Lemos
Forgotten Boy.
*Lado de fora de casa, a caminho de algum compromisso.
Julian: Ben, eu esqueci.
Benjamin: O que?
Julian: Ainda não sei. Mas eu com certeza esqueci alguma coisa.
Mantenha o mistério.
Julian realmente sabe como fazer uma ligação clandestina em carros. Diferente do que se imagina, Max foi aquele que ensinou isso a ele.
Feed the Bear
Na cozinha da casa dos Lemos existe uma piada interna escrita por Natasha no quadro grudado na geladeira. Ninguém teve coragem de apagar o memorando.
The Clumsy Kid.
Julian tem um recorde de ter esbarrado e caído em todos os cômodos da casa. Além do recorde de quebrar pratos. E copos. E coisas.
The Sassy Boy.
Já Luccas tem o prazer de guardar um caderno com todas essas perdas. Além de achar uma gracinha a maneira como seu irmão ruboriza quando Luke precisa adicionar novos objetos a "Lista de vítimas inanimadas do terrível Clumsy Boy".
Irmão de peixe...
Julian pode ser paciente quando quer se vingar de alguém. E muito criativo. Luccas passou uma semana tentando tirar a cor roxa do cabelo após pregar uma peça em Lian. Luccas era um irmão orgulhoso apesar de tudo.
Esse maldito sorriso.
Natasha não queria admitir, mas ela caiu pelo sorriso do Italiano. Merda, o homem tinha lábios que podiam matar.
Sandman - Parte I
Luccas dificilmente tinha pesadelos quando criança. E mesmo quando algum pouco monstro assustador surgia da forma que fosse para tentar assombra-lo, ele não deixava que isso o amedrontasse e arruinasse uma boa noite de sono. Porém existia um sonho, um sonho em particular que não vinha com criaturas sangrentas ou lugares escuros e assustadores, mas que ainda sim deixava-o tremendo ao acordar.
E isso sempre começava em uma casa vazia.
Sua casa, para ser mais exato. Tudo continuaria o mesmo, cada cômodo, móvel, detalhe e até rachaduras estavam no seu devido lugar, mas ainda assim Luccas não sentia como se aquele fosse seu lar. A falta de qualquer barulho era outro fator que lhe causava um sentimento esmagador no peito, aumentando gradativamente enquanto rondava pelos quartos vazios a procura de um sinal que pudesse leva-lo a algo ou alguém. Era tudo tão calmo e terrivelmente silencioso.
Como uma cidade fantasma.
Nas ruas não havia transito, movimento, vozes ou se quer um mínimo ruído. Mesmo o barulho do vento parecia ter deixado de existir.
Todos haviam simplesmente saído e ele era o único em pé em um jardim silencioso, deixado para trás por razões que ele não conseguia compreender.
Em pânico e sem entender ao certo o que fazer, Luccas gritaria e chamaria por sua família, por alguém, qualquer ser vivo que mostrasse a ele o caminho, qualquer coisa que dissesse a ele que não estaria mais sozinho... Mas ninguém jamais viria ao seu encontro.
E ele sabia, do fundo de sua alma, que ele nunca mais encontraria sua família novamente.
Ao acordar, Luccas iria dormir novamente apenas depois de verificar cada Lemos na casa.
A cozinha da Vó
Julian aprendeu a cozinhar com sua avó.
Ele e Natasha foram viver com os avós por um tempo, e nessa época seus hábitos culinários foram aperfeiçoados observando e ajudando Vó Deli na cozinha.
Melhor lugar da casa em sua opinião.
Quando ela ficou doente, Julian era um dos poucos que conseguia faze-la comer.
Inclusive, sua vó adorava a canja de legumes que ele aprendeu a preparar com ela.
E se tornou um hobbie e ao mesmo tempo um alento quando ele precisava deixar as coisas em sua cabeça nos lugares corretos. Além do que ele sabia que fazia os outros felizes, especialmente sua mãe.
E se teve algo que Julian aprendeu muito bem com sua avó, além de boas receitas culinárias, foi que é possível compartilhar felicidade adicionando um pouco de tempero e amor.
Sleep little one
Natasha gostava de se aninhar ao seu irmãozinho para dormir.
Ele tinha alguns pesadelos ruins a noite e as vezes ele não conseguia respirar. Então Nat gostava de estar lá se fosse necessário.
Além do que seu irmão era tão fofinho.
