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Angelos

E eis aqui, um capítulo especial de extras!

Esse primeiro é apenas sobre os Angelos, o próximo será dos Lemos.
Os extras não estão em ordem cronológica, mas acredito que dá pra se ter uma ideia :)

................

Vendo dobrado

Quando Brando e Nitto eram bebês eles eram tão idênticos que Clara teve que colocar fitinhas de cores diferentes nos pulsos dos bebês para não se confundir.

Um dia Nico foi dar banho nos bebês e removeu as fitas, e depois não sabia mais quem era quem. Tirou na sorte e as colocou no lugar antes que a mulher chegasse.

Anos depois ele contou isso aos meninos, e até hoje eles se perguntam se a vida inteira deles não é uma mentira.

Doce passarinho

Benê sempre foi o Angelo mais sereno. Não importava a circunstância, ele sempre estava de cabeça fria em meio ao caos.

Sempre que alguém da velha guarda dos Angelos via o garotinho, falavam o quanto ele era parecido com o avô de quem herdara o nome. Na temperança, na forma como sempre estava assobiando pela rua, ajudando velhinhas com as compras, ou tirando gatos de cima de árvores.

Sempre que olha para o filho, Nico vê os trejeitos do seu próprio pai. E seu coração dói de saudades.

Julia

Nitto sentava no canto na sala, sempre desenhando ou lendo.

Brando sentava no fundo, sempre conversando ou fazendo bagunça.

Nitto preferia passar o recreio sentado e observando.

Brando estava sempre se movendo.

Ainda assim, todos os confundiam. Os professores, os outros alunos. Seus pais e seus irmãos.

Menos ela.

Ele a conheceu na segunda série. A pele dela era da cor de chocolate, o cabelo amarrado em duas tranças e sabia jogar futebol melhor que qualquer menino da sala.

E ela sabia os diferenciar. Sempre. Mesmo quando usavam roupas parecidas, mesmo quando até seus pais tinham trabalho de ver quem era quem, ela sempre sabia. Os olhos escuros iam direto para seu rosto, o sorriso com um dente da frente faltando:

-Oi Nitto!

-Oi Julia.

Morte

Trando não entendia o conceito de morte aos 5 anos. Para ele era algo que não existia. Ainda assim ele segurou a mão do primo enquanto as pessoas sussurravam ao redor, algumas chorando, olhando Benício com lágrimas nos olhos e pena.

Trando olhou o corpo velado no centro da sala. Tia Karina de olhos fechados parecia dormir.

-Quando sua mammà vai acordar? – perguntou confuso.

Benício apertou sua mão, mesmo quando os olhos de tio Lorenzo, avermelhados caíram sobre eles em aviso.

-Eu acho que nunca mais.

Casamento

-Quando eu crescer vou me casar com o Tran!

Beau anunciou correndo dentro de casa. Clara olhou curiosa de onde escrevia na sala e viu Beau vestido com um dos seus vestidos, uma coroa de flores na cabeça e ao que parecia uma espada de madeira nas mãos.

Então as palavras ditas a fizeram piscar.

-De onde tirou essa ideia, meu bem? E cadê seus irmãos?

-Com Benê. – Beau apontou para a porta dos fundos. – Ben se sujou de lama todo, ele caiu. De novo.

Clara as vezes se surpreendia em como Beau articulava bem para uma criança de seis anos. Era fofo o modo como seu bebê falava movendo as mãos também, o gene Italiano tão forte, dos dois lados.

-Certo. – Chamou com a mão e Boo abriu um grande sorriso e correu para seu colo na cadeira, olhando curiosamente o computador onde escrevia, enquanto ela tentava tirar as folhas do cabelo alvoroçado. - E isso de casamento?

-Tino disse que quando a gente cresce tem que casar, e tem que ser alguém que a gente ama. É?

-Ter ter não tem. Só se quiser.

Seu bebê franziu o nariz de forma confusa e segurou o riso. A conversa ali era séria.

