.8: Busca e Destruição
— Kelly! Anda logo, amigão, fica comigo! — Jason resmunga. — Porra, por que tem que ser tão pesado? — o policial usa toda a sua força para puxar o braço direito de Kelly, até conseguir fazer o homem cair da caçamba de lixo.
ㅤㅤㅤㅤOs dois ficam deitado sobre a neve e Jason olha o céu já escuro e com flocos de neve caindo aos poucos. Ele respira fundo e sente a dor na sua testa, bem onde foi golpeado duas vezes pelo asiático Omoi. Ele então se levanta, indo até o bombeiro e segurando seus pulsos.
ㅤㅤㅤㅤ— Vou te levar lá pra dentro, vamos. — mesmo com dificuldade, ele consegue puxar Kelly, devagar.
ㅤㅤㅤㅤ— Tá bem, cara… deixa que eu mesmo ando… — a voz do bombeiro sai fraca e ele se solta de Jason.
ㅤㅤㅤㅤ— Espera... você tava acordado esse tempo todo?? — indaga o homem, vendo Kelly se levantar.
ㅤㅤㅤㅤ— Não o tempo todo, mas desde antes de você aparecer na caçamba.
ㅤㅤㅤㅤ— Quê?? Então por que não saiu de lá?
ㅤㅤㅤㅤ— Eu tava no meu lugar. Como aquele cara disse. — Kelly abaixa a cabeça.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu tô cagando e andando pro que aquele cara disse, porra. Vem, você é bombeiro, pode ajudar a Sarah. — Jason o chama com a destra e caminha até a entrada da loja de conveniência.
ㅤㅤㅤㅤAo passarem pela entrada destroçada, eles podem ver Sarah sentada em um banco, ao lado do balcão onde está o kit de primeiros-socorros que ela usou com Jason horas antes. A militar tirou seus casacos e mantém a blusa branca levantada até a altura dos seios, enquanto limpa seu próprio ferimento.
ㅤㅤㅤㅤ— Merda, Sarah, eu disse que não devia se mexer. — Jason abeira a mulher.
ㅤㅤㅤㅤ— Você ia levar a noite toda só pra arrastar o Kelly até aqui — diz ela, tirando o algodão sujo de sangue do seu corte.
ㅤㅤㅤㅤ— Tá, deixa que eu cuido disso pra você. — Kelly se aproxima de Sarah, que pode ver o rosto machucado do amigo, iluminando pela lixeira em chamas.
ㅤㅤㅤㅤ— Aqueles dois… levaram o Demônio Vermelho e tudo o que tava dentro dele. Foi sorte não terem entrado aqui. — comenta Jason, com as mãos na cintura. — Ou então teriam deixado a gente sem absolutamente nada.
ㅤㅤㅤㅤ— Será que eles já estavam nos seguindo? Tinham um plano de distração e tudo… — diz Sarah.
ㅤㅤㅤㅤ— Estavam nos seguindo desde New Greenfield. O cara grande, Owen, me disse. O outro se chama Omoi. — Kelly mantém seus olhos no ferimento de Romero, terminando a assepsia. — Falaram que queriam a caminhonete pra poderem sair daqui, já que o trailer deles atolou na neve.
ㅤㅤㅤㅤ— Filhos da puta… temos que ir atrás deles e pegar o Demônio Vermelho de novo. — Jason caminha até a porta, pisando nos cacos de vidro.
ㅤㅤㅤㅤ— Tá maluco? Nós nem temos mais armas. — o bombeiro olha seu amigo de costas, depois que termina de limpar o ferimento de Sarah.
ㅤㅤㅤㅤ— Nós estamos à oitenta quilômetros da Colonial, eu vi o mapa… não podemos desistir agora.
ㅤㅤㅤㅤ— Não sei se você entendeu, Jason, mas nós tivemos sorte de sair vivos dessa vez. Se os encontrarmos de novo, podemos ser mortos. — Kelly fica em pé.
ㅤㅤㅤㅤ— Olha, Jason, o Kelly tem razão. Nós demos sorte de sairmos vivos.
ㅤㅤㅤㅤ— Não, vocês é que não tão entendendo. Aqueles dois idiotas mexeram com as pessoas erradas. — Jason se vira e os encara: — Nós vamos achá-los e pegar de volta o que é nosso — e fala com determinação.
ㅤㅤㅤㅤ— Ah, não… — diz Sarah.
ㅤㅤㅤㅤ— O que foi? — Kelly a olha.
ㅤㅤㅤㅤ— Jason tá falando muito sério… ele quer mesmo ir atrás deles.
ㅤㅤㅤㅤ— É claro que quero. A gente só apanhou desde que começamos essa viagem. Tá na hora de bater também.
ㅤㅤㅤㅤ— Mas você quer bater logo no Owen? — Kelly o encara.
ㅤㅤㅤㅤ— Ah, vai à merda, Kelly! — pela primeira vez, Jason fala com uma raiva genuína. — Para de se lamentar aí porque levou uns tapas. E daí? Pensa nas vezes em que você desmontou alguém na porrada pra ajudar alguém ou se ajudar. Você não é um inútil só porque apanhou pra Ny ou pra esse tal Owen. Você pode e vai revidar isso.
ㅤㅤㅤㅤ— Jason… eu não acho que seja uma boa ideia.
ㅤㅤㅤㅤ— Puta que pariu! Sua mãe pariu um homem ou um galinha?? — ele aponta o indicador na direção do bombeiro.
ㅤㅤㅤㅤ— Como é que é? — Kelly o encara, sério.
ㅤㅤㅤㅤ— É… — Jason hesita. — isso aí! Ela aguentou um frangote na barriga durante nove meses?