Um pouco menor do que ela, Julian parecia tão mais novo do que seus seis anos de idade. Era tão adorável. Então todas as vezes que acordava antes dele, ela observaria com prazer prazer os olhinhos azuis, ainda sonolentos, se abrindo e se focando nela. Um sorriso lindo seguiria logo ao reconhece-la e um tímido "Oi" seria escutado antes que seu ursinho voltasse a fechar os olhos para dormir novamente. Natasha seria condenada se não apertasse aquelas bochechas.
Nunca ela pode imaginar o quão grande aquele bebê se tornaria. Nem que, um dia, seria ele a abraça-la e a acariciar seu cabelo quando toda sua coragem desaparecesse.
Natasha nunca imaginou que seu irmãozinho teria que embala-la em seus braços, confortando-a até que pudesse voltar a respirar normalmente.
Até conseguir dormir uma noite de sono completa novamente, sem que sonhasse com terror paralisante e mãos estranhas vagando.
The law is...
Luccas cursou direito focando única e exclusivamente em uma garota.
Na época ele imaginou que bastaria suportar alguns meses do curso antes de ser chutado de lá ou ficar enjoado de tanta gente metida a besta confinado em um único local. Existia até mesmo uma lista em um caderninho com outras possibilidades de carreira.
Ele somente nunca imaginou que tomaria tanto gosto pela coisa e que se formaria no ranking dos melhores alunos.
Essas paredes brancas
Max se acostumou a hospitais.
Julian também.
Julian achava milhões de vezes mais suportável quando seu pai e o irmão mais velho lhe acompanhavam.
Nada contra a companhia de sua mãe, claro, mas Lian preferia quando seu pai e seu irmão estavam com ele.
Na família, os dois sempre foram a calma na tempestade.
Seu pai transmitia a segurança que precisava quando estivesse com medo e Max sempre acharia uma maneira de alegra-lo quando estivesse cansado.
Julian gostava quando eles estavam lá para segurar sua mão.
O pestinha.
Luccas foi atropelado quando tinha doze anos.
No momento ele estava correndo de um menino que se irritou com ele apenas por Luccas estar brincando inocentemente de tiro ao alvo com pequenas pedrinhas de nada. Mesmo que o "alvo" fosse a cabeça do moleque enfurecido, mas ainda sim foi uma reação explosiva desproporcional, na opinião de Luccas.
Fora as escoriações, felizmente nenhum osso foi quebrado.
E ele ganhou a fama de ter sobrevivido a um atropelamento.
Click
Natasha sempre amou a forma como uma foto poderia eternizar um momento.
Casa comigo?
Max conheceu sua esposa em uma viagem que fez com a família para o interior de Minas.
Os dois eram crianças que coincidentemente eles estiveram hospedados no mesmo hotel até o final das férias. Ambos foram inseparáveis naquele verão.
Em algum momento entre brincadeiras Max prometeu que iria se casar com Daniela quando crescessem. Bem, o tempo passou e não era como se ele recordasse dessa promessa, até o dia em que sua mãe abriu o álbum da família para mostra à nova namorada do Lemos mais velho e uma pequena Daniela aparecer de mãos dadas com um Max banguela em uma das fotos.
Maximilliam cumpriu sua promessa depois de tudo.
The Hanging Tree.
Quando tinha cinco anos de idade, Julian subiu em uma árvore para ver um ninho de passarinhos.
Ninguém sabia dizer como o moleque conseguiu subir lá, mas ele se recusava a descer.
Bem, ele se recusou a descer até ver Luccas.
Ao reconhecer o irmão, Julian calmamente começou a descer até metade do caminho... E se jogou nos braços do irmão na metade que faltava. Quase matou todo mundo do coração. Quando um Luccas quase sem ar e bravo como nenhum outro perguntou por que cargas d'agua Julian havia feito isso, o menino apenas sorriu e disse que tinha "certeza que não o deixaria cair".
Spider Woman.
Natasha não gosta de aranhas. Ela aprendeu a não ter pavor delas, mas porra, ela odeia aquelas patinhas ásperas.
Bichos malditos.
Clown
Não é que Luccas tivesse medo de palhaços, ele só não gostava deles. Nem um pouco. O quanto mais distante de um palhaço ele fosse, mais feliz seria Luccas.
Sing a Song
Julian sempre foi um pouco de um piolho instrumental. Era só ver ou ouvir ninguém cantando ou tocando alguma coisa que imediatamente ele se transformava em uma plateia encantada.
