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Capítulo XXXIII

Jamie


Eu observava Nita enquanto secava suas lágrimas, sentindo com ela o peso de suas tristezas.

O impacto da notícia fora, agora, sobrepujado pela raiva que eu sentia de meu falecido pai.

Como ele pôde cometer tal crueldade?

Deixar Ian crescer achando que a mãe morrera em seu parto, quando na verdade ela estava ali, sempre nas sombras, apenas recebendo migalhas de atenção e afeto.

Porém, sempre ali.

Por ele e por mim e nossa irmã.

Nita sempre fora nossa segunda mãe, e eu sempre tive grande afeto por ela.

- Eu sinto muito que meu pai tenha sido um idiota com você, Nita. - digo a ela.

Ela acena positivamente. Olho para Ian.

- Você não tem nada a dizer? - pergunto a ele.

- Poderia ter dito. Ele morreu quando eu ainda era uma criança. Poderia ter-me dito que era minha mãe. - ele soa magoado.

- E que bem eu faria dizendo-lhe isso? Iria apenas confundi-lo, iria apenas irritar Jamie, talvez piorar ainda mais a relação de vocês. E.. eu tive medo. Medo de que se envergonhasse de mim, medo de rejeitar-me. Também temi que me expulsasse, Jamie, por ter feito o que fiz.

Gostaria de dizer a Nita que eu não teria feito tal coisa, que esse seu temor em relação a mim fora infundado, porém ambos sabemos não ser verdade.

Eu provavelmente teria feito tal coisa se soubesse disso antes.

Antes de Lizy.

Annelizy me ensinou a ter empatia, a não julgar e criticar apenas, mas sim tentar entender a situação.

Nita era jovem e não cometeu crime algum, meu pai é quem fora o algoz dessa história, afastando mãe e filho.

Ian permanece calado, olho para Lizy e vejo sua expressão de indignação para com ele.

- É só isso? Vai ficar aí sentado com essa cara emburrada? - ela diz.

- E o que quer que eu faça?

- Que faça as pazes com sua mãe, ora!

Ele olha de Lizy para Nita, e então para mim. Aceno positivamente para ele, confirmando que era exatamente isso que deveria fazer.

Ian se levanta e, vai até Nita, pegando uma de suas mãos.

Ela olha para o filho, com um misto de medo e esperança no olhar.

- Eu apenas preciso de um tempo para pensar, tudo bem?

Nita apenas assente e Ian beija sua mão, retirando-se em seguida.

Lizy levanta-se rapidamente e senta-se ao lado de Nita, a abraçando.

- Desculpe-me, Nita! Eu não fazia idéia, eu.. entendi tudo errado. Por favor, me desculpe! - Lizy implora com lágrimas nos olhos.

- Não se preocupe, minha menina. Eu sabia que esse dia chegaria. Não há mentira que vença, Lizy. Toda verdade um dia é exposta, assim como o sol nasce toda manhã, um dia a verdade vem a tona. - Nita diz, secando algumas lágrimas e correspondendo ao abraço de Lizy.

Ela se vira para mim, então.

- Jamie eu..

- Nem pense nisso! - digo, levantando-me e indo até elas, onde me sento do outro lado de Nita - Não ouse pedir desculpas a mim. Não há o que desculpar, Nita. E, quanto a Ian, falaremos com ele. Ficará tudo bem, eu prometo. - digo, com suas mãos entre as minhas a acariciando.

- Obrigada, meu menino. Agora, andem, vão fazer sua refeição que a viagem de vocês é longa.

Lizy e eu seguimos então até a sala de jantar.

- Foi tudo culpa minha, Jamie. - ela me diz, tristemente.

- Porque culpa sua, meu amor?

- Pois entendi tudo errado! Achei que Nita estivesse apaixonada por Ian e fui conversar com ela a respeito.

Não me contenho e solto uma sonora gargalhada.

- Ora, não ria de mim! - ela me diz irritada e dá-me uma cotovelada nas costelas.

- Ai! Tudo bem, eu já parei. - dou-lhe um beijo nos cabelos - Eu sempre soube que a vida nunca seria entediante com você ao meu lado.

Ian se mostrou um companheiro de viagem calado e arredio.

Estávamos cavalgando já há algumas horas, cada um em um cavalo.

Lizy estava radiante por estar indo com Luz, sua égua, tagarelando sobre qualquer assunto que lhe surgisse a mente, tentando afastar o silêncio emburrado que Ian havia se auto imposto, porém sem tocar no nome de Nita, ou algo relacionado.

Decidimos que dariamos a ele o tempo que pediu, o deixando refletir e aceitar o fato.

Estamos agora na última hora de luz do sol, e decido que já é momento de montarmos acampamento.

Descemos e prendemos os cavalos numa árvore e Ian segue para coletar lenha para a fogueira, deixando Lizy e eu a sós.

- Jamie, há um pequeno lago mais adiante, veja, levarei os cavalos para beber água.

Olho para onde Lizy aponta, e vejo o tal lago.

Está mais para uma grande poça de água, porém os cavalos realmente precisam saciar a sede e descansar.