ㅤㅤㅤㅤ— Cara… — Kelly começa a andar até Jason.
ㅤㅤㅤㅤ— Vocês dois, não! — Sarah se levanta do banco, mas sente seu ferimento doer e volta para o mesmo.
ㅤㅤㅤㅤ— Tá tudo bem, Sarah. Do jeito que nosso amigo João Frango tá, até eu consigo ganhar dele. — Jason começa a imitar uma galinha enquanto caminha na direção de Kelly.
ㅤㅤㅤㅤ— Seu filho da puta! — Kelly ergue o braço direito e o desfere contra Jason.
ㅤㅤㅤㅤ— Kelly! — Grita Sarah.
ㅤㅤㅤㅤÁgil, mas desengonçado, Jason recua para trás instantes antes e consegue desviar do soco de Kelly. O punho do bombeiro atinge a prateleira à esquerda dos dois e faz a mesma ser jogada, se chocando contra as geladeiras. Os vidros das mesmas racham e os produtos da prateleira se espalham pelo piso.
— Isso! Ou, ou! ei!! EI!!! — Jason sente as pesadas mãos de Kelly o agarrarem pelo moletom e o bombeiro o empurra contra a parede ao lado da porta, o levantando.
ㅤㅤㅤㅤ— Omoi bateu forte demais na sua cabeça, não foi? Perdeu o juízo, cara?!
ㅤㅤㅤㅤ— Kelly, para com isso! — Sarah suplica, mas pode apenas olhar os dois.
ㅤㅤㅤㅤ— Não, Sarah, eu consegui o que eu queria. — Jason sorri, erguendo a destra para a mulher, indicando que está tudo bem.
ㅤㅤㅤㅤ— Queria estar a ponto de levar uma surra? — pergunta Kelly, furioso.
ㅤㅤㅤㅤ— Puff... claro que não, cara. Eu queria soltar a sua fúria; seu poder oculto! Igual o Gohan na saga do Cell. Viu o que você fez ali? — ele inclina a cabeça para a direita, onde está a prateleira. — Você pode com esse Owen. Garanto que se você tiver motivado, vai detonar ele. Eu confio em você, Kelly… nós dois confiamos. Agora confia em mim e vamos nessa!
ㅤㅤㅤㅤO interior da conveniência mergulha em silêncio enquanto Kelly abaixa a cabeça, pensativo. Jason continua sorrindo e Sarah olha os dois. Alguns segundos depois, o bombeiro desce Jason e se afasta dele.
ㅤㅤㅤㅤ— E aí, o que me diz?
ㅤㅤㅤㅤKelly fica em silêncio e se afasta um pouco de Jason, com os punhos fechados. Ele se lembra do combate que teve contra Ny e do mais recente contra Owen e isso acende uma chama de raiva e determinação dentro de si. Ele vai mostrar que não é um perderdor.
ㅤㅤㅤㅤ— Vamos nessa.
ㅤㅤㅤㅤ— Aê moleque! — Jason comemora. — E você, Sarah? — ele olha a militar, que ri para eles.
ㅤㅤㅤㅤ— Tá… que escolha eu tenho? Vamos nessa!
ㅤㅤㅤㅤ— UHUUL!!! — O policial ergue os punhos.
***
Após os três sobreviventes tratarem seus machucados, Kelly cuidou de fazer ligação direta em um dos carros que estava abandonado no posto e, embora o Volkswagen Routan estivesse parado há dias, o veículo ainda estava funcionando. Já com um transporte, eles juntaram todos os suprimentos que ainda estavam na loja de conveniência e deixaram o posto, seguindo a mesma estrada de volta para New Greenfield. Já passava das 20:00 horas, horário local, quando eles chegaram na cidade, sempre seguindo pelo trajeto sem neve, que indicava o caminho que Owen e Omoi seguiram.
ㅤㅤㅤㅤOs faróis da Routan iluminam as ruas cobertas de neve e, ao volante, Jason mantém a visão fixa nos montes que se formaram após a passagem da Nissan vermelha. Quando chega próximo de um cruzamento, ele reduz a velocidade e para o veículo.
ㅤㅤㅤㅤ— O que foi? Por quê paramos? — pergunta Kelly, no banco de trás.
ㅤㅤㅤㅤ— Repara ali, tá vendo que a neve tá mais junta? — Jason aponta para a neve que foi jogada pela pá.
ㅤㅤㅤㅤ— E o que isso tem?
ㅤㅤㅤㅤ— Eles reduziram a velocidade pra fazer essa curva.
ㅤㅤㅤㅤ— Grande observação… e o que se faz quando é pra fazer uma curva. — Diz Sarah, no banco do passageiro.
ㅤㅤㅤㅤ— Mas nas outras curvas que vimos, a neve tava mais espalhada. Isso significa que estamos próximos. — Jason desliga os faróis da minivan e abre a porta.
ㅤㅤㅤㅤ— Espera aí. — Kelly também desembarca, seguido por Sarah.
ㅤㅤㅤㅤO trio caminha no ritmo da militar até o edifício que está à direita; mesma direção da curva feita pela caminhonete. Armados com suas pistolas — deixadas pelos dois ladrões —, eles observam agachados o caminho limpo seguir até o que parece ser uma construção.
ㅤㅤㅤㅤ— Bingo! — Jason sussurra alegre. — Achamos eles.
ㅤㅤㅤㅤ— Tem certeza? — Sarah observa a edificação de quatro andares, onde dois deles estão apenas com as vigas e os pisos armados, junto de algumas paredes.
ㅤㅤㅤㅤ— É claro que tenho. Olha ali na entrada, eles devem ter usado o Demônio Vermelho pra juntar toda aquela neve. Os dois devem estar lá dentro agora, comendo da nossa comida...