Manoela e Eduardo as vezes fazia-o dormir dessa forma.
Julian ainda é um marinheiro hipnotizado quando sua mãe ou pai se propõem a cantar.
Papai Noel
Uma vez Natasha perguntou para sua mãe o que os duendes do Papai Noel recebiam pelo trabalho de Natal.
Sua mãe lhe respondeu que era o amor e a felicidade das crianças pelo o que eles trabalhavam.
Naquele ano Nat se recusou a ir visitar o Bom Velhinho.
O motivo? Natasha se negava a cumprimentar um senhor horrível que maltratava animais voadores e escravizava criaturas magicas em favor da glorificação do próprio nome.
Ela tinha nove anos.
Clown II
Não é que Maxy tenha medo de palhaços. Ele apenas possui o sentimento premonitório de que, um dia, um deles tentará assassina-lo.
Doces Lembranças
Julian gostava de visitar o Tio Oscar e seus primos.
Miguel o deixaria montar em seus ombros e correria com ele por todo o pátio como se fosse um super-herói. Além de que ele deixaria Julian emprestar alguns de seus quadrinhos.
Olivia iria se engajar em qualquer brincadeira que ele propusesse. E ela nunca parecia ficar entediada.
Pelo contrário, ela gostava de como ele imaginava as coisas.
Liv gostava que ele não se importasse em ser o príncipe na torre, amigo do dragão que guardava o castelo.
Julian gostava que Liv não se importasse se ele não quisesse matar os monstros. Ou quando ele pedisse um tempo até poder respirar corretamente novamente.
Ela não o chamaria de fracote por precisar apenas parar.
Julian gostava muito de ir visitar o Tio Oscar.
As lindas bailarinas
Seu pai estava trabalhando, Max estava na escola, Luccas no treino de futebol e sua mãe não tinha com quem deixa-lo naquele dia.
Então ele ficou na aula de balé com sua mãe e irmã.
Julian havias visto-as dançar algumas vezes, mas nada como aquilo.
Não daquele jeito.
Elas pareciam tão lindas e nem Nat e nem sua mãe se importavam que ele estivesse assistindo-as embasbacado. Pelo contrário, sua mãe havia sorrido várias vezes e Nat havia piscado um dos olhos na direção dele enquanto alongava.
Sua mãe e sua irmã eram tão lindas e ele as amava.
Então quando a aula acabou e ele aplaudiu, Julian não se importou com os risinhos, os sussurros de "tão fofo" ou que alguns alunos bagunçassem seu cabelo com carinho no caminho para fora da sala.
Sua mãe fez uma reverência a ele em agradecimento e deu-lhe um beijo em sua testa, antes de virar-se para arrumar seu material. Natasha apenas segurou nas mãos dele e fê-lo rodopiar pela sala espelhada enquanto aguardavam sua mãe.
Julian amava suas lindas bailarinas.
Sandman- Parte II
Luccas não costumava ter muitos pesadelos quando criança. Mas havia um que era recorrente.
E sempre começava em uma casa vazia.
Infelizmente o pesadelo sofreu um update quando Julian era pequeno e começou a ficar doente.
Nele, Luccas se via sozinho e todos de sua família continuavam desaparecidos. Ele não sabia o que teria acontecido com eles, mas eles apenas não estavam em lugar algum. Em algum momento em sua procura ele veria uma forma que, mesmo distante, conseguia identificar como seu irmãozinho mais novo. Ele então se aproximaria de seu irmão e tentaria acorda-lo.
Julian não acordaria, não importa o que fizesse.
Sandman - Parte III
Depois de um tempo, Julian não se espantava mais ao ser acordado em plena madrugada pelo seu irmão.
Ele não estranharia a umidade no rosto de Luccas quando este lhe perguntasse se poderia dormir com ele aquela noite. Julian apenas daria espaço para o mais velho e deixaria que ele o abraçasse forte em seu peito. Luccas também não se importaria quando Julian começasse a sussurrar baixinho sobre alguma coisa nova que havia aprendido naquele dia. Ou quando começasse a cantarolar qualquer canção boba que estivesse em sua cabeça no momento.
Julian iria falar e falar até sentir que as mãos de Luccas sessarem o carinho em seu cabelo, sono finalmente embalando-o.
Julian jamais perguntou sobre o conteúdo dos pesadelos. Ele não precisava saber.