-Certo. – Dio mio, até seu tique na fala Boo tinha herdado. – Se eu quiser então, tem que ser com alguém que eu amo mais.

-E você ama mais o Trando? – concluiu.

Boo pareceu pensar seriamente.

-Não é que eu ame o Tran mais. Ele sabe trançar cabelo.

Clara dessa vez não segurou a risada.

Lorenzo

Trando sabia que Ben não havia entendido, mas ele sim. Era um menino grande já.

Ele percebia os olhares do tio para cima dos seus irmãos. Os comentários de como Ben chorava demais – como uma menina, ele disse – e sobre Boo...era o pior. Era só a mammà dar as costas que ele olhava Boo daquele jeito, e chamava Tino e Nício para longe deles.

-Não sou. – Beau murmurou, segurando a manga da sua camisa. Olhou para baixo e os olhos grandes e âmbar estavam nos seus, muito sérios.

-O que Boo?

-Anormal.

Os dois fitaram a figura do tio praticamente puxando os filhos pelo braço para longe dos três.

Queria que Boo não fosse tão esperto.

Rivalidade

Ben e Trando estavam sempre apostando. Quem comeria mais rápido, quem atravessaria a esquina primeiro, quem ganharia a vez do controle.

Eles costumavam apostar com as coisas mais idiotas, como quem acertaria a cor da cueca um do outro ou algo assim.

A única coisa em que eles estavam sempre de acordo era em cuidar de Beau.

Natural disaster

O apelido de Ben era desastre natural. Não apenas porque ele não conseguia andar em uma superfície plana sem tropeçar, mas por toda confusão possível de acontecer em 100 metros de distância chegava até ele.

Seus irmãos tinham um código Ben para essas situações.

E um esquadrão Ben de proteção.

Adelina, um dia, se tornaria presidente do esquadrão

Peixinho

De todos os seus filhos, Beau era o único que também era apaixonado pelo mar.

Nico o apelidou de peixinho.

Clara sempre fazia piados com os dois sobre tritão e Ariel.

Vendo dobrado 2.0

Quando os gêmeos nasceram, Nitto sorriu aliviado quando viu que um deles tinha a pele de uma cor chocolate como Julia, e o outro a pele mais clara como a dele.

Não iriam precisar de fitas.

Bella

Quando Bella nasceu o mundo de Benê mudou de orbita, os planetas se alinharam de outra forma.

Ele nunca pensou que amaria alguém como o bebê do outro lado do vidro.

Mesmo quando Regina foi embora um mês depois e se pegou com Bella no colo no meio da madrugada, tentando realinhar a sua vida, seu amor só aumentou.

Bella sempre seria a coisa mais linda e mais certa que fez na vida.

Tatuagens

Tudo começou quando Brando tinha cinco anos e notou as tatuagens idênticas no pulso dos pais. Um par de asas, a insígnia da família Angelo.

-Uou. Posso ter asas também? – os olhos admirados focaram com afinco no desenho, os dedos pequenos passeando na tinta no pulso de Nico em concentração.

-Quem sabe um dia quando tu for mais velho. – Nico respondeu de forma distraída, lembrando de Clara o arrastando para o estúdio para fazerem as tatuagens quando casaram.

Brando sorriu, trocando um olhar com o irmão que também fitava o desenho, pendurado no sofá. Nico nem mesmo esperava que eles fossem lembrar disso.

Até  o aniversário de 18 anos dos dois e eles chegarem em casa cada um com uma asa oposta tatuada no peito, Brando do lado esquerdo, Nitto do lado direito, entrelaçada com as cores que correspondiam as infames fitas de quando eram crianças.

-Agora não tem mais como confundir a gente, pappà. – Brando sorriu gatuno, enquanto Nitto coçava a cabeça de forma envergonhada.

Nico trocou um olhar com a mulher e os dois grunhiram. Deviam saber, Brando nunca deixava passar nada.