ㅤㅤㅤㅤ— Tá, mas como a gente vai fazer pra pegar nossas coisas? Só temos pistolas — sibila Kelly.
ㅤㅤㅤㅤ— Vamos voltar pra minivan, quando chegamos aqui, eu vi uma delegacia na entrada da cidade. O caminho até lá já tá limpo mesmo, então vai ser fácil. Se dermos sorte, encontramos equipamento tático e nos igualamos a eles.
ㅤㅤㅤㅤ— Beleza, vamos indo então, preciso ver de novo o meu ferimento — diz Sarah.
ㅤㅤㅤㅤ— Ok, vai no banco de trás com o Kelly e ele te ajuda. Vamos nessa. — Jason fica de pé e começa a andar até a Routan branca, seguido pelos demais.
O caminho que a minivan faz é escuro e solitário. A neve cai com um pouco mais de intensidade e o vento faz os galhos secos de algumas árvores balançarem. É sob uma delas que repousa o cadáver de um infectado, com a cabeça coberta de neve e gelo. Os faróis da Routan iluminam o infectado assim que o veículo para no estacionamento do departamento policial. Jason desliga as luzes e abre a porta do passageiro, subindo as golas da sua jaqueta para se proteger do frio.
ㅤㅤㅤㅤ— Acha que vai ter algo aqui? — indaga Sarah, do outro lado do carro.
ㅤㅤㅤㅤ— É a nossa melhor opção, de qualquer forma. — Kelly destrava seu revólver e caminha até a pequena escadaria de concreto, começando a subir os seis degraus.
ㅤㅤㅤㅤ— Vem. — Jason olha Sarah e os dois seguem com suas pistolas em mãos.
ㅤㅤㅤㅤO interior da delegacia é levemente menos frio que o exterior, mas em compensação, é bem mais escuro e amedrontador. Por sorte, Sarah vasculhou o balcão da recepção e conseguiu encontrar uma pequena lanterna que embora apresente falhas, ainda serve para eles usarem enquanto caminham mais para dentro do edifício de um único andar.
ㅤㅤㅤㅤ— Ei, ilumina aqui — pede Jason, caminhado até um balcão protegido por um vidro.
ㅤㅤㅤㅤ— Tá. — assim que Sarah mira o feixe de luz, os três podem ver vários estandes de armas através do vidro. Porém, poucas unidades ainda restaram dentro do arsenal.
ㅤㅤㅤㅤ— Bom, vai ter que dar. Só temos que dar um jeito de entrar — diz o policial, com as mãos na cintura.
ㅤㅤㅤㅤ— Vamos dar a volta, talvez a porta esteja por lá — sugere Kelly.
ㅤㅤㅤㅤO trio segue a dica do bombeiro e caminham para o corredor da direita, vendo três cadáveres de policiais caídos no piso gelado, um deles sem a cabeça e outros dois com marcas de tiros na testa e nuca. O cheiro é horrível e as paredes estão pintadas de sangue. Eles passam direto pelos corpos e findam por darem a volta, achando uma porta onde Sarah mira o feixe da lanterna, permitindo que todos possam ler “Arsenal” escrito em uma pequena placa ao lado da entrada. Kelly é o responsável por abrir a porta com um chute, fazendo a mesma bater com força na parede à esquerda. Os três então entram e se espalham pelo arsenal quase esgotado.
ㅤㅤㅤㅤ— Devem ter levado a maioria das armas boas pra linha de frente — comenta Kelly, pegando uma Mossberg 590 e engatilhando a arma, mesmo descarregada.
ㅤㅤㅤㅤ— É, mas eles deixaram o melhor aqui — Jason fala com animação.
ㅤㅤㅤㅤ— Achou uma bazuca? — Sarah mira a lanterna nele.
ㅤㅤㅤㅤ— Melhor ainda. Temos os trajes táticos! — Jason sai da frente do armário que abriu antes, deixando a luz da lanterna iluminar os uniformes e placas de kevlar pretos.
ㅤㅤㅤㅤ— Ain… — Sarah exala desanimação.
ㅤㅤㅤㅤ— Ah, qual é? Pelo menos vamos estar estilosos. — Jason continua sorrindo.
ㅤㅤㅤㅤ— Vamos morrer com estilo, você quis dizer. — Kelly vai juntando as armas sobre uma mesa.
ㅤㅤㅤㅤ— Escuta, Jason. — Sarah se aproxima dele. — A gente pegou os suprimentos do posto e já temos algumas armas também. A gente pode tentar… sei lá, achar um veículo que consiga andar nessa neve toda.
ㅤㅤㅤㅤ— Ah, não, Sarah. Agora é você que tá dando pra trás? Me escuta, — ele põe as mãos nos ombros da mulher. — a gente vai conseguir. Eu tenho um plano.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu ainda não sei… quero dar o troco naqueles caras, mas tenho medo de acontecer algo.
ㅤㅤㅤㅤ— A única coisa que vai acontecer é a gente descer o cacete naqueles dois.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu concordo. — Kelly pega todas as caixas de munição que encontra em um armário e se vira para os dois. — Eu tô com raiva, quero descontar naquele Owen metido à besta. — ele põe as munições sobre a mesa.
ㅤㅤㅤㅤ— Esse é o espírito, grandão. — Jason solta Sarah e caminha até ele, animado. — O Kelly tá furioso, não é?
ㅤㅤㅤㅤ— É, o Kelly tá furioso!
ㅤㅤㅤㅤ— Aí sim, já entrou no clima, agora toca aqui! Vamos acabar com eles.— ele ergue a palma direita para Kelly.
