.16: O que Vem Agora
O clima de luto pelas mortes de Blake, Max e Tommy permanece no grupo de sobreviventes, que não trocam muitas palavras entre si, principalmente Jacob e Ashley, que não aceitaram ainda o fato de Max não estar mais com eles, e Downs, que constantemente visita a cruz que fez para honrar seu melhor amigo. O grupo continua na creche ainda, pois Yumi não apresentou nenhuma mudança em seu quadro, embora ela esteja com todos os sinais vitais em ordem e aparentando estar bem. Todavia, Dylan, Abraham e Aurora concordaram em não deixar o lugar sem terem certeza sobre o futuro da amiga; uma decisão que deixou Lydia aliviada, mas igualmente preocupada.
ㅤㅤㅤㅤDurante a noite, o grupo se dividiu entre as salas de aula, que foram esvaziadas e transformadas em quartos improvisados, já que eles conseguiram colchões de uma loja em Dimper. Dentro da sala dos professores, Dylan fica deitado olhando para o teto iluminado pelo luar que penetra pela janela. Ele segue perdido em seus pensamentos, até que sente Aurora dedilhar seu abdômen, próximo de onde ela deu os pontos no corte que recebeu de Bart no convento.
ㅤㅤㅤㅤ— Você acha que a Yumi vai acordar logo? — indaga, se deitando sobre o corpo dele, apoiando o queixo sobre as mãos.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu espero que sim, mas a médica aqui é você — ele fala baixo e fita a mulher.
ㅤㅤㅤㅤ— É, eu sei... mas não sou tão apta pra dar certeza de algo e nem tenho os equipamentos necessários pra isso. — ela fica cabisbaixa.
ㅤㅤㅤㅤ— Você já deu o seu melhor, isso que importa. Se não fosse por você, muitos de nós não estaríamos aqui, ou estaríamos bem ferrados.
ㅤㅤㅤㅤ— Você sabe bem como elevar minha autoestima. — ela sorri. — Tá sentindo dor? — ela põe o indicador próximo dos pontos.
ㅤㅤㅤㅤ— Às vezes coça, mas dou uns toques por cima da blusa.
ㅤㅤㅤㅤ— Ainda bem que aprendeu... tem que dar mais atenção pra sua saúde, a Yumi me disse antes que você é bem negligente quanto a isso.
ㅤㅤㅤㅤ— Olha, que tal a gente dormir? — Dylan leva a destra até a cabeça de Aurora e acaricia levemente a sua orelha. — Amanhã, vou sair com mais alguns pra procurar mantimentos.
ㅤㅤㅤㅤ— É, você tem razão. — ela começa a subir seu corpo sobre o de Dylan, tomando cuidado para não machucar seu ferimento. — Tenta achar produtos de higiene, tá bem? Isso anda em falta aqui. — Aurora lhe dá um rápido beijo e deita a cabeça sobre seu peitoral.
ㅤㅤㅤㅤ— Claro, vamos procurar. — Ele sente o corpo quente da mulher sobre o seu e se acomoda, a envolvendo com o braço direito.
O sol já se faz presente no novo dia e, na sala de aula onde Yumi permanece desacordada, Lydia fica sentada em uma cadeira ao lado da sua maca improvisada, com a cabeça baixa e se esforçando para não dormir. No dia anterior, com a ajuda de Alex, ela cortou boa parte do seu cabelo, o deixando curto devido à parte que Aurora precisou raspar quando se acidentou na universidade. Agora, elaboceja e pega uma garrafa térmica que está aos seus pés, a abrindo e tomando alguns goles do café amargo, mas ainda quente e forte o bastante para mantê-la desperta mesmo após uma noite inteira em claro, esperando que Yumi dê qualquer sinal de melhora, mas ela permanece imóvel.
ㅤㅤㅤㅤ— Por favor, querida... volta pra mim... — ela olha a asiática com os olhos marejados e rodeados de olheiras. — você me disse antes que não ia me deixar viver em um mundo sem você, agora cumpre essa promessa... volta... eu te amo tanto... — Lydia deita a cabeça próximo do seu braço esquerdo e segura a sua mão com a canhota, começando a chorar baixo.
ㅤㅤㅤㅤO coração da mulher dispara e bate mais rápido assim que ela sente a mão de Yumi apertar a sua, a fazendo erguer a cabeça rapidamente e olhar sua amada se mexendo e respirando fundo, finalmente abrindo os olhos.
ㅤㅤㅤㅤ— Yumi? Amor, você voltou... — ela sorri e suas lágrimas agora são de felicidade, acariciando o rosto macio da sua amada e segurando sua mão.
ㅤㅤㅤㅤYumi pisca algumas vezes, sentindo um grande incomodo em seus olhos, que precisam se acostumar com a claridade após passarem dias fechados, mas ela consegue reconhecer o rosto de Lydia e sua primeira reação é levantar o tronco de uma vez, assustando a outra mulher, mas não tanto quanto ela está nesse momento:
ㅤㅤㅤㅤ— Lydia!? Mas-- o quê-- o Butch... que lugar é esse? — ela olha pra várias direções diferentes e leva as mãos à cabeça, sentindo-a doer onde recebeu os pontos. — Ai, merda... — e se encolhe.
ㅤㅤㅤㅤ— Ei, calma — Lydia se levanta e segura nos ombros da outra mulher. —, você tava com um ferimento grave na cabeça, mas a Aurora tratou e você passou alguns dias desacordada.