Ele só precisava estar lá para garantir para Luccas de que tudo ficaria bem.
Clown III
Não era que Natasha tivesse medo de palhaços. Ela apenas se sentia desconfortável com um adulto maquiado em uma expressão enganosamente feliz, que portava objetos estranhos e, no mínimo, suspeitos.
As Cores
Com cinco anos de idade, Julian decidiu que amarelo era sua cor preferida.
Amarelo lembrava-o do Sol e de brincadeiras no jardim. Além de que aquela era a cor dos cabelos de Nat, Luke e de sua Mama.
Aos cinco anos Julian amava o Amarelo.
Aos dez, Julian decidiu que Vermelho era sua cor preferida.
Vermelho lembrava-o das roseiras de sua vó Deli e do perfume que elas exalavam. Além de que aquela era a cor do uniforme do homem aranha, seu herói predileto do mundo inteiro.
Aos dez anos Julian amava o Vermelho.
Com treze anos de idade, Julian decidiu que Laranja era sua cor preferia.
Laranja lembrava-o da guerra de tinta que teve com Max, Luccas e Nat (mesmo que a bronca que tomaram naquele dia não havia sido nada divertida). Além de que, Laranja era a cor de Cenoura, o gatinho da escola que ele estava cuidando.
Aos treze anos Julian amava o Laranja.
Quinze foi a idade em que Julian decidiu que azul era sua nova cor preferida.
Azul lembrava-o do céu depois de uma tempestade, o que fazia-o recordar-se de música e de como o mundo parecia brilhar mesmo que tudo estivesse escuro e tortuoso há algumas horas atrás.
Além do que azul era a cor de seus olhos e Benjamin havia dito que eram "bem incríveis".
Aos quinze anos Julian amava o Azul.
Agora, aos dezenove anos, Julian encontrara o Âmbar.
Ele nunca iria deixar de amar as outras cores, mas nenhuma delas seria tão especial quanto o Âmbar. Essa cor lhe lembrava bravura, doçura, risadas, tristezas e proteção. Julian achava que nunca mais conseguiria sentir por qualquer outra o que ele sentia por AQUELA cor.
Aos dezenove anos Julian amava o Âmbar.
E, Deus, como ele amava.
Eram a cor dos olhos de Beau.
O monstro no final da página
Com seis anos de idade, Julian temia os monstros que moravam em seu guarda-roupas.
Então, quando acordava no meio da noite sob a luz do abajur a lançar sombras pelo quarto que dividia com Luccas, Julian apertaria o cobertor fortemente e observaria cada mínimo movimento que seus olhos pudessem captar.
Ele não sabia o que mais fazer.
Parte sua queria apenas se embrulhar no manto quentinho de seu cobertor e fechar os olhos bem forte, assim como qualquer outra criança faria para se proteger e fugir do que lhe assustava.
Mas também existia a outra vozinha em sua cabeça, a que alertava-o para o perigo de desviar o olhar e não vê-los chegar.
Ou pior, não vê-los alcançar seu irmão.
Sendo assim, mesmo temendo o invisível e estando um tanto aterrorizado pela ideia de algo maligno espreitando na escuridão, Julian ficaria acordado observando atentamente quaisquer ameaças que pudessem surgir. Isso até chegar ao ponto de não conseguir manter-se mais acordado e acabando por ser vencido pela exaustão.
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O Ar-Condicionado do quarto onde ficavam Max e Natasha quebrou naquela semana e agora eles foram remanejados.
Melhor Festa do Pijama de Todos Os Tempos.
Mesmo que sua mãe tenha gritado com eles por todo barulho e pela bagunça.
Sua mãe confiscou o videogame do quarto como punição, além de deixar pairando sob suas cabeças o castigo de ficar sem televisão caso não se calassem e fossem dormir. Enquanto ela levava seu refém para esconder em algum lugar que não pudessem encontrar tão facilmente – apesar de Julian saber exatamente onde era esse lugar, muito obrigado – seu pai ficou para trás para ajuda-los a organizar a bagunça.
Naquela noite eles dormiram ao som de seu pai contando piadas e compartilhando suas próprias histórias de travessuras infantis. Sua mãe ainda tentou fazer-se de durona, mas desistiu de sua postura para agarrar-se aos outros dois filhotes na cama e também ouvir as peripécias do marido.
Naquela noite Julian dormiu envolvido no braço quente e forte de seu pai, sentindo-se protegido como nunca antes. Ele sabia que não precisaria vigiar naquela noite.