ㅤㅤㅤㅤ— Isso aí! — o bombeiro também ergue a palma destra e faz o high-five com Jason, mas acaba por usar muita da sua força no golpe, fazendo o barulho ecoar por toda a sala.
ㅤㅤㅤㅤ— Ai meu Deus…! — Jason segura sua mão direita e se curva, sentindo uma forte dor. — Quase arrancou a minha mão… — ele se controla.
ㅤㅤㅤㅤ— Ah, cara… foi mal. — Kelly se aproxima dele.
ㅤㅤㅤㅤ— Não, tá tudo bem… só… usa essa mesma força contra eles e vai dar tudo certo. — ele sorri para Kelly, mas não esconde a dor que sente.
ㅤㅤㅤㅤOs três sobreviventes então começam a se prepararem para o eventual confronto que os espera. Jason separa os trajes especiais para eles e veste as fardas pretas no vestiário masculino enquanto Kelly e Sarah municiam as armas. O policial calça as botas de cano longo e amarra firme os cadarços, para depois vestir o colete à prova de balas junto das cotoveleiras e joelheiras. Por fim, ele calça as luvas com revestimento de kevlar e sai do vestiário carregando o capacete com a destra e uma lanterna na canhota, que achou dentro de uma caixa na sala de armas. Ao chegar novamente no arsenal, vê as armas já dentro das bolsas e Sarah pegando as roupas no armário.
ㅤㅤㅤㅤ— É isso aí, a gente vai ficar no estilo — diz o homem.
ㅤㅤㅤㅤ— Nenhuma dessas blusas cabe em mim. Vou usar só o colete. — Diz Kelly.
ㅤㅤㅤㅤ— Quê? Não pode, somos um trio, temos que estar combinando.
ㅤㅤㅤㅤ— A única coisa que devíamos combinar aqui é o plano. — Sarah pega a lanterna menor e caminha até a saída.
ㅤㅤㅤㅤ— Tá, ok… quando voltar, a gente fala do plano. — Jason vê Sarah se aproximando e dá passagem.
ㅤㅤㅤㅤ— Ei, esperem aí. Eu quero falar com vocês. — pede Kelly, olhando os dois parados na porta.
ㅤㅤㅤㅤ— O que foi? — pergunta a soldado.
ㅤㅤㅤㅤ— Quero pedir desculpas pra vocês. Sei que só queriam me ajudar, eu que fui cabeça dura e não quis… achei que ia conseguir lidar sozinho, mas eu precisava de amigos como vocês, pra me mostrar que tava errado.
ㅤㅤㅤㅤ— Owwwwn… sabia que tinha um coração embaixo de tanto músculo. — Jason sorri, de braços cruzados.
ㅤㅤㅤㅤ— A gente sempre vai pensar e fazer o melhor pro grupo, Kelly. Afinal, somos uma equipe — conclui Romero, também sorrindo.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu… também queria saber se podem reconsiderar o que eu falei sobre cada um seguir seus rumos. — o bombeiro os encara, visivelmente arrependido pelo que disse antes.
ㅤㅤㅤㅤ— Reconsiderar? — Jason olha Sarah, fingindo estar confuso e depois se volta para Kelly. — Ninguém nem considerou isso.
ㅤㅤㅤㅤ— Ainda bem… não sei se iria conseguir ficar longe de vocês. São o meu casal favorito. — ele sorri.
ㅤㅤㅤㅤJason e Sarah ficam desconsertados com a fala de Kelly e começam a se atropelarem nas próprias palavras.
ㅤㅤㅤㅤ— E--eu vou me trocar. Já venho e aí você passa o plano, Jason. — Sarah sai da sala.
ㅤㅤㅤㅤ— Claro, não vamos sair daqui. — Jason permanece perto da porta e olha Kelly, que sorri orgulhoso enquanto veste o colete à prova de balas. — Você me paga, grandão. — Ele sorri forçadamente.
ㅤㅤㅤㅤ— Só tô ajudando.
ㅤㅤㅤㅤ— Sei…
***
Depois que Sarah vestiu o uniforme tático e voltou até o arsenal, Jason explicou o seu plano, que foi descrito como “idiota e suicida” pela mulher, mas que no final, foi aceito por ser a única ideia que o grupo tinha. O trio então deixou a delegacia e embarcou no Volkswagen Routan, pilotado por Jason até a mesma esquina onde eles pararam da última vez. A neve deu uma pausa e apenas o vento se torna um problema em relação ao frio, mas os três estão bem agasalhados.
ㅤㅤㅤㅤ— Ok, parem aqui. — Jason se agacha atrás de um Hyundai Tucson preto quase enterrado na neve.
ㅤㅤㅤㅤ— Consegue ver algo? — Pergunta Sarah, se agachando junto de Kelly.
ㅤㅤㅤㅤ— Sim, Demônio Vermelho avistado. Tá parado de frente com o primeiro andar do que parece ser… eu não sei o que é aquele prédio.
ㅤㅤㅤㅤ— Ninguém liga pra isso, cara. Só vamos logo fazer isso.
ㅤㅤㅤㅤ— Certo, exatamente como eu expliquei, entenderam? Vamos lá. — Jason passa a bandoleira de uma escopeta pelo seu ombro e começa a andar apressado até a entrada coberta por uma pequena montanha de neve.
ㅤㅤㅤㅤKelly também avança na direção da construção rodeada por uma cerca de madeira, mas vai mais para a esquerda da mesma, enquanto Sarah destrava um fuzil M-16 equipada com uma mira de zoom 3x, se mantendo agachada atrás do Tucson, mas ainda com seus olhos seguindo Jason. O policial saltou o monte de neve na entrada e segura a escopeta com as duas mãos, caminhando agachado até a Titan. Atento com qualquer movimentação, ele vê um pequeno contêiner à vinte metros na sua esquerda, com porta e janelas, mas nenhuma luz dentro do mesmo. Sem perceber ninguém além de si próprio, Jason chega na caminhonete sem nenhum empecilho.