ㅤㅤㅤㅤ— Espera... An!? Mas eu tava como o Dylan, a Millie e o Butch... O Butch!! — ela encara Lydia, com os olhos arregalados. — Cadê aquele filho da puta!?
ㅤㅤㅤㅤLydia abre a boca para respondê-la, mas no mesmo instante, a porta da sala é aberta, fazendo as duas voltarem sua atenção para a entrada, onde Dylan e Aurora entram, mas o policial rapidamente vira de costas e solta um xingamento, ao ver que Yumi estava apenas com as roupas íntimas, mandando para longe qualquer sentimento de alegria por ela ter enfim despertado.
ㅤㅤㅤㅤ— Dylan, ei!! — ela pega o lençol e se cobre. — O que tá acontecendo?
ㅤㅤㅤㅤ— Ok, calma, todo mundo! — Aurora ergue os braços e todos ficam em silêncio. — Yumi, se veste primeiro, por favor. A gente vai te explicar direitinho tudo o que aconteceu enquanto você tava em coma, ok?
ㅤㅤㅤㅤCom Yumi menos elétrica, Aurora pediu que Dylan chamasse Ashley, para que ela pudesse trazer as roupas da mulher, bem como comida e água para que ela pudesse, finalmente, se alimentar. A notícia de que ela acordou logo se espalhou por toda a creche e de todos, Millie foi a que mais se animou com a novidade, mas por conselho de Dylan, ela decidiu esperar até que os assuntos tratados entre os adultos terminasse.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu só lembro que acordei numa cozinha com bastante dor de cabeça e sangue por todo o lado — ainda sentada na maca, Yumi fala de boca cheia, devorando a comida. — Não vi os sangrentos, mas sabia que eram muitos por causa dos sons deles. Me arrastei até um armário e depois de fechar a porta, ainda levou uns minutos pra eu apagar de vez.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu e a Millie íamos atrás de você, mas vimos o Butch sangrando e fugindo, depois os sangrentos apareceram. Não tivemos opção além de fugir — conta Dylan, encostado em uma mesa, de braços cruzados.
ㅤㅤㅤㅤ— E que papo é esse da satânica que ajudou a gente? — ela o olha, limpando a boca com um guardanapo.
ㅤㅤㅤㅤ— Elizabeth. Ela matou um drogado dos satânicos e o Butch naquele dia. Matou outros durante a invasão da faculdade e ajudou quando fomos atacar o convento. Tá com a gente agora.
ㅤㅤㅤㅤ— Hm... Max e Blake morreram. Sinto muito... — a morena olha para Ashley.
ㅤㅤㅤㅤ— Tudo bem, eu tô lidando bem com isso. — Ash esboça um sorriso melancólico, pois lembrar do falecimento da amiga ainda é difícil, mesmo ela se esforçando para disfarçar.
ㅤㅤㅤㅤ— Bom, acho que já te atualizei de tudo o que aconteceu nesse tempo... — Dylan coça a nuca. — Agora que acordou, tenho que falar com o Abraham sobre buscar suprimentos em Dimper.
ㅤㅤㅤㅤ— Beleza, agora eu vou matar um pouco a saudade da Lydia. — ela sorri para a mulher, que retribui e vai até ela.
ㅤㅤㅤㅤ— Certo, então vamos todos sair — diz Aurora, tocando no braço de Ashley. — Vem.
ㅤㅤㅤㅤEnquanto olha eles saindo, Lydia se aproxima de Yumi, que vira o corpo para ele após limpar sua boca com lenços e as duas trocam sorrisos e olhares apaixonados, com a asiática logo a envolvendo em seus braços e a puxando para logo um longo e intenso beijo. Depois que os três deixam a sala de aula, Ashley se despede do casal, falando que vai procurar por Jacob e segue pelo corredor, passando e cumprimentando Abraham e Alex, que caminhavam juntos para a porta, mas param assim que veem Aurora a fechando:
ㅤㅤㅤㅤ— Tá tudo bem com a Yumi? — pergunta Alex, olhando para Dylan.
ㅤㅤㅤㅤ— Melhor do que eu esperava. Tá com a Lydia agora.
ㅤㅤㅤㅤ— Então vou deixar pra ver ela depois. Não quero estragar o momento.
ㅤㅤㅤㅤ— Elas merecem. As duas passaram por muita coisa nos últimos dias — Aurora olha para a amiga.
ㅤㅤㅤㅤ— Aí, a gente vai pra Dimper daqui a pouco então, né? — Abraham pergunta para Dylan. — A Mia falou comigo e pediu pra ir junto.
ㅤㅤㅤㅤ— É, eu ia falar com você agora. Vamos aproveitar enquanto ainda é cedo.
ㅤㅤㅤㅤ— Beleza. vai chamar ela então e arrumar a caminhonete — conclui Abraham.
ㅤㅤㅤㅤDylan confirma com a cabeça e olha para Aurora, inclinando a cabeça para o lado, chamando-a para o acompanhar. A médica sorri e se despede, segurando na mão dele e andando ao seu lado. Abraham e Alex os observam se distanciar e depois disso, seguem para a saída da creche após ele pedir ajuda para preparar a Ford Ram. Enquanto eles andam, Alex tira o braço direito de Abraham que estava ao redor do seu ombro e segura sua mão com força, o olhando com um semblante de preocupação. Abraham para de andar e fica diante dela, segurando seu ombro com a canhota:
ㅤㅤㅤㅤ— Tá tudo bem?