Dois anos depois Benê fez dezoito anos e alguns dias depois chegou em casa com uma asa massiva nas costas, do lado esquerdo, tomando boa porção do braço. Nico suspirou olhando para a mulher que deu de ombros.

Brando, claro, estava estático e curioso: - Por que só uma asa, fratellino?

-Vocês também só tem uma.

-É, mas a gente combina uma com a outra.

-Talvez... – Benê olhou envergonhado. – Eu ache minha combinação também um dia.

-Ele parece demais com você. – Clara balançou a cabeça lhe dando o isqueiro para acender a vela do bolo. – Um romântico.

Nico sorriu.

Nigno ele não esperava, mas claro que devia ter desconfiado. Dois anos depois ele apareceu, meio envergonhado com uma asa em cada tornozelo, um design mais suave que o dos irmãos, como a personalidade dele sempre foi também.

- É como Hermes. – Nitto falou, analisando a tatuagem do irmão. – O deus mensageiro e das viagens. Tentando dizer alguma coisa, fratellino?

Nigno arrumava as malas para estudar do outro lado do país dias depois. Seus filhos eram mesmo impossíveis.

Nesse ponto todos já havia notado o padrão, por isso quando chegou o aniversário do Trando e seus filhos sumiram por um dia, Nício no encalço com eles, sabia já o que esperar. Ainda assim, Trando e Nício o surpreenderam ao chegar com tatuagens iguais a sua e de Clara nos pulsos. Clara havia olhado para os dois, os olhos marejados. Fazia já um tempo que Nício havia vindo morar com eles, mas era a primeira vez que ele mostrava abertamente que era um Angelo também.

Os dois fingiram que estavam surpresos por essa ser a forma de eles anunciarem o namoro que todo mundo já sabia, ainda assim, era a oportunidade para ter uma longa conversa com os dois mais tarde.

No momento, estava mais curioso com Ben. Ele parecia estranhamente aliviado com a tatuagem também, abraçando Nício de forma efusiva.

-Ele estava com medo de Trando fazer uma grande, porque ele teria que fazer uma maior que a dele para compensar. – Beau falou de forma exasperada. – Ele não gosta de agulhas.

E Nico, realmente, devia ter esperado isso.

Dois anos depois Ben chegava com um pequeno par de asas no peito e um sorriso orgulhoso no rosto. Sua tatuagem, claro, era alguns centímetros maior do que a do Trando. Rivalidade acima de tudo.

A de Beau demorou alguns dias para aparecer, e quando finalmente a viu descobriu a razão disso. Era massiva, maior do que dos irmãos, e por isso ele havia viajado mais vezes ao estúdio. As duas asas cobriam suas costas e parte dos braços, e quando ele movia pareciam se abrir. Como um verdadeiro anjo. O traço, notou, era mais fino e delicado, e por isso ainda mais impressionante.

-Ele nunca faz as coisas pela metade. – Clara falou de forma resignada, vendo os irmãos ao redor de Beau como criancinhas, fazendo um grito de guerra.

Seus filhos com certeza eram alguma coisa.

.....

Anos depois em um estúdio no centro de Porto Alegre o sino da porta batia.

A tatuadora, uma mulher de meia-idade, levanta a cabeça e suspira resignada ao reconhecer os traços inconfundíveis.

-Mais Angelos, hn?

No meio da noite

Ele sabia que Martino ficaria bem. As situações dos dois eram diferentes. Benício não tinha mais sua mãe ali para interferir, enquanto Martino ainda tinha a dele. Marina podia não se colocar contra Lorenzo por ele, mas ela o faria pelo filho.

Ainda assim, seu coração se comprimiu enquanto jogava as roupas que conseguia dentro da mochila, os olhos de Martino o seguindo arregalados da porta do quarto.

Os dois nunca havia sido particularmente próximos, mesmo vivendo na mesma casa. Sempre havia uma certa distância que ia além dos anos de diferença. Envolvia mães diferentes, a vontade de Martino de agradar o pai e as tantas brigas. Ainda assim, ele era seu irmão.