ㅤㅤㅤㅤ— E aí, amigão… voltei pra te tirar daqui — ele sibila, olhando o interior do veículo pela janela do motorista. — Só preciso saber como.
ㅤㅤㅤㅤ— Perdeu algo por aqui? — a voz conhecida para Jason se eleva e pode ser ouvida até fora das cercas.
ㅤㅤㅤㅤ— Não… — o policial se vira devagar e vê Omoi parado à cerca de quinze metros segurando a M-4 que ele usava antes, mirando na sua direção.
ㅤㅤㅤㅤ— Olha só, ele veio preparado, pelo visto. Mas não é uma boa ideia atirar com uma doze dessa distância, ela não é uma sniper. — Owen está parado atrás do asiático, com as mãos atrás da sua cintura. Ambos estão com as mesmas roupas de antes.
ㅤㅤㅤㅤ— Ah, não me subestima assim, cara. Você me ofende — fala Jason, ficando com a coluna reta.
ㅤㅤㅤㅤ— Chuta as armas. Agora. — Omoi destrava o fuzil.
ㅤㅤㅤㅤ— Ok, ok. — em instantes, o policial tira a bandoleira da Mossberg e a joga à dois metros de distância, junto com a Colt 1911. — Tudo aí.
ㅤㅤㅤㅤ— Aí, Owen, me deixa acabar com esse cara. Vou adorar fazer ele engolir os próprios dentes. — o asiático abaixa a M-4 e a entrega para o gigante caucasiano.
ㅤㅤㅤㅤ— Ah, meu amigo… pois pode vir. Garanto que eu vou cacetar esse teu olhinho puxado é agora. — Jason se curva levemente, erguendo os punhos.
ㅤㅤㅤㅤ— Tem muita coragem pra um cara que vai morrer. — Omoi estala seus dedos.
ㅤㅤㅤㅤ— Ah, vamos usar frases de efeito? Beleza… deixa eu ver… ah! Bom, não sou eu que tô falando com fantasmas.
ㅤㅤㅤㅤ— Quê? — O oriental franze a testa, confuso.
ㅤㅤㅤㅤ— Ih, rapaz. Soou errado… deixa eu corrigir. — Jason ergue o indicador direito. — É você que tá falando com fantasmas… ah, droga! É a mesma coisa! — Ele soca o ar.
ㅤㅤㅤㅤ— Chega, Omoi, dá logo um tiro na boca desse cara — diz Owen.
ㅤㅤㅤㅤ— É melhor mesmo. — o asiático leva a destra até o coldre em sua cintura.
ㅤㅤㅤㅤNesse instante, Kelly surge por trás do prédio à esquerda dos dois ladrões. O gigante afrodescendente havia pulado a cerca lateral e estava apenas esperando o momento para então correr na direção de ambos. Quando está bem próximo de Owen, ele solta um grito e salta, agarrando o caucasiano e jogando seus corpos para a frente, caindo sobre Omoi, que não teve tempo para correr.
ㅤㅤㅤㅤ— Isso aê, porra! — Jason pula e soca o ar novamente. — Não contavam com a minha arma secreta!
ㅤㅤㅤㅤ— Foco, Jason! — Kelly ergue metade do corpo e dá um cruzado de direita nas costas de Owen, que sente o golpe e resmunga de dor e raiva.
ㅤㅤㅤㅤ— Tá, beleza! — Jason corre até suas armas e cata a pistola.
ㅤㅤㅤㅤEnquanto isso, o bombeiro se prepara para dar o segundo golpe, mas Owen consegue firmar as mãos no solo coberto de neve e erguer o corpo, já projetando seu cotovelo direito contra Kelly, o atingindo no tórax. O golpe é absorvido pelo colete, mas a força o faz sair de cima do caucasiano, que fica de joelhos já sacando uma CZ-75 e a mirando em Jason. Porém, Kelly já havia se posto de pé e conseguiu esticar sua perna direita o suficiente para chutar o antebraço de Owen, que erra o disparo.
ㅤㅤㅤㅤ— Puta vida! — Jason se agacha um pouco ao ver o tiro estraçalhar a janela traseira da caminhonete. — Ah... filho da puta!!
ㅤㅤㅤㅤO policial se vira para Owen, bem a tempo de ver Kelly, já com os dois pés no chão, acertar um cruzado de direita em cheio no seu rosto. Ele se apoia nas duas mãos para não cair novamente e bufa de raiva, rapidamente se virando e agarrando seu oponente pela cintura, ficando de pé e erguendo Kelly.
ㅤㅤㅤㅤ— Minha nossa senhora… — Jason observa Owen gritar enquanto corre carregando Kelly até o primeiro andar do edifício em construção.
ㅤㅤㅤㅤEle não cessa seu avanço nem com as sucessivas cotoveladas de Kelly em seu ombro. Os dois gigantes atravessam as portas de madeira, as destruindo e arrancando-as das dobradiças. Porém, Owen não para de correr pelo salão repleto de materiais de construção e avança até uma parede. Kelly olha para trás, mas rapidamente vira o rosto antes de sentir o impacto em suas costas. A força aplicada é tão grande, que a frágil parede de tijolos não resiste e os dois homens a atravessam e se separam, com ambos indo ao chão, sentindo os destroços de tijolos e cimento caírem sobre si.