Ainda estamos muito longe.

- Tudo bem, mas cuide-se, sim?

Ela assente e desamarra os cavalos, e segue até lá os puxando pelas cordas, conversando com eles da maneira íntima engraçada que sempre faz.

Enquanto monto as barracas, e fico de olho em Lizy pois posso vê-la daqui, eu penso que ainda não lhe dei as últimas notícias que soube a respeito do Cachorro Louco, seu suposto velório e sobre aquele maluco estar gastando toda sua herança.

A questão não é o dinheiro, isso eu possuo de sobra para nós e as gerações futuras.

A questão é ter seus bens, a memória de seus pais violadas por aquele bárbaro.

Mas esta noite eu direi a ela.

Lizy sempre prefere a verdade, a respeito de qualquer assunto, e é isso que ela terá.

Logo Ian retorna com a lenha e acende a fogueira, ainda quieto.

Lizy volta e prende os cavalos e eu termino o trabalho com as barracas.

A noite começa a cair e retiro as provisões do alforje, espetamos alguns pedaços de carne salgada em gravetos e os assamos na fogueira, junto de alguns legumes.

Nos sentamos ao redor do fogo e o frio da noite começa a nos assolar.

Pego duas mantas e entrego uma a Ian, e me aninho sob a outra junto de Lizy.

Quando a comida fica pronta, fazemos a refeição ouvindo apenas o barulho crepitante da fogueira e o som do vento uivando.

Ao terminarmos, Lizy se aconchega mais a mim, e deita a cabeça em meu ombro.

- Como se sente, Ian? - ela finalmente fala com ele, rompendo a bolha de silêncio que Ian construiu ao seu redor.

Demora alguns segundos para que ele fale.

- Eu ainda não sei, na verdade. Estou com sentimentos conflitantes dentro de mim.

- Nós podemos ajudá-lo. Apenas nos diga.

- Eu… estou enfurecido por meu pai por ter feito isso, e por Nita ter aceitado. E também sinto pena por ela ter sofrido com esse segredo todos esses anos, e raiva por nunca ter pensado em me dizer a verdade. Eu entendo as razões dela, mas isso não impede que eu me sinta magoado.

Quando ele se cala, a escuridão engole suas palavras por alguns momentos.

- E, dentre todos esses sentimentos, não há felicidade em saber que sua mãe está viva? Não há admiração em saber que ela sacrificou parcialmente a própria felicidade para estar ao seu lado? Não há orgulho por ser filho da mulher forte, boa e corajosa que Nita é? - Lizy diz, suavemente.

Ian se encolhe a cada palavra que ela diz, e vejo que uma lágrima lhe escapa dos olhos.

- Sim. - ele limpa a lágrima - Há sim, Lizy, claro. Tem razão.

- Talvez ela tenha errado em não lhe contar a verdade quando Declan Mackenzie morreu. Mas, vamos nos ater as coisas boas que ela fez. Ela os criou, deu amor e carinho…

- E umas boas palmadas! - Ian diz, com um sorriso nascendo em seu rosto.

Meu peito se alivia em ver meu irmão melhor, graças a Lizy.

Ela sabe usar as palavras.

E nesse momento, com ela deitada em meu ombro, fazendo o que sempre fez, mudando o arco de nossas vidas para sempre, eu me apaixono mais por ela.

Sorrio, abraçando o corpo de Lizy e o juntando ainda mais ao meu, e finalmente, entro na conversa.

- E que palmadas! Nita tem uma mão pesada, eu preferia quando ela usava um pedaço de pau para me bater. - digo.

- E que travessuras você aprontava para que Nita fizesse isso? - Lizy pergunta, em meio às gargalhadas.

- Bem, houve uma vez, em que eu desapareci por horas. Você ainda não era nascido Ian, eu tinha uns seis anos, e havia escapado para o rio que fica perto da fortaleza.

- Não diga que quase se afogou! - Ian diz, antecipando-se.

- Não! Eu apenas entrei na pequena canoa que ali havia, que estava caindo aos pedaços, e decidi desbravar a correnteza das águas, munido apenas de minha coragem infantil.

- Céus! - Lizy quase grita.

- Papai enviou seus homens para me procurar, fui encontrado quilômetros abaixo de onde parti. Fora preciso que um homem nadasse até mim para que pegasse as pás e nos levasse até a margem. Quando cheguei, Nita me abraçou, chorando, por um longo tempo, e depois me perseguiu com um grosso galho em mãos, e me deu uns bons golpes, dizendo que se eu fizesse algo parecido novamente ela me mataria com as próprias mãos, se eu não morresse antes por ser um idiota. - finalizo minha história, sorrindo com a lembrança.

- E papai? - Ian pergunta, ávido por mais.

- Depois de ver a surra merecida que levei de Nita, ele me deu apenas uma bronca e me deixou sem sobremesa pelo resto do mês, e naquela noite fui dormir de couro quente, contando a Jeny minha grande aventura.

Todos rimos, então.

- Também tenho uma história! - diz, Ian.

- Aquela em que caiu do lombo do cavalo e ficou pendurado no rabo? - Lizy pergunta, animada.