ㅤㅤㅤㅤ— Tô preocupada com a Stella.
ㅤㅤㅤㅤ— Aconteceu algo com ela? — a postura de Abraham muda e ele a olha igualmente preocupado. — Ela não tava com a Millie na cozinha?
ㅤㅤㅤㅤ— Sim, mas não é disso que eu tô falando... minha preocupação é que agora estamos à mercê de tudo aqui fora. Por mais que ela saiba dos mortos, não quero que ela fique traumatizada vendo eles e tendo medo de morrer ou que algum de nós morra. — sua voz começa a ficar melancólica.
ㅤㅤㅤㅤ— Ei, vai ficar tudo bem. — Abraham leva a canhota ao rosto dela e acaricia sua bochecha. — Eu vou proteger vocês duas, juro. A Stella não vai precisar viver com medo.
ㅤㅤㅤㅤ— Pra onde a gente vai? Agora que a Yumi acordou, é só questão de tempo até sairmos daqui.
ㅤㅤㅤㅤ— Não parei pra ver isso com o Dylan ainda, mas o único lugar que me vem em mente é o Fort Timothy.
ㅤㅤㅤㅤ— O lugar que o Hooker queria ir antes de ser pego pelos satânicos? Abe... eu não sei se é uma boa ideia...
ㅤㅤㅤㅤ—Eu sei, ainda tenho que ver isso melhor com ele, pra ver se tem um lugar ou ideia melhor. Por hora, ficamos por aqui ainda.
ㅤㅤㅤㅤ— Certo...
ㅤㅤㅤㅤAlex suspira e uma única lágrima cai do seu olho, sendo rapidamente limpa por Abraham, que a encara e aproxima seu rosto do dela, que retribui o gesto, dando início a um longo beijo entre ambos. Eles mal veem o tempo passar enquanto suas línguas se tocam e as mãos dela passeiam por suas costas e braços, enquanto as dele se mantém em sua cintura. É Alex quem decide encerrar o beijo, deitando sua cabeça sobre o seu ombro, o abraçando.
ㅤㅤㅤㅤ— Sabe, a Stella gosta muito de você — ela fala em um tom calmo.
ㅤㅤㅤㅤ— É, eu também gosto daquela princesinha. — Abraham sorri.
ㅤㅤㅤㅤ— Me promete uma coisa — ela se afasta dele o olhando: — caso aconteça algo comigo, cuida da minha filha, por favor.
ㅤㅤㅤㅤ— Que papo é esse, Alex? Eu disse que não vou deixar nada acontecer com vocês.
ㅤㅤㅤㅤ— Por favor, Abe. — Alex põe as mãos sobre o peito do homem. — Me promete.
ㅤㅤㅤㅤ— Tá... eu prometo. Mas vocês duas são minhas prioridades, vou fazer o possível pra que fiquem seguras.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu sei que vai. — ela sorri e lhe dá um selinho. — Agora vamos logo ajeitar a caminhonete antes que os outros apareçam.
ㅤㅤㅤㅤ— Tá bom.
Com a destra sobre a coronha do revólver em seu coldre, Mia caminha pelo pequeno jardim nos fundos da creche, vendo Downs agachado na frente de uma pequena cruz feita de galhos. A mulher suspira e ajeita o boné verde sobre sua cabeça, se aproximando do militar e pondo a canhota em seu ombro.
ㅤㅤㅤㅤ— Ei, você devia vir pra dentro. O sol tá bem quente hoje — diz ela, também olhando a cruz.
ㅤㅤㅤㅤ— Não, eu quero ficar aqui — Downs a responde com uma voz rouca e fraca.
ㅤㅤㅤㅤ— Olha, eu não conhecia o Blake antes, mas ele era gente boa e também tô sentindo a perca dele. Mas você precisa seguir em frente, cara. Ele não ia gostar de ver assim.
ㅤㅤㅤㅤ— O Blake era bem mais do que gente boa, Mia. — ele a encara. — Ele era o irmão que eu sempre quis... o cara me ajudou dentro e fora da guerra. Nós éramos inseparáveis e agora ele tá morto.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu te entendo, também tinha amigos assim, mas eles tão mortos agora. Nós não podemos fazer nada quanto a isso. Só se acostumar com a ausência. — Mia fica em silêncio, esperando alguma resposta vinda do militar, mas acaba se surpreendendo ao escutá-lo fungar em decorrência do breve e controlado choro.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu vou superar... tenho que superar. Mas não vou conseguir isso agora.
ㅤㅤㅤㅤ— Tudo tem seu tempo. — ela aperta seu ombro. — Faz no seu ritmo e tudo vai dar certo. Agora vê se sai desse sol e vai beber água. O que a gente menos precisa é de mais alguém com problemas de saúde aqui.
ㅤㅤㅤㅤNão muito longe da dupla de militares, Thomas entrega uma caixa de enlatados para Elizabeth, que está do lado de fora do caminhão.
ㅤㅤㅤㅤ— Aí, ele tá bem? — a mulher olha para Jacob, que está sentado isolado em um banco de pedra próximo.
ㅤㅤㅤㅤ— Ele tá sentido com a morte da Max. Ele gostava bastante dela. — o Lanson desce do veículo.