ㅤㅤㅤㅤDo lado de fora, Omoi se levanta sem fôlego, após receber o impacto de mais de duzentos quilos sozinho. Ele vê Jason pôr a mão por dentro da janela destruída da Nissan Titan e destravar a porta do passageiro. O asiático então saca sua pistola e se apoia no joelho esquerdo, pronto para atirar. Jason escuta o som do disparo, mas este é seguido pelo grito de Omoi. Ao se virar, o policial vê seu oponente novamente caído, mas agora segurando sua mão direita, que sangra. A Glock suja de sangue e destruída está ao seu lado.
ㅤㅤㅤㅤ— Olha só… e não é que eu tinha uma segunda arma secreta? — Jason ri e se afasta da caminhonete, guardando a Colt em seu coldre, andando até Omoi. — Agora vamos acertar as contas. Sem armas e no seu caso, sem… alguns dedos.
ㅤㅤㅤㅤO asiático permanece no chão, mas sem mais resmungar de dor. Ele olha na direção da entrada e vê Sarah saltando o monte de neve e conclui que foi ela quem lhe deu o tiro.
ㅤㅤㅤㅤ— Anda, vacilão, levanta.
ㅤㅤㅤㅤJason chega perto o bastante do homem e se prepara para chutáo-lo, mas Omoi é mais ágil e consegue rolar para trás, escapando do golpe e já se pondo de pé. Com um grito, ele ergue a perna direita visando um chute no rosto de Jason, mas o policial é mais ágil e se agacha, avançando contra o asiático assim que o mesmo pisa no solo, ficando de costas. Ele acerta um soco na altura do seu rim e mesmo sentindo o golpe, Omoi vê o policial já erguendo o braço direito para lhe dar outro soco, mas ele consegue se virar antes e segurá-lo pelo pulso, contendo o golpe. Jason olha o oponente e logo recebe um gancho em seu queixo, que o faz recuar, dando tempo para Omoi lhe acertar um soco com a canhota em seu rosto.
ㅤㅤㅤㅤ— Jason! — Sarah ergue novamente a M-16, ao ver seu amigo recuando após os golpes. Ela abre fogo, mas Omoi consegue correr e se esconder atrás do contêiner antes que pudesse ser atingido.
ㅤㅤㅤㅤ— Vai pro Demônio Vermelho, depressa, faz a ligação direta! — pede o policial após passar a manga da farda preta na sua boca.
ㅤㅤㅤㅤ— Mata logo esse cara! — diz a mulher depois de confirmar com a cabeça e ir até a caminhonete.
ㅤㅤㅤㅤEnquanto a militar se apressa para chegar no veículo, Jason saca sua pistola e caminha até o contêiner onde Omoi se escondeu, atento para qualquer ataque ou movimento do asiático.
ㅤㅤㅤㅤ— Beleza, Omoi, vamos acabar com isso logo! — diz o policial, chegando perto da grande caixa de metal.
ㅤㅤㅤㅤ— Concordo com isso. — Omoi fala de pé no teto do contêiner, observando Jason.
ㅤㅤㅤㅤO asiático salta do mesmo e cai acertando a sola da sua bota no ombro de Jason, que vai ao chão gritado de dor e soltando a arma. Nesse instante, Sarah conclui a ligação direta na picape e se vira, vendo seu amigo tentando se defender dos socos do Omoi. Ela quer ajudá-lo, mas lembra que jogou a M-16 no banco de trás da caminhonete e então embarca na mesma, engatando a primeira marcha e arrancando. Jason recebe o terceiro soco de Omoi e cospe sangue enquanto ergue a destra para acertar a palma no rosto do asiático. Embora seja um golpe fraco, serve para levantar sua cabeça e dar a Jason a oportunidade que ele queria, de erguer o punho esquerdo e acertar um soco na lateral do seu pescoço, fazendo-o recuar e ficar curvado no chão, arfando.
ㅤㅤㅤㅤ— Caralho… você me pegou desprevenido nessa, mas eu-- eu sou melhor que você quando tô motivado. — Jason fica em pé abre os braços.
ㅤㅤㅤㅤA feição no rosto do asiático é de pura raiva e ele se levanta, mesmo sentindo fortes dores devido aos golpes que recebeu. O homem estrala e começa a correr na direção de Jason. Porem, ambos são surpreendidos pelo som do motor da Nissan Titan Warrior rugindo alto e olham para a lateral esquerda do prédio, vendo o veículo surgir com os faróis desligados e com Sarah ao volante, indo na direção de Omoi.
ㅤㅤㅤㅤ— Vadia… — o homem, que já havia parado de correr, começa a avançar no sentido oposto, na intenção pular e se segurar na cerca de madeira.
ㅤㅤㅤㅤPorém, Sarah vê isso e pisa mais forte no acelerador. Quando está prestes a alcançar o asiático, a ela puxa o freio de mão e vira o volante de uma vez para a direita e depois para a esquerda, fazendo a picape derrapar. Omoi olha para a lateral traseira do veículo vindo na sua direção rapidamente e mesmo tentando saltar, para a cerca, ele acaba atingido e arremessado contra a parede do contêiner, batendo forte com a lateral esquerda do corpo contra o metal, que se amassa um pouco e ele então cai na neve.
ㅤㅤㅤㅤ— Cacete! Isso ai' foi radical, Sarah! — Jason sorri animado e incrédulo, vendo Sarah pondo metade do corpo pra fora da janela, olhando Omoi caído. A mulher também sorri, virando o rosto para o amigo.
ㅤㅤㅤㅤPorém, ambos desfazem seus sorrisos ao escutarem o asiático resmungar de dor e se levantar. Porém, ele logo se apoia no joelho direito, levando a mão até o ombro deslocado.