- Não! Fiz coisa pior! Certa vez eu invadi o chiqueiro…

E assim, passamos horas a fio contando histórias engraçadas sobre nossa infância.

Quando nos retiramos para dormir Lizy e eu, Ian permaneceu acordado mantendo vigília.

Iriamos nos dividir em turnos, eu e ele. Estávamos ainda em minhas terras, mas preferimos não correr riscos desnecessários, nem subestimar a capacidade de Ethan Coen.

Estávamos, agora, nos preparando para dormir. Retirei meus sapatos e casaco, e Lizy estava apenas com sua camisola, sentada sobre as cobertas, já com um olhar devasso em seu rosto.

- Lizy, eu preciso lhe contar uma coisa.

- Sente-se aqui perto de mim e conte-me. - ela me diz, estendendo a mão para me puxar.

Faço o que ela me pede e a cubro com uma manta, temendo que esteja com frio. Mesmo com o tecido grosso da barraca, o vento frio aqui é cruel.

- Quando meus homens retornaram da cidade ontem, trouxeram notícias sobre Coen.

- Nada boas, imagino.

- Não.

- Diga-me.

- Houve um enterro.

- De quem?

- Seu. - Lizy me olha, confusa - Coen a declarou morta, não sabemos ainda se enterrou um caixão vazio, ou se…

- Ou ele matou alguma jovem inocente e a fez se passar por mim. - ela me interrompe, tristemente.

Aceno em confirmação.

- Há homens investigando, mas é difícil fazê-lo sem levantar suspeitas, então levará algum tempo. E, mais uma coisa.

- Sempre há mais, não é? Tragédias nunca vem aos poucos.

- Ethan Coen falsificou um documento em que diz que… - tenho dificuldade para dizer a ela, as palavras formam um bolo de ódio em minha garganta.

- Jamie…

-  Um documento falso em que diz que se casaram. -  ela suspira, assustada e indignada - E…

- Ainda tem mais? - ela pergunta, chocada.

- Ele tomou posse de toda herança do general e fixou moradia na residência Blanc.

Observo enquanto a tristeza sai de seu rosto, que vai ficando gradativamente vermelho e seus olhos arregalados.

Ela está irritada.

- Ora aquele maldito! Cretino! Como ele ousa? Depois de tudo que fez ainda vai viver na cena do crime!

- Talvez seja uma armadilha, Lizy.

- O que quer dizer?

- Talvez ele pense que, quando soubesse do seu "velório" e que ele roubou a sua riqueza, você voltaria para reclamar o que lhe pertence.

- Ele não pensaria nisso, acho. Eu teria de ser muito tola para cair nisso.

- Ou estar desesperada e sedenta por vingança, por desmascará-lo. Não podemos sequer tentar entender o que se passa naquela mente distorcida e psicopata dele.

- Sim, nisso você está coberto de razão. - ela deita sua cabeça em meu ombro. - Eu não suporto imaginar que me consideram casada com aquele homem. Aquele lunático maníaco.

- Eu também não. Não suporto pensar em você casada com qualquer homem que não seja eu. - digo, tirando um pequeno embrulho de veludo de meu bolso.

"- Não posso pensar em passar sequer um dia de minha vida sem você ao meu lado. Eu a quero comigo a cada minuto e, mesmo estando distantes fisicamente, quero saber que é minha.

Tiro do pequeno veludo o anel que mandei fazer há algum tempo, desde o dia seguinte ao piquenique, especialmente para Lizy.

Ela o olha, boquiaberta.

- Quero que seja minha esposa. E que o seja o quanto antes. Case-se comigo. Assim que tudo isso acabar, que nos livrarmos do Cachorro Louco. Case-se comigo, Lizy.

Lizy toca, suavemente, o pequeno anel em prata trançada com uma grande esmeralda oval cercado de pequeninos diamantes, e salpicado de pequeninas esmeraldas em sua circunferência.

Observo sua expressão de pura felicidade, e seco uma lágrima que lhe escapa.

Uma lágrima de alegria.

- Sim.. - ela sussurra - Sim, eu aceito. Claro que eu o aceito. Eu já sou sua, Jamie.

Junto nossos lábios num beijo emocionado, sentindo meu peito quase explodir de amor e alegria e esperança.

Ao nos separarmos, coloco o anel em seu dedo, lugar do qual ele nunca mais sairá, e ali deposito um beijo, selando nosso compromisso.

- Até o fim dos tempos. - digo, olhando para ela, olhando para o amor de minha vida.

- Até depois do fim. - Lizy diz, e avança para mim, beijando-me apaixonadamente.

E, enquanto fazemos amor, enquanto nossos corpos se unem em um, enquanto nossas respirações profundas soam junto ao barulho do vento, enquanto nosso prazer nos domina e eu a preencho com minha semente, eu me sinto o homem mais feliz que já pisou nessa terra.

Quem aí também quer um anel de esmeraldas no nosso Jamie???

Que capítulo, meus amores!

Votem e me digam o que acharam!
⭐😘

Ah, mais uma coisinha, PREPAREM-SE!
Estamos chegando na reta final!
❣️💋

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