choque após o golpe, mas semicerra os dentes, encarando-a com seu olho bom:

ㅤㅤㅤㅤ— Deixa ela ir! Sou eu que você quer! Por favor, não machuca ela!! — ele fala com um desespero nunca antes visto por ninguém.

ㅤㅤㅤㅤ— Puff... acha mesmo que vou cair nessa lábia vinda de você? Você não vale nada! — Ny aplica outro soco de esquerda no rosto de Dylan, no lado menos machucado.

ㅤㅤㅤㅤ— Sai de perto dele!! — Aurora vê a agressão e, mesmo cambaleante, se levanta e corre contra a mulher, que segura seu pulso esquerdo, novamente, sem precisar de muita força.

ㅤㅤㅤㅤ— Não entendo por que tentam... vocês só podem ser muito idiotas mesmo.

ㅤㅤㅤㅤ— Solta ela! — Dylan clama outra vez.

ㅤㅤㅤㅤ— Cala a boca! — Ny ergue a perna esquerda, acertando o tórax do policial com um chute, o fazendo cair para trás.

ㅤㅤㅤㅤ— Não!! — chorando, Aurora aproveita essa chance para se jogar em cima dela, conseguindo cair junto com a mulher. Ela então agarra seu cabelo e começa a puxá-lo, tentando bater sua cabeça no piso. Porém, Ny tem o pensamento mais rápido e já lhe agarra na cintura, perto das costelas do seu lado direito e crava as unhas na carne macia.

ㅤㅤㅤㅤAurora solta um breve grito e solta o cabelo da adversária, que aproveita para lhe empurrar à direita, tirando-a de cima dela. Já de pé, ela arfa, começando a sentir o cansaço das sucessivas lutas.

ㅤㅤㅤㅤ— Por que?! Por quê tenta salvar ele?! — ela exclama com autoridade e sua voz ecoa na sala.

ㅤㅤㅤㅤA médica se levanta, com as duas mãos na região ferida pelas unhas de Ny e ergue a cabeça, lhe encarando. Seus rosto está suado e os olhos vermelhos pelo choro. Ela está bem mais cansada do que a mulher de regata, mas, assim como ela, não pretende desistir.

ㅤㅤㅤㅤ— Porque eu o amo.

ㅤㅤㅤㅤO silêncio toma de conta daquele ambiente mórbido. Ny a encara incrédula e Dylan continua deitado, arfando, impotente sobre toda aquela situação. Toda a alegria que ele poderia sentir após essa declaração é envolvida pelo medo que ele está sentindo diante desse cenário.

ㅤㅤㅤㅤ— Essa é a coisa mais idiota que eu já ouvi. — Ny engole em seco e corrige sua postura.

ㅤㅤㅤㅤGritando, Aurora avança outra vez na direção de Ny, que se prepara e consegue bloquear a tentativa de soco que a médica queria executar, segurando-a pelo pulso. Entretanto, ela é pega de surpresa quando a mulher puxa seu braço para baixo e ergue a mão esquerda acertando o rosto de Ny com as unhas. Após um curto grito de dor, ela a solta e se afasta, levando a canhota ao rosto, sentindo quatro cortes quentes e fundos o suficiente para sangrarem.

ㅤㅤㅤㅤEla afasta a mão do rosto e respira fundo, vendo seu próprio sangue. Uma raiva profunda começa a tomar conta dela, que fuzila Aurora com os olhos.

ㅤㅤㅤㅤ— AURORA!! FOGE POR FAVOR!!! — Dylan usa toda as suas forças em uma última súplica, mas Aurora já está decidida de que não sairá de lá sem ele, mas ao mesmo tempo, não tem muito mais fôlego para prosseguir.

ㅤㅤㅤㅤNy grita de raiva e tira uma terceira adaga da sua coxa, correndo até Aurora, que não tenta mais reagir e apenas recebe o aperto em seu pescoço, segurando o antebraço esquerdo da mulher enquanto sente as unhas dela perfurarem ao redor da sua jugular. Completamente cega de raiva, a ninja de corpo escultural golpeia sua adversária na lateral esquerda do abdômen, girando a lâmina prateada enquanto a puxa. Aurora não fala e nem grita. Quem faz isso é Dylan, em desespero, ao ver Ny erguer a lâmina suja de sangue e agora cravá-la na lateral do pescoço da única mulher que ele já amou.

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