Os monstros não ousariam atacar com o batalhão unido.
Melhor noite de sono de todos os tempos.
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Natasha empurrou Luccas para fora da cama na terceira noite.
Ele roubava seu cobertor e soltava pum, Nat alegou.
Seu pai apenas balançou a cabeça exasperado quando Luccas riu. Natasha rosnou e Max acabou com a briga jogando um travesseiro na cabeça de seu irmão e chamando Nat para ficar no lugar dele na cama de Julian.
Natasha e Julian demoraram para dormir aquela noite, escondidos pelo cobertor, fingindo não ouvir os resmungos de Max e Luccas para calarem a boca.
Eles finalmente resolveram parar após um travesseiro atingi-los também.
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Julian acordou apenas para se deparar com a expressão relaxada de sua irmã, totalmente entregue ao doce embalado dos sonhos. Ele acompanhou o peito dela subir e descer, sua respiração tranquila fazendo cocegas em seu rosto e ele quase voltou a dormir. Mas então ele cometeu o erro de olhar para o guarda roupa.
A porta estava entre aberta.
A respiração de Julian travou em sua garganta, um arrepio gelado desceu por suas costas em um pressentimento terrível. Em uma ação reflexa ele agarrou o braço de Natasha, que gemeu, mas não acordou.
A porta estava entre aberta.
Julian soltou o braço de Natasha e sentou-se, encarando fixamente o móvel. Seu coração pulsava loucamente em seu peito, mas ele não podia parar.
Não.
Vagarosamente Julian chegou na beira da cama, nunca desviando o olhar a sua frente. Ele não podia. Não quando só ele estava acordado. Não quando seus irmãos estavam no quarto.
Seus pés encostaram no chão e ele estremeceu pelo frio e pelo medo que se apossaram dele.
Passo.
No canto de sua visão do lado esquerdo ele podia ver o monte que eram seus irmãos sob o cobertor. Dormindo.
Passo.
O farfalhar do lençol quase tirou sua concentração do ponto à frente, mas seus olhos não desviaram do local. Seus músculos tencionaram, prontos para algo.
Pass-
- Lian – Veio o murmuro atrás dele, na cama. – O que tá fazendo?
- Tem alguma coisa ali. – respondeu no mesmo tom.
Passo.
- Lian. – Podia ouvir Natasha se mexendo na cama, mas não podia ver se ela se aproximaria ou não. Não podia se distrair... – Vem pra cá, tá frio.
- Nat, tem alguma coisa ali. - Insistiu com sua irmã, tentando fazer ela ver. Temendo que ela visse.
- Não tem nada lá, Lian. Só roupas. – Ela falou ainda em um sussurro, mas Julian ouviu-a mais claramente, desde que ela havia se aproximado. Ele quase pediu para que ela voltasse, se afastasse, porque tinha alguma coisa ali e se ela estivesse perto, aquilo também estaria perto dela, então... então...
- Lian, respira – Natasha disse ao seu lado e ele podia ver que ela estava ao seu lado, mas ele não podia desviar os olhos daquele ponto. Não estava entre aberto quando eles dormiram, não estava...
- Lian, não tem nada lá. – Natasha insistiu, agora a sua frente, tapando sua visão do guarda-roupas branco e forçando-o a olhar em seus olhos verdes.
- Não tem nada lá, irmãozinho. – Ela insistiu, acariciando seu rosto. Natasha virou para olhar para o mesmo ponto que Julian olhara antes, a abertura e afirmou – São só roupas, Julian. Não tem monstros ali.
- Mas e se tiver? – Sussurrou, sua voz tremendo nas bordas. E se estiver esperando? E se estiver lá dentro e- E se machucar vocês?
- Oh, Lian. – Ele não entendeu por que ela parecia tão triste. Ele não entendia porque ela não saia da frente tem algo ali!
- Não existem monstros lá dentro.
- Nat! – Julian ouviu seus irmãos acordando com o som de seu grito, mas ele não deu atenção. Não com Natasha se aproximando de lá.
Ele nem pensou quando passou na frente dela e fechou a abertura com as duas mãos.
- Ei, vocês dois... – Max chamou e ambos se viraram para ver seus dois irmãos mais velhos sentados, descabelados, encarando-os.
- Que barulho todo é esse? – Max perguntou já se levantando
- Nat deve ter empurrado ele também - Bocejou Luccas. – Sabia que ela queria a cama só pra ela.