ㅤㅤㅤㅤ— Ah, merda… — rapidamente, Sarah volta para dentro da picape e engata a marcha ré. Se guiando apenas pelos retrovisores, ela vira o volante para a direita, acelerando ainda mais.
ㅤㅤㅤㅤOmoi levanta a cabeça e vê a traseira da caminhonete vindo na sua direção. O homem ainda tenta se levantar, mas não consegue e finda por ser esmagado entre o veículo e o contêiner. O som de ossos se quebrando e carne sendo rasgada é claramente audível e Jason faz uma careta de repugnância, recuando um passo. Sarah então tira a caminhonete de lá e o policial vê o cadáver do asiático se desgrudar do metal sujo de sangue e cair novamente na neve.
ㅤㅤㅤㅤ— Puta merda, conseguimos! — a militar desembarca da caminhonete e olha o corpo de Omoi caído, para depois correr até Jason.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu disse que era a nossa vez de ba-- — Jason sorria enquanto andava até a mulher, mas é interrompido ao receber o abraço da mesma. — Ok, isso foi inesperado.
ㅤㅤㅤㅤ— Cala a boca, me deixa ver seu rosto, tá tudo bem? — Sarah se afasta dele, levando as mãos às laterais da face alheia.
ㅤㅤㅤㅤ— Não temos tempo pra isso, temos que ir ver o Kelly.
ㅤㅤㅤㅤNesse momento, um alto grito chega aos ouvidos dos dois, seguido de um forte barulho. Sem saber como está indo o embate entre os dois, eles rapidamente pegam suas armas e entram pela porta destruída.
***
Dentro do cômodo escuro, Kelly é o primeiro a se levantar, sentindo uma forte dor nas suas costas após atravessar a parede. O bombeiro tosse devido a poeira, mas não tem tempo de se nortear, pois logo sente as mãos de Owen o segurarem com força pelos ombros:
ㅤㅤㅤㅤ— Vem aqui, filho da puta! — o caucasiano puxa Kelly e o joga contra a parede atrás deles.
ㅤㅤㅤㅤO bombeiro arfa com a pancada mas consegue se recompor rapidamente; a tempo de desviar a cabeça para a direita e não ser atingido pelo cruzado de Owen, que afunda um pouco o punho na parede. Aproveitando a guarda baixa, o bombeiro desfere um gancho no estômago do seu oponente, o fazendo recuar e, em seguida, lhe dá um cruzado de esquerda no meio do seu rosto, fazendo bater com as costas no corrimão de madeira de uma escada. Ao perceber onde está, Owen se agacha para esquivar de outra investida de Kelly e avança para a sua direita, chegando no primeiro degrau da escada e já subindo a mesma.
ㅤㅤㅤㅤ— Você não me escapa, idiota! — Kelly aperta os punhos e começa a perseguir o outro homem.
ㅤㅤㅤㅤOs degraus rangem alto com o peso dos dois. Owen chega ao segundo piso que estava sendo construído e conta apenas com algumas paredes ainda de gesso ou madeira, além de várias pilhas de tijolos, betoneiras e outros equipamentos de construção. Kelly vê seu adversário sumir após chegar no segundo piso e se apressa, saltando de três em três degraus. Assim que chega ao final da escada, o afrodescendente vê Owen tentar lhe atacar usando uma marreta, mas ele consegue se agachar e cair para a esquerda, desviando do golpe.
ㅤㅤㅤㅤ— Filho da puta, por que não fica parado ao menos uma vez? — Owen fala ofegante e com o nariz sangrando após os socos que Kelly lhe deu.
ㅤㅤㅤㅤO bombeiro não responde, apenas fica de pé e avança contra o caucasiano, que põe a marreta na sua frente. Mas para a sua surpresa, Kelly agarra a massa de ferro e a puxa para baixo, jogando sua cabeça contra o rosto de Owen, lhe acertando a cabeçada no seu nariz quebrado. Em seguida, ele puxa a ferramenta, a tomando para si e, com a canhota segurando o cabo, ele projeta a ponta de madeira para a frente, acertando seu olho direito de Owen em cheio.
ㅤㅤㅤㅤSentindo o sangue jorrar, o gigante branco grita de dor e leva as duas mãos até seu olho ferido, tentando se controlar. Kelly também grita enquanto ergue o marreta, pronto para esmagar a cabeça do caucasiano, mas mesmo debilitado, o homem consegue pôr seu corpo para a trás e desviar da marretada que afunda o piso de concreto.
ㅤㅤㅤㅤOwen recua ainda mais e encara o afrodescendente com seu olho bom,o vendo erguer a marreta do piso e em seguida a arremessar na sua direção. Dessa vez, ele se joga para a direita e cai com as costas no chão, escutando a ferramenta atravessar uma parede de gesso que estava atrás de si.
ㅤㅤㅤㅤ— Você já era!! — Kelly avança em Owen caído e se agacha próximo dele, dando início a uma sequência de fortes socos no rosto do caucasiano, que não consegue se defender.
ㅤㅤㅤㅤMesmo sentindo cada golpe, Owen consegue levar a mão esquerda até seu coldre e segura o cabo de uma faca de combate, puxando a lâmina. Com a destra, ele tenta acertar um soco em Kelly, mas o afrodescendente consegue repelir o ataque com seu antebraço, dando a oportunidade que o caucasiano buscava e, em um golpe rápido, ele perfura o colete à prova de balas com força, conseguindo também esfaquear Kelly ao lado do abdômen. O bombeiro cessa seus golpes e sente o soco de Owen em seu tórax, que o faz se afastar e ele aproveita para puxa a faca de volta.