ㅤㅤㅤㅤ— Entendi o "bastante" — comenta Elizabeth.
ㅤㅤㅤㅤ— Pois é. Mas é melhor falar com ele. O cara vacilou antes, mas já aprendeu a lição. — Thomas pega a caixa de Elizabeth e começa a caminhar até Jacob, sendo seguido pela loira.
ㅤㅤㅤㅤJacob escuta os passos dos dois sobre as folhas secas e olha para a dupla, corrigindo sua postura e suspirando.
ㅤㅤㅤㅤ— E aí, cara. Tudo em cima? — indaga Thomas, sorrindo simpaticamente.
ㅤㅤㅤㅤ— Na medida do possível — responde. — Todo mundo sabe que tô assim por causa da Max, então vou poupar vocês dos detalhes.
ㅤㅤㅤㅤ— Você nunca teve a chance de falar pra ela o que sentia? — Elizabeth arqueia a sobrancelha.
ㅤㅤㅤㅤ— Ah, você não sabe dos detalhes...
ㅤㅤㅤㅤ— Não.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu amei a Max em segredo por muito tempo. Nunca havia dito nada por besteira minha, eu acho. Quando finalmente criei coragem, tinha feito uma merda grande antes.
ㅤㅤㅤㅤ— Por culpa do Marco — fala Thomas.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu nem penso mais assim. O Marco foi o cabeça, mas eu que aceitei ir na dele. Tava cego de raiva.
ㅤㅤㅤㅤ— O que você fez mesmo? — pede Elizabeth.
ㅤㅤㅤㅤ— Melhor você não saber, eu me envergonho muito por isso.
ㅤㅤㅤㅤ— Se você diz. — ela dá de ombros. — Mas sai daí, tenta fazer algo pra ajudar o grupo.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu vou ficar vigiando quando os outros forem sair pra Dimper. Só tô esperando isso.
ㅤㅤㅤㅤ— Beleza então — fala Thomas. — Vamos terminar de ajeitar umas coisas por aqui. Agora que a Yumi acordou, o pessoal vai começar a falar sobre sair daqui.
ㅤㅤㅤㅤ— Certo, depois eu apareço por lá. — ele permanece sentado e quando Thomas e Elizabeth se afastam, ele torna a ficar curvado e leva as costas da canhota até o nariz, respirando fundo e controlando suas emoções.
ㅤㅤㅤㅤDentro da cozinha da creche, Millie se concentra para tentar encaixar corretamente a peça que segura na mão, ainda na tentativa de montar o quebra-cabeças que Alex deu para ela e Stella se distraírem. Sentada na frente da garota, Stella apoia no cabeça nos bracinhos sobre a mesa, olhando com atenção para a imagem ainda em pedaços. Ambas estão sentadas em bancos de madeira que rodeiam um balcão.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu já sei onde essa vai — diz ela, olhando Millie.
ㅤㅤㅤㅤ— Claro, você já montou isso antes umas... quatro vezes? — Millie continua tentando achar onde a peça se encaixa.
ㅤㅤㅤㅤ— Mentira, foram só duas. — ela mostra os dedos da mão direita, indicando o número.
ㅤㅤㅤㅤ— E eu tô pegando num pela primeira vez. — a jovem finalmente encontra o encaixe certo e põe a peça no lugar, vendo-a completar mais um pedaço da imagem, que ela já consegue identificar como sendo um unicórnio com crina de arco-íris galopando durante a noite repleta de estrelas cadentes.
ㅤㅤㅤㅤ— Você nunca teve um? — a pequena a olha curiosa.
ㅤㅤㅤㅤ— Não. O homem que cuidava de mim só costumava me dar roupas e CDs de músicas.
ㅤㅤㅤㅤ— Mas não é o tio Dylan que cuida de você?
ㅤㅤㅤㅤ— Ah, agora é. Mas nunca tive um quebra-cabeças. — com outra peça em mãos, Millie rapidamente encontra o local onde a mesma se encaixa e conclui a crina do unicórnio. — Tô pegando o jeito.
ㅤㅤㅤㅤ— Minha mamãe disse que ele e a tia Aurora estão namorando. Isso faz dela a sua mamãe agora?
ㅤㅤㅤㅤA pergunta de Stella faz Millie ficar sem palavras ou reação, a não ser olhar para a criança com uma expressão de incerteza. Ela umedece os lábios e desvia o olhar para o quebra-cabeças:
ㅤㅤㅤㅤ— O Dylan não é meu pai... então a Aurora também não é minha mãe.
ㅤㅤㅤㅤ— Minha mamãe também disse que ela e o tio Abe estão "se conhecendo". — ela faz aspas com seus dedinhos. — E que quando eles começarem a namorar, posso chamar ele de papai.
ㅤㅤㅤㅤ— Que bom pra você. — Millie esboça um sorriso. — Mas no seu caso, você tem uma mãe. Eu não tenho nenhum dos dois.
ㅤㅤㅤㅤ— E você não quer? — Stella inclina a cabeça para a direita, em dúvida.
ㅤㅤㅤㅤMillie fica em silêncio novamente, pensando no que dizer. A menina lembra do seu passado, da noite em que Allen lhe deu vários sermões sobre o porquê de eles não poderem se tratar como pai e filha e isso acaba por mexer com seu emocional, mas ela se desvia dessas lembranças no momento em que a porta da cozinha é aberta e Thomas entra com Elizabeth.