-Benício...- a voz dele era baixa, mas parecia alta agora que a gritaria havia acabado. Se surpreendia dos vizinhos não terem chamado a policia de novo.

Os dois irmãos se fitaram, sem saber o que dizer. Martino tinha só 12 anos, e naquele momento, ainda de pijamas e com o olhar assustado nos machucados no seu rosto, ele parecia ainda mais novo.

Benicio queria o tirar dali também. Queria o levar com ele, mas nem mesmo sabia para onde ir.

-Vem cá Tino.

Era raro se abraçarem assim. Na verdade, Benício não lembrava de um dia ter abraçado seu pai na vida, e as memórias da sua mãe eram difusas. Suspirou, afundando o rosto no cabelo do irmão, que também parecia não saber como abraçar direito.

-Se ele encostar em você algum dia...

-Ele não vai. – o irmão assegurou. – Mammà não deixa.

Tentou se contentar com isso, mas o buraco em seu estomago ainda parecia lá.

Uma pancada na porta forte os fez se afastarem no susto.

-EU DISSE PARA IR EMBORA DESSA CASA! VIADO DE MERDA!

Mais duas pancadas fortes, e ouviu a voz de Marina falar sobre os vizinhos.

Passou as mãos no rosto e ser ergueu, controlando o tremor nas mãos e deixando sua coluna ereta. Lorenzo já havia se trancado no quarto quando ganhou o corredor, Martino em seu encalço. Marina estava na sala ainda com as roupas de dormir, uma expressão incerta no rosto.

Ela nunca havia o defendido, é verdade, mas nunca havia levantado a mão para ele também. Havia ficado feliz em o ignorar, por isso se surpreendeu quando ela lhe entregou um envelope com dinheiro, pedindo desculpas em voz baixa.

Quando ganhou a rua eram 2 da manhã, uma névoa fria tomando conta de tudo. Olhou para trás apenas uma vez, vendo o irmão, ainda abraçado com a mãe dele o fitando da porta.

Voltou o olhar para a estrada em direção ao ponto de ônibus, e nunca mais olhou para trás.

Vou te proteger

Nigno estava na cabana, cuidando de uma criança quando as tribos entraram em guerra. Ele estava apenas há dois anos formado, há menos de um ano no Médico sem Fronteiras. Os gritos do lado de fora eram ensurdecedores, e ele abraçou a garotinha contra seu peito e ficou o mais quieto possível, esperando tudo acabar e orando para que não atingissem as barracas.

Um dos homens da tribo entrou de supetão na barraca, falando em um dialeto que não entendia. Ele gritava e apontava a lança em sua direção, enquanto protegia a garotinha que gritava a suas costas.

E foi quando ela entrou como um furacão na barraca, gritando no mesmo dialeto. Os cabelos loiros sujos de fuligem, a roupa suja de terra. Ele nunca teve certeza do que foi dito, mas o homem se acalmou e fez sinal para que os seguissem.

-It's al right, we can go with him (Tudo bem, nós podemos ir com ele). – Ela falou, o fitando de forma firme da porta. Assentiu, sem fazer perguntas. Colocou a criança no colo e a seguiu. Correram entre as barracas, o homem da tribo a frente, os gritos ainda ao redor. Uma mão pequena se agarrou a sua e focou a frente, a mulher o guiando pela mão, para fora do conflito.

O rosto dela estava sujo de fuligem, deixando destacados seus olhos muito azuis. As roupas eram uma mistura dos trajes da OMS e trajes da tribo, e ela lhe sorriu de forma tranquilizadora.

-My name is Sarah. I'm a nurse from England (Meu nome é Sarah. Sou uma enfermeira da inglaterra).

-Dr. Benigno Angelo. From Brazil.– Respondeu, sua voz menos trêmula do que imaginava.

Ela apertou sua mão levemente, os dois diminuindo o passo, agora já longe do caos e dentro da floresta.