ㅤㅤㅤㅤ— Desgraçado… — Owen se levanta devagar, cuspindo sangue. Todo o seu rosto está com hematomas cobertos com o líquido vermelho; seu olho direito lateja após a perfuração e o esquerdo está quase fechado. Apesar de tudo isso, o caucasiano sorri. — Agora sim você tá me dando um desafio… não lembro quando foi a última vez que me diverti tanto.
ㅤㅤㅤㅤ— Tô motivado a acabar com você... — Kelly fica em pé e mantém a destra sobre a região esfaqueada, sentindo o sangue quente por entre os dedos.
ㅤㅤㅤㅤ— Então manda a ver... homem contra homem. — Owen joga sua faca e fica com a coluna reta, encarando Kelly.
ㅤㅤㅤㅤO bombeiro bufa e parte pra cima do seu oponente, já pronto para lhe acertar um cruzado no rosto, mas Owen segura seu pulso com a canhota, levando a outra mão até a jugular de Kelly e a segurando com força, prendendo sua respiração. O caucasiano ergue o afrodescendente e o derruba com força no chão. Ele soca o rosto de Kelly com o punho esquerdo, mas o bombeiro o golpeia na junta do braço direito o desestabilizando para poder alcance sua nuca com a mão livre e o puxar para baixo, fazendo Owen bater com o rosto no piso. Kelly consegue empurrar o rival para o lado e cospe sangue ao se levantar. Cansado, ele segura o enorme caucasiano pelo casaco e o arrasta até a parede gesso que havia atingido antes com a marreta.
ㅤㅤㅤㅤGritando de fúria, Kelly joga Owen contra a estrutura. O gigante branco atravessa o gesso com facilidade e se choca contra um tonel cheio de água, caindo sobre o mesmo e derramando o líquido, fazendo-o deslizar sobre o piso e só parar quando bate em uma das vigas que sustentam o terceiro andar. O local onde ele está agora não possui paredes e o vento frio sopra forte sobre seu corpo molhado.
ㅤㅤㅤㅤKelly passa pelo buraco na parede e caminha na direção de Owen, mas o homem se põe de pé e também anda até seu oponente. O gigante negro ergue seu punho direito, mas o golpe falha quando é segurando por Owen. Em seguida, é Kelly que faz o mesmo e agarra o seu punho. Os dois então iniciam uma disputa de força e de equilíbrio, para não escorregarem no piso molhado.
ㅤㅤㅤㅤ— Eu vou… matar você… — Owen vocifera enquanto saliva misturada com sangue pinga da sua boca. Ele ergue o joelho esquerdo, conseguindo acertar Kelly exatamente onde havia esfaqueado antes.
ㅤㅤㅤㅤO golpe o faz se contorcer de dor e o afrodescendente bate seu joelho com força no chão, mas ainda tenta competir com Owen, que parece usar ainda mais força para obliterá-lo.
ㅤㅤㅤㅤ— Desiste…
ㅤㅤㅤㅤLogo após a fala de Owen, Kelly para de forçar seus braços para cima e deixa o corpo do caucasiano vir de encontro ao seu, mas antes do choque, o bombeiro olha para baixo e Owen bate o rosto em cheio no topo da sua cabeça. Sentindo uma dor latejante, Kelly escuta o grito que Owen dar ao receber o choque no nariz. Ele aproveita o desespero do seu oponente e liberta sua mão direita, se levantando e dando impulso no gancho que acerta na sua mandíbula, fazendo o caucasiano morder a língua tão forte, que um pedaço da mesma sai da sua boca junto com alguns dentes e filetes de sangue.
ㅤㅤㅤㅤOwen grita de dor e desespero enquanto caminha para trás e o sangue jorra em excesso da sua boca. Kelly respira fundo e avança contra Owen, mas dá a volta no gigante, parando atrás dele e o segurando pela cintura, com força. Gritando, Kelly ergue seu oponente e joga o corpo para trás. Porém, Owen não bate no chão e sim numa plataforma de madeira que está fora da construção. Seu peso quebra as tábuas e seu corpo despenca quatro metros, derrubando consigo toda a estrutura de metal. Após o barulho cessar, Kelly se levanta, cansado e resmungando das dores que sente por todo o corpo. O gigante vitorioso se aproxima da beirada do segundo andar e vê apenas metade do corpo de Owen visível sobre os montes de destroços. Respirando pesado, ele tira o colete de kevlar devagar e o solta no chão, levantando suas blusas e olhando para o corte de cinco centímetros ao lado do seu abdômen.
ㅤㅤㅤㅤ— Kelly?! Você tá aqui?? — Jason termina de subir as escadas com Sarah e vê seu amigo pelo buraco na parede.
ㅤㅤㅤㅤ— Aqui... já era… e o outro cara? — Kelly se vira, cansado, mas esboçando um sorriso para ambos.
ㅤㅤㅤㅤ— Meu Deus! Vamos sair daqui, preciso tratar dos seus ferimentos. — Sarah corre até ele.
ㅤㅤㅤㅤ— Cara, você tinha que ver! A Sarah bateu com o Demônio Vermelho naquele cara, mas ele não morreu. Aí ela engatou a ré e… boom!! Sanduíche de Omoi. — Jason fala animado.
ㅤㅤㅤㅤ— O quê? — pede o bombeiro.
ㅤㅤㅤㅤ— Depois eu te conto, você bateu forte, mas apanhou forte também. Temos que religar seu cérebro, vamo cair fora daqui. — Jason chega em seu amigo e ajuda Sarah a ampará-lo.
ㅤㅤㅤㅤO trio logo sai do prédio e chega no Demônio Vermelho, onde Kelly e Sarah embarcam no banco de trás. Jason acha as chaves do veículo no corpo destroçado de Omoi e entra logo em seguida, ligando o motor e saindo da construção rapidamente, deixando toda aquela bagunça para trás.
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