ㅤㅤㅤㅤ— Olá meninas. Desculpa atrapalhar o jogo de vocês, mas vou precisar da cozinha agora — diz o homem.
ㅤㅤㅤㅤ— Ah, claro. — Millie se levanta do banco onde estava e começa a guardar o quebra-cabeças na caixa. — A gente começa de novo depois, Stella.
ㅤㅤㅤㅤ— Tá bom. — a menor olha para Elizabeth e estende seus braços. — Me ajuda a descer? — É alto pra mim.
ㅤㅤㅤㅤ— Eh... tá. — Elizabeth segura Stella, a tirando do banco e pondo-a no chão.
ㅤㅤㅤㅤ— Vou levar ela pra Alex — comenta Millie, dando a volta no balcão com a caixa embaixo do braço esquerdo. — Vamos. — ela segura a mão da criança e as duas saem da cozinha.
ㅤㅤㅤㅤ— Não é acostumada a lidar com crianças? — pergunta Thomas, alguns instantes depois delas saírem.
ㅤㅤㅤㅤ— Só prepara logo essa comida — a mulher fala com rispidez e cruza os braços.
***
Depois de alguns minutos, Abraham enfim termina de aprontar a Ford Ram e entra novamente na creche, chamando por Dylan e Mia, que não demoram em ir até o veículo, onde alguns outros integrantes do grupo também se reuniram para se despedirem ou fazerem algum pedido além das listas que a militar já recebeu, com os itens que eles precisam procurar na cidade.
ㅤㅤㅤㅤ— Se lembra de trazer álcool, ok? — Alex aborda Abraham. — Foca nos produtos de higiene.
ㅤㅤㅤㅤ— A Aurora já pediu isso pro Dylan. — Abraham ajeita seu casaco.
ㅤㅤㅤㅤ— Mas é sempre bom reforçar. — ela põe as mãos sobre seu tórax e se aproxima dele, o beijando rapidamente e recuando. — Cuidado lá.
ㅤㅤㅤㅤ— Pode deixar. — ele sorri.
ㅤㅤㅤㅤChegando já quase na saída, Dylan vê Millie encostada em uma coluna, de braços cruzados e parecendo pensativa. Ele então se aproxima da menina e pega em seu ombro:
ㅤㅤㅤㅤ— Tá aqui?
ㅤㅤㅤㅤ— An? Ah... sim, tô. Só tava pensando longe daqui.
ㅤㅤㅤㅤ— É, deu pra ver. — ele apoia as mãos sobre o coldre. — Quer que eu traga algo pra você?
ㅤㅤㅤㅤ— Não precisa. E nem tem nada que eu queira mesmo. — Millie dá de ombros.
ㅤㅤㅤㅤ— Bom, se você diz. — ele bagunça seu cabelo. — Até depois.
ㅤㅤㅤㅤ— Que droga... — ela já desistiu de tentar fugir sempre que Dylan faz esse gesto e apenas ajeita as mechas, o vendo se afastar. — Ei, Dylan.
ㅤㅤㅤㅤ— O que foi? — ele se vira para a jovem.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu posso falar com você quando voltar?
ㅤㅤㅤㅤ— Tá tudo bem? — ele arqueia a sobrancelha.
ㅤㅤㅤㅤ— Tá, tá sim. Quando você voltar, a gente conversa.
ㅤㅤㅤㅤO policial apenas acena com o queixo e, após Millie fazer o mesmo, ele se vira e segue até a caminhonete, embarcando no banco do motorista enquanto Abraham se acomoda no do passageiro e Mia nos bancos de trás. Jacob olha ao redor, vendo se o perímetro está seguro e acena com a destra, indicando que eles podem sair e assim Dylan o faz. A caminhonete se afasta cada vez mais da instituição e no caminho, Abraham se ocupa olhando a paisagem verdejante pela janela da Ford Ram, até que se lembra do que Alex lhe disse mais cedo, e então se vira para Dylan, que está concentrado no caminho.
ㅤㅤㅤㅤ— Ei, quero falar uma coisa com você — diz ele.
ㅤㅤㅤㅤ— Hm.
ㅤㅤㅤㅤ— Pra onde pensa em levar o grupo agora? Aquela creche não é nada segura.
ㅤㅤㅤㅤ— A gente só tá lá agora por causa da Yumi. Ela já acordou e agora a gente pode sair. Mas respondendo à pergunta, ainda não pensei em nenhum lugar.
ㅤㅤㅤㅤ— Acho que um lugar nas montanhas não seria ruim — comenta Mia. — Os sangrentos, com certeza, não se dão bem com subidas íngremes.
ㅤㅤㅤㅤ— Pode ser uma boa, mas estamos bem longe de montanhas com alguma habitação nessa área. — Abraham a olha pelo retrovisor do para-brisas. — Sabe onde eu tava pensando?
ㅤㅤㅤㅤ— Manda — pede a militar.
ㅤㅤㅤㅤ— O Fort Timothy.
ㅤㅤㅤㅤTanto Dylan quanto Mia o olham e ele começa a ficar desconfortável com as encaradas, levando a destra ao queixo e coçando o cavanhaque.
ㅤㅤㅤㅤ— Sabe que esse lugar fica bem longe, né? — indaga Dylan.