- Lian? – Max disse quando se aproximou, ignorando os resmungos na cama – Porque tá chorando?
Isso cortou os comentários de Luccas.
Julian levou as mãos aos olhos, sem perceber que sim, lágrimas escorriam por suas bochechas.
Natasha gemeu ao seu lado e o abraçou. – Tá tudo bem, ursinho. Passou.
- O que ela te fez, Julian? - perguntou Luccas.
- Eu não fiz nada. -Natasha respondeu enquanto o segurava em seus braços. Era bom, desde que nenhum deles pudesse ver a vergonha sinalizando em sua pele por ter os acordado. - Ele deve ter tido um pesadelo. Achou que tinha alguma coisa no guarda-roupas.
Max se aproximou e tocou seu ombro. – É verdade?
Julian acenou sem levantar a cabeça do lugar entre o ombro e o pescoço de sua irmã. Ela o apertou como se o tranquilizasse. Era mais simples dizer que se tratava de um pesadelo do que explicar sobre seu real medo.
Natasha começou a afasta-lo do móvel branco e Max assumiu seu lugar, ponto as mãos na maçaneta. – Max... – Julian gemeu.
- Está tudo bem.
Ele abriu.
Não havia nada lá dentro.
- Está vendo? Não tem nada aqui, Lian. Só roupas.
Natasha esfregou suas costas e beijou seu cabelo. Julian conseguia ouvir Luccas descendo da cama e se aproximando deles.
- Não tem monstros ali, Julian. - Os olhos de sua irmã eram gentis, assim como o toque dela nas marcas um tom mais escuro embaixo de seus olhos. - É por isso que você não consegue dormir?
Ele acenou levemente.
- Se eu dormir eles podem atacar vocês.
Luccas bufou, agora ao seu lado.
- Ei, ninguém vai atacar, bebê. Eu não vou deixar. - Afirmou com os braços cruzados e um sorriso maroto pintado nos lábios.
- Tu dorme feito uma pedra, Lucca. - Apontou Julian, realmente confuso com a ideia de seu irmão fazendo a vigília em seu lugar.
- Ei!
- Isso é verdade. - Disse Max dessa vez.
- Não durmo pesado o suficiente pra não ouvir teus roncos, Dumbo. - Luccas estreitou seus olhos verdes para o Max.
- Respeita, sou o mais velho.
Luccas lhe respondeu com a língua.
- Ursinho, devia ter dito algo. – Natasha diz baixinho, ignorando os outros dois.
- Eu não queria assustar vocês...
- Você não iria. – Ela prometeu. – Eu juro.
- Mas, e os monstros...
- Não existem monstros, Lian.
- Não existem?
- Existem, sim. Buuuuuu- ai! – Virou-se para os dois irmãos quando ouviu o som abafado de um tapa e conseguiu, a tempo, ver a mão de Max descendo da parte de trás da cabeça do Luccas.
Seus olhos se cruzaram com os verdes de seu irmão e não pode deixar de rir ao ver o brilho brincalhão que encontrou.
- Não tem, bebê. – Luccas disse esfregando a parte de trás da cabeça – Prometo.
Maxy sorriu orgulhoso e chamou-os para ajudá-lo a estender os lenções e travesseiros no chão.
Eles dormiram em uma pilha aquela noite.
Julian dormiu tranquilamente, porque ele sabia que seus irmãos não mentiriam para ele sobre aquilo.
Ele acreditou no que eles disseram.
Naquele momento, Julian realmente confiou que monstros não iriam sair e machucar seus irmãos.
Ele acreditou.
Infelizmente, nenhum deles contou ao menino de seis anos que um guarda-roupas vazio e um espaço empoeirado debaixo da cama não eram os verdadeiros locais para se procurar por um monstro.
Talvez, naquela época, nem eles soubessem disso.
Isso porque, dentro de si mesmo, do fundo de seu coração, Julian sabia que eles existiam.
Ele teve a dolorosa prova quando um colocou sonífero na bebida de sua irmã.
Quando outro fez Luccas chorar embriagado em seu ombro.
Ou aquele que quase levou a vida de Max, apenas por estar no lugar errado na hora errada.
E muitos outros que viria a conhecer no futuro.
Com seis anos de idade, Julian ainda não sabia que os verdadeiros monstros não viviam dentro de guarda-roupas vazios e espaços empoeirados.
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