- I'll protect you, Dr. Angelo. (Eu vou te proteger, Dr Angelo).

Dois meses depois eles estavam casados.

Vermelho

O primeiro pensamento de Ben ao ver Adelina, foi como uma pessoa tão pequena podia dar um soco tão forte.

O segundo pensamento de Ben ao ver Adelina foi, 'eu vou me casar com ela um dia'.

Save me from myself

A mente pensa as coisas mais absurdas nos momentos mais inoportunos. Como os ladrilhos que não estavam alinhados na parede, que prendiam seus olhos por não sabia quanto tempo.

"Nem tão difícil agora hn?"

As paredes estavam encardidas mais a acima. Provavelmente não deveria estar sentado no chão de um banheiro de pousada, não era higiênico. Mas não conseguia ficar de pé.

"Eu devia ter feito isso há mais tempo se soubesse que gostava tanto"

Franziu a testa olhando a água escorrendo. Devia estar preocupado com a cor rosada da água no ralo, mesmo que tivesse diminuído o sangramento.

"Alguém..."

Alguém estava rindo no quarto ao lado, as ruas movimentadas do lado de fora da janela. Os grupos voltando da festa.

"Alguém por favor..."

Se ergueu com dificuldade, a água fria ajudando nos músculos doloridos. O sangramento havia parado. Ignorou as escoriações, as marcas roxas que sabia que haviam por várias partes do seu corpo.

"Alguém por favor..."

Se vestir foi um ato lento. Limpou as lágrimas teimosas com a manga da camisa, focando sua mente na tarefa a frente. Arrumar as malas, chamar o uber até a rodoviária. Verificar as passagens.

Tino

Tino: Cadê você?

Tino: Beau

Tino: Boo, não to te vendo

Ignorou o telefone tocando, por enquanto. Deixou sua parte do dinheiro da estadia na bolsa de Tino e fechou a porta.

"Salve me..."

Apenas dentro do carro abriu o celular novamente.

Para Tino

Beau: Aconteceu um imprevisto, estou voltando pra Caxias.

Tino: Como assim?

Beau: O dinheiro está dentro do bolso da sua calça preta

Tino: Beau, atende.

Beau: Ta tudo bem, é só o prazo de um projeto, tenho que estudar.

Tino: Tem certeza?

Beau: Tenho.

Mexeu com o celular por alguns segundos, até enviar outra mensagem.

Para Thiago

Beau: Não deixa Tino beber demais e fazer merda

Thiago: Kd você?

Beau: Pergunta ao Tino.

Desligou o celular e olhou para fora da janela.

Não sentia mais vontade de chorar. Apenas uma estranha apatia. Uma sensação de estar perdido, vazio. Olhou para as próprias mãos, se estranhando no próprio corpo. Um desconhecido na própria pele.

Não sentia...nada.

"Alguém por favor salve-me de mim mesmo."

Pedras

Havia algo errado com os olhos de Boo.

Apontou para uma pedra da cor âmbar. O sol estava fervendo a terra, e tudo o que via ao redor eram os declives de rochas. Tentou segurar a mão do seu irmão quando ele quase escorregou.

Foi rápido. Ele desviou dele, de cabeça baixa. Aceitou a pedra com um sorriso, mas continuou a jornada bem atrás dele, em silêncio.

Havia algo de errado nos olhos de Boo.

Eles pareciam mais escuros. Um Jaspe marrom ao invés do âmbar que sempre conheceu.

Ele não sorria mais com eles.

No meio da noite 2

Eram quase 3 da manhã quando a campanhia tocou, ainda assim Clara estava acordada terminando uma matéria. Por alguns segundos olhou para a porta surpresa, fazendo uma rápida contagem na cabeça enquanto seu coração acelerava.

Beau, Trando e Ben estavam em casa, tinha certeza disso. Havia falado com Nigno no telefone antes de dormir. Benê estava em Porto Alegre, e Nitto havia jantado com eles essa noite. Brando? Será que ele havia se metido em confusão de novo?