ㅤㅤㅤㅤ— Trezentos e vinte quilômetros, pra ser mais exato. Eu mapeei a rota pro Hooker antes dele vazar. — Mia cruza os braços.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu tô ligado dessas coisas. Mas pensem bem: não temos ideia de nada por essas bandas. E mesmo que a gente não chegue no fort, podemos achar outra coisa no caminho, seja um grupo; um acampamento ou sei lá, um local onde a gente fique seguro assim como era a universidade antes dos satânicos a acharem.
ㅤㅤㅤㅤ— Entendo seu ponto, mas uma viagem assim ia exigir mais gasolina do que nós temos. Mesmo a gente deixando um dos carros pra trás, não deve dar pra chegar nem na metade do caminho — Dylan fala reduzindo a velocidade da caminhonete para sair da estrada de terra e virar à direita na pista de asfalto.
ㅤㅤㅤㅤ— Não dá nem pra considerar esse lugar uma opção? — pede Abraham.
ㅤㅤㅤㅤ— Dá sim. Mas vamos ter que fazer outras buscas antes, se formos mesmo pra lá — responde Dylan.
ㅤㅤㅤㅤ— Por ser um lugar comandado por militares, pelo menos eu espero que seja assim ainda, lá, com certeza, deve ser bem protegido para que estranhos não tentem bancar os engraçadinhos. A gente teria que ir com bastante cautela — fala Mia, olhando as fachadas de casas pela janela.
ㅤㅤㅤㅤ— Vamos falar com todos depois e ver o que fazemos daqui em diante. — Dylan começa a parar a Ford, próximo de outros carros abandonados. — Por hora, vamos nos concentrar só sem pegar mais mantimentos. — ele tira a chave da ignição.
ㅤㅤㅤㅤOs três descem da caminhonete e vão até a caçamba, onde cada um pega uma mochila e também suas armas, com Dylan avisando para que eles deem prioridade para as armas brancas, já que o barulho pode atrair sangrentos para a região e atrapalhar os planos que eles têm. Depois de caminharem por alguns minutos, eles acham sua primeira parada, um mercado com o letreiro escrito "Central" que, a julgar pelo tamanho do prédio — mais de trinta metros de largura e com um estacionamento repleto de carros e caminhões abandonados —, deve estrar ainda com boa parte do seu estoque nas prateleiras.
ㅤㅤㅤㅤ— As vitrines tão quebradas, mas não parece ter muita coisa andando lá dentro — fala Abraham, caminhando junto dos outros dois e segurando firme o cabo da sua machete.
ㅤㅤㅤㅤ— Você vai procurar as coisas de limpeza, Mia vai atrás de água e eu pego comida. Se esse lugar aqui for bom, eu volto pra pegar a caminhonete e a gente abastece tudo daqui — comenta Dylan, olhando os interiores dos carros e achando alguns cadáveres com marcas de tiros em suas cabeças.
ㅤㅤㅤㅤ— Bom plano. Bom que a gente volta mais rápido pros outros. — Mia puxa uma faca de caça do seu coldre começa a pisar nos cacos de vidro espalhados pelo piso.
ㅤㅤㅤㅤDylan iluminaria o caminho com sua lanterna, mas desiste assim que entra no mercado, ao olhar para cima, podendo ver um enorme buraco na cobertura de metal, provavelmente aberto pelo peso da neve. A abertura permite que a luz do sol ilumine quase todo o interior do estabelecimento, bem como as vigas de ferro caídas sobre prateleiras destruídas e alguns canibais vagando pelos corredores.
ㅤㅤㅤㅤ— Bom, não é muito uma mina de ouro agora, mas ainda deve ter o que aproveitar aqui. — Abraham coça a nuca com a canhota.
ㅤㅤㅤㅤ— Vamos matar os andarilhos e fazer a procura — declara Dylan, girando a faca em sua mão e avançando pelos caixas.
ㅤㅤㅤㅤVendo o policial indo pelo meio, Mia fala que vai seguir pela esquerda e Abraham entende a ideia, andando pela direita dos caixas. As vozes dos três humanos ecoando dentro do mercado são o bastante para atiçar os nove sangrentos — entre civis e funcionários —, que começam a se separar entre suas potenciais vítimas.
ㅤㅤㅤㅤVendo dois deles vindo na sua direção, Mia se apressa e quando está na frente do errante mais próximo, ela espera que a criatura erga os braços e, agilmente, projeta seu corpo para a esquerda, dando a volta nele e acertando sua faca na nuca do canibal, a puxando junto de um filete de sangue antes que o corpo caia no piso empoeirado. Ao ver o segundo sangrento, ela usa seu antebraço para manter o pescoço dele longe de si e ganha tempo o bastante para cravar a lâmina suja na sua testa, deixando-o cair logo em seguida.
ㅤㅤㅤㅤJá Dylan tem na sua frente um trio de errantes vestidos com o uniforme dos funcionários do mercado e caminha rapidamente até o primeiro, segurando seu ombro e já o matando com uma estocada da sua faca no olho esquerdo do sangrento, o empurrando para cima da jovem de cabelos cacheados que vinha logo atrás, derrubando os dois no piso manchado pelos líquidos das garrafas que caíram do corredor de bebidas. Com seu caminho livre até o terceiro, ele puxa e gira a faca na destra, golpeando o homem calvo e de óculos no queixo e o empurrando contra a prateleira, derrubando outras garrafas que se esfarelam no chão.
ㅤㅤㅤㅤ— Tudo certo por aí?! — exclama Abraham, após ouvir as garrafas caindo.