Ergueu-se rapidamente, derrubando o mouse no chão na pressa quando a campanhia voltou a tocar.

-Mammà?

Beau estava no pé da escada, os olhos alerta. Com certeza tendo problemas para dormir de novo, mas sem coragem de contar como sempre.

-Tudo bem bebê, vou ver quem é.

Já estava chegando na porta quando ouviu mais passos na escada e suspirou exasperada. Parece que ninguém dormia naquela casa quando deveria.

Quando olhou pela persiana sem coração quase parou, e abriu a porta de imediato. Benício estava na soleira, ensopado com o temporal que caia, tentando se esquentar se abraçando.

-Benício!

A voz de Trando gritou em seu ouvido, não havia percebido que ele estava atrás dela.

-Dio mio. –o puxou para dentro enquanto ele balbuciava alguma besteira sobre molhar o carpete. O diabo o carpete!

Apenas quando o puxou para a luz viu o rosto dele. Corte no supercílio, o lábio machucado. Tocou no rosto dele e arregalou os olhos quando ele fez menção de recuar, como se ela fosse o bater.

-Beau, chame seu pappà.

Queria perguntar o que tinha acontecido, quem havia feito aquilo, como havia chegado ali, ao mesmo tempo que queria que ele trocasse logo as roupas ensopadas.

-Eu...não tenho para onde ir. – foi a primeira coisa que ele falou, enquanto ainda tocava seu rosto olhando os ferimentos. – Por hoje à noite, só...

Fitou os olhos azuis do seu sobrinho, a expressão perdida, os ombros curvados.

-Você sempre vai ter um lugar com a gente, meu bem. – tocou no rosto dele suavemente e ficou triste quando notou, não pela primeira vez, o quanto ele parecia confuso com o carinho. - Vem, vamos trocar essas roupas e seu tio vai cuidar desses ferimentos.

-Eu levo ele. – Trando que estava estranhamente quieto ainda nas suas costas falou. – Vem Nício.

Benício olhou de um para o outro, os olhos surpresos. Como se ele realmente esperasse que eles fossem o mandar embora, e não cuidar dele.

-Oh, Nício. – murmurou o abraçando, as roupas se ensopando. Seu coração quase partiu quando ele finalmente começou a chorar. – Vamos cuidar de você, eu prometo.

Ela cumpriu essa promessa.

Julian

Beau havia amado Martino, mas Martino havia tido medo de amar Beau.

Beau havia amado Lena, mas Lena havia ensinado Beau a odiar Beau.

Beau amava Julian. Julian havia ensinado Beau a amar Beau.

Mentiroso

Martino era um bom mentiroso.

Ele mentia para o pai sobre não ir visitar Benício.

Ele mentia para Benício sobre não ter problemas em casa.

Ele mentia em casa sobre não ser mais amigo de Beau

Ele mentia para Beau sobre gostar dele apenas como amigo.

Ele mentia para si mesmo.

As vezes ele deitava com a cabeça no colo da sua mãe, e sonhava em um dia não precisar mais mentir.

A imagem do seu irmão sumindo em uma madrugada fria com uma mochila nas costas pregada em sua retina.

Um dia seria ele indo embora.

Raio de sol

O sorriso de Julian o intrigava, mesmo do outro lado da tela. Era diferente, lembrava um pouco do sorriso de Ben, mas diferente.

Julian sorria com a boca, com os olhos e com o corpo. Ele gargalhava baixo, mas todo o seu corpo retumbava. E Beau seguia os movimentos com afinco, sentia o canto dos seus lábios se moverem de forma involuntária, um peso saindo de suas costas, de seu peito. Tudo ficava mais claro, mais quente, mais leve.

E naquele momento, ele lembrava quando era criança e tentava pegar os raios de sol com as mãos na praia. No calor em seu corpo, na luz que perseguia ao redor.

O sorriso de Julian era seu raio de sol pessoal.

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