ㅤㅤㅤㅤ— Positivo — Dylan também fala alto e puxa sua arma, finalizando o errante com um golpe no topo da sua cabeça. Por fim, ele larga o corpo sobre os líquidos misturados no piso e vai até a cacheada, também dando um fim ao seu sofrimento.
ㅤㅤㅤㅤ— Maravilha! — Abraham puxa seu facão do pescoço de uma mulher de vestido, decepando sua cabeça no processo e, com outro golpe limpo, arranca o topo da cabeça careca de um homem vestido com trajes sociais e uma gravata, deixando-o cair sobre uma caixa de papelão. Ele faz uma expressão de nojo ao ver o cérebro putrefato do sangrento transbordar da sua caixa craniana. Ao final do corredor de laticínios, ele pode ver os dois últimos andarilhos do mercado e segue até a dupla.
***
Depois de colocarem todas as conversas e algumas carícias em dia, Yumi e Lydia aproveitaram o tempo que ainda tinham para agora, organizarem e guardarem os utensílios de Aurora, para agilizarem os preparativos para que o grupo deixe a creche nos próximos dias. Elas estão quase acabando, quando escutam batidas na porta e se viram, vendo a mesma ser aberta devagar e Millie inclinar o corpo para dentro da sala, olhando diretamente para Yumi e sorrindo.
ㅤㅤㅤㅤ— Millie! — a morena também sorri e caminha na direção da menor, já abrindo os braços.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu tava morrendo de saudade de você! — exclama Millie, correndo até ela e a abraçando com cuidado, mas com força. — Tava esperando uma boa hora pra vir te ver.
ㅤㅤㅤㅤ— Bom, a hora finalmente chegou. — Yumi a aperta.
ㅤㅤㅤㅤ— Conta pra ela sobre como você ajudou os outros lá na faculdade — pede Lydia, com as mãos nos bolsos de trás da calça.
ㅤㅤㅤㅤ— Quando você foi ferida? — a asiática a olha. — Eu soube, já.
ㅤㅤㅤㅤ— Você tá por fora, amor. A Millie meteu uns tiros no Lúcios quando ele invadiu a faculdade.
ㅤㅤㅤㅤ— Caralho, tá falando sério? — ela se vira e olha com espanto para Millie, a segurando pelos ombros. — Só um buraco que você abriu nele foi pouco mesmo.
ㅤㅤㅤㅤ— É, pena que nem todo mundo conseguiu sair de lá — Millie fala se referindo a Max e Blake.
ㅤㅤㅤㅤ— Sim, infelizmente. Mas, pelo menos, isso tudo acabou. Não têm mais fanáticos doentes atrás da gente.
ㅤㅤㅤㅤ— Aham, e você tá aqui de volta. — ela sorri e a abraça novamente.
ㅤㅤㅤㅤ— E não vou apagar de novo. — Yumi ri.
ㅤㅤㅤㅤ— Esperamos que sim — conclui Lydia, se aproximando delas.
ㅤㅤㅤㅤ— Mas me conta, como tão as coisas entre você e o Dylan? Seguem bem como quando eu me lembrava? — Yumi se separa novamente de Millie e se curva, apoiando as mãos nos joelhos e ficando da altura da garota.
ㅤㅤㅤㅤ— Ah, tá bem. Ele me ajudou quando achávamos que você tava morta e sempre ficou perto de mim quando podia. E eu melhorei com a arma. Quando atirei no Lúcios, foi pra salvar a Elizabeth, que tava ferida.
ㅤㅤㅤㅤ— Ah, é mesmo. Eu quero conhecer essa Elizabeth, agradecer por ter ajudado o grupo. — Yumi se vira para Lydia. — Me mostra ela depois?
ㅤㅤㅤㅤ— Depois, ok? Primeiro quero falar algo com você... em particular. — ela olha para Millie.
ㅤㅤㅤㅤ— Ah, claro. Eu... vou sair. — Millie entrelaça os dedos e olha para Yumi. — A gente conversa depois. — ela sorri para a mulher e se vira, indo até a porta e sendo seguida por Lydia, que fecha e tranca a mesma, olhando Yumi por cima do ombro.
ㅤㅤㅤㅤ— O que quer conversar? Tá tudo bem? — a asiática arqueia a sobrancelha.
ㅤㅤㅤㅤ— Tá sim, só quero falar uma coisa rápida... — ela se vira, ficando de frente. — Acho que os dias que passei sem você foram os piores da minha vida. Desde quando eu fui expulsa de casa, que não ficava tão triste, achando que você ia morrer ou... nunca mais acordar e aí alguém teria que te matar... — seus olhos começam a lacrimejar.
ㅤㅤㅤㅤ— Ei... — Yumi se aproxima dela e põe a destra em seu rosto, enxugando as lágrimas. — Eu disse que não ia te deixar viver num mundo sem mim, não foi? E eu tô aqui agora, pronta pra manter minha promessa. Eu te amo, Lydia. Desde que dependa só de mim, eu nunca vou te abandonar.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu te amo tanto... — ela sorri e segura a mão da mulher.
ㅤㅤㅤㅤ— Agora vem cá, meu bem. — sorrindo, Yumi deixa seu corpo rente ao dela e as duas começam a se beijar como já não faziam há muito tempo. Tomando cuidado para não encostarem nos ferimentos uma da outra, elas deslizam suas mãos em várias partes dos corpos e sentem um familiar calor as envolver, fazendo-as pararem o beijo e se encararem:
ㅤㅤㅤㅤ— Acha que podemos? — Lydia sussurra.
ㅤㅤㅤㅤ— A porta tá trancada e não desfizeram aquela cama improvisada ali. E além do mais — ela aproxima sua boca da orelha dela, sussurrando: —, você já me deixou molhada. — e a morde.
ㅤㅤㅤㅤCom um suspiro e um sorriso malicioso, Lydia envolve os braços ao redor do pescoço de Yumi, iniciando um novo — e mais quente — beijo, sentindo as mãos dela em sua cintura. As duas andam juntas e sem se soltarem até que Yumi sente a borda da cama e se senta na mesma, colocando Lydia entre as suas pernas. As peças de roupas vão sendo soltas no chão e um momento de reencontro se inicia entre ambas, que embora precisem se conter para não chamarem a atenção, aproveitam ao máximo enquanto podem.
***
Com todos os sangrentos do mercado mortos, o trio começou a pilhar as prateleiras, colocando todos os itens aproveitáveis que puderam achar em carrinhos do próprio mercado. Felizmente, as suspeitas de Dylan sobre o estoque do local estavam corretas e foi preciso buscar a Ford Ram para perto de estacionamento, onde eles começaram a encher a caçamba com as caixas de comida enlatada, pacotes de biscoitos, caixas de cereais, garrafas de água e suco, além de dezenas de rolos de papel higiênico, caixas de lenços e garrafas de álcool.
ㅤㅤㅤㅤ— Acho que não vejo tanta coisa achada assim desde aquele dia em Nolbank City, quando a Ashley levou a gente pro Piggy Wiggly. — Abraham coloca outra caixa com latas de frutas em conserva na caçamba.
ㅤㅤㅤㅤ— A primavera começou tem só um mês, eu acho. As coisas que ficaram presas pela neve ainda são vastas. Mas não vai demorar até a gente começar a achar uns lugares vazios e saqueados — fala Mia, apoiada na lateral da Ford.
ㅤㅤㅤㅤ— A gente já pode voltar daqui, mas ainda acho que vale a pena dar umas olhadas por aí. Queria pegar umas garrafas de whisky pra mim e pro pessoal que curte. — Abraham salta da caçamba.
ㅤㅤㅤㅤ— Tem várias garrafas lá dentro. — Dylan aponta para o mercado.
ㅤㅤㅤㅤ— Whisky de supermercado? Sério? Essas porcarias saem da fábrica direto pras prateleiras. Eu quero é aqueles de bar de fundo de quintal, que já tão cobertos de poeira há meses.
ㅤㅤㅤㅤ— Olha, eu concordo com ele. E faz muito tempo que não tomo isso. — Mia fita o homem.
ㅤㅤㅤㅤ— O Dylan não bebe, então fica aqui vigiando a caminhonete. — Abraham dá um leve tapa nas costas do amigo.
ㅤㅤㅤㅤ— Tá, vão lá. — ele os olha. — Só não demorem. No caminho pra cá, vi uma loja que quero dar uma passada. É aqui perto.
ㅤㅤㅤㅤ— Beleza, a gente volta logo. — Mia põe sua mochila nas costas novamente e segue Abraham.
ㅤㅤㅤㅤSozinho, Dylan começa a se afastar da caminhonete e segue dois quarteirões até a esquina que usou para ir com a caminhonete até o mercado, entrando em uma rua repleta de carros dos dois lados e lojas com as fachadas nas mais variadas situações, sejam fechadas por tapumes, saqueadas e poucas ainda intactas. Ele não consegue escutar nenhum som que indique a presença de sangrentos ou qualquer outro ser e continua andando até o final da rua, entrando à direita e já vendo a fachada de uma pequena livraria e entrando, com o pensamento de achar algo que Millie possa gostar.
ㅤㅤㅤㅤOlhando as estantes quase lotadas — a última coisa que as pessoas pensaram em levar para a sua sobrevivência eram livros —, ele para na frente da prateleira com exemplares de fantasia e começa a olhar os títulos parcialmente iluminados por feixes de luz vindos da porta e das janelas. Embora nunca tenha sido um leitor voraz, ele tenta buscar algum que seja de fácil entendimento para Millie e que também a ajude com seus aprendizados. Ele para sua procura quando vê um exemplar que parece estar perdido no meio de vários livros de "Harry Potter"; "O Senhor dos Anéis"; e "O Hobbit", ele puxa um livro de capa colorida, estampando um jardim florido e uma jovem rodeada de pássaros e borboletas, caminhado até uma casa ao fundo.
ㅤㅤㅤㅤNo título, ele pode ler "Anne de Green Gables" e decide que levará o exemplar consigo, mas antes que possa tirar sua mochila das costas para guardá-lo, o som de passos o faz ficar em alerta, mas sem tempo de reagir antes de escutar uma voz masculina:
ㅤㅤㅤㅤ— Seguinte, camarada, eu não quero problema, a arma é só por proteção. Eu só quero suprimentos e talvez alguma munição... então, dá pra me ajudar?
ㅤㅤㅤㅤDylan se vira e fica de frente para o homem de cabelo castanho claro penteado para o lado, vendo-o apontar uma Colt 1911 na sua direção. Ele permanece imóvel, encarando o desconhecido que parece ligeiramente apreensivo.
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